quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Oração pelos sem Natal


Ensina-nos a não nos amarmos a nós próprios, a não amarmos apenas os nossas, a não amar apenas aqueles que nos amam, a amar antes de mais aqueles que ninguém ama.
Senhor, faz-nos sofrer com a dor alheia.
Senhor, dá-nos a graça de compreender
que em cada minuto da nossa vida,
da nossa vida feliz e protegida por Ti,
há milhões de seres humanos
que são teus filhos, que nossos irmãos,
e que morrem de fome
sem terem merecido morrer de fome,
que morrem de frio
sem terem merecido morrer de frio …
Senhor, tem piedade de todos os pobres do mundo.
Tem piedade dos deserdados da vida,
os pobres, os doentes, os não crentes,
a quem tantas vezes sorriste
quando estavas nesta terra;
desses milhões que esperam em Ti.
E perdoa-nos quando os abandonamos.
Senhor, não permitas que sejamos felizes sozinhos.
Faz-nos sentir a angústia da miséria universal
e liberta-nos de nós mesmos
… se essa for a tua vontade!



traduzido e adaptado de Raoul Follereau

Natal de Quem?


Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!
João Coelho dos Santos, professor na ULTI, in Lágrima do Mar – 1996

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Vaidades, só vaidades. Esterco, de esterco.




Deitas-te de noite com esse belo corpo, mas vê como acordas de manhã.
De dentro de ti expulsas o que em ti há. Urinas em várias as tonalidades, defecas em todas as consistências, cospes expectoração de aspecto variado, do lacrimejar resta o sedimento rameloso, fedes a transpiração, dos pés, das axilas, da intimidade, a almofada prova a queda de cabelo e de caspa. As pilosidades e as unhas cresceram mais um pouco. Certo dia começarás a sentir também as junções ósseas e as articulações emperradas a negarem-se a movimentos e a causarem dores quando tentas usá-las.
Esterco gerando esterco.
Finalmente erguido, lavas-te, perfumas-te, passas creme e pente.
Vaidades, só vaidades.
E comes. Não o que precisas, como os pobres, ou menos do que precisas, como os desgraçados, mas enches-te, de esterco que passado um dia vais excretar.
Até aqui, és apenas um animal ou vegetal, embora te delicies mais a consumir que eles.
Mas, sabemos que há mais esterco.
Abres a boca e expeles maledicência. Esse esterco que cospes pela boca é pior que os outros. Conspurcas, não apenas as coisas, mas as pessoas. Manchas até o nome de Deus. Pela boca desonras o pai, a mãe, o irmão, a irmã, a esposa, o esposo, os filhos, as filhas, os amigos e amigas.
A semente de todo este mal reside na tua cabeça e no teu coração.
Não digas nada que não tenhas pensado primeiro. Nada faças que não tenhas repensado antes.
Quando já não vomitares esterco, é porque ele foi limpo de dentro de ti. A tua voz não pode poluir quando dentro do cérebro e do coração tudo estiver limpo e desinfectado.
Cuida-te, não vás acordar um dia e já ter morrido e nem te conseguires reconhecer, pensando que aquele dejecto que vês não és tu.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A indissolubilidade do casamento

