Solenidade de Cristo Rei
25/26 Novembro 2017
Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
Este artigo sobre Cristo Rei pode ser usado como fonte
de informação, ou como documento base para um encontro de Catequese ou de outra natureza. No próximo Domingo, os cristãos celebram a solenidade de Cristo Rei.
A pensar nos encontros de
catequese, mas não só, elaborámos uma apresentação em PowerPoint. Quem estiver
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NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
Jesus é rei. Já o era antes de nascer filho de Maria e de
ser apertado nos braços de José. Os magos vindos do Oriente, a quem chamamos reis magos, seguiam um sinal no céu, algo que eles entendiam, talvez de acordo
com as suas culturas e tradições. Também o rei Herodes teve a confirmação de
que os magos estariam certos, mandando aos doutores da lei que procurassem as
profecias a esse respeito nas Escrituras.
Mt 2,1-2
Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei
Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: «Onde está
o Rei dos judeus recém-nascido? Nós
vimos a sua estrela no Oriente e viemos para Lhe prestar homenagem».
Quando o Anjo Gabriel foi ao encontro de Maria, expôs com
clareza à jovem o futuro que aguardava o filho que lhe anunciava: Ele vinha
para reinar e o seu reino não teria fim.
Lc 1,30-33
O anjo
disse: «Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis
que vais ficar grávida, terás um Filho e dar-Lhe-ás o nome de Jesus. Ele será
grande e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dar-Lhe-á o trono de seu pai David, e Ele reinará para sempre sobre os
descendentes de Jacob. E o seu reino
não terá fim».
Os que viveram perto do filho de Maria, como vizinhos,
família ou amigos, com o passar do tempo foram descobrindo a realeza de Jesus
Jo 1,49
Natanael
respondeu: «Rabi, Tu és o Filho de Deus, Tu és o rei de Israel!»
Jesus não tem pressa e deseja que tudo se concretize no
tempo certo, de modo a que possa cumprir a sua missão.
Jo 6,15
Mas Jesus
percebeu que iam tomá-lO para O fazerem rei.
Então retirou-Se novamente sozinho para a montanha.
Estranhamente, de acordo com o texto do Evangelho, é
Pilatos, o cônsul romano, o pagão, aquele que representa o imperador romano, o
rosto do exército estrangeiro invasor, quem proclama maior número de vezes e
com maior intensidade, a majestade de Jesus.
O objectivo dos judeus que se tinham antagonizado com Jesus
era conseguir que os romanos O condenassem à morte. Pilatos entende bem as suas
intenções e tenta de vários modos ludibriá-los. No entanto não consegue ser
mais esperto que os judeus e não tem coragem para lhes fazer frente e em defesa
da verdade e da justiça declarar a inocência de Jesus. Assim acaba por assinar
a sentença de morte de um homem justo, porventura apenas, ou mais um, dos
muitos que o Império assassinou injustamente.
Jo 18,39
Contudo,
existe um costume entre vós: que vos solte alguém na Páscoa. Quereis que vos
solte o rei dos judeus?»
Jo 19,15a
Eles
começaram a gritar: «Fora! Fora! Crucifica-O!» Pilatos perguntou: «Hei-de
crucificar o vosso rei?»
Lc 23,13
Pilatos
interrogou Jesus: «Tu és o rei dos
judeus?» Jesus respondeu, declarando: «És tu que o dizes!»
Mc 15,12
Pilatos
perguntou de novo: «Que farei então com Jesus, a quem chamais rei dos judeus?»
E Pilatos acaba por consagrar a realeza do filho do
carpinteiro mandando gravá-la na própria cruz de tal maneira que é hoje
reproduzida em milhares e milhões de crucifixos por todo o mundo que ostentam a
sigla criada por Pilatos em honra de Jesus, Rei e Senhor.
Mc 15,26
E havia uma
inscrição, com o motivo da condenação: «O Rei
dos Judeus».
Apenas uns dias antes, menos de uma semana, o povo tinha-se
manifestado percorrendo Jerusalém, em grande alarido, atrás de um burrinho
montado por Jesus e aclamando-O, com salves e louvores, glorificando-o e
aclamando como seu rei a Jesus.
Jo 12,13
Então
pegaram em ramos de palmeira e saíram ao encontro de Jesus, gritando: «Hosana!
Bendito Aquele que vem em nome do Senhor, o
rei de Israel.»
