quinta-feira, 30 de abril de 2020

S. José Operário

John Everett Millais (1829-1896), a oficina familiar de S. José

S. João XXIII entregou a protecção do Concílio Ecuménico Vaticano II a São José.
Nesta carta, através da qual oficializa S. José como padroeiro do Concílio, São João XXIII revê alguns documentos de papas anteriores que louvaram São José.
No 1º dia de Maio a Igreja comemora S. José Operário. Há algum tempo, uma figura ilustre da Igreja ironizava acerca deste título de São José. Para algumas pessoas, operário é sinónimo de vergonha ou de comunista. Esta perspectiva é muito errada e muito triste. Além de ser um confronto com desnecessário e gratuito com a Igreja e a devoção popular da maioria do povo católico, ou mesmo cristão. São José foi operário, trabalhou como carpinteiro. Ser devoto de S. José implica aceitar a sua situação profissional, e a de Jesus, com todas as consequências dessa aceitação.
Deliciemo-nos com o curto texto desta Carta Apostólica, As Vozes, que deve enlevar todos os devotos de S. José, operário, pai putativo de Jesus e esposo da Virgem Maria.



Carta Apostólica Le Voci, do Sumo Pontífice João XXIII, aos Ordinários dos lugares, e aos fiéis cristãos do mundo católico sobre a devoção a São José, padroeiro do Concílio Ecuménico VaticanoII



Veneráveis Irmãos e caros filhos

1. As vozes que, de todos os pontos da terra, chegam ate nós em expressões de feliz expectativa e de votos pelo feliz êxito do Concílio Ecuménico Vaticano II, impelem cada vez mais nosso espírito a tirar proveito da boa disposição de tantos corações simples e sinceros, desejosos, com amável espontaneidade, de implorar o auxílio celeste, aumento de fervor religioso e clareza de orientação prática para tudo quanto a celebração do concílio supõe e nos promete como incremento da vida íntima e social da Igreja e renovação espiritual do mundo inteiro.

2. E eis que se nos apresenta, qual uma aparição da nova primavera deste ano e no limiar da sagrada Liturgia Pascal, a suave e amável figura de S. José, o augusto esposo de Maria, tão caro ao íntimo das almas mais sensíveis aos atractivos do ascetismo cristão e de suas expressões de piedade religiosa, reservadas e modestas, mas tanto mais apreciadas e suaves.

3. No culto da santa Igreja, Jesus, Verbo de Deus feito homem, teve logo uma adoração incomunicável como esplendor da natureza de seu Pai, e irradiando-se na glória dos santos. Maria, sua Mãe, seguiu-o de perto desde os primeiros séculos, nas imagens das catacumbas e das basílicas, piedosamente veneradas: Sancta Maria Mater Dei. S. José, pelo contrário, exceptuando algum traço de sua figura, encontrado aqui e ali nos escritos dos Padres, permaneceu durante séculos e séculos em seu característico apagamento, um pouco como figura de ornamento no quadro da vida do Senhor. E foi necessário tempo até que seu culto passasse dos olhos aos corações dos fiéis e despertasse neles singular fervor de oração e abandono confiante. E estas foram as piedosas alegrias reservadas às efusões da época moderna: oh! quão abundantes e grandiosas! E temos particular alegria em colher daí uma observação tão característica quanto significativa.
S. José na voz dos Papas dos cem últimos anos

4. Entre os diversos postulata que os Padres do Concílio Vaticano I reunidos em Roma (1869-1870), apresentaram a Pio IX, os dois primeiros eram concernentes a S. José. Antes de tudo, pedia-se que seu culto tivesse lugar mais elevado na sagrada liturgia; trazia a assinatura de 153 bispos. O outro, assinado por 43 superiores gerais de ordens religiosas, suplicava a solene proclamação de S. José como Padroeiro da Igreja Universal.


Pio IX

5. Pio IX acolheu um e outro com alegria. Desde o início de seu pontificado havia fixado a festa e a liturgia para o patrocínio de S. José no III domingo depois da páscoa. Já em 1854, em vibrante e fervorosa alocução, indicara S. José como a esperança mais segura da Igreja depois da Virgem santíssima; e no dia 8 de Dezembro de 1870, suspenso o concílio Vaticano pelos acontecimentos políticos, escolheu a feliz coincidência da festa da Imaculada Conceição para a proclamação mais solene e oficial de S. José como padroeiro da Igreja universal e para a elevação da festa de 19 de março à celebração de rito duplo de 1ª classe.