Em que estou a pensar?
Que tem 4 cardeais, centenas de bispos, milhares de padres, milhões de leigos contra esta exortação apostólica do Papa Francisco.
Por que?
Porque todos se arvoram em defensores da legítima fé católica, como se só eles tivessem recebido a doutrina diretamente da boca de Jesus Cristo e só eles tivessem acesso à interpretação de suas parábolas.
Pelo que me foi dado observar os principais pontos da discórdia são:
1- A indissolubilidade do casamento
2- A comunhão dos unidos em segundas núpcias.
Ora, pelo que li na exortação, o Papa Francisco não é contrário à indissolubilidade do casamento, nem à preferência do estado de graça dos que comungam.
Há oito noites que estou tentando descobrir a vida de todos os que se opõem ferozmente ao que o Papa Francisco exorta nesse pequeno livrinho. Captei uma mensagem do Alto: escreve no chão o pecado de cada um....
Claro que aqui não o vou fazer, mas muitos já os viram estampados na mídia...e ninguém se iluda, porque o que se faz no escuro brilhará sobre os telhados.
Bem, voltemos há análise dos fatos:
- 1) A indissolubilidade do casamento.
Nenhum seguidor de Cristo desconhece as palavras do Criador de que o homem por Ele criado " deixará pai e mãe e se juntará à sua mulher e os dois formarão uma só carne". Cristo concorda, pois, de contrário, diria "ouvistes o que foi dito aos antigos? Eu porem vos digo..."
Para quem raciocina, é o homem com capacidade para contratar, e não a criança, o demente, ou o velho decrépito, também proibidos pelas leis civis; é o homem maduro, que deixará livremente a casa dos pais, que escolherá livremente a sua mulher e livremente se juntará a ela com a finalidade de formar uma só carne, crescerem e multiplicarem-se; é o homem maduro que respeita que a mulher por ele escolhida também deixe livremente a casa de seus pais, concorde juntar-se a ele e com ele conviva para sempre. Esta lei primária aplica-se a todos os homens e mulheres no mundo inteiro...não ditada exclusimente para católicos!
Da teoria à prática existe um abismo, como do céu ao inferno.
O Papa defende, sim, a indissolubilidade do casamento.... mas sabe muito bem, e para isso nem precisava ser tão inteligente, que o "anátema" do Concilio de Trento não assustou os católicos, que continuaram a se casar sem ser "faciem ecclesiae", nem se sentiram casados os que a igreja desconhecia.
Em sã consciência, quem não reconhece quatro ou cinco casamentos, em cada cem, que de modo algum podem ser válidos? ....meros ajustes sociais ou reserva de heranças.
Observem a história dos casamentos através dos séculos. São verdadeiras crianças casando (algumas já nasceram casadas) pelo consentimento e até escolha dos pais; são jovens ameaçados ou induzidos ao casamento sem um mínimo de formação ou vontade de casar; são jovens grávidas que acabam casando só para poder batizar os filhos ( tem padre que não batiza a criança se os pais não forem casados). ......E pensarmos que esses "acéfalos" estão fazendo um contrato para o resto da vida?
Deus pode concordar com uma palhaçada destas e abençoar o casamento? Pelo menos Deus merece mais respeito!
Ganhe vergonha na cara quem diz que esses casamentos são indissolúveis.
Quebrem a cabeça e fiquem com a cabeça partida até o fim da vida!
A maioria dos casamentos é indissolúvel... Ok! Mas há milhões que não são porque foram contraídos invalidamente.... e a igreja é a mais culpada por tudo isso que aconteceu...não preparou os pais desses jovens nem exigiu curso de preparação para o casamento.... e ...porque "malda" dos que vivem juntos fora do casamento, como se todos vivessem em pecado mortal, mesmo sendo dois velhinhos, ....a não ser os que optaram pela vida religiosa!
Como diz o povo: argueiro no olho dos outros é colírio nos meus.
Portanto, repetimos que o contrato de casamento não é para uma semana, mês ou ano...é para toda a vida. Então requer-se que ambos os contraentes sejam maduros, queiram casar-se um com o outro, não estejam impedidos, possam casar-se física e psiquicamente, e o façam através de uma forma legal de contrato matrimonial .
Conclusão, milhares e milhares de fiéis quebram as pernas na primeira tentativa de união... O Papa Francisco resolveu ir atrás dessas ovelhas feridas....os casamentos falidos .....e pedir aos Bispos que julguem os seus fiéis para que as distâncias e as custas processuais não sejam o principal obstáculo da justiça de Deus chegar aos que clamam aos céus por ela.
Qual a solução ?
Os Cardeais, os Bispos ...e alguns padres, sabem que um vinculo legal é diferente de um vínculo de consciência.
Se o casamento obedeceu a um processo de habilitação, foi aprovado e se realizou o ato jurídico, um vinculo foi gerado e permanece com todas as suas clausulas contratuais até prova em contrário.
Portanto, é necessário que se instaure um outro processo legal para avaliar a validade desse ato jurídico ou contrato de casamento. Esta competência é dos Tribunais Eclesiásticos. Estes é que, por sentença de um colegiado de juízes, declaram se o casamento foi válido, e, portanto, abençoado por Deus para toda a vida (isto é, indissolúvel), ou se foi inválido e, portanto, deva ser declarado inexistente ou nulo.
Se o Papa Francisco fosse contra a indissolubilidade do casamento, ele mesmo resolveria os casos dos casamentos falidos pessoalmente.
Acontece que, quando procurou os órgãos competentes, isto é, os Tribunais Diocesanos, poucos encontrou...e os que encontrou estavam sobrecarregados por seguir processos altamente burocráticos e caros, tudo para evitar que "o povo se escandalize e perca a noção da indissolubilidade do casamento realizado nas igreja católica. Há mérito nisso? Meias mentiras também são mentiras.
Ciente de que, antes de pensar na misericórdia de Deus, teria que defender a justiça de Deus, determinou o Papa Francisco que todas as dioceses criem o seu tribunal e o Bispo seja o juiz do seu povo, devido à proximidade e dever pastoral.
Alguma coisa de errado nisso?
(Quanto ao segundo tema, comentarei depois...mas já podem ir adiantando as consequências naturais que advirão quando os Bispos entenderem o primeiro ponto e tentarem resolvê-lo pessoalmente em vez de mandar tudo para o Tribunal da Rota Romana ....até os casamentos falidos na comunidade dos indios do Xingú!)

