12 Dezembro, Festa litúrgica de Nossa Senhora de Guadalupe |
Juan Diego
Cuauhtlatoatzin nasceu em 1474 em Cuauhtitlán, no reino de Texcoco, actualmente
México. Pertencia à tribo dos Chichimecas. O seu nome significa “Águia que
fala”.
Em 1492, a expedição
marítima comandada por Cristóvão Colombo chegou ao continente americano,
iniciando-se um intercâmbio social e cultural, nem sempre tão pacífico como
seria de esperar da parte daqueles que já conheciam a Boa Nova do Amor.
Em 1524, os primeiros
missionários franciscanos chegaram ao México. Nesse mesmo ano de 1524,
Cuauhtlatoatzin acreditou no Evangelho e pediu o Baptismo, para si e para a sua
família. Cuauhtlatoatzin recebeu o nome cristão Juan Diego e a sua esposa o
nome de Maria Lúcia. Para completar a sua vida sacramental, celebram o
casamento cristão.
Juan Diego revelou-se
um homem piedoso na sua vida sacramental, bem como na ânsia de conhecer cada
vez melhor a revelação divina, escutando a palavra de Deus, na liturgia e na
catequese. Maria Lúcia vem a falecer em 1529.
Juan Diego costumava
caminhar cerca de vinte quilómetros para ir à missa e voltar. No dia 9 de
Dezembro de 1531, Juan Diego caminhava a pé, como habitualmente a caminho da Eucaristia, quando em Tepeyac teve uma visão de Nossa Senhora. Tinha então
cinquenta e sete anos. Ouviu:
– Juanito, Juan
Dieguito!
Olhou para o céu e viu
uma Senhora.
– Juanito, o mais
pequeno dos meus filhos, onde vais?
– Senhora, vou a tua
casa, na cidade.
– Quero que tu, o mais
pequeno dos meus filhos, saiba que eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do
verdadeiro Deus,
Aquele que cria todas
as coisas, dá a vida e é Senhor do céu e da terra. Eu sou também a vossa Mãe,
cheia de misericórdia, e por isso desejo vivamente que aqui me seja construído um
templo, para que nele possa mostrar o meu amor, a minha compaixão, dar-te ajuda
e defesa a ti, aos habitantes deste lugar, a todos os meus devotos que me
invocam e têm confiança em mim. Neste lugar, quero ouvir os seus lamentos, vir
ao encontro de todas as suas misérias, sofrimentos e dores. Agora, para
realizar quanto deseja a minha benignidade, deves ir à casa do bispo do México
para lhe dizer que sou Eu que te envio. Manifestar-lhe-ás o meu desejo de ter
aqui um templo na esplanada. Presta atenção para lhe poderes dizer tudo quanto
viste e ouviste. Prometo-te a minha protecção, far-te-ei feliz e dar-te-ei uma
grande recompensa por este dever difícil que te confio. Agora que conheces a
minha vontade, meu filho tão pequenino, vai e põe nisto toda a tua diligência.
Juan dirigiu-se de
imediato ao bispo Juan de Zumarraga e contou-lhe tudo o que se havia passado.
Todavia, o bispo não levou em consideração o pedido que lhe fora transmitido por
Juan Diego.
O índio expõe então à
Senhora o que se passara, mas novamente
Nossa Senhora lhe pede
que insista junto do bispo.
Juan pede-lhe então
que envie em seu lugar uma pessoa mais importante, que mereça crédito junto do
bispo, pois parece-lhe que este pensou que era tudo invenção da sua cabeça. A
Senhora ordena-lhe que volte junto do bispo, porque a sua escolha está feita, e
será ele, o pequeno Juan Diego, o portador da sua mensagem. Desta segunda vez, o
bispo falou com Juan Diego, interrogando-o para averiguar até que ponto ele era
homem de fé, conhecedor da doutrina cristã, e em que medida se tratava de um
embuste ou de uma acção divina. Pediu, no final, a Juan Diego que lhe apresentasse
algum tipo de prova de que a visão era real.
