Jesus é rei. Já o era antes de nascer filho de Maria e de
ser apertado nos braços de José. Os magos vindos do Oriente, a quem chamamos reis magos, seguiam um sinal no céu, algo que eles entendiam, talvez de acordo
com as suas culturas e tradições. Também o rei Herodes teve a confirmação de
que os magos estariam certos, mandando aos doutores da lei que procurassem as
profecias a esse respeito nas Escrituras.
Mt 2,1-2
Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei
Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: «Onde está
o Rei dos judeus recém-nascido? Nós
vimos a sua estrela no Oriente e viemos para Lhe prestar homenagem».
Quando o Anjo Gabriel foi ao encontro de Maria, expôs com
clareza à jovem o futuro que aguardava o filho que lhe anunciava: Ele vinha
para reinar e o seu reino não teria fim.
Lc 1,30-33
O anjo
disse: «Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis
que vais ficar grávida, terás um Filho e dar-Lhe-ás o nome de Jesus. Ele será
grande e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dar-Lhe-á o trono de seu pai David, e Ele reinará para sempre sobre os
descendentes de Jacob. E o seu reino
não terá fim».
Os que viveram perto do filho de Maria, como vizinhos,
família ou amigos, com o passar do tempo foram descobrindo a realeza de Jesus
Jo 1,49
Natanael
respondeu: «Rabi, Tu és o Filho de Deus, Tu és o rei de Israel!»
Jesus não tem pressa e deseja que tudo se concretize no
tempo certo, de modo a que possa cumprir a sua missão.
Jo 6,15
Mas Jesus
percebeu que iam tomá-lO para O fazerem rei.
Então retirou-Se novamente sozinho para a montanha.
Estranhamente, de acordo com o texto do Evangelho, é
Pilatos, o cônsul romano, o pagão, aquele que representa o imperador romano, o
rosto do exército estrangeiro invasor, quem proclama maior número de vezes e
com maior intensidade, a majestade de Jesus.
O objectivo dos judeus que se tinham antagonizado com Jesus
era conseguir que os romanos O condenassem à morte. Pilatos entende bem as suas
intenções e tenta de vários modos ludibriá-los. No entanto não consegue ser
mais esperto que os judeus e não tem coragem para lhes fazer frente e em defesa
da verdade e da justiça declarar a inocência de Jesus. Assim acaba por assinar
a sentença de morte de um homem justo, porventura apenas, ou mais um, dos
muitos que o Império assassinou injustamente.
Jo 18,39
Contudo,
existe um costume entre vós: que vos solte alguém na Páscoa. Quereis que vos
solte o rei dos judeus?»
Jo 19,15a
Eles
começaram a gritar: «Fora! Fora! Crucifica-O!» Pilatos perguntou: «Hei-de
crucificar o vosso rei?»
Lc 23,13
Pilatos
interrogou Jesus: «Tu és o rei dos
judeus?» Jesus respondeu, declarando: «És tu que o dizes!»
Mc 15,12
Pilatos
perguntou de novo: «Que farei então com Jesus, a quem chamais rei dos judeus?»
E Pilatos acaba por consagrar a realeza do filho do
carpinteiro mandando gravá-la na própria cruz de tal maneira que é hoje
reproduzida em milhares e milhões de crucifixos por todo o mundo que ostentam a
sigla criada por Pilatos em honra de Jesus, Rei e Senhor.
Mc 15,26
E havia uma
inscrição, com o motivo da condenação: «O Rei
dos Judeus».
Apenas uns dias antes, menos de uma semana, o povo tinha-se
manifestado percorrendo Jerusalém, em grande alarido, atrás de um burrinho
montado por Jesus e aclamando-O, com salves e louvores, glorificando-o e
aclamando como seu rei a Jesus.
Jo 12,13
Então
pegaram em ramos de palmeira e saíram ao encontro de Jesus, gritando: «Hosana!
Bendito Aquele que vem em nome do Senhor, o
rei de Israel.»
Lc 19,38
E diziam:
«Bendito seja Aquele que vem como Rei,
em nome do Senhor! Paz no Céu e glória no mais alto do Céu».
