Sagrada Família com Santa Ana e São Joaquim, Charles LeBrun, 1655
Joaquim e
Ana, figuras ausentes no nascimento
Dos
avós de Jesus, apenas sabemos de dois, os maternos, e ainda assim por tradição
e num evangelho apócrifo de São Tiago. Os pais de José o carpinteiro, ou já
tinham morrido ou o evangelista não os considerou relevantes para o seu relato.
Pelo contrário, Joaquim e Ana, são-no e muito.
Uma
antiga tradição do século II atribui os nomes de Joaquim e Ana aos pais de
Maria. O culto aparece para Santa Ana já no século VI e para São Joaquim
depois. A devoção aos avós de Jesus é um prolongamento natural do carinho e
veneração à Mãe de Deus.
Segundo
a tradição, a mãe de Maria nasceu em Belém. O nome Ana significa “graça, amor,
oração”. A Sagrada Escritura nada diz dela. Tudo o que sabemos está no
Evangelho apócrifo de São Tiago, segundo o qual aos 24 anos, crescidita para a
época - as mulheres casavam muito novas, quase adolescentes -, Ana se casou com
um proprietário rural chamado Joaquim, galileu de Nazaré. Ana, descendia da família real de David,
Vejamos o papel das mulheres em toda esta história.
Os
avós de Jesus viviam em Nazaré e, segundo a tradição, dividiam as suas rendas
anuais desta maneira: uma parte para os gastos da família, outra para o Templo
e uma terceira para os mais necessitados.
Já
estavam casados há vinte anos e ainda sem filhos, ausência sem dúvida da benção
divina, segundo os seus contemporâneos. Ana tinha já quarenta e quatro anos e
restava-lhe pouco tempo para uma possível gravidez. No Templo, Joaquim ouvia
murmurar sobre a esterilidade da família como algo que os fazia indignos de
entrar na casa de Deus. Joaquim, muito desgostoso, retira-se para o deserto,
para pedir a Deus um filho. Ana intensifica as suas preces. Recordou a outra
Ana das Escrituras, no Livro dos Reis: tendo rezado tanto ao Senhor foi
escutada, e assim chegou o seu filho Samuel, um grande profeta. Um paralelismo
evidente nos nomes, e no resultado das súplicas.
Desde
os primeiros tempos da Igreja, os avós de Jesus foram honrados no Oriente,
depois passou a render-se-lhe culto em toda a cristandade, onde se levantaram
templos com as suas invocações.
Quando
se visita a Terra Santa, pode ver-se a provável casa em que Maria viveu a sua infância.
Era uma menina especial e como tal foi educada, Conhecedora das Escrituras, que
ensinou a seu Filho Jesus.
E onde estavam Joaquim e Ana, os avós, no dia
do Nascimento?
Estavam
em Nazaré, pois Maria era de lá. Pode-se hoje também entrar na casa - uma casa
de pedra de boa construção, de gente bem na vida, como a maior parte das casas
de Nazaré, uma pequena mas próspera povoação - em que a jovem desposada com
José, recebeu o anúncio do enviado Gabriel, e aceitou uma missão divina para a
qual havia sido escolhida, não sem uma dúvida - como pode ser isso? – na confiança da Sabedoria do Pai.
Onde
estavam os avós de Jesus? -Ter-lhe-á dito Maria alguma coisa, desta situação em
Deus a havia metido? Se não lhes disse nada, não deixaram de rapidamente verem
os efeitos da palavra divina, sempre eficaz. E num ápice teceram um círculo de
amor, em volta daquela menina grávida e inexperiente.
Podemos
imaginar Ana a tecer as roupitas para esse menino tão especial, o Emanuel, e
filho de Maria. Seguramente José e Maria - que eram previdentes - partiram para
Belém com os alforges da mula bem cheio de fraldas e roupitas forradas para o
Menino, para que mesmo que nascesse pelo caminho, não passasse frio.
Naquela
época, as viagens era uma aventura para a qual apenas se levava bilhete de ida:
salteadores nos caminhos, uma mula que podia falhar, procurar pousada em dias
de censo e sem preços fixos, os trâmites da burocracia romana podiam demorar
mais do que o previsto. Podia dizer-se mesmo, ser uma aventura. A volta estava
nas mãos da Providência.
Sobre
o frio que Jesus passou quando nasceu, não deixa de ser bonita a consideração
piedosa da devoção de Santo Afonso Maria de Ligório, no seu famoso poema “Tu desces das estrelas” (Tu
scendi dalle stelle). Ligório e outros
autores falam do frio e do gelo daquela noite - numa translação do clima
europeu para a temperada Terra Santa, onde por muito que nos empenhemos em pôr
neve nos presépios, não neva -, mas referem-se mais ao frio espiritual da
indiferença e do abandono da lei do povo santo. Para temperar, ou melhor
incendiar esse frio, veio Jesus.
Onde
estavam os avós de Jesus na noite mais santa do ano? - Estavam nos pontos das
roupinhas e nas provisões, confeccionadas por Ana. Na oração assídua pelos
novos esposos, para que a viagem decorresse bem e a família pudesse regressar
rapidamente e bem, a Nazaré.
No
pensamento de Maria e José ao ver o rostozinho desse Menino esperado…Esperado
por séculos e nações, essa alegria viajou sem palavras, à velocidade da luz, e
mais ainda até ao coração de Joaquim e de Ana, que esperavam a boa notícia em
Nazaré. Ninguém com certeza a afastava das caravanas que iam chegando, à espera
do feliz anúncio do Nascimento, dado por alguém que se tivesse cruzado com José.
E
se houve um enviado de Deus aos pastores, um sonho que pôs em marcha os sábios
do Oriente, um sonho que avisou José várias vezes…não teria também havido uma
mensagem divina para os felizes avós? - Seguramente que sim.
Avós
afastados nestes primeiros tempos, como tantos avós que veem os seus filhos
emigrar para outras terras mais acolhedoras, outras terras onde possam arranjar
um futuro mais risonho para as suas famílias.
Tantos
avós que esperam o regresso dos netos, que quem sabe não deixaram os sonhos
enrolados entre as ondas que embatiam contra o costado de alguma embarcação
cruzando o Estreito.
Quem
sabe se encontrarão a paz, a justiça e a liberdade…que não tinham na sua terra…
Quem
sabe se por fim poderão dirigir-se a Deus, sem ter de olhar à sua volta, não vá
a sua oração ofender alguém. Quem sabe se encontrarão uma vida digna, e um meio
de ganhar a vida honestamente…quem sabe…
Os
avós sempre esperam. A porta da sua casa continua aberta. Podemos imaginar
Joaquim e Ana esperando, e acabando por fim por conhecer o seu neto depois de
voltar do longo exílio não programado - com a emigração para o Egipto, para
escapar a Herodes e a sua volta directamente a Nazaré, para iludir Arquelau.
Podemos
imaginá-los enchendo-O de beijos, cantando-Lhe canções para O adormecer,
fazendo-Lhe brinquedos e com toda a certeza, ensinando-Lhe as orações e as
palavras de Deus ao Seu Povo eleito…
Podemos
imaginar Maria, indo às compras e deixando o pequeno em casa dos avós por umas
horas. Por terem vivido no século I, os avós de Jesus não se livraram da alegria de ter cuidado do seu neto, o Menino Jesus…
Encuentra/primeiros
cristianos/ Nieves San Martin
Tradução
livre de Diácono Maximino Alves Martins
Publicado por Orlando de Carvalho