quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Consagração do Mundo a Nossa Senhora de Fátima, 29 anos depois




Em 1984, a 25 de Março, Festa da Anunciação do Anjo a Nossa Senhora, nove meses antes do Natal, e celebrando o jubileu das famílias, João Paulo II realizou a Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria precisamente como a Senhora de Fátima pedira. E foi contra o parecer da Cúria que o Santo Padre levou por diante a sua intenção.

Fez a consagração em união com todos os bispos do mundo, a quem ele convidou para se unirem de forma particular ao sucessor de Pedro, por carta dirigida individualmente a cada um dos bispos. Na Praça de São Pedro e diante de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima que foi da Capelinha das Aparições expressamente a Roma para o efeito. 

A pequena e simples imagem da Senhora do Rosário, ida de Fátima, foi recebida com guarda de honra e todas as honras e protocolo de estado devidos a uma Rainha. 

O Papa passou toda a noite em vigília, na sua capela privada, sozinho com a Imagem. De manhã, agradeceu a presença “quase física” de Nossa senhora, sem que nunca tenha explicado o verdadeiro significado destas palavras.


Eis o texto da Consagração, que Lúcia confirmou corresponder ao pedido de Nossa Senhora, nas palavras e no modo como foi feito.

E por isso, ó Mãe dos homens e dos povos, Vós que conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, Vós que sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que abalam o mundo contemporâneo, acolhei o nosso clamor que, movidos pelo Espírito Santo, elevamos directamente ao vosso Coração: Abraçai, com amor de Mãe e de Serva do Senhor, este nosso mundo humano, que Vos confiamos e consagramos, cheios de inquietude pela sorte terrena e eterna dos homens e dos povos.

De modo especial Vos entregamos e consagramos aqueles homens e aquelas nações que desta entrega e desta consagração têm particularmente necessidade.

“À vossa protecção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus”! Não desprezeis as súplicas que se elevam de nós que estamos na provação! Encontrando-nos hoje diante Vós, Mãe de Cristo, diante do vosso Imaculado Coração, desejamos, juntamente com toda a Igreja, unir-nos à consagração que, por nosso amor, o vosso Filho fez de Si mesmo ao Pai: “Eu consagro-Me por eles – foram as Suas palavras – para eles serem também consagrados na verdade” (Jo 17, 19). 

Queremos unir-nos ao nosso Redentor, nesta consagração pelo mundo e pelos homens, a qual, no seu Coração divino, tem o poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação.

A força desta consagração permanece por todos os tempos e abrange todos os homens, os povos e as nações; e supera todo o mal, que o espírito das trevas é capaz de despertar no coração do homem e na sua história e que, de facto, despertou nos nossos tempos.

Oh quão profundamente sentimos a necessidade de consagração pela humanidade e pelo mundo: pelo nosso mundo contemporâneo, em união com o próprio Cristo! Na realidade, a obra redentora de Cristo deve ser participada pelo mundo por meio da Igreja.
Manifesta-o o presente Ano da Redenção: o Jubileu extraordinário de toda a Igreja.

Neste Ano Santo, bendita sejais acima de todas as criaturas Vós, Serva do Senhor, que obedecestes da maneira mais plena ao chamamento Divino!

Louvada sejais Vós, que estais inteiramente unida à consagração redentora do vosso Filho!

Mãe da Igreja! Iluminai o Povo de Deus nos caminhos da fé, da esperança e da caridade! Iluminai de modo especial os povos dos quais Vós esperais a nossa consagração e a nossa entrega. Ajudai-nos a viver na verdade da consagração de Cristo por toda a família humana do mundo contemporâneo.

Confiando-Vos, ó Mãe, o mundo, todos os homens e todos os povos, nós Vos confiamos também a própria consagração do mundo, depositando-a no vosso Coração materno.

Oh Imaculado Coração! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal, que se enraíza tão facilmente nos corações dos homens de hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a vida presente e parece fechar os caminhos do futuro!


João Paulo II, segurando o turíbulo, incensa a pequena imagem de Nossa de Fátima, na Praça de São Pedro, e consagra o mundo à Mãe de Deus. A consagração foi feita em união com todos os bispos do mundo, convocados pelo Papa, por carta individual, para se associarem ao gesto do Sucessor de Pedro. A Irmã Lúcia, a pastorinha de Fátima ainda viva, declarou que esta consagração tinha sido feita conforme o pedido de Nossa Senhora, em Fátima, e que fora aceite. Foi no dia 25 de Março de 1984. O comunismo não demoraria a cair na Rússia e seus estados satélites.

Da fome e da guerra, livrai-nos!

Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável, e de toda a espécie de guerra, livrai-nos!

Dos pecados contra a vida do homem desde os seus primeiros instantes, livrai-nos!

Do ódio e do aviltamento da dignidade dos filhos de Deus, livrai-nos!
De todo o género de injustiça na vida social, nacional e internacional, livrai-nos!

Da facilidade em calcar aos pés os mandamentos de Deus, livrai-nos!

Da tentativa de ofuscar nos corações humanos a própria verdade de Deus, livrai-nos!

Da perda da consciência do bem e do mal, livrai-nos!
Dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos, livrai-nos!

Acolhei, ó Mãe de Cristo, este clamor carregado do sofrimento de todos os homens! Carregado do sofrimento de sociedades inteiras!
Ajudai-nos com a força do Espírito Santo a vencer todo o pecado: o pecado do homem e o “pecado do mundo”, enfim o pecado em todas as suas manifestações.