Cónego Abílio de Vasconcelos, juiz do Tribunal Eclesiástico do Rio de Janeiro

domingo, 11 de dezembro de 2016

Juan Diego Cuauhtlatoatzin

12 Dezembro, Festa litúrgica de Nossa Senhora de Guadalupe



Juan Diego Cuauhtlatoatzin nasceu em 1474 em Cuauhtitlán, no reino de Texcoco, actualmente México. Pertencia à tribo dos Chichimecas. O seu nome significa “Águia que fala”.
Em 1492, a expedição marítima comandada por Cristóvão Colombo chegou ao continente americano, iniciando-se um intercâmbio social e cultural, nem sempre tão pacífico como seria de esperar da parte daqueles que já conheciam a Boa Nova do Amor.
Em 1524, os primeiros missionários franciscanos chegaram ao México. Nesse mesmo ano de 1524, Cuauhtlatoatzin acreditou no Evangelho e pediu o Baptismo, para si e para a sua família. Cuauhtlatoatzin recebeu o nome cristão Juan Diego e a sua esposa o nome de Maria Lúcia. Para completar a sua vida sacramental, celebram o casamento cristão.
Juan Diego revelou-se um homem piedoso na sua vida sacramental, bem como na ânsia de conhecer cada vez melhor a revelação divina, escutando a palavra de Deus, na liturgia e na catequese. Maria Lúcia vem a falecer em 1529.
Juan Diego costumava caminhar cerca de vinte quilómetros para ir à missa e voltar. No dia 9 de Dezembro de 1531, Juan Diego caminhava a pé, como habitualmente a caminho da Eucaristia, quando em Tepeyac teve uma visão de Nossa Senhora. Tinha então cinquenta e sete anos. Ouviu:
– Juanito, Juan Dieguito!
Olhou para o céu e viu uma Senhora.
– Juanito, o mais pequeno dos meus filhos, onde vais?
– Senhora, vou a tua casa, na cidade.
– Quero que tu, o mais pequeno dos meus filhos, saiba que eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus,
Aquele que cria todas as coisas, dá a vida e é Senhor do céu e da terra. Eu sou também a vossa Mãe, cheia de misericórdia, e por isso desejo vivamente que aqui me seja construído um templo, para que nele possa mostrar o meu amor, a minha compaixão, dar-te ajuda e defesa a ti, aos habitantes deste lugar, a todos os meus devotos que me invocam e têm confiança em mim. Neste lugar, quero ouvir os seus lamentos, vir ao encontro de todas as suas misérias, sofrimentos e dores. Agora, para realizar quanto deseja a minha benignidade, deves ir à casa do bispo do México para lhe dizer que sou Eu que te envio. Manifestar-lhe-ás o meu desejo de ter aqui um templo na esplanada. Presta atenção para lhe poderes dizer tudo quanto viste e ouviste. Prometo-te a minha protecção, far-te-ei feliz e dar-te-ei uma grande recompensa por este dever difícil que te confio. Agora que conheces a minha vontade, meu filho tão pequenino, vai e põe nisto toda a tua diligência.
Juan dirigiu-se de imediato ao bispo Juan de Zumarraga e contou-lhe tudo o que se havia passado. Todavia, o bispo não levou em consideração o pedido que lhe fora transmitido por Juan Diego.
O índio expõe então à Senhora o que se passara, mas novamente
Nossa Senhora lhe pede que insista junto do bispo.
Juan pede-lhe então que envie em seu lugar uma pessoa mais importante, que mereça crédito junto do bispo, pois parece-lhe que este pensou que era tudo invenção da sua cabeça. A Senhora ordena-lhe que volte junto do bispo, porque a sua escolha está feita, e será ele, o pequeno Juan Diego, o portador da sua mensagem. Desta segunda vez, o bispo falou com Juan Diego, interrogando-o para averiguar até que ponto ele era homem de fé, conhecedor da doutrina cristã, e em que medida se tratava de um embuste ou de uma acção divina. Pediu, no final, a Juan Diego que lhe apresentasse algum tipo de prova de que a visão era real.
E mandou alguns homens seguirem-no, mas eles perderam-no de vista.
