“A minha comunidade
são os pobres. Aqueles de quem ninguém se aproxima, porque são contagiosos e
estão sujos; os que não podem pedir esmola, porque não têm roupa para se
cobrirem; os que já não comem, porque lhes falta força para tanto; os que já
não choram, porque já não têm lágrimas!”
As suas primeiras
companheiras são antigas alunas, que sabem o que anda a fazer e a procuram,
muitas com a oposição das famílias.
Começa por reunir crianças
abandonadas, ensinando-lhes cuidados de higiene, e a ler e escrever, no chão,
porque não dispunha de instalações nem de material escolar. E dá-lhes algo de
muito importante: amor e atenção.
A sua maior preocupação são os
doentes, os incuráveis, os que não têm onde se abrigar, os que nem têm onde
morrer: era comum os doentes idosos ficarem na rua sozinhos até morrerem e
serem transportados para uma vala comum.
Madre Teresa consegue da autarquia
de Calcutá um espaço para onde passam a levar todos os que encontram na rua, a morrerem.
Nem é a questão de os tratar, pois muitos são tuberculosos e leprosos já sem
cura, trata-se de morrerem sob um tecto, com alguma tranquilidade e dignidade,
dando a mão a alguém que não lhes pede nada em troca, alguém que vem de Deus,
mas nem lhes pede que agradeçam, mudando a sua fé. Alguém que lhes dá a mão,
nos últimos momentos, com amor e respeito.
Para suportar o seu apostolado,
pede esmola. Ao mesmo tempo, há quem se aperceba do seu trabalho humanitário e as
contribuições também começam a surgir. Do governo indiano, embora Madre Teresa
fosse uma missionária católica, mas também porque ela já era mais que isso, era
de facto uma missionária universal da caridade. Realiza inúmeras viagens ao
estrangeiro para divulgação da sua obra e angariação de fundos.
Para uma maior eficácia da Obra,
podendo chegar a mais lugares para realizar a caridade cristã, Madre Teresa
funda sucessivamente, a partir de 1963, os Irmãos Missionários da Caridade; as
Irmãs Contemplativas e os Irmãos Contemplativos Missionários da Caridade; os
leigos Colaboradores de Madre Teresa e os Colaboradores dos Doentes e Sofredores;
os Missionários da Caridade Laicos; e o Movimento Sacerdotal Corpus Christi.
A 7 de Dezembro de 1950 é
oficialmente estabelecida a Congregação das Missionárias da Caridade.
A partir de 1960, as Missionárias
da Caridade difundem-se em toda a Índia.
A partir de 1965 abrem casas em
todo o mundo, em todos os continentes e em quase todos os países, mesmo nos comunistas.
Em 1979 recebe o Prémio Nobel da
Paz. Nessa ocasião diria que a sua obra era uma gota de salvação num mar de sofrimento.
Em 1983, aos setenta e três anos,
em Roma, sofre o primeiro ataque de coração grave. O médico disse-lhe:
“A senhora tem coração para mais
trinta anos”.
Madre Teresa levou essas palavras
à letra e nunca mais ninguém a conseguia fazer parar ou abrandar.
É convidada a visitar a União
Soviética, em Agosto de 1987, onde é condecorada com a Medalha de Ouro do Comité
Soviético da Paz.
Em 1989 sofre segundo e muito
forte ataque de coração.
Em 1990 pede ao Papa para ser
substituída, mas volta a ser reeleita e continua na sua azáfama habitual.
Partiu para Deus a 5 de Setembro
de 1997. Cremos firmemente que ouviu Jesus dizer-lhe, mais ou menos, isto:
“Teresa, Eu estava nu e tu
vestiste-Me; Teresa, Eu estava esfomeado, e tu foste ter coMigo e levaste-Me
comida; Teresa, eu estava doente e tu estendeste-Me a tua mão, a tua alma e o
teu coração. Vem a meus braços, minha filha, minha irmã”.
Sua Santidade João Paulo II beatificou
Madre Teresa de Calcutá a 19 de Outubro de 2003. Da sua homilia na cerimónia de
beatificação, citamos:
“ «Quem quiser ser o primeiro
entre vós, faça-se servo de todos» (Marcos 10, 44). Estas palavras de Jesus aos
discípulos, que ressoaram há pouco nesta Praça, indicam qual é o caminho que
leva à “grandeza” evangélica. É o caminho que o próprio Cristo percorreu até à
Cruz; um itinerário de amor e de serviço, que inverte qualquer lógica humana.
Ser o servo de todos!