Que se revele uma vez mais, na história do mundo, a força salvífica infinita da Redenção: a força do Amor misericordioso! Que ele detenha o mal! Que ele transforme as consciências! Que se manifeste para todos, no vosso Imaculado Coração, a luz da Esperança!

@Lusodidacta/Orlando de Carvalho
Carvalho, Orlando, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2005. Lisboa

Fátima no Vaticano - 12 e 13 Outubro 2013 - 5ª parte

No dia 13 de Maio de 1981, no Vaticano, o Papa João Paulo II preparava-se para a audiência geral na Praça de São Pedro, às 17 horas. À hora marcada o Papa entrou na ampla Praça de São Pedro, passando sob o Arco dos Sinos e o jipe que o transportava circulou entre a multidão, através dos estreitos corredores, enquanto o Papa saudava todos. Às 17 horas e 13 minutos, o turco Mehmet Ali Agca, numa das primeiras filas atrás das barreiras, no momento em que o jipe passava junto a si, sacou de uma pistola Browning de 9 milímetros e disparou duas vezes sobre o Papa, que caiu para trás.



No meio da confusão que se gerou, a maior parte das pessoas sem se ter apercebido do sucedido, o jipe arrancava em grande velocidade transportando o Papa ferido. Na Clínica Gemelli aguardavam a chegada do Papa, que tinha sido acometido de algo repentino, mas não sabiam o que se passava. O Papa estivera consciente durante os poucos minutos da viagem, mas à chegada à clínica perdera a consciência e os sinais vitais ficavam cada vez mais fracos. Um dos cirurgiões da Clínica, Francisco Crucitti, ouvira a notícia na rádio e conduzira alguns quilómetros na contramão em direcção à Clínica. A Clínica Gemelli tinha sempre instalações prontas para receber o Papa, pois João Paulo II tinha declarado no início do pontificado que desejava ser tratado num hospital comum e não como anteriormente acontecera: fora instalada uma sala de operações propositadamente nos aposentos do Papa para Paulo VI. Uma bala perfurara o cólon e o intestino delgado em cinco locais diferentes. Por dois ou três centímetros a bala não atingira a artéria principal do abdómen ou a coluna vertebral, provocando-lhe morte instantânea ou paralisia. 

João Paulo II teve cedo ideias claras sobre esta questão: “uma mão dispara, a outra guia a bala”. Ali Agca que disparara a bala fora imediatamente detido. No dia 17 de Maio os peregrinos na Praça de São Pedro já ouviram uma mensagem gravada do Papa. A recuperação corria bastante bem, mas a transfusão de sangue, durante a operação, e dadas as circunstâncias, não foi devidamente testada, sendo administrado sangue contaminado por um citomegalovírus. A 27 de Maio o Papa começou a ficar com febre, falta de ar, dores, mau aspecto, com o rosto acinzentado, e a situação foi-se agravando até o Papa ser de novo internado em 20 de Junho, sem se encontrar explicação para o seu estado. Só então a situação do vírus foi detectada, começando João Paulo II a sentir melhoras a partir de 24 de Junho.



Em 20 de Julho começava o julgamento de Ali Agca, condenado a prisão perpétua. Estabeleceu-se que Ali Agca não actuara sozinho, mas a mando de alguém. Embora sem provas concludentes, parecem ter estado implicados no seu acto as autoridades máximas soviéticas e os serviços secretos búlgaros. Posteriormente o Papa visitará Ali Agca, concedendo-lhe o seu perdão.

Em 1982 a Capelinha das Aparições foi coberta com um grande alpendre, inaugurado por Sua Santidade João Paulo II, a 12 de Maio.



O Papa veio a Fátima propositadamente no primeiro aniversário do atentado da Praça de São Pedro, para agradecer a Nossa Senhora a sua mão protectora que guiou a bala, salvando-lhe vida. 
A estadia de Sua Santidade em Portugal foi toda ela pautada pelo lema de João Paulo II: “Totus tuus, Maria”. Todo teu, Maria, gritou o Papa durante os seus discursos. Totus tuus, Maria, Todo teu, Maria, gritaram com o Papa milhões de portugueses. A devoção mariana do Papa ajudava-o a compreender e a revelar a presença milagrosa da Mãe de Deus um ano atrás na Praça de São Pedro, determinando o curso dos acontecimentos quando um pobre homem, cedendo ao maligno, disparara sobre si. O Papa aterrou no Aeroporto de Lisboa, no dia 12 de Maio de 1982 e as suas primeiras palavras em Portugal, ainda no aeroporto, depois de ter beijado o solo português, foram: “Agradeço a Deus e agradeço a todos a grande alegria com que piso hoje o solo de Portugal. Agradeço a Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, pela deferente presença aqui, em nome pessoal e a representar o hospitaleiro e honrado Povo desta nobre «Terra de Santa Maria», ao qual, por Vossa Excelência, dirijo esta minha primeira mensagem”. O Santo Padre dirigiu-se então para a Sé Catedral de Lisboa para um encontro com os leigos. Começou por explicar a razão da sua visita:

“Venho até vós motivado pelo amor de Cristo, em visita que é, por sua natureza, pastoral; e venho sobretudo em peregrinação a Fátima, para aí celebrar, em adoração agradecida, «as misericórdias do Senhor», com Maria, a serva do Senhor. Cada paragem e encontro – gratíssimos, sem dúvida, – têm também carácter de etapa neste meu peregrinar em gratidão a Nossa Senhora e, com Ela e por Ela, em gratidão ao Omnipotente que «me fez grandes coisas»”.