Lc 19,38
E diziam:
«Bendito seja Aquele que vem como Rei,
em nome do Senhor! Paz no Céu e glória no mais alto do Céu».
Os chefes de Israel, perceberam que Jesus era
verdadeiramente o Messias que tinha chegado para salvar o povo da escravatura
do pecado e que havia um grande risco de Ele querer salvar também o povo da opressão
a que estava sujeito. Os notáveis de Israel intimidaram-se. Perceberam que
afinal Deus se preocupava com o bem estar do povo e que não reconhecia estatuto
especial a ninguém, nem aos sacerdotes, nem aos ricos, nem às famílias
importantes. Os homens que governavam Israel tiveram medo da oração que Jesus
ensinava. Se todos deviam chamar Pai a Deus, então todos eram irmãos e se deviam
tratar como tal. Que mania querer convencer todos e cada um de que a primeira
característica de todas as pessoas a fraternidade era, uma vez que todas deviam
chamar Pai a Deus, declarando-se irmãs, com todas as obrigações que isso
implica! Concluíram que a morte de Jesus era o único modo de pôr cobro à onda
de conversão que se levantava.
Pensaram então que era muito importante esmagar a realeza de
Jesus e mostrar ao povo que Ele não tinha qualquer poder. Não lhes bastava matarem
o homem. Estavam sedentos de vingança pelas afrontas que vinham sofrendo e
queriam deixar bem vincada a sua autoridade, como se Deus os tivesse nomeado
seus vigários para o mundo e para a fé. Queriam que o povo abandonasse
definitivamente aquelas ideias que faziam perigar o controlo que detinham sobre
a definição do que era pecado e do que não era, do que era do agrado ou do
desagrado de Deus, do que cada pessoa podia ou não fazer.
Jo 19,3
Aproximavam-se
d'Ele e diziam: «Salve, rei dos
judeus!» E davam-Lhe bofetadas.
Mt 27,29
Depois
teceram uma coroa de espinhos, puseram-Lha sobre a cabeça, e uma vara na mão
direita. Então ajoelharam-se diante de Jesus e zombaram d'Ele, dizendo: «Salve, rei dos judeus!»
Mc 15,18
Depois
começaram a cumprimentá-l'O: «Salve, rei
dos judeus!»
Finalmente os carrascos deviam executar a pena final perante
todo o povo. Depois de terem sujeitado Jesus a toda a sorte de tortura, o
Messias estaria exposto na sua mais humilhante fraqueza humana, com o corpo nu
e golpeado, ensanguentado e sujo, à vista de todo o povo, num lugar elevado,
como se fosse um deus, embora fosse Deus, para que ao olhar para cima, os seus
seguidores tivessem a decepção de ver a sua debilidade em vez da sua majestade.
Os chefes do povo ofendiam de maneira insultuosa, num
desafio a que todo o povo se agigantasse e a uma só voz desprezasse também o
Mestre a quem tinham seguido por três anos, escutando e aprendendo. E o povo
cedeu. Como Eva e Adão haviam cedido à serpente.
Jo 19,18-19
E ali
crucificaram Jesus com outros dois homens, um de cada lado, e Jesus no meio.
Pilatos
mandou também escrever um letreiro e colocou-o na cruz. Estava escrito: JESUS
NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
Lc 23,37-38
«Se Tu és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!»
Por cima
d'Ele havia um letreiro: «Este é o Rei
dos judeus».
Mc 15,31-32a
Do mesmo
modo, os sumos sacerdotes, com os doutores da Lei, zombavam d'Ele, dizendo:
«Salvou os outros... e não pode salvar-Se a Si mesmo! O Messias, o rei de Israel... Desça agora da cruz,
para que vejamos e acreditemos!»
Quando, aos oito dias, levaram o seu bebé ao Templo, Maria e
José tinham já escutado Simeão cantar de modo admirável a realeza do Menino:
Lc 2,29-32
«Agora,
Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque
os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos:
luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel».
A Igreja celebra de três em três anos uma perspectiva
diferente da realeza de Jesus, fundamentando-se alternadamente nas versões
evangélicas segundo Mateus, João e Lucas.
O trecho de Mateus destaca Jesus Rei e Senhor absoluto do
Universo, descendo dos Céus num trono admirável, à maneira dos reis deste
mundo, com o poder de salvar e condenar.
O de João enfatiza a Reino dos Céus, aquele em que Jesus é
verdadeiramente Rei e cuja compreensão não nos é acessível. Jesus mesmo diz de
Si que é Rei e que tem anjos à sua ordem a servi-lo, mas não quer fazer alarde
disso.