6. Foi - o daquele 8 de Dezembro de 1870 - um breve, mas precioso e admirável Decreto "Urbi et Orbi", verdadeiramente digno do "Ad perpetuam rei memorium", que abriu um veio de riquíssimas e preciosas inspirações aos sucessores de Pio IX.

Leão XIII

7. Com efeito, eis que o imortal Leão XIII apresenta para a festa da Assunção de 1889, com a carta Quamquam pluries, o documento mais amplo e copioso até então publicado por um papa, em honra do pai putativo de Jesus, elevado em sua luz característica de modelo dos pais de família e dos operários. Provém daí a bela oração: "A vós, ó Bem-aventurado S. José", que encheu de tanta doçura nossa infância.

S. Pio X

8. O santo pontífice Pio X acrescentou as expressões do Papa Leão XIII numerosas outras de devoção e de amor para com S. José, acolhendo de bom grado a dedicatória que lhe foi feita de um tratado que ilustra seu culto, e multiplicando o tesouro das indulgências para a recitação das ladainhas, tão caras e tão doces de dizer. Como estão bem expressos os termos dessa concessão! "O santíssimo senhor nosso Pio X engrandece o ínclito patriarca S. José pai putativo, esposo puríssimo da Virgem mãe e poderoso patrono da Igreja católica junto de Deus" - e vede que delicadeza de sentimentos pessoais - "cujo glorioso nome é aprendido desde o nascimento, e é envolvido de piedade e religião constante". E os termos com que anunciou os motivos dos novos favores concedidos: "para cultuar S. José, padroeiro da Igreja universal".



Bento XV

9. Ao desencadear-se a primeira grande guerra europeia, quando os olhos de s. Pio X se fechavam à vida terrestre, eis que aparecia providencialmente o Papa Bento XV, que atravessou qual um astro benéfico de consolação universal os anos dolorosos de 1914 a 1918. Também ele quis logo promover o culto do santo patriarca. Com efeito, é a ele que se deve a introdução de dois novos prefácios ao cânone da santa missa: precisamente o de S. José e o da missa dos defuntos, associa com felicidade um e outro em dois decretos do mesmo dia, 9 de Abril de 1919, como a lembrar uma concomitância e fusão de dor e de conforto entre as duas famílias: a família celeste de Nazaré, da qual S. José era o chefe legal, e a imensa família humana afligida por uma consternação universal pelas inúmeras vítimas da guerra devastadora. Que triste, mas também suave e feliz aproximação: Duma parte, S. José e, de outra, "o signifer sanctus Michael": ambos apresentando as almas dos defuntos ao Senhor "na luz santa".

10. No ano seguinte - 25 de Julho de 1920 - o papa Bento XV voltava a este assunto no cinquentenário, que então se preparava, da proclamação - já feita por Pio IX - de S. José como Padroeiro da Igreja universal; e voltava numa luz de doutrina teológica com o Motu próprio Bonum Sane, todo impregnado de ternura e singular confiança. Oh! que belo iluminar-se da suave e benévola figura do santo, que ele faz o povo cristão invocar para proteger a igreja militante, no momento mesmo em que reflorescem suas melhores energias para a reconstrução espiritual e material, depois de tantas calamidades; e para reconforto de tantos milhões de vítimas humanas que jaziam às portas da morte e para as quais o Papa Bento XV queria pedir aos bispos e as numerosas associações piedosas espalhadas pelo mundo, a intervenção suplicante de suas orações a S. José, padroeiro dos agonizantes.

Pio XI e Pio XII

11. Seguindo a mesma linha de conselho da devoção fervorosa ao santo patriarca, os dois últimos pontífices Pio XI e Pio XII - ambos sempre de cara e venerável memória - se sucederam numa viva e edificante fidelidade de ensino, de exortação, de fervor.

12. Pelo menos quatro vezes, Pio XI, em solenes alocuções relativas à glorificação de novos santos e, frequentemente, na ocorrência de 19 de Março - por exemplo em 1928, depois em 1935 e ainda em 1937 - aproveitou a ocasião para exaltar as diferentes luzes que ornam a fisionomia espiritual do guardião de Jesus, do castíssimo esposo de Maria, do piedoso e modesto operário de Nazaré, e do padroeiro da Igreja universal, poderoso escudo de defesa contra os esforços do ateísmo mundial que visa a desagregação das nações cristãs.