Ao chegar a casa, Juan encontra o tio, com quem vivia desde o falecimento da esposa, atacado pela peste. O tio pede-lhe que vá procurar um sacerdote, antes de morrer. Esta situação coloca-o num dilema: Ou vai procurar um sacerdote imediatamente, para que ele chegue antes do tio morrer, ou vai procurar a Senhora, para lhe pedir o sinal para o bispo.
Segue pelo caminho, mas sem saber onde ir primeiro.
É o dia 12 de Dezembro, e ao passar no local do costume, Nossa Senhora apareceu pela terceira vez a Juan Diego. Quis saber aonde ia e Juan contou-lhe os seus problemas, dizendo-lhe que tinha de ir procurar um sacerdote e prometendo que depois voltaria.
– Não te preocupes com coisa tão pouca. O teu tio não vai morrer desta doença, por isso não precisa de nenhum sacerdote agora. Digo-te mais, o teu tio já está curado.
Juan Diego acreditou plenamente nas palavras de Nossa Senhora. A Virgem disse-lhe, em seguida, que subisse à colina de Tepeyac, e lá no cimo colhesse flores, voltando depois ali. Ora estava-se na fria e desolada estação do Inverno, numa região bastante seca. O índio cumpriu conforme a Senhora lhe pedira e encontrou uma grande extensão de rosas naturais de Castela, lindas e muito perfumadas, que nunca tinham existido naquele lugar que Juan bem conhecia.
Guardou-as dentro da sua “tilma” (capote) e levou-as a Nossa Senhora. A Senhora disse-lhe então que as fosse apresentar ao bispo. E ele assim fez. Chegado junto do bispo, abriu a tilma, deixando cair as flores. Ainda o bispo e todos os presentes estavam a tentar compreender como podiam existir aquelas flores naquela época do ano, quando repararam na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe desenhada inexplicavelmente na tilma, com o aspecto de uma índia, com roupas índias e grávida. Nossa Senhora enviava ao bispo, não a prova que ele exigira, mas duas provas. O bispo é o primeiro a cair de joelhos perante a imagem e a pedir perdão a Nossa Senhora por não ter acreditado logo naquele que ela escolhera como mensageiro.
Foi então construída uma pequena Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, em 1533, tendo como principal centro de atenção dos fiéis a tilma de Juan Diego. Esta capela sofreu sucessivas ampliações e melhoramentos até à actual Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe.
Depois da cumprida a vontade de Nossa Senhora, Juan Diego pediu, e obteve, autorização do bispo, para abandonar a sua casa e família e propriedades, instalando-se numa pequena casa junto à capela, passando a viver como eremita.
Ocupava-se da limpeza e manutenção da capela e do acolhimento aos peregrinos, que começavam a acorrer em grande número. O tempo restante, passava-o em oração e em contemplação. Também se entregou ao ensino da catequese.
Juan Diego partiu para o Pai, onde reencontrou Maria, em 1548.
Depois da sua partida para o Pai, os fiéis passaram a venerá-lo espontaneamente. “Deus te faça como Juan Diego” passou a ser uma expressão carinhosa e piedosa que os pais ou os sacerdotes dirigiam às crianças.
A 6 de Maio de 1990 Sua Santidade João Paulo II confirmou o culto de beato, que espontânea e tradicionalmente já era praticado, numa cerimónia, na cidade do México, depois de ter assinado o decreto «De vitae sanctitate et de cultu ab immemorabili tempore Servo Dei Ioanni Didaco
praestito», a 9 de Abril, do mesmo ano, em Roma. Por esta altura deu-se na Cidade do México um milagre, atribuído à intercessão de Juan Diego. Este milagre serviu de fundamento à canonização de Juan Diego a 31 de Julho de 2002, também na Cidade do México. Foi o primeiro índio americano canonizado.
Alguns grupos, mesmo dentro da Igreja, chegaram a pôr em causa a existência de Juan Diego, como se não passasse de uma invenção dos missionários.