Do outro lado da rua, o Sumo Pontífice entrou na Igreja, construída onde fora a casa da família Bulhões, onde o santo mais popular em todo o mundo nasceu, e que hoje é dedicada a Santo António de Lisboa.
À noite em Fátima, o Papa desabafou o que lhe ia no coração, perante a multidão de fiéis, peregrinos como ele, aos pés da Mãe de Deus:
“Gratidão, comunhão, vida! Nestas três palavras está a explicação da minha presença aqui, neste dia; e se me permitis, também da vossa presença. Aqui atinjo o ponto culminante da minha viagem a Portugal. Quero
fazer-vos uma confidência: Desde há muito que eu tencionava vir a Fátima, conforme já tive ocasião de dizer à minha chegada a Lisboa; mas, desde que se deu o conhecido atentado na Praça de São Pedro, há um ano atrás, ao tomar consciência, o meu pensamento voltou-se imediatamente para este Santuário, para depor no coração da Mãe celeste o meu agradecimento, por me ter salvo do perigo. Vi em tudo o que foi sucedendo – não me canso de o repetir – uma especial protecção materna de Nossa Senhora. E por coincidência – e não há meras coincidências nos desígnios da providência divina – vi também um apelo e, quiçá, uma chamada de atenção para a mensagem que daqui partiu há sessenta e cinco anos, por intermédio de três crianças, filhas de gente humilde do campo, os pastorinhos de Fátima, como são conhecidos universalmente”.




Em Fátima, o Papa pode encontrar-se com Lúcia, a Irmã Lúcia. E os portugueses, bem como fiéis de todo o mundo puderam ver pela televisão aquela que transmitiu ao mundo a mensagem da senhora do Rosário de Fátima. Na missa do dia 13, o Papa retomava o mesmo tema, na sua homilia: “Venho hoje aqui, porque exactamente neste mesmo dia do mês, no ano passado, se dava, na Praça de São Pedro, em Roma, o atentado à vida do Papa, que misteriosamente coincidia com o aniversário da primeira aparição em Fátima, a qual se verificou a 13 de Maio de 1917.
Estas datas encontraram-se entre si de tal maneira, que me pareceu reconhecer nisso um chamamento especial para vir aqui. E eis que hoje aqui estou. Vim para agradecer à Divina Providência, neste lugar, que a Mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular. (...)
A Igreja ensinou sempre, e continua a proclamar, que a revelação de Deus foi levada à consumação em Jesus Cristo, que é a plenitude da mesma, e que “não se há-de esperar nenhuma outra revelação pública, antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo”.
A mesma Igreja aprecia e julga as revelações privadas segundo o critério da sua conformidade com aquela única Revelação pública.
Assim, se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima, é sobretudo porque esta mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho.
“Convertei-vos (fazei penitência), e acreditai na Boa Nova: são estas as primeiras palavras do Messias dirigidas à humanidade. E a mensagem de Fátima, no seu núcleo fundamental, é o chamamento à conversão e à penitência, como no Evangelho. Este chamamento foi feito nos inícios do século vinte e, portanto, foi dirigido, de um modo particular a este mesmo século. A Senhora da mensagem parecia ler, com uma perspicácia especial, os “sinais dos tempos”, os sinais do nosso tempo. (...)
Quando Jesus disse do alto da Cruz: “Senhora, eis o Teu filho”, abriu, de maneira nova, o Coração da Sua
Mãe, o coração Imaculado, e revelou-Lhe a nova dimensão do amor e o novo alcance do amor a que Ela fora chamada, no Espírito Santo, em virtude do sacrifício da Cruz. À luz do amor materno, nós compreendemos toda a mensagem de Nossa Senhora de Fátima. (...)
Cristo disse do alto da Cruz: “Senhora, eis o Teu filho”.
E, com tais palavras, abriu, de um modo novo, o Coração da Sua Mãe. Pouco depois, a lança do soldado romano trespassou o lado do Crucificado. Aquele coração trespassado tornou-se o sinal da redenção, realizada mediante a morte do Cordeiro de Deus.
O Coração Imaculado de Maria aberto pelas palavras – “Senhora, eis o Teu Filho” – encontra-se espiritualmente com o Coração do Filho trespassado pela lança do soldado. O Coração de Maria foi aberto pelo mesmo amor para com o homem e para com o mundo com que Cristo amou o homem e o mundo, oferecendo-Se a Si mesmo por eles, sobre a Cruz, até àquele golpe da lança do soldado.
Consagrar o mundo ao Coração Imaculado de Maria significa aproximar-nos, mediante a intercessão da Mãe, da própria Fonte da Vida, nascida no Gólgota. Este Manancial escorre ininterruptamente, dele brotando a redenção e a graça. Nele se realiza continuamente a reparação pelos pecados do mundo. Tal Manancial é, sem cessar, Fonte de vida nova e de santidade.”

O Papa fez a consagração do mundo, pedida por Nossa Senhora aos pastorinhos, “unido com todos os Pastores da Igreja por aquele vínculo particular” pelo qual constituem um corpo os bispos com o Papa, como os Apóstolos com Pedro.
Consagrou à Mãe de Deus, de joelhos, a Igreja, os Homens e os Povos, aludindo veladamente à Rússia. Mas Nossa Senhora ainda não ficara satisfeita com esta Consagração.


