- Parece coisa do Diabo!
Quantas vezes se ouve esta expressão. Infelizmente as
palavras diabo, demónio e outras de sentido idêntico surgem com excessiva
frequência na linguagem corrente.
- É coisa de bruxa!
- Anda aqui bruxedo!
Ou “Anda aqui gato”, provavelmente algum gato preto, que
parece serem os preferidos das bruxas.
- Eu não acredito em bruxas, mas que as há… há!
Revelamo-nos escrupulosos no cumprimento da “não invocação
do santo nome de Deus em vão”, ao ponto de evitarmos a expressão “Por amor de
Deus”. Esse Deus que Se afirma nosso Pai, nosso Amigo e que nos declara o seu
Amor e a sua disponibilidade constante para nos perdoar. Mas deitamos da boca
para fora diabos e bruxas e todos os restantes membros desta família escabrosa,
sem demonstrarmos qualquer incómodo. Os ingleses dizem “my godness” ou “my
goodness” para evitar “my God”, que seria invocar o nome de Deus. Os judeus
evitam referir o nome de Deus. Nós usamos também expressões alternativas como “por
amor da santa”.
Afinal, que são “coisas do Diabo”?
“Quem não está comigo, está contra Mim” (Mt 12,30), afirmou
Jesus.
No fundo, sempre que fazemos algo ou dizemos alguma coisa,
estamos invariavelmente a beneficiar ou a prejudicar alguém. Fazendo o bem,
estamos com Jesus. Fazendo o mal, estamos invariavelmente contra Jesus. Sempre que
provocamos dor ao nosso próximo, é a Jesus que agredimos e contra Ele estamos.
Coisas do Diabo são todas as que chocam com a vontade de
Deus e com os seus desígnios. Nesta perspectiva, o Diabo somos nós mesmos
quando nos insurgimos contra o Criador. Do mesmo modo que sempre que
colaboramos na obra criadora e salvífica de Deus nos assemelhamos ao Senhor.
Talvez algumas coisas ditas ou realizadas sejam amorfas,
apenas brincadeiras. Todavia, existe sempre um fundo em cada palavra e em cada
gesto que nos configura com Deus ou nos define contra o Senhor.
Alguns dirão que, nesta situação, o melhor seria ficar
calado. Em muitas ocasiões, é-o, de facto. Sempre que movemos os lábios para
falar mal de alguém ou de alguma forma prejudicar o próximo, antes eles
tivessem ficado cerrados. Mas essa não pode ser a regra. A boca serve para
louvar a Deus e consolar o que se encontra em aflição, por exemplo. Não deixemos
de a usar bem.
Tudo o que nos separa de Deus é negativo, dizemos que é do
Diabo, embora as nossas decisões sejam tomadas por nós e por mais ninguém. Deus
criou-nos com capacidade para decidirmos em liberdade, por Ele ou contra Ele.
Temos liberdade de opção entre as coisas do Diabo e a lei de
Deus. O Senhor conhece as limitações e fraquezas com que nos criou, (Ele sabe
as razões por que nos criou assim), e levará certamente em conta as atenuantes
que existam quando as nossas escolhas não são as correctas e principalmente as
razões que nos empurraram para uma má escolha.
Invoquemos mais vezes a presença de Deus e menos a do Diabo
e seus afiliados, que são, nem mais nem menos, que a ausência de Deus. De Deus
nos vem tudo, a Ele, e só a Ele, temos de recorrer. Ao invocar a sua ausência,
isto é, ao substituirmos o seu nome por palavras sem sentido, prejudicamo-nos,
porque o “nada” não poderá nunca vir em nosso socorro.
De Deus vem todo o bem e felicidade, neste mundo e na
eternidade.
Orlando de Carvalho
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