quarta-feira, 5 de março de 2014

Estamos a entrar na Quaresma, a dizer Carnaval!


Uma provável origem da palavra Carnaval é a expressão latina "carne vale" (adeus à carne).
Que valor deve ter para os cristãos este adeus, de terça-feira gorda, que se prolonga na Quarta-feira de Cinzas e até à Páscoa?
Que valor tem não comer carne?
Ou tratar-se-á de não alimentar a carne, cada um a sua carne?
Não comer carne tem sempre um valor simbólico que ultrapassa o simbolismo. A intenção de abstenção da carne vai constantemente recordar-me a razão porque procuro abster-me. Ainda que eu almoce fora de casa e no refeitório ou no restaurante não não tenha possibilidade de comer a não ser carne, vou recordar-me da minha intenção, vou pensar na Quaresma e em como a estou a viver ou a desejar viver. E a intenção de não comer a carne pode bem ser considerada como não a comer, ou o que isso representa, o desejo de proximidade com Deus e a submissão ao Espírito como fez Jesus ao ser chamado para aquela quaresma no deserto. Esta carne que comemos ou não comemos é um símbolo relativo. A carne foi alimento caro e proibido aos pobres, para que existisse em quantidade suficiente para os senhores. Mais recentemente, o preço do peixe subiu e a carne passou a ser alimento do pobre. O jejum quaresmal passou a fazer mais sentido se fosse relativo ao peixe. Na realidade, muitos fiéis passaram a comer cherne, peixe assado no forno, camarões, lagosta... para comerem bem sem cometer o pecado de comer carne na Quaresma. Um autêntico farisaísmo!
Cada um tem que definir a sua carne, sem, contudo, fugir à própria palavra. Quem um tem de descobrir o sentido da Quaresma para si, no quadro dos ensinamentos e da doutrina da Igreja acerca deste tempo litúrgico.
Continua a existir a outra interpretação para o adeus à carne: deixar de alimentar a sua própria carne. Não a sua necessidade fisiológica de alimentação, mas os desejos que a minha carne tem e que me afastam de Deus. De forma muito concreta, podemos questionar-nos que é mais importante: não comer carne? Ou abster-se de:
  • Maledicência (falar mal dos outros)
  • Perder tempo com coisas inúteis (jogos, programas televisivos de deseducação)
  • Roubar tempo aos filhos
  • E tantas outras coisas que fazem tão mal ao nosso espírito e são tão pedidas pela nossa carne!
Uma proposta de Quaresma válida poderá ser construí-la no dia-a-dia. Com o "adeus à carne", a oração, a lembrança ao longo do dia de que estou a viver a Quaresma e a quero viver intensamente e com a disponibilidade para os pobres e os mais frágeis à minha volta. 

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