Logo que foi nomeado Papa da
Igreja Católica, o até então Cardeal Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires,
apareceu ao Balcão da Praça de São Pedro do Vaticano, ante uma multidão que
aguardava em grande expetativa para conhecer o sucessor do Apóstolo Pedro e
representante de Jesus Cristo na terra, com um rosto de assombro.
Ao observar de novo as
primeiras imagens recolhidas ao fim da tarde de 13 de Março de 2013, após a
eleição do Sumo Pontífice, surgiu uma curiosidade, para além da simplicidade
indumentária com que apareceu, sobre o significado da cruz ou crucifixo que
trouxe juntamente com a sua veste completamente branca (Sotaina), renunciando,
assim, aos objetos tradicionais vermelhos como os sapatos ou a romeira
(agasalho que se usa sobre os ombros), símbolos que recordam o poder real e o
sangue derramado pelos primeiros mártires cristãos. Entre as peculiaridades do
novo Pontífice também se destacou a ausência do anel de ouro (originalmente era
usado por reis para selar documentos. No caso de Papa, sela os documentos com o
anel de pescador, que não é usado no dedo, está guardado num cofre e é quebrado
quando ele morrer. O anel que o Papa usa diariamente no dedo chama-se anel
conciliar é feito de prata).
Para quem já conhecia Jorge
Mário Bergoglio, enquanto Cardeal de Buenos Aires, o crucifixo que o novo Papa
apresentou em São Pedro não lhe causou estranheza, uma vez que era o mesmo que
utilizava diariamente na Argentina. Agora, mesmo como Pontífice da Igreja Católica,
continua a usar este crucifixo ao peito, que não é um crucifixo “normal”, igual
àquele que estamos habituados a ver diariamente. Eis a intriga…
Apesar
das inúmeras dificuldades em focar nas fotografias a imagem da cruz peitoral do
Papa, uma coisa era certa: nela não víamos um Cristo crucificado. Quando o Papa
se encontrou pela primeira vez com a Presidente da Argentina o fotógrafo
presidencial conseguiu focar a cruz e qual não foi a surpresa: confirmou-se a
invulgaridade daquele símbolo: um Cristo com os seus braços em cruz e uma
pomba, reflexo do Espírito Santo, na parte superior. Porém ainda faltava
perceber mais alguns detalhes que ela continha.
E eis que aumentando o zoom,
reparando no eixo horizontal da cruz…
Nele temos a imagem dum
rebanho, simbolizando o rebanho de Cristo. O redentor carrega uma das ovelhas
aos ombros e com os braços cruzados agarra-a. Nesta ovelha funde-se o resto do
rebanho em forma triangular ou de montanha em direção à pomba do Espírito Santo
com irradiações célicas entre o rebanho e a pomba. No centro da cruz está a
cabeça de Cristo que simboliza a mente de Deus. As suas mãos cruzadas junto do
seu Coração, o Coração de Deus, a agarrar a ovelha, recorda Cristo a agarrar
toda a humanidade, o rebanho do Pastor, os filhos dos homens que são os filhos
de Deus.
Ao contrário de um Cristo
crucificado, onde as mãos paralisadas e pregadas à cruz remontam a um momento
de grande dor e tortura, esta cruz faz-nos lembrar um Cristo vivo e
ressuscitado, vencedor da morte, que continua a sustentar, a servir, a amar e a
redimir a humanidade dos males que hoje em dia padece.
A
pomba parece, a nosso ver, ter a forma de um cálice com as penas do rabo a
fazer de copa. O facto de estar de cabeça para baixo e as assas apontadas para
cima, recorda-nos também a imagem de uma meia-Lua, símbolo da morte e
ressurreição (Tal como a lua, nas suas diferentes fases, passa por um processo
de crescimento – nasce, cresce, atinge um auge (lua cheia), minga e morre para
reaparecer passados três dias – Cristo morrendo e ressuscitando, restaurou uma
vida que não passa jamais: a vida eterna).
Temos um Deus ressuscitado que,
como professamos no símbolo dos apóstolos, “vem julgar os vivos e os mortos”,
com uma Palavra de amor e misericórdia, como tanto tem insistido o Papa
Francisco neste seu Pontificado: O nosso Deus é um Deus de misericórdia, sempre
pronto a ir em busca da ovelha perdida.
Podemos
ainda relacionar a sua cruz com o escudo da Ordem dos Frades Menores
Capuchinhos (fundo azul com uma nuvem a sustentar um círculo de ouro que contém
uma cruz latina no centro com dois braços estigmatizados cruzados no pé da
cruz), onde um braço de Cristo se cruza com um braço humano. Esta Ordem,
nascida em Itália no séc. XVI, orientou a sua vida na pobreza, na humildade, na
prática do amor e cuidado pela criação.
Na homilia de Quinta-feira
Santa (28 de Março de 2013, na missa crismal para 1600 religiosos, bispos e
sacerdotes, na qual os sacerdotes renovam as promessas que fizeram no dia da
sua ordenação, o então Cardeal Bergoglio,
Chamou a atenção os sacerdotes que são pastores, mas que não estão no meio do
seu povo, nem conhecem o “odor das suas ovelhas”;
E convidou os cardeais,
bispos e sacerdotes a deixarem de ser gestores para ir ao encontro do povo,
“saindo para as periferias”.
Para espanto de todos, mas
normal para quem o conhecia, celebrou o rito do “lava-pés” numa prisão
argentina.
Devemos ajudar-nos uns aos outros. Isto foi o que Jesus nos ensinou e é aquilo
que faço com todo o amor. É meu dever, sai-me do coração;
Quem está nos lugares mais altos deve servir os outros;
Isto é um símbolo e um gesto: lavar os pés significa que estou ao teu serviço;
Com esta cerimónia do
lava-pés demonstra-se que estamos dispostos a ajudar os outros. Pensem como uma
caricia de Jesus, porque Ele veio para isso, para nos ajudar.
“A verdadeira oração faz-nos sair de nós mesmos, abrindo-nos
às necessidades dos outros”
Papa Francisco
Agradecimentos
Recolhi este artigo pela Internet e assinado por José Gregório, em 5/XI/2013.