A crucificação branca, Marc Chagall, 1938
Quando nos voltamos só para nós, sem vermos os homens que precisam da nossa solidariedade, damo-nos conta do nosso vazio.
A homilia que o Padre José Geraldes fez em 1993, na Celebração de Sexta-Feira Santa, relembrada e meditada neste tempo de pandemia, em que tantos sofremos as mais diversas dores, ensina-nos que não estamos sós, que há um elo de solidariedade que nos une ao nosso irmão mais velho na fé, Jesus Cristo.
Que nos lamentamos, por não podermos sair e passear como queríamos, cometendo um pecado para com Aquele que tudo abandonou por nós. E os que somos baptizados temos que entender esta realidade.
HOMILIA DE SEXTA FEIRA SANTA 1993
A Igreja celebra hoje a morte do Senhor. Hoje É dia de luto: o nosso Deus está pregado na cruz somente porque se proclamou Filho de Deus e porque a Sua doutrina incomodava.
E o texto do profeta Isaías é muito importante para a nossa meditação.
Deus é humilhado pelo mesmo povo que O aclamara. Morre na cruz por nosso amor.
O castigo dos nossos pecados cai sobre Ele. Como afirma Isaías: “Foi trespassado e esmagado devido às nossas faltas”.
O velho homem, o homem pecador, foi crucificado. Cristo suportou os pecados de toda a humanidade.
A cruz, a árvore da vida, é sinal de vitória, sinal de Glória, sinal de triunfo.
Cristo entrega-se, morre, mas nós ganhamos a VIDA (com letras maiúsculas).
Mortos para o pecado devemos praticar obras de justiça aos olhos de Deus. Irmãos:
Quantas injustiças praticamos no nosso dia a dia: na nossa casa, no trabalho; o querermos subir na vida preocupados com o ter e não com o ser e assim prejudicando os outros. Que testemunho damos deste Jesus Cristo, entregue por nós?
Se escutamos com atenção a narrativa da Paixão damo-nos conta de que Jesus caminha de um modo solene, majestoso, diria, numa entrega total e obediente ao Pai.
Na cruz, escândalo para todos os homens começa e é-nos oferecida a salvação. Jesus Cristo funda aí a Igreja como sacramento de salvação. Teremos nós consciência de que como membros da Igreja, como baptizados, devemos ser sinais para os outros homens neste mundo? Mundo onde ainda impera em muitos lados o horror e a tristeza:
* Crianças que morrem vítimas de injustiças;
* Homens e crianças que vagueiam por aí, dormindo em vãos das escadas
* Homens revoltados, torturados, esmagados, já sem esperança em melhores dias.
Como somos sensíveis a tantas situações humanas? Saberemos nós sofrer com eles?
Somos solidários no seu sofrimento, como foi Cristo com os nossos pecados? Ou continuamos a ser como Pilatos, lavando as mãos, como se nada tivéssemos a ver com estas situações? Continuamos a praticar injustiças no meio em que vivemos, isto é, crucificamos também o nosso Salvador?
Somos baptizados, temos uma missão a cumprir. Que lugar ocupa Cristo nas nossas vidas?
Quando nos voltamos só para nós, sem vermos os homens que precisam da nossa solidariedade, damo-nos conta do nosso vazio. Não encontramos Cristo dentro de nós. Encontramos sim, o nosso vazio interior. É que Cristo lá, está no Gólgota de braços abertos abraçando toda a humanidade.
Irmãos:
tal como Cristo rezou ao Pai na cruz (Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem! Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste?) que também nós supliquemos a Deus que em sua misericórdia tenha piedade de nós.
Que derrame sobre a Igreja os dons do Espírito para que a exemplo de Jesus sejamos santos e irrepreensíveis. E assim alcançaremos a Vida Eterna em Cristo Ressuscitado.
Padre José Geraldes O.P.
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