Os chefes de Israel, perceberam que Jesus era
verdadeiramente o Messias que tinha chegado para salvar o povo da escravatura
do pecado e que havia um grande risco de Ele querer salvar também o povo da opressão
a que estava sujeito. Os notáveis de Israel intimidaram-se. Perceberam que
afinal Deus se preocupava com o bem estar do povo e que não reconhecia estatuto
especial a ninguém, nem aos sacerdotes, nem aos ricos, nem às famílias
importantes. Os homens que governavam Israel tiveram medo da oração que Jesus
ensinava. Se todos deviam chamar Pai a Deus, então todos eram irmãos e se deviam
tratar como tal. Que mania querer convencer todos e cada um de que a primeira
característica de todas as pessoas a fraternidade era, uma vez que todas deviam
chamar Pai a Deus, declarando-se irmãs, com todas as obrigações que isso
implica! Concluíram que a morte de Jesus era o único modo de pôr cobro à onda
de conversão que se levantava.
Pensaram então que era muito importante esmagar a realeza de
Jesus e mostrar ao povo que Ele não tinha qualquer poder. Não lhes bastava matarem
o homem. Estavam sedentos de vingança pelas afrontas que vinham sofrendo e
queriam deixar bem vincada a sua autoridade, como se Deus os tivesse nomeado
seus vigários para o mundo e para a fé. Queriam que o povo abandonasse
definitivamente aquelas ideias que faziam perigar o controlo que detinham sobre
a definição do que era pecado e do que não era, do que era do agrado ou do
desagrado de Deus, do que cada pessoa podia ou não fazer.
Jo 19,3
Aproximavam-se
d'Ele e diziam: «Salve, rei dos
judeus!» E davam-Lhe bofetadas.
Mt 27,29
Depois
teceram uma coroa de espinhos, puseram-Lha sobre a cabeça, e uma vara na mão
direita. Então ajoelharam-se diante de Jesus e zombaram d'Ele, dizendo: «Salve, rei dos judeus!»
Mc 15,18
Depois
começaram a cumprimentá-l'O: «Salve, rei
dos judeus!»
Finalmente os carrascos deviam executar a pena final perante
todo o povo. Depois de terem sujeitado Jesus a toda a sorte de tortura, o
Messias estaria exposto na sua mais humilhante fraqueza humana, com o corpo nu
e golpeado, ensanguentado e sujo, à vista de todo o povo, num lugar elevado,
como se fosse um deus, embora fosse Deus, para que ao olhar para cima, os seus
seguidores tivessem a decepção de ver a sua debilidade em vez da sua majestade.
Os chefes do povo ofendiam de maneira insultuosa, num
desafio a que todo o povo se agigantasse e a uma só voz desprezasse também o
Mestre a quem tinham seguido por três anos, escutando e aprendendo. E o povo
cedeu. Como Eva e Adão haviam cedido à serpente.
Jo 19,18-19
E ali
crucificaram Jesus com outros dois homens, um de cada lado, e Jesus no meio.
Pilatos
mandou também escrever um letreiro e colocou-o na cruz. Estava escrito: JESUS
NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
Lc 23,37-38
«Se Tu és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!»
Por cima
d'Ele havia um letreiro: «Este é o Rei
dos judeus».
Mc 15,31-32a
Do mesmo
modo, os sumos sacerdotes, com os doutores da Lei, zombavam d'Ele, dizendo:
«Salvou os outros... e não pode salvar-Se a Si mesmo! O Messias, o rei de Israel... Desça agora da cruz,
para que vejamos e acreditemos!»
Quando, aos oito dias, levaram o seu bebé ao Templo, Maria e
José tinham já escutado Simeão cantar de modo admirável a realeza do Menino:
Lc 2,29-32
«Agora,
Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque
os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos:
luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel».
A Igreja celebra de três em três anos uma perspectiva
diferente da realeza de Jesus, fundamentando-se alternadamente nas versões
evangélicas segundo Mateus, João e Lucas.
O trecho de Mateus destaca Jesus Rei e Senhor absoluto do
Universo, descendo dos Céus num trono admirável, à maneira dos reis deste
mundo, com o poder de salvar e condenar.
O de João enfatiza a Reino dos Céus, aquele em que Jesus é
verdadeiramente Rei e cuja compreensão não nos é acessível. Jesus mesmo diz de
Si que é Rei e que tem anjos à sua ordem a servi-lo, mas não quer fazer alarde
disso.