Finalmente, em Lucas, encontramos um Rei que segundo os
conceitos deste mundo é desprezível, não mais que um intrujão. Tendo-Se feito
passar por alguém com poder para salvar os outros, afinal tudo não passara de
truques porque na hora da verdade nem a Si mesmo conseguia salvar. É nessa
anarquia avassaladora de gente confusa e inflamada pelos chefes dos judeus que
ergue a voz um desgraçado malfeitor que fora crucificado ao lado de Jesus. Ele
humildemente reconhece a realeza de Jesus e nela se aconchega. E Jesus
recebe-o, retribuindo o aconchego.
Mt 25, 31-46
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua
glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as
nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor
separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os
cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está
preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive
sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me
vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes
ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e
Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos
peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos
doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos
digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o
fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque
tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era
peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive
doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de
perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou
sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos
mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício
eterno e os justos para a vida eterna».
Jo 18,
33b-37
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele
tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus Respondeu-lhe: «é
por ti que o dizes ou foram outros que to disseram de Mim?» Disse-Lhe Pilatos:
«Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram
a mim. Que fizeste?» Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu
reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse
entregue às autoridades dos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse-Lhe
Pilatos:
«Então Tu és
rei?» Jesus respondeu: «É como dizes: sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo,
a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha
voz».
Lc 23, 35-43
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a
Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele;
aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus,
salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos
judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós
também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu
que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o
castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E
acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus
respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
A festa de Cristo Rei no Ciclo Litúrgico
A Festa de Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI em
1925, através da encíclica Quas Primas.
Perante uma generalizada perseguição aos cristãos que era movida principalmente
pelos movimentos maçónicos e comunistas, o Papa pede aos cristãos que roguem o
auxílio de Cristo Rei e emite uma bula com uma indulgência plenária para os
cristãos mexicanos que morram em combate pela fé.
Principalmente no México e em Espanha, uma multidão de
mártires morre a gritar
- Viva Cristo Rei!
Sem temor à morte, segundo relatos dos próprios soldados que
realizavam as execuções da pena capital, os fiéis mostravam total confiança no
Senhor, dando-Lhe vivas enquanto eram baleados.
Cristo Rei no México – os Cristeros e a Cristíada
Em 1857 o governo mexicano confiscou todas as propriedades da Igreja.
Em 1917 discute-se uma Constituição que propõe a nacionalização dos
recursos minerais e a devolução das terras aos índios; a completa separação
entre a Igreja e o Estado; o estabelecimento da educação laica obrigatória, a proibição
do estabelecimento de ordens religiosas em território mexicano, bem como
qualquer acto de culto fora dos templos ou casas particulares; confiscava todos
os bens pertencentes à Igreja e a ordens religiosas, como já vinha acontecendo;
proibia a existência de seminários, conventos, colégios de inspiração
religiosa, casas paroquiais.
Em 1920 começam a ser hasteadas bandeiras vermelhas com a foice e o
martelo na catedral da Cidade do México, onde também é colocada uma bomba.
Foram expulsos sacerdotes, religiosos e religiosas estrangeiros e
aplicadas multas e ordens de prisão a quem ministrasse ensino religioso ou
convidasse à prática religiosa ou à vida consagrada, a quem usasse hábito ou
voltasse a reunir-se depois de a sua congregação ter sido dissolvida. A ordem
de prisão e o julgamento sumário, seguido de execução, era prática corrente em
relação aos que desobedecessem às autoridades.
Viviam-se tempos de grande desolação e angústia para todos os
católicos. Os campanários das igrejas estavam silenciosos, a alegria das festas
religiosas transformara-se em terror. Era proibido celebrar missas, baptizados,
casamentos, ou mesmo confessar ou levar a bênção a um doente ou a santa unção a
um moribundo. Os fiéis sentiam-se à deriva, sem poderem comungar, adorar o
Santíssimo Sacramento ou simplesmente entrar num templo para saudar a Deus ou à
Virgem Maria.
Em 1926 tem início a “Cristíada” ou movimento armado dos Cristeros”.