13. Também Pio XII tomou de seu predecessor a nota fundamental no mesmo tom, em numerosas alocuções, todas tão belas, vibrantes e felizes. Como a 10 de abril de 1940 quando convidava os jovens esposos a se colocarem sob o seguro e suave manto do Esposo de Maria; e em 1945) quando convidava os membros da associação cristã dos operários a honrá-lo como elevado exemplo e defensor invencível de suas falanges; e dez anos depois, em 1955 quando anunciava a instituição da festa anual de S. José operário. Na realidade, esta festa de instituição recentíssima, fixada a 1° de maio, veio suprimir a da 4ª feira da segunda semana de páscoa, enquanto a festa tradicional de 19 de Março marcará de agora em diante a data mais solene e definitiva do patrocínio de S. José sobre a Igreja universal.

14. O mesmo Santo Padre Pio XII quis ornar como que de preciosíssima coroa o peito de S. José com uma fervorosa oração proposta à devoção dos sacerdotes e fiéis de todo o mundo, e cuja recitação enriqueceu de numerosas indulgências. Oração de carácter eminentemente profissional e social, como convém àqueles que estão sujeitos à lei do trabalho, que é para todos "lei de honra, de vida pacífica e santa, prelúdio da felicidade imortal". Diz ela, entre outras coisas: "Permanecei connosco, ó S. José, nos nossos momentos de prosperidade, quando tudo nos convida a gozar honestamente dos frutos de nossas fadigas; mas, sobretudo, permanecei connosco e sustentai-nos nas horas de tristeza quando parece que o céu quer fechar-se sobre nós e até os instrumentos de nosso trabalho vão escapar de nossas mãos".


15. Veneráveis Irmãos e caros filhos: pareceu-nos também oportuno propor estas notas de história e de piedade religiosa a devota atenção de vossas almas, educadas na delicadeza do sentir e do viver cristão e católico, precisamente nesta data de 19 de Março, quando a festa de S. José coincide com o início do tempo da Paixão e nos prepara para intenso contacto com os mistérios mais emocionantes e salutares da sagrada liturgia. As disposições que prescrevem o véu sobre as imagens do crucifixo, de Maria e dos santos durante as duas semanas de preparação da páscoa, são convite a um recolhimento íntimo e sagrado, concernente às comunicações com o Senhor, por meio da oração que deve ser meditação e súplica assídua e ardente. O Senhor, a Virgem Santíssima e os Santos estão a espera de nossas confidências; e é bem natural que estas se regam ao que corresponde melhor às solicitudes da Igreja católica universal.

À espera do Concílio ecuménico

16. Ao centro destas solicitudes e em lugar preeminente encontra-se, sem dúvida, o Concílio Ecuménico Vaticano, cuja expectativa está nos corações de todos os que crêem em Jesus Redentor, quer pertençam à nossa mãe, a Igreja católica, ou a alguma das diversas confissões que dela se separaram e nas quais, entretanto, muitos estão ansiosos por uma volta a unidade e a paz, segundo o ensino e a oração de Cristo ao Pai Celeste. É muito natural que esta evocação das palavras dos Papas do último século sirva perfeitamente para suscitar a cooperação do mundo católico para o bom êxito do grande plano de ordem, de elevação espiritual e de paz, ao qual um Concílio Ecuménico é chamado.

O Concílio a serviço de todas as almas

17. Tudo é grande e digno de consideração na Igreja, tal como Jesus a constituiu. Na celebração de um Concílio, reúnem-se em torno dos padres as personalidades mais notáveis do mundo eclesiástico, dotadas de altas qualidades de doutrina teológica e jurídica, de capacidade de organização, de elevado espírito apostólico. Eis o Concílio: o papa no ápice e, em torno dele e com ele, os cardeais, os bispos de todos os ritos e de todos os países, os doutores e mestres mais competentes nos diversos graus de suas especializações.

18. Mas o Concílio é feito para todo o povo cristão que nele está interessado pela circulação mais perfeita da graça, de vitalidade cristã, que torna mais fácil e rápida a aquisição de bens verdadeiramente preciosos da vida presente e asseguram as riquezas dos séculos eternos.