Finalmente, em Lucas, encontramos um Rei que segundo os
conceitos deste mundo é desprezível, não mais que um intrujão. Tendo-Se feito
passar por alguém com poder para salvar os outros, afinal tudo não passara de
truques porque na hora da verdade nem a Si mesmo conseguia salvar. É nessa
anarquia avassaladora de gente confusa e inflamada pelos chefes dos judeus que
ergue a voz um desgraçado malfeitor que fora crucificado ao lado de Jesus. Ele
humildemente reconhece a realeza de Jesus e nela se aconchega. E Jesus
recebe-o, retribuindo o aconchego.
Mt 25, 31-46
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua
glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as
nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor
separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os
cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está
preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive
sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me
vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes
ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e
Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos
peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos
doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos
digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o
fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque
tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era
peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive
doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de
perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou
sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos
mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício
eterno e os justos para a vida eterna».
Jo 18,
33b-37
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele
tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus Respondeu-lhe: «é
por ti que o dizes ou foram outros que to disseram de Mim?» Disse-Lhe Pilatos:
«Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram
a mim. Que fizeste?» Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu
reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse
entregue às autoridades dos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse-Lhe
Pilatos:
«Então Tu és
rei?» Jesus respondeu: «É como dizes: sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo,
a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha
voz».
Lc 23, 35-43
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a
Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele;
aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus,
salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos
judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós
também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu
que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o
castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E
acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus
respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
A festa de Cristo Rei no Ciclo Litúrgico
A Festa de Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI em
1925, através da encíclica Quas Primas.
Perante uma generalizada perseguição aos cristãos que era movida principalmente
pelos movimentos maçónicos e comunistas, o Papa pede aos cristãos que roguem o
auxílio de Cristo Rei e emite uma bula com uma indulgência plenária para os
cristãos mexicanos que morram em combate pela fé.
Principalmente no México e em Espanha, uma multidão de
mártires morre a gritar
- Viva Cristo Rei!
Sem temor à morte, segundo relatos dos próprios soldados que
realizavam as execuções da pena capital, os fiéis mostravam total confiança no
Senhor, dando-Lhe vivas enquanto eram baleados.
Cristo Rei no México – os Cristeros e a Cristíada
Em 1857 o governo mexicano confiscou todas as propriedades da Igreja.
Em 1917 discute-se uma Constituição que propõe a nacionalização dos
recursos minerais e a devolução das terras aos índios; a completa separação
entre a Igreja e o Estado; o estabelecimento da educação laica obrigatória, a proibição
do estabelecimento de ordens religiosas em território mexicano, bem como
qualquer acto de culto fora dos templos ou casas particulares; confiscava todos
os bens pertencentes à Igreja e a ordens religiosas, como já vinha acontecendo;
proibia a existência de seminários, conventos, colégios de inspiração
religiosa, casas paroquiais.
Em 1920 começam a ser hasteadas bandeiras vermelhas com a foice e o
martelo na catedral da Cidade do México, onde também é colocada uma bomba.
Foram expulsos sacerdotes, religiosos e religiosas estrangeiros e
aplicadas multas e ordens de prisão a quem ministrasse ensino religioso ou
convidasse à prática religiosa ou à vida consagrada, a quem usasse hábito ou
voltasse a reunir-se depois de a sua congregação ter sido dissolvida. A ordem
de prisão e o julgamento sumário, seguido de execução, era prática corrente em
relação aos que desobedecessem às autoridades.
Viviam-se tempos de grande desolação e angústia para todos os
católicos. Os campanários das igrejas estavam silenciosos, a alegria das festas
religiosas transformara-se em terror. Era proibido celebrar missas, baptizados,
casamentos, ou mesmo confessar ou levar a bênção a um doente ou a santa unção a
um moribundo. Os fiéis sentiam-se à deriva, sem poderem comungar, adorar o
Santíssimo Sacramento ou simplesmente entrar num templo para saudar a Deus ou à
Virgem Maria.
Em 1926 tem início a “Cristíada” ou movimento armado dos Cristeros”.
A população decidiu então lutar pela sua fé. A princípio nem sequer tinham armas. Pedras, varapaus e picaretas, tudo
servia para se defenderem e atacarem os soldados. Destes reencontros foram
conseguindo as primeiras armas. Depois, mais tarde, alguns nobres e
proprietários, que também aderiram à causa, foram conseguindo mais reforços em
armas e munições. Este movimento estendeu-se a quase todo o país e não se
tratava apenas de pegar em armas e lutar contra o exército que ia pelas vilas e
aldeias a prender os padres e os fiéis que com eles se reuniam. Por todo o lado
se organizavam também grandes manifestações, peregrinações e procissões de
apoio aos “cristeros”, como as autoridades lhes chamavam.
