Nas nossas comunidades têm sempre grande relevo as pessoas
que contribuem monetariamente para a sua manutenção e subsistência financeira.
Há também aqueles que oferecem o seu trabalho e
disponibilidade, mas, em relação a esses, a sua condição limitada remete-os
necessariamente para um segundo plano. É naturalmente aceite que a competência
e a idoneidade estão directamente relacionadas com a riqueza. O povo até
costuma dizer que alguém é de boas famílias quando pertence a uma família que
não tem dívidas, nem dificuldades financeiras. Nesta perspectiva largamente
difundida, ‘boa família’ não tem a ver com fidelidade dos esposos ou com a boa
formação e educação que estes dão aos seus filhos, mas com o facto de não terem
sido atingidos por tragédias sociais como o desemprego ou azar nos negócios.
Não devia ser assim entre os cristãos, esta não foi a Igreja
que Jesus nos ensinou.
Então Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Eu vos
garanto: esta viúva pobre depositou mais do que todos os outros que deitaram moedas
no Tesouro. Porque todos deitaram do que lhes sobrava. Mas a viúva, na sua
pobreza, depositou tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver». (Marcos
12,43-44)
Nas nossas comunidades católicas, as boas ideias, os lugares
nos conselhos da paróquia, tal como anteriormente os mordomos das festas nas
aldeias, mesmo serviços como o de ministro extraordinário da comunhão, são
apanágio dos que podem ‘comprar’ esses lugares, em muitos casos.
Até há casos em que religiosos dentro de conventos são
aceites na medida dos contributos financeiros das suas famílias.
A Igreja precisa dessas pessoas para poder subsistir,
argumentam os que assim procedem conscientemente, porque muitos apenas cedem ao
poder e ao dinheiro sem se aperceberem do que fazem. Mas a Igreja não precisa
de dinheiro, precisa mais da solidariedade dos fiéis e do sentimento de
partilha viva e activa.
Acolher melhor um estranho porque é rico ou pode trazer mais
lucro à comunidade eclesial que um irmão que não é rico nem sequer muito
esperto, é pecado. Tanto como é virtude a dádiva dos poucos cêntimos daquela
viúva a quem Jesus se referiu e podem nem sequer ser levados em conta os muitos
euros oferecidos pelos ricos que são capazes de gastar muito mais que isso em
jogo ou luxúria.
Se não acolhemos em Igreja os irmãos por não trazerem mais-valia
financeira objectiva, é porque somos nós que não estamos na Igreja, dentro do
povo de Deus. Se cumprimentamos o que entra na igreja bem vestido e conhecido
por ser rico e poderoso e não damos atenção ao irmão desempregado ou drogado,
não somos dignos que o Senhor entre na nossa morada, não somos mesmo.
Subir ao ambão para fazer uma leitura não pode ser por
hábito de muitos anos, nem por recompensa. Deve subir quem tiver competência
para proclamar com dignidade e souber fazer uma boa leitura. O ambão não é
montra de vaidades, mas estrado do arauto de Deus.
E por aqui nos ficamos, por agora.
Orlando de Carvalho
Imagem: Esmola da viúva Kathleen Peterson
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