Janela de Isaac Newton, Cambridge
Dons do Espírito Santo
Sabedoria
Os gregos são o primeiro povo que define uma busca sistematizada
pela sabedoria. Eles criaram e desenvolveram a filosofia.
(filos = amor + sofia = sabedoria)
De acordo com Sócrates e Platão, a mitologia foi a base de
reflexão dos filósofos. Quando estes sábios procuraram estabelecer relações
entre o indivíduo e a sociedade e tornam-se legisladores. Posteriormente dedicaram-se
ao estudo da natureza e à procura da origem. Um passo seguinte desta evolução
foi o número, a matemática e a reflexão racional desligada da materialidade. Finalmente
no século V a. C. surgem os sofistas, que se dedicam essencialmente à
discussão. Eles são capazes de provar que uma coisa é, mas também que não é,
consoante quem lhes paga pede uma ou outra. Falam muito, são óptimos políticos,
mas não lhes interessa a verdade. Com Platão e Sócrates, que coexistiram com os
sofistas, a filosofia envereda pelo campo da ética e da procura da verdade.
Nos nossos dias, considera-se sábia uma pessoa que tem
muitos conhecimentos, sejam eles quais forem, podendo distinguir-se diversos
campos de conhecimento ou sabedoria. Noutra perspectiva, o sábio é aquele que
consegue viver bem e alcançar um certo estatuto económico e social.
Vemos então que a sabedoria para as pessoas trata da
quantidade e qualidade de informação que uma pessoa adquire e do modo como a
utiliza.
A sabedoria é um dos dons do Espírito Santo, mas embora
usemos a mesma palavra, esta sabedoria, a de Deus, nada tem a ver com aquela a
que nos habituámos no quotidiano.
A Sabedoria que vem do Espírito Santo não tem que ver com a
quantidade de informação que contém nem com as relações que percepcionamos
entre as coisas do mundo. A Sabedoria que o Espírito Santo derrama sobre nós é aquilo
que nos permite ter perante as coisas, as pessoas e as relações uma atitude
idêntica à de Deus.
Sem-abrigo, Cambridge
Na parábola do Samaritano (Lc 10,37), Jesus ensina que, “de
tantos que passaram”, apenas um teve a sabedoria para agir à maneira de Deus. Ele
olhou para o desgraçado à beira do caminho com um olhar idêntico ao de Deus. O sacerdote
e o levita que supostamente seriam homens de Deus, conhecedores, adoradores e
ensinadores de Deus, afinal nada sabiam. Foi o estrangeiro que eles desdenhavam
que agiu com Sabedoria.
Sabedoria é um dos nomes de Deus e agir com sabedoria é agir
naquele momento e naquela circunstância como Deus actuaria.
Para os gregos e para as pessoas deste tempo, normalmente a
sabedoria tem a ver com a procura da verdade, está revestida de incerteza e
carece de pesquisa.
Na fé a sabedoria é Deus, é a verdade e não a procura desta.
É plenitude e não incerteza e pesquisa.
Orlando de Carvalho