Juntavam-se milhares de pessoas que, na “versão oficial”, não
passavam da “reacção de uns índios ignorantes, embrutecidos por um grupo de
padres fanáticos”.
A “Cristíada começou por acontecer espontaneamente em pequenos
lugares dispersos mas, com o passar do tempo e com o aumento das represálias
por parte do governo, foi ganhando força e dimensão. Era uma verdadeira luta de
David contra Golias. Quando o governo mandava fechar uma igreja ou uma escola
católica num determinado lugar, o povo tentava continuar a reunir-se com o seu
padre, ou com os religiosos, para celebrarem a missa ou rezarem num local
secreto ou escondidos no mato e nas montanhas. Quando o exército descobria
estes locais ou surpreendia qualquer celebração litúrgica, acontecia muitas
vezes abrirem fogo e assassinarem o padre e os fiéis que ali se encontravam e,
se algum sobrevivia, era levado preso e torturado. Nem as crianças escapavam.
Muitos foram os assassinados ao serem surpreendidos ou posteriormente
fuzilados, segurando nas mãos um crucifixo ou um rosário e gritando:
- Viva Cristo Rei
- Viva a Santíssima Virgem de Guadalupe
- Viva o México.
Quando em 1914 a República Mexicana fora consagrada a Jesus
Cristo, por iniciativa do General Vitoriano Huerta, aquele grito passara a ser
a divisa dos católicos mexicanos, recebendo mesmo uma bênção do Sumo Pontífice.
Em 1927, em plena luta pela defesa da fé católica, o Papa Pio
XI fez também chegar aos Bispos mexicanos uma bênção especial e um documento de indulgência
plenária destinada a todos quantos derramassem o seu sangue pela Igreja de
Cristo.
O padre Miguel Agostinho Pró
Miguel Agostinho
Pro nasceu em Guadalupe, Zacatecas, no México, a 13 de Janeiro de 1891. Desde
tenra idade revelou-se muito irrequieto. Certa vez esteve a morrer por comer
umas frutas estragadas, curou-se milagrosamente e a mãe atribuiu a cura a Nossa
Senhora. Miguel estava sempre alegre e bem disposto, fazendo tudo à sua volta
correr num rodopio. Ante a impaciência e desagrado da mãe por tão grande
alvoroço que o filho diariamente provocava, este disse-lhe certo dia:
– Mãezinha, eu chamo-me
Agostinho, como Santo Agostinho que também foi capaz de mudar de vida. Verás
que eu também vou mudar de vida.
E mudou mesmo, a
partir desse dia, tornando-se bastante mais estável. O pai de Miguel tinha uma
mina e Miguel gostava de estar entre os trabalhadores, falar com eles, aprender
com eles. Ajudava o pai, mas não se comportava como um “filho de patrão”,
agindo com simplicidade. Continuava, todavia a manter o espírito vivo e alegre,
sempre de bom humor, a entrar em brincadeiras e a fazer imitações.
Era caricaturista
e tocava guitarra e outros instrumentos musicais. Aprendeu assim a maneira de
falar e os costumes dos operários, bem diferentes dos de sua casa. Isto
ser-lhe-ia importante quando precisasse de se disfarçar e passar despercebido
entre a multidão.
Quando as duas
irmãs de Miguel enveredam pela vida religiosa, ele fica muito zangado, mesmo
irado, porque não queria para elas essa vida. A mãe prepara, então, a
participação de Miguel num retiro de três dias, onde a palavra oportuna de um
padre jesuíta faz o jovem mudar de ideias em relação à vida. É ele próprio
agora que deseja ser padre jesuíta. Estamos em 1911 e Miguel tem vinte anos.