A população decidiu então lutar pela sua fé. A princípio nem sequer tinham armas. Pedras, varapaus e picaretas, tudo
servia para se defenderem e atacarem os soldados. Destes reencontros foram
conseguindo as primeiras armas. Depois, mais tarde, alguns nobres e
proprietários, que também aderiram à causa, foram conseguindo mais reforços em
armas e munições. Este movimento estendeu-se a quase todo o país e não se
tratava apenas de pegar em armas e lutar contra o exército que ia pelas vilas e
aldeias a prender os padres e os fiéis que com eles se reuniam. Por todo o lado
se organizavam também grandes manifestações, peregrinações e procissões de
apoio aos “cristeros”, como as autoridades lhes chamavam.
Juntavam-se milhares de pessoas que, na “versão oficial”, não
passavam da “reacção de uns índios ignorantes, embrutecidos por um grupo de
padres fanáticos”.
A “Cristíada começou por acontecer espontaneamente em pequenos
lugares dispersos mas, com o passar do tempo e com o aumento das represálias
por parte do governo, foi ganhando força e dimensão. Era uma verdadeira luta de
David contra Golias. Quando o governo mandava fechar uma igreja ou uma escola
católica num determinado lugar, o povo tentava continuar a reunir-se com o seu
padre, ou com os religiosos, para celebrarem a missa ou rezarem num local
secreto ou escondidos no mato e nas montanhas. Quando o exército descobria
estes locais ou surpreendia qualquer celebração litúrgica, acontecia muitas
vezes abrirem fogo e assassinarem o padre e os fiéis que ali se encontravam e,
se algum sobrevivia, era levado preso e torturado. Nem as crianças escapavam.
Muitos foram os assassinados ao serem surpreendidos ou posteriormente
fuzilados, segurando nas mãos um crucifixo ou um rosário e gritando:
- Viva Cristo Rei
- Viva a Santíssima Virgem de Guadalupe
- Viva o México.
Quando em 1914 a República Mexicana fora consagrada a Jesus
Cristo, por iniciativa do General Vitoriano Huerta, aquele grito passara a ser
a divisa dos católicos mexicanos, recebendo mesmo uma bênção do Sumo Pontífice.
Em 1927, em plena luta pela defesa da fé católica, o Papa Pio
XI fez também chegar aos Bispos mexicanos uma bênção especial e um documento de indulgência
plenária destinada a todos quantos derramassem o seu sangue pela Igreja de
Cristo.
O padre Miguel Agostinho Pró
Miguel Agostinho
Pro nasceu em Guadalupe, Zacatecas, no México, a 13 de Janeiro de 1891. Desde
tenra idade revelou-se muito irrequieto. Certa vez esteve a morrer por comer
umas frutas estragadas, curou-se milagrosamente e a mãe atribuiu a cura a Nossa
Senhora. Miguel estava sempre alegre e bem disposto, fazendo tudo à sua volta
correr num rodopio. Ante a impaciência e desagrado da mãe por tão grande
alvoroço que o filho diariamente provocava, este disse-lhe certo dia:
– Mãezinha, eu chamo-me
Agostinho, como Santo Agostinho que também foi capaz de mudar de vida. Verás
que eu também vou mudar de vida.
E mudou mesmo, a
partir desse dia, tornando-se bastante mais estável. O pai de Miguel tinha uma
mina e Miguel gostava de estar entre os trabalhadores, falar com eles, aprender
com eles. Ajudava o pai, mas não se comportava como um “filho de patrão”,
agindo com simplicidade. Continuava, todavia a manter o espírito vivo e alegre,
sempre de bom humor, a entrar em brincadeiras e a fazer imitações.
Era caricaturista
e tocava guitarra e outros instrumentos musicais. Aprendeu assim a maneira de
falar e os costumes dos operários, bem diferentes dos de sua casa. Isto
ser-lhe-ia importante quando precisasse de se disfarçar e passar despercebido
entre a multidão.
Quando as duas
irmãs de Miguel enveredam pela vida religiosa, ele fica muito zangado, mesmo
irado, porque não queria para elas essa vida. A mãe prepara, então, a
participação de Miguel num retiro de três dias, onde a palavra oportuna de um
padre jesuíta faz o jovem mudar de ideias em relação à vida. É ele próprio
agora que deseja ser padre jesuíta. Estamos em 1911 e Miguel tem vinte anos.