19. Todos, por conseguinte, estão interessados pelo Concílio, eclesiásticos e leigos, grandes e pequenos de todas as partes do mundo, de todas as classes, de todas as raças, de todas as cores; e se um protector celeste é indicado para conseguir do alto, em sua preparação e realização, aquele "poder divino" pelo qual ele parece destinado a marcar época na história da Igreja contemporânea, a nenhum dos protectores celestes poderia ser mais bem confiado do que a S. José, augusto chefe da família de Nazaré e protector da santa Igreja.

20. Ouvindo de novo o eco das vozes dos Papas deste último século de nossa história, como nos acontece, tocam ainda nosso coração os acentos característicos de Pio XI, em razão também de sua maneira reflectida e calma de exprimir-se. Temos ainda no ouvido um discurso pronunciado a 19 de Março de 1928, com uma alusão que ele não soube, não quis calar, em honra de S. José, do caro e bendito S. José, como gostava de saudá-lo.

21. "É sugestivo, dizia ele, observar de perto e, por assim dizer, ver brilhar, uma ao lado da outra, duas magníficas figuras que se acompanham no início da Igreja: primeiramente a de s. João Batista, que surge do deserto, algumas vezes com voz forte e outras com pacífica doçura; às vezes como um leão que ruge e outras como o amigo que se alegra com a glória do esposo e oferece aos olhos do mundo o esplendor maravilhoso de seu martírio. Em seguida, a figura tão vigorosa de Pedro, que ouve do Divino Mestre as magníficas palavras: `Ide e pregai a todo o mundo'; e para ele, pessoalmente: `Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja'. Grande missão, divinamente faustosa e retumbante".

22. Assim falava Pio XI. Prosseguia depois, e com quanta felicidade: "Entre estes dois grandes personagens, entre estas duas missões, eis que aparecem a pessoa e a missão de S. José que, ao contrário, passam apagadas, silenciosas, como que despercebidas e ignoradas, na humildade, no silêncio, silêncio que não devia iluminar-se senão mais tarde, silêncio ao qual deveriam suceder, e muito alto, o grito, a voz, a glória nos séculos".


23. Oh! a invocação, oh! o culto de S. José para a protecção do Concílio Ecuménico Vaticano II.
Veneráveis irmãos e caríssimos filhos de Roma, irmãos e filhos muito amados do mundo inteiro. É a este ponto que desejamos vos conduzir, enviando-vos esta Carta Apostólica justamente no dia 19 de Março, em que a celebração da festa de S. José, Padroeiro da Igreja universal, podia servir às vossas almas de incentivo a uma renovação extraordinária de fervor para a participação, por meio de oração mais viva, ardente e contínua, nas solicitudes da santa Igreja, mãe e mestra, que ensina e dirige este acontecimento extraordinário do XXI Concílio Ecuménico e Vaticano II, do qual toda a imprensa pública mundial se ocupa com vivo interesse e respeitosa atenção.

24. Bem sabeis que a primeira fase de organização do Concílio prossegue em actividade pacífica, laboriosa e consoladora. Por centenas, insignes prelados e eclesiásticos, vindos de todas as regiões do mundo, se sucedem aqui em Roma, distribuídos em diferentes secções bem organizadas, cada uma entregue ao seu trabalho particular, seguindo preciosas indicações contidas numa série de imponentes volumes que exprimem o pensamento, a experiência, as sugestões recolhidas pela inteligência, pela sabedoria, pelo vibrante fervor apostólico daquilo que constituiu a verdadeira riqueza da Igreja católica do passado, do presente e do futuro. O Concílio Ecuménico não pede para sua realização e seu êxito senão luz de verdade e de graça, disciplina de estudo e de silêncio, paz serena dos espíritos e dos corações. Isto de nossa parte humana. Vem do alto o auxílio celeste que o povo cristão deve implorar com sua viva cooperação pela oração, por um esforço de vida exemplar que seja antecipação e exemplo da disposição bem resoluta, da parte de cada um dos féis, de observar depois as instruções e as directrizes que serão proclamadas na conclusão tão desejada do grande acontecimento, que já segue curso feliz e promissor.