Mas o noviciado é para o seu espírito alegre e brincalhão uma monotonia difícil
de suportar. O mestre dos noviços combina então com ele um noviciado de seis
meses apenas, mas feito em verdadeira e profunda espiritualidade. Em 1913
estala uma revolução marxista no México. O pai de Miguel perde a mina. A
prática religiosa é proibida. A Companhia de Jesus envia os noviços para os
Estados Unidos, tendo para o efeito que atravessar o México disfarçados para
não serem detidos. Nos Estados Unidos, a língua inglesa torna-se um problema e
Miguel e outros noviços vão para Espanha, país neutral durante a I Guerra
Mundial, que entretanto se iniciara. Os sacerdotes que continuam no México
vivem escondidos, andam a monte. Muitos são presos e assassinados pelas tropas
e pela polícia. Quando chega a Espanha a epidemia da gripe pneumónica, Miguel
visita os hospitais, utilizando as suas capacidades de entertainer para
suavizar os sofrimentos daqueles doentes, muitos dos quais irão morrer: ele
canta, faz caricaturas, números cómicos, etc. Aos domingos colabora em acções
locais, dando catequese nos bairros mais pobres. A Companhia envia-o depois
para a Bélgica para que veja como é lá o trabalho que os sacerdotes realizam
com os trabalhadores. Na Bélgica é
ordenado padre.
Depois é enviado a França para conhecer as obras e movimentos sociais que a
Igreja lá desenvolve.
Em 1926 regressa
ao México. O país está numa miséria social, económica e cultural. O governo é
uma ditadura que fez da aniquilação da Igreja e de Deus o objectivo da sua
política. O padre Miguel Pro, para entrar no país, tem que se disfarçar de
homem de negócios. A Igreja na Cidade do México assemelha-se à de Roma nos
primeiros tempos do cristianismo: existe, mas escondida, aparentemente como se
não existisse e quando há sinal visível da sua existência, logo aparecem os
verdugos prontos a cortar esse braço visível.
O padre Miguel
encontra-se com o pai e as irmãs (a mãe falecera entretanto), e depois planeia
a sua acção pastoral na Cidade do México, como se toda ela fosse sua paróquia.
Organizam-se “Estações de Comunhão” que não são mais que casas particulares
onde se celebra a missa e os outros sacramentos, antes da aurora ou depois do
sol se pôr, normalmente. Para resistir à política ateia do governo, os
católicos constituem a Liga para a Defesa da Religião e convidam o padre Pro
para seu capelão. Este organiza um grupo de cento e cinquenta jovens que
percorrem as ruas da Cidade do México distribuindo propaganda contra as leis
anti-religiosas e convidando à resistência pacífica. Os contributos monetários
que recebem são usados para auxílio às famílias mais atingidas por terem sido
presos ou assassinados aqueles que trabalhavam para obter o sustento económico.
O padre Pro
organiza um grupo de quatrocentos catequistas para dar catequese e continua a
deslocar-se com grande liberdade, disfarçado seja do que for, a pé, de
bicicleta, como pessoa importante ou como simples trabalhador, realizando um
trabalho pastoral com grande inteligência e caridade. Eis alguns exemplos com o
seu quê de cómico.
Seguindo num táxi
e percebendo que estava a ser seguido pela polícia, mandou abrandar o táxi e
saltou em movimento, continuando a andar na rua, cambaleando como se estivesse
bêbado. A polícia vendo que se tratava de um bêbado e, portanto, não do padre
Pro, continuou o seu caminho, não lhe ligando.
Vai pregar a
fábricas e oficinas disfarçado de operário. Nas casas mais burguesas faz a
mesma pregação, mas chega vestido como um burguês.
Consegue pregar
retiros de três dias, na Cidade do México, enquanto a polícia o procura em sua
casa para o matar.
Doutra vez, ao
sentir que a polícia está no seu encalço, entra numa loja e convida uma
elegante senhora a dar-lhe o braço para o salvar de ser preso. Saem os dois
para a rua e a polícia não faz caso daquele casal, pois um padre não anda
vestido à civil de braço dado com uma senhora! Entretanto chega um sargento e
pela descrição que lhes faz do padre Pro, os polícias percebem que foi ele quem
saiu com aquela elegante senhora, mas já não o conseguem apanhar.
Consegue
entrar nas prisões, subornando os guardas, para levar a comunhão aos católicos
presos.
Noutra
ocasião estava com um grupo de jovens da Acção Católica. A polícia cercou o
edifício e o padre Miguel Pro escondeu-se num armário. O coronel daquele grupo
policial entra na sala e exige aos rapazes que indiquem onde está escondido o
padre Pro, sob a ameaça de os matar com a pistola que segura na mão. Sente
então encostado à nuca o cano frio de uma arma. Depois de aceder a deixar sair
os jovens que levam as armas do coronel, o padre Pro mostra-se e à garrafa cujo
gargalo encostara a nuca do coronel.