@Lusodidacta/Orlando de Carvalho
Carvalho, Orlando, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2005. Lisboa


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Primeira Catekese


A catekese baseia-se na existência de uma relação entre dois pólos, o emissor e o receptor ou criação dessa relação se ela não existir e depois no desenvolvimento da relação.
Esta relação exige conhecimento mútuo porque só se realiza se existe confiança, de modo especial do receptor no emissor, desenvolve-se em cumplicidade e encaminha-se para uma comunhão centrada em Jesus e que inclui os dois.

Na primeira catekese, depois das apresentações, mais ou menos alongadas, eu perguntei se já tinham ouvido falar de Jesus, se já alguma vez tinham entrado numa igreja, se já tinham ido à missa, se iam habitualmente, o que sabiam sobre Jesus. Desde modo descobri que uma das crianças já tinha entrado numa igreja (acho que era uma igreja, rectificou, …) quando foi o casamento da irmã mais velha, outra ia sempre à missa com o avô, e outra com os pais, uma não sabia o que era Jesus, mas sabia que Maria e José eram os pais do Menino Jesus, uma rezava todas as noites e por isso tinha pedido aos pais para a deixarem ir à catekese.

Esta proposta de primeira catekese adapta-se às diversas circunstâncias que se deparem: crianças, adultos, jovens, famílias.

Aludimos ao episódio de Jesus aos doze anos. Interessa apenas a última frase:
«Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens.»
(Lc 2, 52)
Assim, desenvolve-se mais ou menos a narrativa do episódio. Aliás, não deve ser muito desenvolvido para não desviar a atenção do que nos interessa essencialmente que, como referimos é o versículo citado.

Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça. E nós?

Que é estatura? Nós crescemos em altura, os ossos alargam, aumentamos de peso. Não confundir com as variações no corpo que sucedem ao longo da vida, mesmo quando não estamos a crescer ou já não estamos a crescer - emagrecer, engordar, crescimento de unhas ou cabelos. Mas se for oportuno pode ser muito vantajoso referir as alterações que o corpo sofre na puberdade porque evidenciam bem o crescimento em estatura.

Como e onde crescemos em sabedoria? A resposta natural, se os visados forem crianças, é a Escola. Apoiamos esta resposta, mas abrimos um leque vasto. Quem pratica algum desporto ou outra actividade, quem pratica futebol, não está a aprender nos treinos? Quando ajudamos os adultos, na cozinha, por exemplo, não estamos a aprender? A maior parte das crianças deverá referir ajuda na confecção de bolos. Pode explicar-se que, premeditado ou não, acaba por ser um método pedagógico. Em muitos casos é mais fácil atrair para ajudar a fazer bolos (e provar) que sopas (e provar). Deve referir-se que os conhecimentos que se aprendem na primeira infância são muito superiores em número ou quantidade aos que se aprendem ao longo de toda a restante vida - são, por exemplo, a distinção entre pessoas e coisas, a identidade, o eu, a identificação das cores, mesmo sem saber os seus nomes, das formas, dos odores, das distâncias e perspectivas, da noção das coisas que provocam dor (um pico) e das alegrias.

Enquanto decorre a catekese as crianças crescem em estatura, quantidades microscópicas, pois o crescimento é, mais ou menos, contínuo.
Também crescem em sabedoria porque aprendem episódios da Bíblia, da vida dos santos, orações, noções morais. Porém, não se vem à catekese para crescer em sabedoria.



Vimos à catekese para crescer em graça.
É provável que quando inicialmente se perguntou o que sabiam acerca da palavra Jesus alguns tenham referido situações em que tenham deixado transparecer amizade, amor, inclinação por Jesus, tenham manifestado alguma ternura por Jesus. Se isso aconteceu, ir agora buscar essas afirmações é um excelente meio para começar a falar da graça e distingui-la da sabedoria.
Aprender de cor o Pai Nosso ou outra oração é um acto de crescimento em sabedoria. Mas, ler ou recitar de cor a oração não é rezar. Rezar é dialogar com Jesus (Deus). Pode recitar-se uma fórmula que auxiliará o estabelecimento desse diálogo. Mas pode dialogar-se com Jesus sem utilizar fórmulas. Quando aprendemos a rezar verdadeiramente, e depois rezamos, estamos a crescer em graça e depois já a viver a graça.

Uma pessoa pode frequentar a catekese e aprender muitas coisas (e convém que aprenda), mas não é para isso que vai à catekese, em verdade, mas para crescer em graça, para identificar os benefícios que recebe de Deus e para os usar convenientemente. A graça é o sentir-se bem, gostar de fazer o bem aos outros, de rezar, de viver em paz e harmonia com todas as pessoas.

Neste primeiro encontro de catekese ficámos a saber o que viemos aqui fazer e o que viremos fazer nos próximos encontros.
Antes de terminarmos, vamos permanecer alguns momentos em silêncio a pensar nas coisas boas que temos na vida, não o dinheiro, os jogos, mas a família, os amigos e vamos dizer baixinho, repetir muitas vezes, este nome: JESUS. Deste modo recebemos a graça do nome de Jesus. Cada um a sentirá para si, no seu coração.

No final, podemos concluir com um refrão, de algum cântico conhecido ou fácil, relativo ao nome de Jesus.