E mandou alguns homens
seguirem-no, mas eles perderam-no de vista.
Ao chegar a casa, Juan
encontra o tio, com quem vivia desde o falecimento da esposa, atacado pela
peste. O tio pede-lhe que vá procurar um sacerdote, antes de morrer. Esta situação
coloca-o num dilema: Ou vai procurar um sacerdote imediatamente, para que ele
chegue antes do tio morrer, ou vai procurar a Senhora, para lhe pedir o sinal
para o bispo.
Segue pelo caminho,
mas sem saber onde ir primeiro.
É o dia 12 de
Dezembro, e ao passar no local do costume, Nossa Senhora apareceu pela terceira
vez a Juan Diego. Quis saber aonde ia e Juan contou-lhe os seus problemas, dizendo-lhe
que tinha de ir procurar um sacerdote e prometendo que depois voltaria.
– Não te preocupes com
coisa tão pouca. O teu tio não vai morrer desta doença, por isso não precisa de
nenhum sacerdote agora. Digo-te mais, o teu tio já está curado.
Juan Diego acreditou
plenamente nas palavras de Nossa Senhora. A Virgem disse-lhe, em seguida, que
subisse à colina de Tepeyac, e lá no cimo colhesse flores, voltando depois ali.
Ora estava-se na fria e desolada estação do Inverno, numa região bastante seca.
O índio cumpriu conforme a Senhora lhe pedira e encontrou uma grande extensão
de rosas naturais de Castela, lindas e muito perfumadas, que nunca tinham
existido naquele lugar que Juan bem conhecia.
Guardou-as dentro da
sua “tilma” (capote) e levou-as a Nossa Senhora. A Senhora disse-lhe então que
as fosse apresentar ao bispo. E ele assim fez. Chegado junto do bispo, abriu a
tilma, deixando cair as flores. Ainda o bispo e todos os presentes estavam a
tentar compreender como podiam existir aquelas flores naquela época do ano,
quando repararam na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe desenhada inexplicavelmente
na tilma, com o aspecto de uma índia, com roupas índias e grávida. Nossa
Senhora enviava ao bispo, não a prova que ele exigira, mas duas provas. O bispo
é o primeiro a cair de joelhos perante a imagem e a pedir perdão a Nossa
Senhora por não ter acreditado logo naquele que ela escolhera como mensageiro.
Foi então construída
uma pequena Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, em 1533, tendo como principal
centro de atenção dos fiéis a tilma de Juan Diego. Esta capela sofreu
sucessivas ampliações e melhoramentos até à actual Basílica de Nossa Senhora de
Guadalupe.
Depois da cumprida a
vontade de Nossa Senhora, Juan Diego pediu, e obteve, autorização do bispo, para
abandonar a sua casa e família e propriedades, instalando-se numa pequena casa
junto à capela, passando a viver como eremita.
Ocupava-se da limpeza
e manutenção da capela e do acolhimento aos peregrinos, que começavam a acorrer
em grande número. O tempo restante, passava-o em oração e em contemplação.
Também se entregou ao ensino da catequese.
Juan Diego partiu para
o Pai, onde reencontrou Maria, em 1548.
Depois da sua partida
para o Pai, os fiéis passaram a venerá-lo espontaneamente. “Deus te faça como Juan
Diego” passou a ser uma expressão carinhosa e piedosa que os pais ou os
sacerdotes dirigiam às crianças.
A 6 de Maio de 1990
Sua Santidade João Paulo II confirmou o culto de beato, que espontânea e
tradicionalmente já era praticado, numa cerimónia, na cidade do México, depois
de ter assinado o decreto «De vitae sanctitate et de cultu ab immemorabili
tempore Servo Dei Ioanni Didaco
praestito», a 9 de Abril, do mesmo ano, em Roma. Por esta altura deu-se
na Cidade do México um milagre, atribuído à intercessão de Juan Diego. Este
milagre serviu de fundamento à canonização de Juan Diego a 31 de Julho de 2002,
também na Cidade do México. Foi o primeiro índio americano canonizado.