Aconteceu
então o padre Pro confidenciar a um amigo que tinha oferecido a sua vida a Deus
pelo México e que estava convencido que o Senhor tinha aceitado a sua oferta.
É
então que vendo o crescimento do movimento que tem por lema VIVA CRISTO REI, o
presidente da república, Calles, manda prender o padre Miguel Pro e inventar
contra ele o envolvimento em atentados violentos. Há então um jovem que para
salvar a mãe presa pela polícia, denúncia o padre Pro. As autoridades pensam
decapitar o movimento condenando-o à morte. Enquanto se dirigem para o local da
execução, um soldado pede perdão ao sacerdote.
Este
responde-lhe:
–
Perdoo-te e agradeço-te.
Concedem-lhe
uns poucos momentos para rezar. Depois exclamou:
–
Senhor, sabes que estou inocente. Perdoo do coração aos meus inimigos. Deus
tenha misericórdia de vós. Deus vos abençoe! a
Abriu
os braços, segurando numa mão um crucifixo e na outra um terço. E gritou:
– Viva
Cristo Rei.
Seguiu-se
a descarga das espingardas.
David Roldan Lara
David Roldan Lara nasceu a 2 de Março de 1907 em
Chalchihuites. Ficou órfão ainda em bebé. Era muito alegre e generoso. Não pode
seguir a carreira sacerdotalpor dificuldades económicas. Era presidente da
Acção Católica Juvenil do México e vice-presidente da Liga Nacional para a
Defesa da Liberdade Religiosa, entidade que organizou abaixo-assinados para
exigir
a
revogação das leis anti-religiosas. Em 1926 foi preso com Manuel Morales e
falsamente acusado e condenado. Uma vez que recusaram a libertação que lhes era oferecida se
declarassem aceitar as leis anti-religiosas, foram fuzilados a 15 de
Agosto de 1926, gritando:
– Viva Cristo Rei e a Virgem de Guadalupe.
Cristo Rei em Espanha
Durante a Guerra Civil de Espanha, foi muito grande a perseguição
movida aos católicos. Muitos morreram gritando:
- Viva Cristo Rei!
Nicéforo de Jesus e Maria
Vinte e seis
religiosos da Comunidade Passionista de Daimiel, na noite de 21 para 22 de
Julho de 1936, prevendo já a hipótese de virem a ser atacados, reuniram-se
todos na capela do seu mosteiro, liderados pelo seu provincial, Frei Nicéforo
de Jesus e Maria. Confessaram-se e comungaram pela última vez.
Durante essa mesma noite chegaram
cerca de duzentos homens armados que os levaram, separados em pequenos grupos.
Ao longo dos três meses seguintes foram torturados e assassinados em diferentes
lugares.
Nenhum deles tentou abandonar ou
fugir do seu grupo e, segundo o testemunho de alguns soldados, morreram dando
provas de grande Fé e coragem, muitos deles segurando nas mãos um crucifixo e
gritando:
– Viva Cristo Rei!
Cinquenta e um religiosos Claretianos mártires
…E assim os foram levando em
vários grupos e eles avançavam para a morte entre orações e cânticos alegres,
numa impressionante manifestação de Fé, enquanto os seus carrascos tentavam
sempre até ao último momento que eles renegassem a sua religião. Em vez disso,
enfrentavam as balas gritando:
– Viva Cristo Rei.
Os últimos dois destes cinquenta e
um mártires foram assassinados a 18 de Agosto de 1936.
Vitória Diez y Bustos de Molina
Leiga teresiana, Vitória Molina
vivia dedicada ao ensino, à Acção Católica e a obras de caridade. Em 11 de
Agosto de 1936 foi presa com alguns outros católicos. Passou toda a noite a
rezar tranquilamente, incitando os outros para que a acompanhassem. No dia
seguinte foram levados para perto das minas de Ríncon e foram executados As
últimas palavras de Vitória foram:
– Viva Cristo Rei.
Monumentos a Cristo Rei
Desde a proclamação da festa de Cristo Rei e oficialização
desta invocação de Jesus pelo Papa Pio XI que se têm multiplicado os monumentos
a Cristo Rei por todo o mundo.
Orlando de Carvalho