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Pois àquele que tem, dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. (Mateus 25,29)
Como interpretar esta passagem bíblica?
Há realmente algumas passagens do Novo Testamento que, à primeira vista, fazem confusão e são incompreensíveis para muitos fiéis.
Hoje vamos debruçar-nos sobre a frase acima citada.
Parece tratar-se de um erro. Então Deus vai tirar ao pobre o pouco que ele tem e vai enriquecer ainda mais o que já é rico? Que sentido pode isto fazer em contexto de Evangelho?
Meus amigos, recordai a Parábola dos Talentos, porque trata precisamente da mesma questão e resolve-a da mesma forma.
Se tu recebeste, do Espírito Santo, alguns dons ou talentos, e os puseste as render com diligência, serás premiado com mais dons ainda.
Recebeste o dom de ensinar com grande ciência, pois ensina.
Tens talento para cantar, escrever ou artes plásticas, usa o teu talento: canta louvores ao Senhor, mesmo na tua comunidade eclesial, na missa dominical; escreve textos que testemunhem a fé e a misericórdia de Deus, ou simplesmente levem felicidade, paz, amor ao coração de quem os ler; as catedrais medievais, quando ainda não havia tipografia para a impressão de livros, foram repletas de esculturas e pinturas que contavam aos fiéis, ou ilustravam a narrativa de alguém que narrava, a Sagrada Escritura, os ensinamentos de Jesus sobre o Reino de Deus.
Recebeste o dom da capacidade de gerar e gostas de alguém que também te ama, constrói uma família com essa pessoa e evangeliza dentro da tua casa.
Amas alguém e o amor é recíproco, e casaram, mas não conseguiram procriar, não te refugies num convento como foi hábito noutros tempos, e provavelmente ainda hoje, mas, em casal, canalizem o amor que têm dentro de vós em favor de quem precisa de amor. E são tantas as pessoas carenciadas de amor verdadeiro: crianças órfãs ou maltratadas, doentes profundos, idosos abandonados, tanta gente neste mundo a sofrer por falta de amor!
Se sentes um verdadeiro chamamento para te dedicares à evangelização, deves fazê-lo, como padre, ou frade, ou freira, ou catequista, mas a verdadeira evangelização é feita com o testemunho no quotidiano.
Nunca sigas a via de te dedicares como padre ou religioso ou religiosa, sem verdadeira vocação. E, se depois de fazeres essa opção, sentires que a coragem ou capacidade te faltam, muda de vida. Talvez seja um dos piores pecados ser um mau padre, freira, catequista, alguém que a comunidade reconhece como pessoa de Deus, mas que está a afugentar os irmãos de Deus e da Igreja. Uma pessoa reconhecida como de Deus, não pode ser identificada como pessoa má.
Mas se estás na situação de algum dos casos referidos e pões a render os talentos recebidos, então, Deus reconhece que és um bom investimento e conceder-te-á um auxílio especial para obteres um rendimento ainda maior.
Se o Senhor percebe que foste um mau investimento porque estás a esbanjar os dons recebidos, até esses te serão retirados. E talvez concedidos a outro com maior empenho, amor ao próximo. Notemos este exemplo único. Alguém recebe talento para falar, discursar, convencer o auditório. Mas envereda por caminhos errados e encaminha, com os seus dotes, os ouvintes para o ódio, a vingança, a guerra, o desprezo pelos mais frágeis. Então, é provável que esse dom lhe seja retirado, para evitar que faça mais mal.
Ao que tem muito e rentabiliza, ser-lhe-á dado mais, porque ele é um bom investimento, ele multiplica o amor e a misericórdia e expande-os, colaborando no alargamento do projecto de Deus para a Humanidade.
Ao que se deixa subverter pelas paixões desumanas, contra-natura, como construtor da Torre de Babel, então receberá em pagamento o castigo dos construtores da Torre de Babel.