O catekista pede a bênção para todo o grupo.



Orlando de Carvalho

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Fátima no Vaticano - 12 e 13 Outubro 2013 - 4ª parte

Cinquenta anos após a primeira aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos em Fátima, no dia 13 de Maio de 1967, Sua Santidade o Papa Paulo VI participa nas celebrações aniversárias no Santuário. O Papa diz que vem rezar pela paz no mundo e pela unidade da Igreja. No Santuário de Fátima, o Papa encontra-se com Lúcia.



@Lusodidacta/Orlando de Carvalho

Carvalho, Orlando, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2005. Lisboa

Fátima no Vaticano - 12 e 13 Outubro 2013 - 3ª parte

As 1ª e 2ª consagrações do mundo ao Imaculado Coração de Maria

A 13 de Setembro de 1939, o bispo de Leiria torna público o pedido de Nossa Senhora de consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.


Irmã Lúcia de Jesus
A pastorinha que ficou garantir a consagração do do mundo ao Imaculado Coração de Maria


A 2 de Dezembro, a Irmã Lúcia das Dores escreve ao Papa Pio XII a propósito da Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.
A 31 de Outubro de 1942, o Papa Pio XII faz a Consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria, aludindo de forma indirecta à Rússia. A Consagração é feita pelo Papa falando em português e transmitida pela rádio, a partir de Fátima. “Unimo-nos convosco para louvar e engrandecer o Senhor, dador de todos os bens: para bendizer e dar graças Àquela por cujas mãos a magnificência divina nos comunica torrentes de graças. E tanto mais gostosamente o fazemos, porque vós, com delicadeza filial, quisestes associar nas mesmas solenidades eucarísticas e imperatórias o jubileu de Nossa Senhora de Fátima e o vigésimo quinto aniversário da nossa sagração episcopal: a Virgem Santa Maria e o Vigário de Cristo na terra, duas devoções profundamente
portuguesas e sempre unidas no afecto de Portugal fidelíssimo, desde os primeiros alvores da nacionalidade”.
A 25 de Março de 1948 Lúcia dos Santos dá entrada na Ordem das Carmelitas Descalças, em Coimbra. Ela será a partir de agora a Irmã Maria Lúcia do Coração Imaculado.


Sepulturas de Francisco e Jacinta



Em 1951 são trasladados os restos mortais de Jacinta para a Basílica de Fátima. Os de Francisco serão trasladados no ano seguinte.
A 7 de Julho de 1952 o Papa Pio XII faz a Consagração dos povos da Rússia ao Imaculado Coração de Maria.

@Lusodidacta/Orlando de Carvalho

Carvalho, Orlando, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2005. Lisboa

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Casar é uma cruz


O casamento é normalmente entendido como um contracto entre duas partes, um homem e uma mulher.
Como qualquer contracto, os seus termos e manutenção dependem da vontade das partes. Que são duas. Um contracto entre duas partes mantém-se enquanto for do mútuo acordo. Se eu entender denunciar o contracto com o meu fornecedor de água ou de electricidade, o contracto deixa de existir, bem como as obrigações mútuas entre mim e o fornecedor. Ele não tem que me fornecer mais energia eléctrica, ou água, e eu não tenho mais que pagar. Da mesma maneira que eu, também o fornecedor de água ou electricidade poderia suspender sem razão o meu fornecimento. Coisa que todos concordamos que seria injusto, mesmo desumano. Essa situação é normalmente prevista na lei: o fornecedor de água e o da electricidade não podem sem razão prevista na lei suspender o fornecimento. Afinal, neste contracto que existe entre mim e a empresa que me fornece electricidade não somos apenas dois: além de mim e da empresa fornecedora, está o Estado com o seu poder legislativo, executivo e judicial para fazer valer o contracto em todo o seu tempo de vida.

A diferença entre o casamento que é uma instituição natural na sociedade humana e o matrimónio, que é o mesmo casamento natural com a chancela de sacramento celebrado na Igreja é justamente o número de contraentes.
O casamento como instituição natural é celebrado entre um homem e uma mulher. Sabemos que desde tempos muito antigos as comunidades em que os noivos viviam sentiram a necessidade de testemunhar esta união, assinalando o casamento com festas em que participavam as famílias e comunidades a que pertenciam os noivos.
A importância do casamento como marco instituinte da família, a mais pequena porção da sociedade, revestiu, a partir de certo momento a celebração do casamento de carácter religioso: a presença do divino. As pessoas, em diversas culturas distribuídas pelo planeta e sem se relacionarem, entenderam que a união fundadora de um homem e uma mulher tinha algo de sagrado.



O chamado registo civil surge historicamente numa terceira etapa e muito posterior, é uma novidade em termos históricos. Surge primeiro o casamento instituição natural, depois o casamento celebrado religiosamente e só finalmente o registo civil, que vem oficializar perante a administração do Estado uma situação natural, com ou sem registo religioso.

Ora, o matrimónio não é um contracto celebrado entre duas partes, mas entre três partes. Por isso, é um sacramento. Talvez por culpa da própria Igreja, esta particularidade não tem sido enfatizada devidamente. Realizam-se festas nos templos católicos sem a noção do que se está a fazer. Como se se estivesse a oficializar uma união natural ou um registo civil, mas numa igreja, com um padre devidamente paramentado, com a facilidade de obter lindas fotografias com a arte da igreja por fundo, mais a decoração de flores que os noivos tratam de encomendar.

