sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Voluntariado e amadorismo na génese da catequese


O catequeta

Voluntariado e amadorismo na génese da catequese

Sob o título genérico “O catequeta” publicaremos alguns artigos relativos à catequese, sua metodologia, objectivos e meios, como ferramenta útil aos catequistas e agentes de evangelização em geral.
Há uns anos, num curso para catequistas, alguém me colocou a seguinte questão:
- Se existe um problema de falta de pessoas disponíveis para fazer catequese e também existe um problema de falta de formação para os catequistas, de modo a poderem cumprir cabalmente o que deles se pode esperar, então, não seria de ponderar a hipótese de termos catequistas, mesmo sem fé, mas bem formados, para ministrarem catequese?
É fácil e intuitivo recusar esta proposta, mas talvez seja mais difícil justificar a recusa.
Não obstante a importância de uma boa formação do catequista, para que aprofunde a sua relação com Deus e esteja mais apto a dar resposta às questões que lhe forem colocadas, a revelação que procede de Deus e se abre ao coração, à alma e à mente é a verdadeira sabedoria de que o anunciador do Evangelho necessita e sem a qual não pode ministrar. A formação que procede da sistematização humana e que é realizada pela Igreja não serve de nada sem a primeira que procede directamente do Espírito Santo.
A formação dos catequistas não pode ser descurada, nem pelos próprios, nem pelos responsáveis por este serviço eclesial, que são, em primeiro lugar, os bispos. Quando Jesus ensinava, dava formação teórica aos que O seguiam. Estes testemunhavam, ao mesmo tempo, o agir de Jesus. Ao enviar setenta e dois desses discípulos em missão, Jesus estava a dar-lhes formação prática.
Dos milhares que seguiam Jesus, foram seleccionados setenta e dois, destes, o Senhor escolheu doze, de onde um deles ainda se auto-excluiria. Esta selecção progressiva, ou formação, deu frutos tão abundantes que passados poucos anos os cristãos baptizados seriam já milhões.
Face à falta de agentes de evangelização e como meio de incorporar na vida activa da Igreja os adolescentes que terminam um percurso catequético de iniciação á fé, muitos jovens são engajados como catequistas. Alguns abandonam passados poucos meses ou mesmo um ano de experiência; outros permanecem durante anos ou uma vida inteira. Há também um grupo mais numeroso que serve ao longo de dois ou três anos, por vezes mais, e, não tendo ainda completado a sua integração, abandonam, deitando a perder o tempo e a energia investidos na sua formação. Este conjunto volante e volátil de catequistas não parece ser salutar para a comunidade catequética, mas é em muitos casos o seu principal alicerce, e este facto devia fazer-nos reflectir profundamente a realidade que temos.
A Igreja pretende sempre fazer melhor e mais pela santidade, mas tem de reconhecer e aceitar a sua condição e as limitações que tem.
Respondendo à pergunta que aquele jovem me colocou um dia e a que aludi anteriormente, tenho presente a caracterização fundamental do catequista: para anunciar Jesus é preciso amá-lO e para O amar é necessário conhecê-lO. A catequese faz-se com beleza e com qualidade, que são os seus atributos metodológicos fundamentais. O serviço do catequista é voluntariado, não pode ser pago, precisamente para não se tornar num trabalho maquinal e desligado do amor. É urgente evitar que amadores pretendam fazer catequese ou que para tal sejam convidados. O voluntário contrai obrigações, e o catequista está obrigado perante Deus e a comunidade que serve. O amador faz experiências, não está sujeito a regras, a horários, a restringir-se a um mandato. O catequista anuncia o Evangelho, e apenas o Evangelho. O catequista que se assume como voluntário deve ser acarinhado e estimulado, mas o que se revela amador e superficial deve ser afastado deste serviço. O catequista reúne mas o amador espalha. Maior culpa que o catequista amador tem aquele que, sendo responsável, permite tal situação.

Epílogo: Diversos pais das crianças que frequentam a catequese, e outras pessoas, não acreditam que os catequistas realizem este serviço com tanta dedicação gratuitamente, e chegam mesmo a referir-se à obrigação dos catequistas, porque estes receberiam uma retribuição monetária. É difícil a muitas pessoas entenderem que haja quem dedique o seu tempo e trabalho gratuitamente ao serviço da comunidade e de Deus. Este julgamento é afinal a grande homenagem aos catequistas.

Orlando de Carvalho

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