Madre Teresa de Calcutá,
Fundadora dos Missionários e das Missionárias da Caridade, que hoje tenho a
alegria de inscrever no Álbum dos Beatos, deixou-se guiar por esta lógica.
Estou pessoalmente grato a esta mulher corajosa, que senti sempre ao meu lado.
Ícone do Bom Samaritano, ela ia a toda a parte para servir Cristo, nos mais
pobres entre os pobres. Nem conflitos nem guerras conseguiam ser um impedimento
para ela.
De vez em quando vinha
falar-me das suas experiências ao serviço dos valores evangélicos. Recordo, por
exemplo, as suas intervenções a favor da vida e contra o aborto, também quando
lhe foi conferido o prémio Nobel pela paz (Oslo, 10 de Dezembro de 1979).
Costumava dizer: «Se ouvirdes que alguma mulher não deseja ter o seu menino e
pretende abortar, procurai convencê-la a trazer-mo. Eu amá-lo-ei, vendo nele o
sinal do amor de Deus»”.
A 3 de Fevereiro de 1994, Madre
Teresa proferia uma conferência em Washington sobre aborto e vida:
“Sinto
que o maior inimigo da Paz é hoje o aborto, porque é uma guerra contra as
crianças, são as mães a assassinar os seus próprios filhos inocentes e sem
hipótese de se defenderem.
Ora, se é lícito uma mãe matar o
seu filho, que razão nos impede de nos matarmos todos uns aos outros?
Mas como impedir uma mulher de
recorrer ao aborto? Como sempre, persuadi-la com amor, recordando que amar é
doar-se até que doa. Assim, pois, a mãe que pensa em abortar deve ser ajudada a
reflectir, a amar, a doar-se, mesmo prejudicando os seus projectos, o seu tempo
livre, para respeitar a vida do seu filho. E o pai deve doar-se também, até que
doa.
Uma sociedade que contemporize
com o aborto não estimula o amor, mas o uso da violência para atingir os
objectivos quaisquer que eles sejam. O aborto é pois o maior destruidor do amor
e da paz.
Muitas pessoas estão muito
preocupadas com as crianças da Índia, com as crianças de África, onde muitas
delas morrem de fome, etc. Muitas pessoas também estão preocupadas com toda a
violência nos Estados Unidos. Estas preocupações são muito boas. Mas frequentemente
estas mesmas pessoas não estão preocupadas com os milhões que estão sendo
mortos pela decisão voluntária das suas próprias mães. E isto é que é o maior
destruidor da paz hoje – o aborto, que coloca as pessoas em tal cegueira.
A criança é o dom de Deus para a
família. Cada criança é criada à imagem e semelhança de Deus para grandes
coisas: para amar e ser amada.
Eu vou contar uma coisa bonita.
Nós estamos a lutar contra o aborto através da adopção: tomando conta da mãe e
tratando da adopção do seu bebé. Nós temos salvado milhares de vidas. Enviámos
a mensagem para as clínicas, para os hospitais e esquadras: “Por favor não
destruam a criança, nós ficaremos com ela.” Nós temos sempre alguém para dizer
às mães em dificuldade: “Venha, nós tomaremos conta de si, nós arranjaremos um
lar para o seu bebé”. E nós temos uma enorme procura por parte de casais que
não podem ter um filho. Porém, eu nunca dou uma criança a um casal que tenha
feito algo para não ter filhos. Jesus disse, “Aquele que recebe uma criança em
meu nome, a mim recebe.” Ao adoptar uma criança, estes casais recebem Jesus
mas, ao abortar uma criança, um casal recusa-se a receber Jesus.
Por favor não mate o bebé. Eu
quero o bebé. Por favor dê-me o bebé. Eu estou disposta a aceitar qualquer bebé
que esteja para ser abortado e dar esse bebé a um casal que o ame e seja amado
por ele.
Exclusivamente do nosso lar de
crianças em Calcutá, já salvámos mais de três mil bebés do aborto. Estes bebés
trouxeram muito amor e alegria aos seus pais adoptivos, e crescem cheios de
amor e de alegria."
Algumas das muitas frases
conhecidas de Madre
Teresa de Calcutá:
– Não devemos permitir que ninguém
saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz
– Nunca compreenderemos o quanto
um simples sorriso pode fazer.
– O amor, para ser verdadeiro, tem
de doer. Não basta dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até que isso
nos doa.
– A pior calamidade para a
humanidade não é a guerra ou um terremoto. É viver sem Deus. Quando Deus não existe,
admite-se tudo. Se a lei permite o aborto e a eutanásia, não nos surpreende que
se promova a guerra!
In Orlando de Carvalho, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2004