Mas o noviciado é para o seu espírito alegre e brincalhão uma monotonia difícil
de suportar. O mestre dos noviços combina então com ele um noviciado de seis
meses apenas, mas feito em verdadeira e profunda espiritualidade. Em 1913
estala uma revolução marxista no México. O pai de Miguel perde a mina. A
prática religiosa é proibida. A Companhia de Jesus envia os noviços para os
Estados Unidos, tendo para o efeito que atravessar o México disfarçados para
não serem detidos. Nos Estados Unidos, a língua inglesa torna-se um problema e
Miguel e outros noviços vão para Espanha, país neutral durante a I Guerra
Mundial, que entretanto se iniciara. Os sacerdotes que continuam no México
vivem escondidos, andam a monte. Muitos são presos e assassinados pelas tropas
e pela polícia. Quando chega a Espanha a epidemia da gripe pneumónica, Miguel
visita os hospitais, utilizando as suas capacidades de entertainer para
suavizar os sofrimentos daqueles doentes, muitos dos quais irão morrer: ele
canta, faz caricaturas, números cómicos, etc. Aos domingos colabora em acções
locais, dando catequese nos bairros mais pobres. A Companhia envia-o depois
para a Bélgica para que veja como é lá o trabalho que os sacerdotes realizam
com os trabalhadores. Na Bélgica é
ordenado padre.
Depois é enviado a França para conhecer as obras e movimentos sociais que a
Igreja lá desenvolve.
Em 1926 regressa
ao México. O país está numa miséria social, económica e cultural. O governo é
uma ditadura que fez da aniquilação da Igreja e de Deus o objectivo da sua
política. O padre Miguel Pro, para entrar no país, tem que se disfarçar de
homem de negócios. A Igreja na Cidade do México assemelha-se à de Roma nos
primeiros tempos do cristianismo: existe, mas escondida, aparentemente como se
não existisse e quando há sinal visível da sua existência, logo aparecem os
verdugos prontos a cortar esse braço visível.
O padre Miguel
encontra-se com o pai e as irmãs (a mãe falecera entretanto), e depois planeia
a sua acção pastoral na Cidade do México, como se toda ela fosse sua paróquia.
Organizam-se “Estações de Comunhão” que não são mais que casas particulares
onde se celebra a missa e os outros sacramentos, antes da aurora ou depois do
sol se pôr, normalmente. Para resistir à política ateia do governo, os
católicos constituem a Liga para a Defesa da Religião e convidam o padre Pro
para seu capelão. Este organiza um grupo de cento e cinquenta jovens que
percorrem as ruas da Cidade do México distribuindo propaganda contra as leis
anti-religiosas e convidando à resistência pacífica. Os contributos monetários
que recebem são usados para auxílio às famílias mais atingidas por terem sido
presos ou assassinados aqueles que trabalhavam para obter o sustento económico.
O padre Pro
organiza um grupo de quatrocentos catequistas para dar catequese e continua a
deslocar-se com grande liberdade, disfarçado seja do que for, a pé, de
bicicleta, como pessoa importante ou como simples trabalhador, realizando um
trabalho pastoral com grande inteligência e caridade. Eis alguns exemplos com o
seu quê de cómico.
Seguindo num táxi
e percebendo que estava a ser seguido pela polícia, mandou abrandar o táxi e
saltou em movimento, continuando a andar na rua, cambaleando como se estivesse
bêbado. A polícia vendo que se tratava de um bêbado e, portanto, não do padre
Pro, continuou o seu caminho, não lhe ligando.
Vai pregar a
fábricas e oficinas disfarçado de operário. Nas casas mais burguesas faz a
mesma pregação, mas chega vestido como um burguês.
Consegue pregar
retiros de três dias, na Cidade do México, enquanto a polícia o procura em sua
casa para o matar.
Doutra vez, ao
sentir que a polícia está no seu encalço, entra numa loja e convida uma
elegante senhora a dar-lhe o braço para o salvar de ser preso. Saem os dois
para a rua e a polícia não faz caso daquele casal, pois um padre não anda
vestido à civil de braço dado com uma senhora! Entretanto chega um sargento e
pela descrição que lhes faz do padre Pro, os polícias percebem que foi ele quem
saiu com aquela elegante senhora, mas já não o conseguem apanhar.
Consegue
entrar nas prisões, subornando os guardas, para levar a comunhão aos católicos
presos.
Noutra
ocasião estava com um grupo de jovens da Acção Católica. A polícia cercou o
edifício e o padre Miguel Pro escondeu-se num armário. O coronel daquele grupo
policial entra na sala e exige aos rapazes que indiquem onde está escondido o
padre Pro, sob a ameaça de os matar com a pistola que segura na mão. Sente
então encostado à nuca o cano frio de uma arma. Depois de aceder a deixar sair
os jovens que levam as armas do coronel, o padre Pro mostra-se e à garrafa cujo
gargalo encostara a nuca do coronel.