25. Veneráveis Irmãos e caros filhos.
O luminoso pensamento do Papa Pio XI a 19 de Março de 1928 segue-nos ainda. Aqui de Roma, a sagrada catedral de Latrão resplandece sempre na glória de s. João Batista. Mas no maior templo de s. Pedro, onde são veneradas preciosas lembranças de toda a cristandade, há também um altar de S. José; e desejamos e propomos na data de hoje, 19 de Março de 1961, que o altar de S. José seja revestido de novo esplendor, mais amplo e mais solene; e se torne um ponto de atracção e de piedade religiosa para cada uma das almas e inumeráveis multidões. É sob as abóbadas celestiais da basílica vaticana que se reunirão em torno do chefe da Igreja as falanges dos componentes do colégio apostólico vindos de todos os pontos do globo, mesmo os mais distantes, para o Concílio Ecuménico.

26. Ó S. José! Aqui, aqui mesmo é vosso lugar de "Protector da Igreja universal". Quisemos apresentar-vos, através das palavras e dos documentos de nossos predecessores imediatos dos últimos séculos - de Pio IX a Pio XII - uma coroa de honra, como eco dos testemunhos de afectuosa veneração que se eleva igualmente de todas as nações católicas e de todas as regiões missionárias. Sede sempre nosso protector. Que vosso espírito interior de paz, de silêncio, de bom trabalho e de oração, a serviço da santa Igreja, nos vivifique sempre e nos alegre em união com vossa santa esposa, nossa dulcíssima Mãe Imaculada, num fortíssimo e suave amor a Jesus, Rei glorioso e imortal dos séculos e dos povos. Assim seja.
Dado em Roma, junto de s. Pedro, a 19 de Março de 1961, terceiro de nosso Pontificado.

JOÃO PP. XXIII
 



segunda-feira, 27 de abril de 2020

Melhorar a relação e a participação das famílias na catequese


Inquérito a catequistas

Como melhorar a relação com os pais e a sua participação na catequese?

Em vários encontros de formação, workshops que orientei para catequistas, fui-lhes apresentando um inquérito acerca de como melhorar a participação dos pais nas catequeses.
Um tempo de pausa e paragem, um benefício que todos podem colher, no caso presente a catequese, é uma oportunidade para reflexão.
Nós cristãos, sabemos que estas pausas são muitas vezes dons de Deus, quando nos recordamos da quarentena de Jesus no deserto ou as quatro décadas que os hebreus demoraram desde a partida do Egipto até à chegada à Terra Prometida. Um homem saudável pode percorrer essa distância em cerca de uma semana.
Eu vou partilhar algumas das respostas, sugestões e comentários apresentadas pelos catequistas nas respostas ao inquérito referido, que foi desenvolvido num espaço de tempo muito alargado e num âmbito geográfico amplo. Nesses encontros, dividi os catequistas em grupos e as suas respostas foram já o resultado de debate nesses grupos.

Propositadamente não eliminámos algumas respostas que parecem repetidas, iguais ou idênticas. Optámos por mantê-las, em primeiro lugar para mostrar que são o sentir de várias pessoas, o que talvez nos faça deter um pouco mais sobre elas, ou mostrar que reflectir uma maior força.
Por outro lado surgem propostas que a alguns de vós podem parecer demasiado elementares, mas que não omitimos. Os inquiridos são de várias regiões geográficas, logo diversas culturas, diferentes graus de literacia, de dioceses e com párocos de diferentes sensibilidades.
Ao ler, muitos sorrirão com algumas das propostas listadas, por coincidirem com o que já fizeram ou fazem ou mesmo por as considerarem demasiado ingénuas. Eu incluo-as por as considerar válidas. E são-no. Prova-o o facto de tantos catequistas e párocos colocarem recorrentemente a pergunta:
- Que se há-de fazer para chamar os pais à catequese, quando não à igreja.
As famílias manifestam o desejo de que os seus filhos frequentem a catequese paroquial, mas esta aspiração de pouco serve quando não começa com o testemunho dos pais que rezam, que são assíduos às assembleias na igreja e aos sacramentos, que dão testemunho de vida cristã nas opções de vida social e mesmo laboral, do discurso que os filhos escutam aos pais.
Quando lerdes a sugestão de algumas pessoas e pensardes que “aquilo já nós fazemos há muito tempo na nossa paróquia”, não deveis cuidar que ides mais à frente, embora isso possa acontecer. O que interessa mais a cada um de vós não é aquilo que já sabem ou já fizeram, mas aquilo que ainda não experimentaram, porque é deste modo que podereis enriquecer-vos como catequistas, e na perspectiva de grupo de catequese.
Ao contrário de outros trabalhos que tenho realizado e apresentado, este não resulta de um estudo profundo que fiz, mas trata-se quase apenas de uma recolha de propostas, de sugestões e de experiências de catequistas muito diversos, que vos exponho, quase sem comentários. Tirai para vós mesmos, ou em grupo de catequese as vossas conclusões.
Que sirva para melhorar a o vosso objectivo de “colocar o catequizando em comunhão com a pessoa de Jesus” e também de enriquecimento pessoal para os catequistas e animadores da evangelização.
O modo como organizámos as propostas é apenas indicativo, pois muitas poderiam inserir-se de modos diversos.