É preciso explicar às pessoas que recorrem ao casamento religioso, isto é, que pedem à Igreja o sacramento do matrimónio, o que estão a fazer. Pois, sabemos que existem cursos de preparação para o matrimónio, mas também sabemos que as pessoas os frequentam e depois agem como se não os tivessem frequentado, agindo em desconformidade com os mesmos. Chegam a separar-se definitivamente depois de algumas semanas de casamento, menos que aquelas que despenderam a frequentar o curso de preparação para o matrimónio. A que se deverá isso?

Deve ser ensinado aos noivos que pedem à Igreja a bênção para o seu casamento que este só deve ser celebrado se estiverem dispostos a seguir determinadas regras. Bem, uma regra é suficiente: amarem-se um ao outro como Jesus amou, ensinou a amar e continua a amar.

Quando uma pessoa declara que já não ama o cônjuge… essa pessoa não devia ter casado, pois comprometeu-se a esse amor por toda a vida. Se a razão desse cessar de amar for, por exemplo, infidelidade ou maus tratos, a situação é a mesma: é o outro cônjuge que não devia ter casado se não estava preparado para manter o compromisso de amor até à morte.

Para casar não é necessário estar apaixonado, basta amar. É natural e bom que seja um amor especial, diferente do amor entre irmãos ou entre pais e filhos, mas tem que existir amor, aquele amor que é doação da sua própria pessoa ao cônjuge. O que significa ser paciente com o outro e aceitar as falhas do outro. Sendo que isto tem de suceder nos dois sentidos.



Voltemos ao contracto. No sacramento do matrimónio, os contraentes não são dois, são três. O homem, a mulher e Jesus. Isto devia ficar bem inculcado nas cabeças e nos corações do casal, o que não devia ser difícil uma vez que chegam a ser celebrados casamentos no decorrer da missa em que ambos os noivos comungam.

Ora, em termos humanos, um contracto a três reveste características diferentes de um contracto a dois. Não porque isso se possa reflectir numa votação entre os contraentes, não vamos tão longe, mas porque em caso de discordância devem ouvir-se as três partes envolvidas. O marido, a mulher e Jesus.
Isto não é tão teórico como pode parecer. Mas precisa ser mais bem explicado aos noivos em particular e a todos os fiéis em geral.

Vem-nos à memória uma situação que um amigo[1] relatou e que é uma boa dica para dar amplitude visual ao princípio de que vimos falando: a presença de Jesus como terceiro parceiro do casamento sacramento.

O ritual do casamento católico em Siroki-Brijeg[2] é diferente. Mas podia deixar de o ser se fosse adoptado nas outras comunidades católicas. A começar na de cada um. Se cada sacerdote ou diácono, ao presidir a um casamento, ou se cada casal de noivos ao celebrar o seu casamento, quisesse fazê-lo à maneira dos habitantes de Siroki-Brijeg, podíamos mudar o conceito de casamento, a vivência familiar, o mundo.

Em Siroki-Brijeg não há divórcios.
Vamos descobrir porquê.

No dia do casamento, os noivos chegam à igreja e levam com eles um Crucifixo. Tal como as alianças são benzidas durante a cerimónia, como elemento essencial, também o Crucifixo é benzido.
As promessas mútuas são proferidas com a mão do noivo sobre a mão da noiva e a desta sobre o Crucifixo. O sacerdote coloca as suas mãos sobre as dos noivos, trazendo a bênção da Igreja a esta união 'a três'.
A promessa de permanecerem juntos até ao fim da vida, amando-se e auxiliando-se é tripartida: ele, ela e Jesus. A Igreja, por seu lado, assume também o compromisso de dar caridosamente todo o apoio à jovem família nascente. Porque a bênção não é, não pode ser, palavra morta, mas vivência dinâmica. Pela presença do ministro sagrado, a Igreja assume a representação física de Jesus, participando nas promessas de fidelidade, nas alegrias, tristezas, saúde, doença, pobreza, riqueza.
O padre ou diácono diz então algo do género:
- Encontrastes a vossa cruz. É uma cruz para amar, mantê-la sempre convosco, uma cruz de que não vos apartareis até que a morte vos separe, que guardareis com ternura gravada nas vossas próprias almas.

O Crucifixo guardado em casa, em local visível e onde seja fácil reunir para o venerar será o coração do amor do lar que se vai iniciar, a Fonte de bênçãos e amor naquele casal e na família que eles vão originar.

Os noivos beijam as alianças. Beijam o Crucifixo. As alianças simbolizam a aliança que acabam de subscrever. O Crucifixo simboliza a presença real de Jesus que eles pedem: a omnipresença de Deus no seu casamento para sempre. Se um deles olhar para outra pessoa, pondo em causa a fidelidade conjugal, estará presente a sua infidelidade aos parceiros, o cônjuge e Jesus. Quando um deles, impacientando-se, se exasperar, fá-lo contra o cônjuge e contra Jesus.
Beijam-se apenas após beijarem as alianças e beijarem o Crucifixo, assumindo em parceria a Cruz da vida em comum, com as suas alegrias e tristezas, momentos de felicidade e de dor.
Juntos, de joelhos, diante do Crucifixo encontram o Conselheiro Conjugal, o Psicólogo, o Advogado, nos momentos de dificuldade e de maior dificuldade em compreender ou ser paciente.
Juntos, de joelhos, diante do Crucifixo darão graças pelos momentos de felicidade que ao logo da vida e de cada ano vão ocorrendo.
Juntos, de joelhos, diante do Crucifixo serão testemunho de Vida para os filhos da sua união.

