terça-feira, 5 de outubro de 2021

Memórias da Catequese (1)


 

Foi em 2014.

Tínhamos uma menina na catequese com uma situação delicada, como tantas outras crianças na catequese, os pais discordavam na educação a dar à filha.

Tratava-se de um daqueles casos em que as pessoas deviam ter conversado mais e melhor antes de casar. Isto acontecia pouco e mal no passado e justificava-se com a dificuldade de certas abordagens entre namorados, mesmo favorecido pelas famílias que não achavam bonito falar de certas coisas.

O povo caracterizava bem estas situação dizendo que as nozes eram como os casamentos: só depois de abertas se sabiam se eram boas ou se não prestavam. Claro que a frase devia ser escrita ao contrário. Os processos de casamento é que seguiam o modelo das nozes, pois estas não podem ser abertas, não há RX para investigar o futuro depois de abertas; ao contrário dos casamentos em que as pessoas devem conhecer-se, investigar-se, perceber se são capazes de dialogar, se partilham ideias ou se as têm inconciliáveis. Mas aconteciam tantos casamentos resultantes de combinações familiares! Neste particular estamos pior. Para se casar, as pessoas sentem-se na obrigação de se conhecerem intimamente, ou mesmo viverem juntas, mas não falam das coisas importantes, muitas vezes por falta de preparação. A família falha, a Igreja falha, a escola falha. É importante que os noivos sejam bons técnicos de controlo natal, que não se acanhem com os abortos e estejam previamente preparados para o divórcio.

Muitos casam à Igreja. E frequentam na paróquia CPMs, Cursos de Preparação para o Matrimónio. Por qualquer circunstância que não entendo, durante o CPM distraem-se quando se fala da educação religiosa dos filhos, da fidelidade conjugal, da indissolubilidade do matrimónio, estão distraídos, ou mesmo desinteressados porque acham que não é conversa que lhes diga respeito. Claro que no caso das paróquias não se tem investido convenientemente neste aspecto. E as famílias estão-se borrifando.

Voltemos à nossa menina.

A mãe inscreveu a filha na catequese e providenciava as deslocações e acompanhamento.

O pai era ateu e de maus fígados, era mesmo desonesto em relação à família e pessoa sem valores éticos. Não queria que a filha frequentasse a catequese, mas, com falta de argumentos, prometeu à filha oferecer-lhe uma play-station, como compensação, ou prémio, sei lá, se ela abandonasse a catequese.

E a criança que frequentava a catequese com gosto, com amor, com entrega, decidiu deixar a catequese, trocando-a por uma play-station.

A menina foi-se embora.

Que Deus a acompanhe e lhe permita compensar a má escolha que fez, talvez mais por pressão do pai que por interesse no brinquedo.

 

Orlando de Carvalho

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