Lista de Propostas

·         Acolher, participar, conviver
·         Convidar os pais para um passeio ou convívio que inclua leitura bíblica e fazer catequese com os pais e filhos
o   Deixamos muitas vezes de fazer actividades tão simples como esta porque nos baseamos em exemplos do passado ou em estereótipos e partimos do princípio que as famílias não aderem. Evangelizar é precisamente insistir uma e outra vez, sem esmorecer, sem vergonha de se repetir ou de passar pelo “insucesso” de aparecerem poucochinhas famílias.
·         Telefonar aos pais que não comparecem a uma reunião de pais. Ouvir as suas razões e dialogar sem criticar ninguém. Percebemos que uns não foram por força maior (por exemplo, porque estavam a trabalhar). A estes, quando começam a desculpar-se, dizemos que compreendemos bem a sua situação e que nos encontraremos noutra ocasião. Podemos aproveitar e falar sobre alguma coisa que achemos oportuna sobre o que se passou na reunião a que faltou.
·         Organizar os pais em grupos com diferentes funções para apoiar a catequese.
·         1º Ano de catequese:
o   Encontro motivando para iniciativas de actividades
o   Puzzle cujo encaixe transmita uma mensagem
o   Os pais podem ser captados em qualquer momento, mas se começarem a envolver-se desde o 1º ano, ou quanto mais cedo possível, melhor sucesso poderemos alcançar.
·         No início de cada trimestre, fazer a planificação de actividades, incluindo algumas com a participação dos pais.
·         Organizar um bar-convívio gerido pelos pais
·         Realizar actividades práticas com os pais.
·         No Advento, em cada semana, uma família desenvolver uma actividade e apresenta-la.
o   Acrescentamos a dificuldade que existe de fazer caminhadas no Advento, conjugando os tempos para as comemorações em família, as férias escolares, o tamanho da 4ª semana, por vezes reduzida a um Domingo.

·         Caridade e social
·         Fazer cabazes de produtos a oferecer a famílias carenciadas.
o   É mais que pedir para as crianças ou adolescentes trazerem um pacote de arroz ou uma garrafa de azeite. É envolver os pais na confecção dos cabazes e mesmo na sua distribuição, com os filhos e os catequistas. Quantas vezes ao preparar o cabaz, não acontece alguém reparar que está muito pobre e ir buscar mais algumas coisas para lhe acrescentar? É bom que pensem nisto em família.
·         Propor aos pais representarem um teatro para a comunidade, feito por eles.

·         Sacramentos
·         Convidar os pais para as catequeses onde são falados os sacramentos
o   De facto os pais nunca souberam ou esqueceram o sentido dos sacramentos em geral. Que são padrinhos de baptismo? Que é indissolubilidade do matrimónio? Para que serve a Santa Unção? Por exemplo.
·         Pedir aos pais para participarem na missa com as crianças da catequese, onde a homilia também lhes pode ser útil.
·         Testemunhos reais de familiares ao falar dos sacramentos

·         Eucaristia
·         Reunião de formação com os pais que leve a vivência da fé para casa deles.
·         Fazer missas explicadas especialmente para aqueles que se preparam para a primeira comunhão.
·         Vigília de oração com a participação dos pais, participando nas leituras e cânticos.
·         Em relação às famílias sem prática dominical, pensar para cada semana algo que as chame à participação na missa, até começarem a ir por sistema.
·         Envolver os pais na preparação da Eucaristia e participarem nela e na animação activamente.

·         Reconciliação
·         Para a valorização da Festa do Perdão: uma semana antes da Primeira Comunhão, as crianças e os pais recebem uma pulseira preta e um exame de consciência. Durante a semana, confessam-se, deixam a pulseira preta e no final recebem uma pulseira branca.

