Santo António se vestiu e se calçou
seu bordãozinho tomou
seu caminho caminhou.
Jesus cristo encontrou
e lhe disse:
- Frei António aonde vais?
- Eu, Senhor, para o céu vou.
- Tu para o céu não subirás, em terra ficarás, três Ave Marias rezarás e por elas te salvarás.
Por três Ave Marias que rezaste, ganhaste o Reino dos Céus.
Porque por três Ave Marias que vou rezar, vos peço . . . (dizer o nome da coisa perdida e que se quer recuperar)
Diz-me na voz do povo se o meu pedido é atendido.
[rezar 3 Ave Maria]
Depois ficar atento e em silêncio para escutar a resposta de Santo António na voz do povo.
Desde pequeno que assisti a este ritual piedoso. A minha mãe era afilhada de Baptismo de Santo António, a Igreja, entretanto proibiu estes apadrinhamentos de santos canonizados e eu nunca entendi porquê, se a Igreja crê na comunicação dos santos.
No caso da minha mãe, a situação foi mesmo forçada pelo contexto em que aconteceu. O meu avô não permitiu que a filha fosse baptizada, a minha avó faleceu era a minha mãe pouco mais que bebé e o Baptismo ficou adiado sine die, com o objectivo de nunca se chegar a realizar.
Ora, pelos seus 14 ou 16 anos, não recordo a idade certa que a minha mãe referia, a minha mãe foi falar com o pároco de uma paróquia vizinha, Santa Catarina, em Lisboa, para não dar nas vistas e contou-lhe a situação, pedindo o Baptismo. E foi baptizada em segredo. Sendo em segredo, era um perigo haver os padrinhos que nesse tempo se exigia. Assim, foram padrinhos de Baptismo da minha mãe Nossa Senhora de Fátima e Santo António.
Daí para a frente, a minha mãe passou a comungar, também às escondidas e manteve as discussões religiosas que sempre tivera com o meu avô e que terminavam, quando se lhe esgotavam os argumentos do pai que exclamava:
- Cala-te, que tu és moura.
Significando que não sendo baptizada, a minha mãe não tinha que defender o religião católica.
E a minha mãe continuou a fazer como sempre fizera: neste momento da conversa, calava-se. Não revelando que era baptizada, para evitar maior discussão.
Volto ao Responso de Santo António. Quando desaparecia alguma coisa e estava difícil encontrar, a minha mãe rezava piedosamente o Responso e ia para a janela. Quase sempre tinha resposta, que era dada na voz do povo: alguém que por qualquer razão levantava a voz e as palavras que dizia revelavam o local onde estava a coisa desaparecida.
Em certa ocasião, estávamos de visita a uns tios na sua casa de campo e desapareceu, a chave do porta-bagagens do carro dos meus tios. A minha mãe invocou o auxílio de Santo António, rezando o Responso. E mesmo no campo, alguém passou e disse em voz alta:
- No porta bagagens (disse no meio da conversa que estava a ter com outra personagem, claro). Entrou-se na bagageira, desmontando o carro por dentro e lá estava a chave.
Depois de a minha mãe falecer, eu e a minha irmã ficámos na posse do Responso que nos colocava em relação privilegiada com o seu padrinho de Baptismo.
com quem eu tinha travado uma
Certa ocasião, estávamos à porta da maternidade (o meu sobrinho estava a vir ao mundo) e desapareceu a chave – outra vez uma chave – do motor de um dos nossos carros. Revirámos o carro e a rua e nada. Eu não tinha comigo o texto do Responso e não o sabia de cor, não obstante a relação especial, que tinha com Santo António pois tínhamo-lo convidado para padrinho das nossas filhas. Telefonei à minha irmã que estava na sua casa e pedi-lhe ajuda. A resposta veio rápida na boca de alguém que passava ali perto da maternidade e falou em voz alta:
- Debaixo do pneu.
Fomos logo procurar e, bem encaixada entre o alcatrão e o pneu, lá estava a chave.
Agora é a parte mais difícil. A minha mãe rezava o Responso com devoção e piedade, mas o filho, eu, depois de ter tido estas experiências que relatei, e outras, comecei a duvidar. Rezar a Santo António com Ave Maria pelo meio? E que poderes eram estes que estavam em causa? Deus não ia permitir algo semelhante a amuletos ou rezas milagrosas. Conclusão: os meus pedidos deixaram de ser atendidos por completo. E bem merecido foi.
Fiz um percurso de conciliação com o meu compadre, padrinho das nossas filhas, com muita oração e meditação e ajuda certamente do Espírito Santo, para me limitar ao que podia compreender. E Santo António “perdoou-me”.
Narro mais outro caso. Eu ia viajando com a minha esposa, ali para os lados da Ericeira, quando perdemos um dos telemóveis ou máquina fotográfica. Já não sei. E eu comecei a guiar às voltas pelas ruas daquela aldeia onde tínhamos passado. Não havia texto do Responso, mas sem dizermos nada um ao outro, começámos, cada um por si, a rezar, invocando a ajuda de Santo António. E eis que passamos num largo, onde já passáramos anteriormente mais que uma vez, e vemos um altar de Santo António, que não víramos antes, ao lado de uma porta de rés-do-chão. Parei o carro e contemplámos e orámos. E o objecto perdido estava debaixo do assento da minha esposa. Abraçámo-nos, como que em acção de graças, pois nessa altura confessámo-nos mutuamente que estávamos a rezar.
São insondáveis os caminhos de Deus.
Se a alguém puder ser útil este Responso, que o use, tendo em atenção que se é obra de Deus, não pode ser objecto de brincadeira, nem de “vamos lá ver se resulta”, porque não é assim que as coisas funcionam com Deus, mas sempre com fé e esperança. Reze com devoção, na expectativa da resposta. Se não vier resposta, a fé e devoção manter-se-ão as mesmas. Se vier resposta, dê graças a Deus por ter concedido este dom a Santo António e agradeça a Santo António.
E não esqueça que eu também já duvidei, mas fiz um percurso de reconciliação e penitência e voltei a ser beneficiado pelos Céus.
Se leu até aqui, lembre-se de rezar uma Ave Maria pelo meu avô que já partiu há mais de 60 anos e já foi certamente perdoado por Deus. Era um bom homem, mas os tempos finais da Monarquia e início da I República não foram fáceis para viver a espiritualidade que existe em cada um de nós.