quinta-feira, 27 de junho de 2013

O hábito e o monge

Ferdinand Buisson (1841-1932) foi um notável pastor protestante liberal francês, de ideologia franco-maçónica com grande actividade anti-clerical e anti-Igreja.

A 4 de Março de 1904, no auge da sua campanha contra a Igreja, ele fazia o seguinte discurso na Câmara dos Deputados, em Paris:

Conheço bem o provérbio que diz 'O hábito faz o monge'. Pela minha parte, todavia, defendo que é o hábito que faz o monge.
Com efeito, o hábito é um sinal perpétuo, para o monge e para todos, da sua separação do mundo, de que não é um homem igual aos outros.
Cada monge encontra a sua força no seu hábito e essa força é a garantia de que Deus jamais o abandonará, porque ele se considera servo de Deus. Ora, a nossa intenção é precisamente esta: arrebatar esse servo, cortar o elo.
Quando o homem tiver abandonado o uniforme da milícia em que se alistou encontrará a liberdade de se sentir o seu próprio Senhor; deixará de ter uma Regra que reja todos os momentos da sua vida; deixará de ter um Superior a quem pedir licença. Enfim, deixará de ser um Irmão da Ordem ou da Congregação e, mais cedo ou mais tarde, virá a tornar-se um homem de família, da cidade, um cidadão do mundo em tudo como os outros.
Deste modo será preferível que o religioso tornado secular vá ganhar a vida como os outros homens. Será livre!
Sabemos de antemão que ficará ligado às suas antigas ideias religiosas e outras. Deixemo-lo. Não lhe demos pressa. Não nos lamentemos desse facto.
Com o tempo ele abraçará a vida laical. O contacto com o mundo ajudá-lo-á. Confiemos na Natureza e a Natureza retomará os seus direitos.
Será com a liberdade que o ganharemos para a Liberdade.




Ferdinand Buisson foi um pastor protestante, partilhou a ideologia maçónica, foi responsável pelo ensino primário em França, foi Prémio Nobel da Paz em 1927, presidente da Liga dos Livres pensadores, deputado. Autor das teses de separação entre Igreja e Estado, presidiu à Comissão Parlamentar que criou as respectivas leis.
A ele se deve a criação da palavra laicidade.

Com tantas honras e prémios atribuídos pelos homens, a sua tese não vingou. Os monges continuam.

Fica a lição: os atentados à Igreja não sucedem por acaso.

  Fonte principal: Rosário de Maria, Março 1984

Orlando de Carvalho



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