·         Santa unção
·         Tratar o acolhimento paroquial dos idosos por pais, catequizandos, catequistas e padre.
·         Realizar uma catequese em casa de um idoso.
·         Participação familiar no Dia dos Doentes
·         Encontro de avós da catequese

·         Ordem e matrimónio
·         As crianças pedirem aos pais que lhes expliquem a fórmula do consentimento.
·         Foto do casamento dos pais
·         Testemunho de casal de pais (tem um valor especial na missa do Domingo da Sagrada Família, entre o Natal e Ano Novo
·         Testemunho de um religioso ou padre, se existir na família de algum dos catequizandos.
·         Fazer retiros para as famílias, crianças, adolescentes, pais, catequistas, com diversas actividades para ocupação bastante completa do tempo de todos.
·         Bênção dos casais durante a missa (casais regulares ou não)
·         Visita do grupo de catequese, ou grupos, com as famílias, a seminário.
·         Cada família faz uma figura para o presépio
·         Filhos perguntarem aos pais o significado de casamento, re-casamento e pais ou mães solteiros.

·         Participação na catequese e formação de pais
·         Convidar os pais para participarem numa catequese
o   Pode preparar-se um encontro com os pais todos a participar numa catequese, ou dividi-los em grupos e convidar cada grupo para uma catequese.
·         O pároco deve convidar pessoalmente os pais das crianças para catequeses de adultos (iniciação cristã)
·         Organização de festas temáticas de acordo com o tempo litúrgico, envolvendo os pais.
·         Criação de cantinhos de oração familiar, nas suas casas.
·         Apresentação PowerPoint para explicar a Bíblia aos pais. Posteriormente enviar passagens da Bíblia para pesquisa feita pelas crianças ou adolescentes em conjunto com os pais.
·         Enviar um resumo da catequese para a família
·         Trabalhar o acolhimento na catequese às crianças e pais.
·         Discutir no encontro de catequese com os catequizandos: “O que vais dizer aos teus pais para os trazeres cá?”
·         Ao catequizandos escreverem uma carta a Jesus com a ajuda ou colaboração dos pais.
·         Festa do Compromisso e Festa das Bem-aventuranças: pedir aos pais para falarem do dia do baptismo do seu filho e da celebração.
·         O catequista cria um caderno bonito que será o caderno da catequese. No caderno regista-se cada encontro através de uma frase. A criança leva o caderno para casa e pede a colaboração da família no desenvolvimento do tema indicado na frase. No encontro de catequese seguinte, a criança apresenta ao grupo o trabalho que a família elaborou.
o   Objectivo: transmitir conteúdo catequético; motivar a partilha; criar responsabilidade; aumentar auto-estima na criança.
·         Ocupar as famílias durante o tempo de catequese das crianças ou adolescentes. Alguns vão levá-los e depois buscar, outros levam as crianças e ficam por lá o tempo da catequese, outros depositam as crianças e aproveitam para ir às compras. Pôr a família a bulir nesse tempo.
·         É fundamental a criação de laços de amizade entre catequistas e famílias.
·         Cada reunião de pais avalia-se se se consegue rezar com eles e transmitir-lhes alguma doutrina.
·         Peddy paper bíblico com as famílias
·         Organizar grupos no Facebook, WhatsApp, etc, para manter um meio permanente de comunicação.
·         Propor um jantar sem televisão, nem telefone ou outros dispositivos, um dia por semana, pelo menos, para a família conversar.
·         Incentivar a oração em família
·         Incentivar o uso da Bíblia em família
·         Integração dos pais nas catequeses para adolescentes.
·         Sessão de cinema com a participação de toda a família, seguida de diálogo, debate, explicação.
·         Distribuição, no final do encontro de catequese, de uma oração para ser feita depois em família.
·         Fazer uma via-sacra do grupo em que as orações, leituras e meditações são preparadas em casa.
·         Crianças e adolescentes a fazerem catequeses para os pais.
·         No dia 13 de cada mês ou no primeiro encontro de catequese a seguir ao dia 13, convidar os pais para rezarem com o grupo a Ave Maria.
·         Convidar os pais para numa fazerem memória da primeira história que recordam de Jesus presente nas suas vidas.
·         Fazer um álbum fotográfico com os pais sobre o crescimento humano e cristão “estatura, sabedoria e graça”. Dos catequizandos e dos pais.
·         Preparar a festa do ano da catequese com os pais e os filhos com muita antecedência, para terem tempo para amadurecer o essencial.

Orlando de Carvalho