Os católicos do México e de todo o continente americano acreditam fervorosamente em Nossa Senhora de Guadalupe e na visão de Juan Diego.
A tilma de Juan Diego foi estudada pela NASA, em 1979, com avançados meios tecnológicos. Concluíram que a imagem foi pintada de uma só vez, sem esboço ou correcções, nem rasto de pelos de pincéis. O químico Richard Kuhn, prémio Nobel, declarou que a coloração não é de origem mineral, nem vegetal, nem animal. Em 2001, os cientistas divulgaram que ampliando os olhos da pintura da Senhora de Guadalupe 2500 vezes, as pupilas reflectiam um grupo de índios e de franciscanos. Não existe explicação científica para a possibilidade de essa pintura ter sido feita. Também não existe explicação para o facto de a pintura e a própria tilma terem resistido durante todos estes séculos perfeitamente intactas. Uma bomba colocada por um revolucionário em 1921, destruiu degraus em mármore, janelas, etc., mas não interferiu em absoluto com a imagem na tilma. Actualmente esta está protegida por um vidro à prova de bala.
Da homilia da canonização de Juan Diego, na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México, extraímos as seguintes palavras do Santo Padre:
«Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado!» (Mateus 11, 25-26).
Queridos Irmãos e Irmãs, estas palavras de Jesus no Evangelho deste dia constituem, para nós, um convite especial para louvar e dar graças a Deus pela dádiva do primeiro Santo indígena do Continente americano.
É com grande alegria que fiz a peregrinação até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração mariano do México e da América, para proclamar a santidade de Juan Diego Cuauhtlatoatzin, o índio simples
e humilde que contemplou o rosto dócil e sereno da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.
Ao acolher a mensagem cristã, sem renunciar à sua identidade indígena, Juan Diego descobriu a profunda verdade da nova humanidade, em que todos são chamados a ser filhos de Deus em Cristo.
Esta nobre tarefa de edificar um México melhor, mais justo e mais solidário, exige a colaboração de todos. Em particular, hoje em dia é necessário apoiar os indígenas nas suas aspirações legítimas, respeitando e defendendo os valores autênticos de cada um dos grupos étnicos.
O México tem necessidade dos seus indígenas e os seus indígenas precisam do México! Amados Irmãos e Irmãs de todas as etnias do México e da América, ao exaltar neste dia a figura do índio Juan Diego, desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em relação a todos vós, enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com esperança as difíceis situações por que estais a passar.
Amado Juan Diego, a “águia que fala”! Ensina-nos o caminho que conduz para a Virgem Morena de Tepeyac, para que Ela nos receba no íntimo do seu coração, dado que é a Mãe amorosa e misericordiosa que nos orienta para o Deus verdadeiro”.»
Nesta canonização é relevado o papel dos índios, que ainda sofrem muita segregação e discriminação em toda a América em contraste com o acolhimento que o Papa, em nome da Igreja universal, lhes faz. Durante a visita pastoral, em que Sua Santidade procedeu à canonização de Juan Diego, o Presidente da República do México beijou publicamente o anel do Papa, quebrando uma tradição anticlerical desde a independência do estado mexicano, que obrigava a uma separação completa e evidente entre a Igreja e o Estado, impedindo os políticos de mostrarem a suas inclinações religiosas.
O Santuário de Guadalupe recebe cerca de 15 a 20 milhões de peregrinos por ano.
Esta aparição marca a Evangelização do continente americano.

