Leio num documento do Patriarcado de Lisboa, dos anos 60/70 do século XX, a interessante afirmação:
- Não é obrigatório ter pecados para se ir confessar, mas é preciso “sentir-se pecador”, isto é, ter consciência de não ter feito bem.
Confessemo-nos até para dizer a Deus a nossa pena de não ter feito melhor.
Cinquenta anos depois, escutamos uma multidão de padres a queixarem-se de se depararem com pessoas que se vão confessar e declaram não ter pecados, ou que não se lembrarem de nenhum. Esses padres comentam, tanto aos fiéis que procuram o sacramento, como em reuniões em que participam:
- Se não têm pecados, que vão fazer à confissão? Feitos beatos, vão apenas fazer o padre perder tempo.
Questionamo-nos que razão ou razões terão levado a uma inversão de posição sobre esta questão.
Em primeiro lugar, uma parece ser a posição da Igreja, e outra a perspectiva do clero, de alguns sacerdotes. E estes, alguns, são de facto muitos, já saem do seminário assim ensinados, pelos padres professores.
Contam essa e outras histórias sobre a confissão como a ouviram no seminário, aos mais velhos, e repetem-na vezes sem conta, sem reflectirem no que dizem. Infelizmente não lhes vem à cabeça a tal antiga instrução do Patriarcado.
A falta de padres não pode continuar a ser justificação para tudo o que de mal acontece na Igreja. Até porque a procura de sacramentos, todos eles, decresceu e decresce, libertando os padres para realizarem o que só a eles compete. Já recuperámos o diaconado permanente, já se criou o ministério extraordinário da comunhão, o ministério extraordinário das exéquias e há muitas pessoas que colaboram com gosto e zelo nas diversas pastorais.
É cansativo confessar longas filas de pessoas. Lembro-me de ouvir esse comentário já na década de 1970. Mas creio que quem é ordenado está consciente disso. A ordenação não é um distintivo para ser exibido, as batinas já estão em desuso. A ordenação é um compromisso para servir o povo de Deus.
É verdade que se celebram menos missas, se fazem menos atendimentos para o sacramento da reconciliação, há menos disponibilidade para o serviço nas capelanias, embora muitos postos de capelão sejam remunerados.
São João Batista Maria Vianney, o Santo Cura de Ars, foi proclamado pelo Papa Pio XI padroeiro dos párocos e sacerdotes. E estes não se esquecem de o invocar, seja a 4 de Agosto, data da sua festa litúrgica, seja em muitas outras ocasiões, apontando-o como exemplo de sacerdócio. Pois que assim seja. Como o Patriarcado declarava “Confessemo-nos até para dizer a Deus a nossa pena de não ter feito melhor”.
Orlando de Carvalho
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