As mãos do pai de Murti e tio de Pushpa mostram as fotos das meninas violadas, queimadas e enforcadas
Existe um estado na União Indiana chamado Madhya Pradesh onde acontecem 12 violações de mulheres por dia. A capital de Madhya Pradesh é a tristemente conhecida cidade de Bhopal, onde em 3 de Dezembro de 1984 meio milhão de pessoas foram expostos ao maior desastre químico até hoje em todo o mundo. O número de milhares de mortos nunca chegou a ser conhecido. O estado é altamente povoado com 60 milhões de habitantes. É um dos lugares do mundo onde as mulheres estão mais desprotegidas: 12 violações por dia! É obra!
No dia 2 de
Junho deste ano de 2014, o ministro do Interior de Madhya Pradesh, um indivíduo
que dá pelo nome de Babulal Gaur celebrou os 84 anos. Provavelmente já devia
ter descoberto que fazia melhor serviço à humanidade reformando-se, mas vai
insistindo. Como outros políticos, em Portugal, que não entendem que já estão
em adiantado estado de demência ou ninguém os avisa e vão fazendo tristes
figuras que todos sabemos.
No dia
seguinte, a 3 de Junho, Babulal Gaur esteve numa acção de propaganda nas ruas,
distribuindo caramelos aos condutores de veículos de duas rodas que usavam
capacete de protecção. Gesto que certamente seria muito apreciado e fecundo como
prémio às crianças bem comportadas num jardim infantil.
Na terça-feira
27 de Maio, Murti e Pushpa, de 14 e 15 anos, primas e residentes na aldeia de
Katra, no estado indiano de Madhya Pradesh desapareceram ao final do dia. Os familiares
procuraram-nas, sem sucesso,
Ao final do
dia, as meninas foram raptadas pelo já chamado bando de Badaun (o distrito onde
se localiza a aldeia de Katra), os irmãos Avadesh, Urvesh e Pappu Yadav, e
durante a noite foram vítimas de violação em grupo. Depois de se servirem,
aqueles selvagens despejaram ácido pela boca abaixo das meninas, conforme
resultado da autópsia, e enforcaram-nas. De manhã, finalmente, elas foram
encontradas suspensas numa mangueira, uma árvore de grande porte abundante na
região.
Mangoeiro onde as meninas foram enforcadas
No sistema
social indiano, a família das meninas é da casta dos intocáveis, a mais baixa
escala social a que não são reconhecidos quaisquer direitos, pelo menos nalguns
estados. Embora a população se mostrasse indignada com o sucedido, as
individualidades políticas e policiais não pareceram muito afectadas com o
sucedido.
Na União
Indiana, a civilização parece não ter ordem de entrada. Uns têm direitos,
outros não. Uns são gente, outros são animais. Os bandos de assassinos
selvagens magoam meninas e mulheres e ameaçam-nas e às famílias com represálias
de morte se ousarem denunciar os crimes de que são vítimas.
Voltamos ao
já citado ministro que superintende a polícia, o indivíduo Babulal Gaur. Questionado
pela imprensa acerca deste crime fez questão de notar que era preciso distinguir
duas espécies de violação: as que eram erradas e as que eram certas. Nalguns casos,
diz aquela pessoa (?), as violações são merecidas. Ele tem a ousadia de afirmar
que nenhum homem premedita uma violação, logo, deduz a inteligência das inteligências,
se ele sente um impulso para violar a que não pode resistir, isso não pode ser
considerado crime. Contesta sim a pena de morte para os violadores porque acha
que não se deve destruir a possibilidade de uma vida. Poderia parecer que ele
falava da possibilidade da vida das meninas violadas, mas o velho ministro que,
pelas suas palavras, deve saber bem o que é violar, refere-se à vida dos
violadores que forem violados. As mulheres não têm valor, para ele. E infelizmente
para outros indianos bem colocados na estrutura social do país.
O pai de
uma das meninas e tio da outra tentou apresentar queixa do crime na polícia. Começaram
por lhe perguntar a que casta social pertencia. Ao descobrirem que era dos mais
pobres, riram-se-lhe na cara e negaram-se a receber a queixa.
Populares e jornalistas juntos à residência
Os populares
que se manifestaram foram dispersos por ordem do chefe da polícia Akhilesh Yadav, que se opõe fortemente à recente
alteração legislativa que possibilita a condenação à morte dos violadores. Ele alega que se a comunicação social se calasse, as autoridades locais e os violadores não seriam tão incomodados por fazerem o que também se faz em todo o restante país.
Orlando de Carvalho
Orlando de Carvalho
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