quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Heresias de hoje (No ano 2007?)

Em 2007 eu fazia parte do Conselho Pastoral Diocesano do Patriarcado e nessa qualidade apresentei a seguinte comunicação.
Algumas questões mantém actualidade agora em 2013. Outras eram futurismo que veio entretanto a concretizar-se.

COMUNICAÇÃO AO CONSELHO PASTORAL DIOCESANO

Estaremos certamente perto da verdade, afirmando que algumas heresias nasceram a partir de uma fé ansiosa e bem intencionada.
Porém, a fé não se alimenta apenas da intenção, mas muito particularmente do discernimento.
Aquele que já acredita carece normalmente de ajuda para fortalecer constantemente a fé e não se deixar cair na ilusão.
E é tão recorrente a parasitagem da ilusão pela tentação! Quantas vezes a ilusão enganadora não é apenas uma forma de tentação!
O anúncio da fé é tarefa recomendada por Jesus aos seus discípulos. É tarefa nossa, adquirida pelo Baptismo.
E o seu discernimento?
Deste ocupa-se em primeiro lugar a Sé Apostólica, depois os bispos, os pastores em geral, os teólogos, os catekistas, e, na adequada medida, qualquer baptizado.
Não se trata de instruir na Fé, nem de anunciar o nome de Jesus. Importa-nos agora reflectir sobre a maneira de viver a Fé de forma coerente nesta sociedade e neste tempo.
Os documentos do Magistério da Igreja não chegam à generalidade dos fiéis, nem são de fácil compreensão. Note-se, para melhor compreender esta afirmação, as diferentes interpretações que teólogos e pastores de almas fazem das mesmas frases dos documentos conciliares.
O discernimento está intimamente relacionado com a actualização da Palavra, que a Igreja deve fazer junto dos seus membros, de forma especial nas catekeses e nas homilias. Porque as exortações e as notas pastorais raramente chegam ao último elo da cadeia hierárquica, se é que lhe podemos assim chamar.
Confronto-me com fiéis, no estrito sentido da palavra de fidelidade a Nosso Senhor, com catekistas, com pessoas integradas em diversos grupos eclesiais, que na sua “boa fé” entram em caminhos de verdadeira afronta ao Evangelho e a Deus, sem disso se aperceberem.
Para esses casos, dos quais referiremos dois ou três, é fundamental que a Igreja cumpra a sua missão de ajudar a discernir, de maneira simples e muito próxima do fiel.
Não há hipótese nenhuma de confusão entre intervenção política partidária e discernimento da fé. Porque esta é uma obrigação dos cristãos. É uma obra de misericórdia “ensinar os ignorantes”.
Há um grupo de pessoas que morreram, de forma mais ou menos natural, não se excluindo a hipótese de assassínio político ou assassínio para experimentação dita científica, na China.
Os corpos dessas pessoas foram semimumificados e esculpidos, como se se tratasse de matéria prima para arte: madeira, barro, plástico. Os corpos foram rasgados, distorcidos, pintados e corados, de forma a obter-se um efeito pretensamente estético (só pretensamente, pois Belo é um dos nomes de Deus). Foram organizadas exposições por todo o mundo (infelizmente também na minha querida Faculdade de Ciências), apresentando o evento, ora como de carácter científico, ora de carácter estético, ou simplesmente cultural, cuja única razão para alguém não visitar é a fraqueza de espírito ou a sensibilidade, ambas tão old-fashioned.
E muitos cristãos, que muitas vezes agem como pessoas bem esclarecidas, estão a embarcar neste atentado à dignidade humana e nessa ofensa ao Autor da Criação, pela falta de respeito daquela a que chamamos obra-prima da Criação.
É preciso esclarecer os cristãos, é necessário que os nossos irmãos tenham plena consciência do que se passa para não serem enganados. E o enganador tem nome, a Bíblia dá-lhe nome e identifica-o.
São muitas infelizmente as situações que confundem as pessoas, cristãos e não cristãos, e lhes causam perplexidade. Porque pessoas mal intencionadas propositadamente provocam essas confusões.
Podíamos recordar a confusão gerada em torno da questão de matar ou não matar bebés, falando da dignidade da mulher, do direito da mulher a dispor do seu corpo e outras mentiras que desviaram a atenção do essencial.
Agora é o Bloco de Esquerda que propõe à Assembleia da República o divórcio na hora, a pedido de um dos cônjuges e sem que o outro possa contestar. É o direito de não obrigar as pessoas a manterem-se casadas, a suportar alguém de quem até já não gostam, apenas porque a moral judaico-cristã está a vergar e a escravizar o nosso bom povo, ainda herança do fascismo.
Pois, parece um disparate, mas também parecia a questão do aborto e pode parecer a legalização da homossexualidade, conferindo-lhe estatuto político e social idêntico ao casamento (lá está outra praga legada pela cultura judaico-cristã).
A mesma organização que conseguiu ilegalizar os crucifixos e as imagens religiosas das escolas, veio com a mesma argumentação fazer a mesma exigência em relação aos hospitais! E para pôr ponto final nessa questão exigem que o Estado deixe de pagar salário aos capelães e seja negado aos sacerdotes o livre acesso aos doentes internados.
Mais ou menos todos estamos conscientes destas desgraças que estão a ocorrer neste Portugal onde, como Nossa Senhora prometeu em Fátima, a fé nunca acabará.
Mas pareceu-me urgente deixar aqui o seguinte registo: Cabe à Igreja, através daqueles que são reconhecidos pelos fiéis como seus pastores ou guias, esclarecer e informar acerca destas questões. Com verdade, porque as pessoas estão a ser enganadas e confundidas.
Recentemente, nos Jerónimos, o Senhor Patriarca recordou a necessidade de todos nós, leigos, ministros ordenados e religiosos intervirmos na sociedade, cada um de acordo com o seu meio e grau de inserção na comunidade, evangelizando-a com as nossas próprias vidas e influenciando-a de acordo com as nossas capacidades. Mas não é disso que eu falo.

Ou nos organizamos para, de cima para baixo, porque se trata de uma questão de Magistério, prepararmos e formarmos as pessoas, de maneira especial os cristãos, para não se deixarem seduzir pelas mentiras com que lhes acenam, ou serão os próprios cristãos a darem força democrática a tais obscenidades, em muitos casos por ignorância e por má gestão nossa dos talentos que nos foram confiados.

Orlando de Carvalho

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