Talvez a presença mais visível de Cristo no mundo actual
sejam o Natal e o Presépio, logo depois da Cruz, ou mesmo antes da Cruz.
O Natal é a celebração do nascimento de Jesus, o Cristo,
filho de Maria e de José, judeus que viveram há cerca de dois mil anos sob a
bandeira do Império Romano.
Faz parte da tradição a celebração do aniversário das
pessoas, como modo dos familiares e amigos demonstrarem a amizade e
homenagearem a pessoa. Nem sempre a celebração aniversária coincide com a sua
data exacta. Há bebés que foram registados em data diferente daquela em que
nasceram porque, tendo os pais deixado passar o prazo legal para o fazerem,
evitaram deste modo a multa prevista por o registo ter sido feito após o prazo
que a lei determinava. Com a generalização dos partos em estabelecimentos
hospitalares esta situação deixou de se verificar, em Portugal, a não ser
talvez entre ciganos, nalgumas situações pontuais. Mas estão ainda vivas muitas
pessoas que têm duas hipóteses para celebrar o aniversário: a data em que
realmente nasceram ou a data que consta no Registo Civil.
Por vezes celebra-se um aniversário numa data diferente da
verdadeira por conveniência. Se um aniversário ocorre num dia de trabalho, ou
de escola, é mais fácil juntar os amigos no fim-de-semana seguinte. Também a
celebração de entidades, figuras históricas, e outras, são algumas vezes
transferidas para uns dias antes ou após a data aniversária real, por
conveniência.
Chega de exemplos para explicar que a escolha da data para celebração
do Natal a 25 de Dezembro é uma opção inócua. De tal modo que o facto que a
originou, o início do aumento dos dias solares é válido na Europa e noutros
continentes, mas não o é para África, América do Sul, Filipinas… e já vão
muitos milhões de cristãos.
Esta comemoração festiva não se restringe ao dia de Natal,
mas prolonga-se por um período que vai da véspera do dia 25 de Dezembro até ao
Domingo, dito do Baptismo do Senhor (uma data variável para cada ano e para
cada país, na primeira quinzena de Janeiro).
Em sentido mais lato, a comemoração da Encarnação de Deus no
seio de Maria, esposa de José, começa quatro semanas antes do Natal. Designamos
por Advento este período preliminar, de preparação espiritual e de ordem
prática para a grane festa que é o Natal.
Mas esta celebração natalícia não é a única. Esta refere-se
ao aniversário de uma pessoa: Jesus. Há também o Natal dos interesses. Chega
aos cidadãos anónimos a partir do mês de Outubro. São as grandes promoções de
brinquedos, de roupas, de material informático, de aparelhos eléctricos; as
iluminações de rua. E as pessoas passam três meses a gastar dinheiro que nada
tem a ver com a celebração aniversária. Quantas vezes dinheiro que tinha melhor
utilização para quem o gasta!
Há quem goste de presentear os amigos quando celebra os seus
próprios aniversários em vez de receber deles presentes. Nesta versão natalina
dos interesses passa-se algo semelhante. Com grande antecedência as pessoas
começam a tratar das suas próprias prendas e não dos presentes do
aniversariante que deveríamos estar a homenagear.
Todas as pessoas têm o seu natal particular, isto é, uma
data de nascimento e a sua comemoração anual. O Natal, com letra maiúscula, é
essa comemoração da data de nascimento de uma pessoa muito especial: Jesus, o
filho de Maria e José.
Podemos comparar a dimensão dos benefícios financeiros que
conseguem obter aqueles que exploram o natal dos interesses com o proveito
pastoral alcançado pelos seguidores do Natal do Evangelho. Os primeiros começam
em Janeiro de cada ano a planear e a produzir para que em Outubro a sua
mercadoria esteja já disponível junto dos consumidores. O trabalho do
evangelizador é contínuo, mas tem momentos mais importantes, estratégicos. Um deles
é sem dúvida o Natal. Infelizmente, o sucesso evangelizante não parece ser tão obsessivo
para os agentes pastorais como o lucro para os comerciantes. Por outro lado, ainda
que assim seja, o Natal é a oportunidade para se revelarem a generosidade e a
bondade de muitas pessoas, e de consolo para muitas outras pessoas que recebem
dádivas de alimentos e outros produtos de primeira necessidade. Mesmo quando
não existe uma estratégia pastoral delineada, o Espírito Santo opera milagres
agindo no coração dos seus fiéis e seguidores.
O ícone verdadeiro do Natal é essa generosidade, imagem da
generosidade de Deus que se faz carne no ventre de Maria, na pessoa do Filho.
Daqui resulta que o ícone visível do Natal seja o Presépio. A semente de
Presépio lançada por Francisco de Assis, e depois pelos franciscanos, germinou
e tem levado as gentes de todos os continentes a consubstanciar o seu amor e
adoração a Deus em pequenas representações que levam tanto dos seus corações
que facilmente encontramos sagradas famílias de asiáticos, africanos, europeus
cujas figuras humanas exibem fisionomias de todos os povos e nações. O Presépio
é provavelmente a alma do Natal, do Natal que celebramos, pois é ele que nos
recorda constantemente que o natal dos interesses não é Natal, que o Natal é o
do parto de Maria, sob o olhar protector de José.
Orlando de Carvalho
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