Entre nós, desenvolveu-se e quase morreu um costume idêntico. A consagração dos lares ao Sagrado Coração de Jesus. Pode realizar-se por alturas do casamento, ou em qualquer momento. Trata-se de obter uma imagem do Sagrado Coração de Jesus e afixá-la na casa num local de fácil acesso e bem visível, tanto para os seus ocupantes, como pelas visitas. Existe uma fórmula para fazer a consagração do lar que pode ser feita por um ministro da Igreja. E pode usar-se água benta para benzer a casa e as pessoas que lá vivem. Na impossibilidade, as próprias pessoas podem fazer a consagração. É fácil obter a respectiva fórmula.



Outras famílias têm feito a consagração do seu lar a Maria, Mãe de Deus. Que é uma forma de consagração a Deus, invocando a mediação da sua Mãe.

As vantagens e virtudes de trazer Deus, de qualquer modo, de modo bem visível, para dentro do casal, do lar e da família não são sensíveis de um dia para o outro, bem pelo contrário. Ao longo da vida, do amadurecimento dos pais, do crescimento dos filhos e do envelhecimento das pessoas, vai-se descobrindo a felicidade da força que ajuda a ultrapassar os momentos mais difíceis e a dirigir louvores a Deus nas ocasiões de maior alegria.
Não se sente a presença de Deus como passe de magia. Deus vai entranhando-se cada vez mais dentro de nós, de tal modo que, mesmo nos quisessem convencer a expulsá-lo, não poderíamos, porque ele já está entranhado no nosso ser e na essência da família e do lar. E fica em herança para os nossos filhos.

Orlando de Carvalho







[1] João Silveira
[2] Siroki-Brijeg é uma localidade na Bósnia-herzegovina, à distância de 25 quilómetros de Medjugorge. Do outro lado do Mar Adriático fica a cidade italiana de Lanciano.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Fátima no Vaticano - 12 e 13 Outubro 2013 - 2ª parte

Anschluss - Invasão da Áustria pelos nazis


A 25 de Janeiro de 1938 dá-se uma Aurora Boreal, a “noite iluminada por uma grande luz do céu”, que na aparição de Julho de 1917 Nossa Senhora tinha dito que antecederia uma guerra maior que a I Guerra Mundial. De facto, em 13 de Março seguinte, o exército nazi alemão invadiu a Áustria, dando início à II Guerra Mundial.
Alguns historiadores consideram que a Guerra se iniciou ano e meio depois com a invasão da Polónia. É irrelevante o nome que os historiadores quiserem dar às coisas.



A invasão da Áustria é o primeiro acto bélico no exterior do exército nazi, as invasões da Checoslováquia, da Polónia, da França, etc., são etapas da mesma guerra que tem por objectivo dominar o mundo sob o signo da maldade.
A II Guerra Mundial iniciou-se, pois, como Nossa Senhora predissera sob o pontificado de Pio XI.




@Lusodidacta/Orlando de Carvalho
Carvalho, Orlando, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2005. Lisboa

Fátima no Vaticano - 12 e 13 Outubro 2013 - 1ª parte


O Santo Padre deseja que a Imagem de Nossa Senhora de Fátima que se encontra na Capelinha das Aparições viaje até ao Vaticano e aí permaneça nos dias 12 e 13 de Outubro, aniversário do Milagre do Sol.

Vamos aprofundar a relação entre Fátima e o Vaticano ao longo dos próximos dias.


Imagem de Nossa Senhora de Fátima será levada à Jornada Mariana a pedido do Papa 








Em resposta ao desejo do Santo Padre Francisco, a Imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima que é venerada na Capelinha das Aparições estará em Roma a 12 e 13 de Outubro, na Jornada Mariana promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. No dia 13 de Outubro, junto da Imagem de Nossa Senhora, o Papa Francisco fará a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria.
A Jornada Mariana é um dos grandes eventos pontifícios previstos no calendário de celebração do Ano da Fé e congregará em Roma centenas de movimentos e instituições ligadas à devoção mariana.
Em carta dirigida ao Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, D. Rino Fisichella, comunica que “todas as realidades eclesiais da espiritualidade mariana” estão convidadas a participar na Jornada Mariana: um encontro que prevê, no dia 12, uma peregrinação ao túmulo do apóstolo de S. Pedro e outros momentos de oração e de meditação e, no dia 13, a celebração eucarística, presidida pelo Papa Francisco, na Praça de S. Pedro.
“É um desejo vivo do Santo Padre que a Jornada Mariana possa ter como especial sinal  um dos ícones marianos entre os mais significativos para os cristãos em todo o mundo e, por esse motivo, pensamos na amada estátua original de Nossa Senhora de Fátima”, escreveu D. Rino Fisichella.
Assim, a Imagem de Nossa Senhora deixará o Santuário de Fátima em Portugal na manhã do dia 12 de Outubro e regressará na tarde do dia 13. No seu lugar na Capelinha das Aparições será colocada a primeira Imagem da Virgem Peregrina de Fátima, entronizada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário desde 8 de Dezembro de 2003.

