domingo, 8 de novembro de 2015

Pedagogia da parábola





A parábola implementa uma pedagogia da questão e não da resposta. Ela é o contrário da endoutrinação das seitas que pretendem a repetição para o exterior de palavras, de modo a que sejam bem memorizadas. A parábola cristã conta a vida de Cristo para provocar uma adesão interior, decisão pessoal que vem da fé.
O Credo, esclarecido no interior dos corações pelo Espírito do Pentecostes, é, no final do itinerário catequético, caminho de natureza parabólica cujo centro enigmático é Jesus. Para Ele convergem todas as parábolas catequéticas, as dos evangelhos e as dos nossos dias que se inspiram naquelas.
Eis a razão porque a Igreja do século IV não revelava, a não ser no final da iniciação, os termos precisos do Símbolo dos Apóstolos. Evitava-se deste modo a aprendizagem das palavras a partir do exterior, desligadas da experiência espiritual da Palavra, sem o seu sabor divino, desesperadamente vazias. Esta prudência parece ter sido a herança pedagógica da tradição apostólica. “Ninguém poderá dizer: «Jesus é o Senhor!» a não ser sob a acção do Espírito Santo.” (1Cor 12,3).

(Enciclopédia dos Catekistas)

domingo, 1 de novembro de 2015

Quando se deve socorrer o próximo?







No último Verão estive no Convento de Mafra, onde participei na audição de um concerto a seis órgãos. Poucas pessoas sabem que a Basílica de Mafra é a única igreja do mundo onde existem seis órgãos de tubos que foram propositadamente construídos para tocar em conjunto. Na ocasião, foi um problema arranjar composições para tocar porque, não existindo qualquer igreja com seis órgãos, ninguém tinha ainda composto obras para seis órgãos. Outra das ideias de Dom João V, ou a que o monarca deu cobertura, e que ajudaram a edificar o país depois dos danos causados pela dinastia filipina.
Durante o espectáculo, uma senhora tombou e ficou estendida no chão. Algumas pessoas acorreram, aliás foi essa movimentação de pessoas que espontaneamente foram ajudar que alertou os outros presentes para que algo de anormal se estava a passar. O concerto parou e só retomou, longos minutos depois, quando equipas de socorro evacuaram a senhora acidentada.
Hoje celebramos a solenidade de Todos-os-Santos. Dia santo de guarda que deixou de ser feriado quando a Igreja se dispôs a transferi-lo para o Domingo próximo, numa colaboração que se dispôs a dar ao governo que pensou recuperar a economia portuguesa á custa desse feriado. Uma medida demagógica que remete, como é costume fazer neste país, para o esquecimento os estudos acerca dos prejuízos económicos resultantes da supressão do feriado (estudos que nem se devem ter feito), tal como acontece em relação aos dias de Carnaval. Além da questão cultural que, em vez de ser enriquecida, é deixada ao desinteresse e esquecimento, tantos no caso do Carnaval como no dos Santos.
Esta ano o dia 1 de Novembro coincidiu com o Domingo. Eu fui à missa.
Durante a missa, uma senhora tombou para o lado, como há poucos meses acontecera em Mafra. De vários pontos cardeais acorreram algumas pessoas. Como em Mafra, uma meia dúzia. O momento era o do início da consagração. À elevação da hóstia, todas as pessoas correram para os seus lugares e aí se ajoelharam. A senhora ficou só.
O caso foi menos grave que o de Mafra e a senhora pareceu ficar bem, quando algumas pessoas voltaram junto dela logo após o “Mistério da Fé!”.
Deveriam, os que estavam a socorrer a senhora, ter-se mantido em atitude de socorro ou ter regressado aos seus lugares para ajoelharem? Deveria o presidente da celebração ter parado a Consagração, que estava apenas a iniciar ou ter prosseguido?
A questão do socorro do bom samaritano e o da devoção perante Jesus no pão consagrado são incompatíveis, compatíveis ou são a mesma questão?

Orlando de Carvalho

Dia de Todos-os-Santos