Adaptado de Os Santos de João Paulo II, Orlando de Carvalho, Lusodidacta, 2004

domingo, 4 de dezembro de 2016

Maria incomoda




O Tribunal Administrativo de Grenoble voltou a ordenar ao município de Publier que retirasse do seu domínio público a sua Virgem. Em primeira decisão, emitida em Janeiro de 2015, já havia chegado à mesma conclusão para a estátua de mármore azul instalado em 2011 num parque público, sem que o assunto tivesse sido discutido no Conselho da Cidade. Sem a implementação desta primeira decisão, a Federação Departamental de Livre-pensamento voltou a queixar-se ao juiz administrativo.
O tribunal deu três meses ao prefeito (presidente da câmara) para mudar a estátua de Maria, que custou quase € 35.000 para os contribuintes. Após esse tempo, a cidade será multada em 100 euros por dia.

Maria visitou a França e os franceses em Paris, na Rua du Bac, em Lourdes, em La Salette, e noutros locais.
Em 1944, o arcebispo de Paris, cardeal Suhard, prometeu edificar uma igreja à Mãe de Deus, caso Paris fosse preservada da destruição pelos alemães. No final da guerra, foi erigida a igreja de Nossa Senhora Mediadora de Todas as Graças, para cumprimento do voto feito. Esta igreja está hoje confiada aos portugueses sob a designação de Santuário de Nossa Senhora de Fátima, Maria Mediadora.
Assim os franceses estão a mostrar a sua ingratidão para com a Mãe de Deus.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

LITURGIA COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES A-2

Um mundo de concórdia nos foi prometido. Por que não o aceitamos?



2016-12-04
DOMINGO II DO ADVENTO
Roxo – Ofício próprio (Semana II do Saltério).
Ano A


LEITURA I Is 11, 1-10

Leitura do Livro de Isaías
Naquele dia, sairá um ramo do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes. Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Deus. Animado assim do temor de Deus, não julgará segundo as aparências, nem decidirá pelo que ouvir dizer. Julgará os infelizes com justiça e com sentenças rectas os humildes do povo. Com o chicote da sua palavra atingirá o violento e com o sopro dos seus lábios exterminará o ímpio. A justiça será a faixa dos seus rins e a lealdade a cintura dos seus flancos. O lobo viverá com o cordeiro e a pantera dormirá com o cabrito; o bezerro e o leãozinho andarão juntos e um menino os poderá conduzir. A vitela e a ursa pastarão juntamente, suas crias dormirão lado a lado; e o leão comerá feno como o boi. A criança de leite brincará junto ao ninho da cobra e o menino meterá a mão na toca da víbora. Não mais praticarão o mal nem a destruição em todo o meu santo monte: o conhecimento do Senhor encherá o país, como as águas enchem o leito do mar. Nesse dia, a raiz de Jessé surgirá como bandeira dos povos; as nações virão procurá-la e a sua morada será gloriosa.
Palavra do Senhor. 