Aconteceu
então o padre Pro confidenciar a um amigo que tinha oferecido a sua vida a Deus
pelo México e que estava convencido que o Senhor tinha aceitado a sua oferta.
É
então que vendo o crescimento do movimento que tem por lema VIVA CRISTO REI, o
presidente da república, Calles, manda prender o padre Miguel Pro e inventar
contra ele o envolvimento em atentados violentos. Há então um jovem que para
salvar a mãe presa pela polícia, denúncia o padre Pro. As autoridades pensam
decapitar o movimento condenando-o à morte. Enquanto se dirigem para o local da
execução, um soldado pede perdão ao sacerdote.
Este
responde-lhe:
–
Perdoo-te e agradeço-te.
Concedem-lhe
uns poucos momentos para rezar. Depois exclamou:
–
Senhor, sabes que estou inocente. Perdoo do coração aos meus inimigos. Deus
tenha misericórdia de vós. Deus vos abençoe! a
Abriu
os braços, segurando numa mão um crucifixo e na outra um terço. E gritou:
– Viva
Cristo Rei.
Seguiu-se
a descarga das espingardas.
David Roldan Lara
David Roldan Lara nasceu a 2 de Março de 1907 em
Chalchihuites. Ficou órfão ainda em bebé. Era muito alegre e generoso. Não pode
seguir a carreira sacerdotalpor dificuldades económicas. Era presidente da
Acção Católica Juvenil do México e vice-presidente da Liga Nacional para a
Defesa da Liberdade Religiosa, entidade que organizou abaixo-assinados para
exigir
a
revogação das leis anti-religiosas. Em 1926 foi preso com Manuel Morales e
falsamente acusado e condenado. Uma vez que recusaram a libertação que lhes era oferecida se
declarassem aceitar as leis anti-religiosas, foram fuzilados a 15 de
Agosto de 1926, gritando:
– Viva Cristo Rei e a Virgem de Guadalupe.
Cristo Rei em Espanha
Durante a Guerra Civil de Espanha, foi muito grande a perseguição
movida aos católicos. Muitos morreram gritando:
- Viva Cristo Rei!
Nicéforo de Jesus e Maria
Vinte e seis
religiosos da Comunidade Passionista de Daimiel, na noite de 21 para 22 de
Julho de 1936, prevendo já a hipótese de virem a ser atacados, reuniram-se
todos na capela do seu mosteiro, liderados pelo seu provincial, Frei Nicéforo
de Jesus e Maria. Confessaram-se e comungaram pela última vez.
Durante essa mesma noite chegaram
cerca de duzentos homens armados que os levaram, separados em pequenos grupos.
Ao longo dos três meses seguintes foram torturados e assassinados em diferentes
lugares.
Nenhum deles tentou abandonar ou
fugir do seu grupo e, segundo o testemunho de alguns soldados, morreram dando
provas de grande Fé e coragem, muitos deles segurando nas mãos um crucifixo e
gritando:
– Viva Cristo Rei!
Cinquenta e um religiosos Claretianos mártires
…E assim os foram levando em
vários grupos e eles avançavam para a morte entre orações e cânticos alegres,
numa impressionante manifestação de Fé, enquanto os seus carrascos tentavam
sempre até ao último momento que eles renegassem a sua religião. Em vez disso,
enfrentavam as balas gritando:
– Viva Cristo Rei.
Os últimos dois destes cinquenta e
um mártires foram assassinados a 18 de Agosto de 1936.
Vitória Diez y Bustos de Molina
Leiga teresiana, Vitória Molina
vivia dedicada ao ensino, à Acção Católica e a obras de caridade. Em 11 de
Agosto de 1936 foi presa com alguns outros católicos. Passou toda a noite a
rezar tranquilamente, incitando os outros para que a acompanhassem. No dia
seguinte foram levados para perto das minas de Ríncon e foram executados As
últimas palavras de Vitória foram:
– Viva Cristo Rei.
Monumentos a Cristo Rei
Desde a proclamação da festa de Cristo Rei e oficialização
desta invocação de Jesus pelo Papa Pio XI que se têm multiplicado os monumentos
a Cristo Rei por todo o mundo.
Orlando de Carvalho
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