Alguns grupos, mesmo
dentro da Igreja, chegaram a pôr em causa a existência de Juan Diego, como se
não passasse de uma invenção dos missionários.
Os católicos do México
e de todo o continente americano acreditam fervorosamente em Nossa Senhora de
Guadalupe e na visão de Juan Diego.
A tilma de Juan Diego
foi estudada pela NASA, em 1979, com avançados meios tecnológicos. Concluíram
que a imagem foi pintada de uma só vez, sem esboço ou correcções, nem rasto de
pelos de pincéis. O químico Richard Kuhn, prémio Nobel, declarou que a
coloração não é de origem mineral, nem vegetal, nem animal. Em 2001, os
cientistas divulgaram que ampliando os olhos da pintura da Senhora de Guadalupe
2500 vezes, as pupilas reflectiam um grupo de índios e de franciscanos. Não
existe explicação científica para a possibilidade de essa pintura ter sido
feita. Também não existe explicação para o facto de a pintura e a própria tilma
terem resistido durante todos estes séculos perfeitamente intactas. Uma bomba
colocada por um revolucionário em 1921, destruiu degraus em mármore, janelas, etc.,
mas não interferiu em absoluto com a imagem na tilma. Actualmente esta está
protegida por um vidro à prova de bala.
Da homilia da
canonização de Juan Diego, na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade
do México, extraímos as seguintes palavras do Santo Padre:
«Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas
coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai,
porque assim foi do teu agrado!» (Mateus 11, 25-26).
Queridos Irmãos e Irmãs, estas palavras de
Jesus no Evangelho deste dia constituem, para nós, um convite especial para
louvar e dar graças a Deus pela dádiva do primeiro Santo indígena do Continente
americano.
É com grande alegria que fiz a peregrinação
até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração mariano do México e da
América, para proclamar a santidade de Juan Diego Cuauhtlatoatzin, o índio
simples
e humilde que contemplou o rosto dócil e
sereno da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.
Ao acolher a mensagem cristã, sem renunciar à
sua identidade indígena, Juan Diego descobriu a profunda verdade da nova
humanidade, em que todos são chamados a ser filhos de Deus em Cristo.
Esta nobre tarefa de edificar um México
melhor, mais justo e mais solidário, exige a colaboração de todos. Em particular,
hoje em dia é necessário apoiar os indígenas nas suas aspirações legítimas,
respeitando e defendendo os valores autênticos de cada um dos grupos étnicos.
O México tem necessidade dos seus indígenas e
os seus indígenas precisam do México! Amados Irmãos e Irmãs de todas as etnias
do México e da América, ao exaltar neste dia a figura do índio Juan Diego,
desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em relação a todos vós,
enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com esperança as
difíceis situações por que estais a passar.
Amado Juan Diego, a “águia que fala”!
Ensina-nos o caminho que conduz para a Virgem Morena de Tepeyac, para que Ela
nos receba no íntimo do seu coração, dado que é a Mãe amorosa e misericordiosa
que nos orienta para o Deus verdadeiro”.»
Nesta canonização é
relevado o papel dos índios, que ainda sofrem muita segregação e discriminação
em toda a América em contraste com o acolhimento que o Papa, em nome da Igreja
universal, lhes faz. Durante a visita pastoral, em que Sua Santidade procedeu à
canonização de Juan Diego, o Presidente da República do México beijou publicamente
o anel do Papa, quebrando uma tradição anticlerical desde a independência do
estado mexicano, que obrigava a uma separação completa e evidente entre a
Igreja e o Estado, impedindo os políticos de mostrarem a suas inclinações religiosas.
O Santuário de
Guadalupe recebe cerca de 15 a 20 milhões de peregrinos por ano.
Esta aparição marca a
Evangelização do continente americano.
Adaptado de Os Santos de João Paulo II, Orlando de Carvalho, Lusodidacta, 2004
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