O catequista pede às crianças para levarem animais em borracha, plástico, mesmo em cartão ou papel, recortado ou desenhado por elas. Têm que levar animais de diferentes espécies e hábitos: ferozes, domésticos, carnívoros, bichinhos, moscas incómodas.
Na catequese, pede-lhes que separem os animais que não podem estar juntos. E indaga as razões que levaram às opções de separação. Dirão que os ferozes comem os mansos e os fracos e domésticos.
É então lida a leitura de Isaías e explicada a profecia que se refere ao reino que Jesus havia de vir instaurar. Quem quer fazer parte deste reino em que pode brincar com um burro ou uma águia ou uma abelha sem ser mordido? Com um golfinho ou uma baleia? Com um leãozinho? E quem quer ver estes animais brincarem uns com os outros sem lutarem? É este o Reino que Jesus tem para nos oferecer. Quando todos as pessoas e animais aceitarem a vontade de Deus. Deixará de haver bandidos e polícias, reis e soldados. Não mais haverá armas, nem prisões, nem guerras. Nem inimigos, nem guerreiros.
Com os animais levados para a catequese (pode haver também figuras humanas), brincam a este Reino de Paz.


SALMO 71 Refrão: Nos dias do Senhor nascerá a justiça e a paz para sempre.

Ó Deus, dai ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade. Refrão

Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra. Refrão

Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos. Refrão

O seu nome será eternamente bendito
e durará tanto como a luz do sol;
nele serão abençoadas todas as nações,
todos os povos da terra o hão-de bendizer. Refrão
 
As frases deste salmo, depois de escutada e vivida, ludicamente, a profecia de Isaías, podem ser transformadas num hino e numa profissão de fé na Paz do Ressuscitado e no Reino dos Céus.


LEITURA II Rom 15, 4-9

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e consolação que vêm das Escrituras, tenhamos esperança. O Deus da paciência e da consolação vos conceda que alimenteis os mesmos sentimentos uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que, numa só alma e com uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Acolhei-vos, portanto, uns aos outros, como Cristo vos acolheu, para glória de Deus. Pois Eu vos digo que Cristo Se fez servidor dos judeus, para mostrar a fidelidade de Deus e confirmar as promessas feitas aos nossos antepassados. Por sua vez, os gentios dão glória a Deus pela sua misericórdia, como está escrito: «Por isso eu Vos bendirei entre as nações e cantarei a glória do vosso nome».
Palavra do Senhor.

De pouco serve aos homens a paz entre os animais se continuar a guerra entre os homens e a destruição da natureza pelas pessoas.
Façamos os adolescentes assumirem compromissos de paz para com as outras pessoas e de bons tratos para com o ambiente, animais, plantas e todo o ambiente.

EVANGELHO Mt 3, 1-12

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naqueles dias, apareceu João Baptista a pregar no deserto da Judeia, dizendo: «Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus». Foi dele que o profeta Isaías falou, ao dizer: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». João tinha uma veste tecida com pêlos de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins. O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre. Acorria a ele gente de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do Jordão; e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. Ao ver muitos fariseus e saduceus que vinham ao seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Praticai acções que se conformem ao arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: ‘Abraão é o nosso pai’, porque eu vos digo: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores. Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada e lançada ao fogo. Eu baptizo-vos com água, para vos levar ao arrependimento. Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu e não sou digno de levar as suas sandálias. Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo. Tem a pá na sua mão: há-de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro. Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
Palavra da salvação.


De muito pouco ou de nada servem os compromissos assumidos após o trecho da Carta de S. Paulo aos Romanos, se não passarem à prática (para os adolescentes).
De nada servirá brincarmos a um mundo de paz com as figuras de animais e pessoas, se não fizermos a paz na realidade.
Crianças e adolescentes devem passar a semana seguinte a tentar viver e instaurar a paz de Isaías, a paz de Jesus, nos seus mundos. E fazer um relatório para o próximo encontro de catequese.
Quando se lembrarem e isso fizer sentido, isto é, quando o assunto tiver sido tratado anteriormente, deve compreender-se que o Jubileu da Misericórdia serviu para nos chamar a viver desta maneira.