@Lusodidacta/Orlando de Carvalho

Carvalho, Orlando, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2005. Lisboa


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Maria Clementina Nangapeta

A evangelização ad gentes caminhou muitas vezes a par da colonização. Por causa das colonizações e das descolonizações muitas pessoas sofreram, de ambos os lados. Cristo pede-nos que continuemos a nossa peregrinação neste mundo e que o nosso olhar sobre o passado sirva preferencialmente para nos ajudar a tomar as opções mais correctas no futuro, que recriminar e apontar o dedo aos que agiram mal com um sentimento, mesmo que subliminar, de vingança, ou mesmo apenas de castigo.





Em Dezembro de 1939, em Wamba, no então Zaire, actual República Democrática do Congo, nasceu uma menina. Os pais eram pagãos e deram-lhe o nome de Nangapeta. Ao ir para a escola, a menina foi registada por engano – trocaram-lhe o nome com o da sua irmã – como Anuarita. Ao converter-se a Cristo, foi baptizada e recebeu o nome de Afonsina. Ainda jovem entra na Congregação belga das Irmãs da Sagrada Família e recebe o nome de Maria Clementina. Maria Clementina Nangapeta viveu a maior parte da sua vida na Congregação, ocupando-se com a educação das crianças e como sacristã. Em 1961 inicia-se a guerra da independência do Zaire, até então colónia belga, que decorre de maneira muito sangrenta. Há um grito contra os brancos, em geral, mas há também gritos de guerra entre tribos de negros. Maria Clementina não recebeu uma grande instrução escolar, mas tinha uma vida espiritual cheia, conhecia os fundamentos da sua fé católica e amava com o coração. Cumpria as tarefas que lhe estavam cometidas com diligência e amor. Com a resposta belga, lançando pára-quedistas em 1964, começa uma grande carnificina com o objectivo de eliminar os brancos e aqueles que com eles estivessem relacionados. Maria Clementina tinha dificuldade em entender ou alinhar em jogos de política.
Para ela era claro o que estava mal e o que estava bem.
Quando achava que as coisas não estavam correctas, pedia licença, dava a sua opinião, mas não se mantinha em discussões fúteis. A 29 de Novembro de 1964 é presa pelos rebeldes Simba, juntamente com outras freiras da congregação e são transportadas num camião a Isiro. Na noite do dia 1 de Dezembro, o coronel Olombé exige à madre superiora uma rapariga para si. É neste cenário de guerra e terror que calha ao coronel Olombé a Irmã Maria Clementina. Enganaram-se os que pensaram que ela não passava de uma jovem negra, inculta, sem o pudor que devia ter por base uma verdadeira educação desde a mais tenra idade, enganaram-se porque para Deus não há raças: Deus tem “uns óculos” que não lhe permitem ver a cor da pele dos homens. Deus vê e ama todos por igual. Ele estava
no coração de Maria Clementina. Quando Jesus diz que o que fizerdes a um dos mais pequeninos é a Mim que o fazeis, Ele está mesmo a falar a sério. O coronel Olombé quis agarrar a sua garota, queria usá-la como objecto de prazer sexual, como tantas vezes acontece ao longo da história, em especial perante cenários de guerra. Energicamente Maria Clementina, com o coração cheio de coragem e de Jesus, berra com toda a clareza: “Não quero, não quero, escolho antes a morte que ser tua” e como parecia que o selvagem não estava a entender bem, ela explicou melhor:

“Prefiro morrer a cometer o pecado”. Incrédulo, vermelho de raiva, por não estar a satisfazer os seus propósitos, por estar a sentir-se tão humilhado na sua virilidade (embora apenas a sua arrogância machista e os seus sentimentos animalescos estivessem a ser humilhados), o bandido apunhala a jovem, que com vinte e cinco anos se prepara para embranquecer o seu hábito, lavando-o no sangue do Cordeiro. Depois dispara sobre ela a pistola. Tudo está quase consumado. Mas a cena prolonga-se ainda um pouco mais, o Senhor ainda espera mais de Maria Clementina.
E ela corresponde. Fazendo apelo à poucas forças que já lhe restam, ela dirige-se ao seu carniceiro. Escrevemos assim, para dar uma ideia do que se passou, mas, respeitando os sentimentos da Beata Clementina, que com este simples relato já estamos a venerar, devíamos chamar de irmão muito carente de orações. Ela disse antes de expirar: “Perdoo-te! Não te deste conta do que estavas a fazer! O Pai te perdoe!” Esta reacção assim tão rápida e espontânea de alguém, num momento destes, não pode ser encenada, estudada para dizer nestas alturas, porque ninguém se lembra do que estudou para dizer em semelhante situação. Estas palavras de perdão não podem ser mais que o coração da jovem mártir a exteriorizar toda a bondade e generosidade acumuladas dentro de si e de que vai passar a dispor ainda com maior abundância, porque está prestes a unir-se à Fonte do Amor.
Louvado seja Deus por permitir que a vida na terra seja alegrada por estes “anjos” que vão convivendo connosco no dia-a-dia e fazendo brilhar para nós a Luz de Cristo.
Maria Clementina foi mártir para conservar a pureza do seu corpo, habitação do Espírito Santo. Sua Santidade João Paulo II declarou-a Beata da Igreja a 15 de Agosto de 1985, numa bela e concorrida celebração em Kinshasa, durante uma longa viagem apostólica a diversos países africanos, num percurso que ultrapassou vinte e cinco mil quilómetros.

Orlando de Carvalho, Os Santos de João Paulo II, Livro II, Edições Lusodidacta, Loures.