terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Deus chamou José e entregou-lhe os dois talentos


Pintura de Juan Simón Gutiérrez,1680

José é a personagem mais discreta ao longo de todo a Sagrada Escritura. De um ponto de vista relativo, ou estatístico, comparando a sua importância com as referências que lhe são feitas e as informações que nos chegam acerca de si, quase poderíamos ser levados a pensar que São José foi menosprezado pelos evangelistas.
Começamos por reparar na parábola dos talentos de que nos dá conta o evangelista Mateus (Mt 25,14-30).
Actualizando, quando possível os valores, de acordo com investigação que fizemos, um homem rico partiu em viagem e confiou o seu dinheiro aos três empregados que lhe mereciam maior confiança para a tarefa. A um confiou um milhão duzentos e sessenta mil euros, a outro dois milhões quinhentos e vinte mil euros e finalmente a um terceiro entregou para guardar seis milhões e trezentos mil euros.
A viagem foi ao estrangeiro e demorada, talvez anos. De regresso, o homem rico zangou-se com o empregado a quem tinha confiado a menor importância pois ele tinha guardado o dinheiro enterrando-o no campo, para evitar os ladrões. De modo contrário, os seus dois colegas tinham feito investimentos e lucrado muito dinheiro para o seu patrão.
Jesus contou esta história para ajudar as pessoas a perceberem que os dons que recebem de Deus não são para ocultar nem para fazer brilharetes, mas para os pôr a render. Quem tiver o dom de educar, que eduque; quem possuir o dom de cuidar que o faça como médico, enfermeiro…; quem se der bem com as plantas que faça florescer lindas flores no jardim ou alimento nas hortas. Assim também, quem tiver o dom de dominar as leis não se dedique a fazer más peças de carpintaria, nem aquele que saiba esculpir madeira com arte não se envolva em causas jurídicas que seja incapaz de argumentar.
Ora, aconteceu que o mais rico e poderoso do Universo teve os seus dois bens mais preciosos em viagem na Terra. O seu Filho natural e a mãe desse Filho, Maria. Ele sabia que os tinha enviado para um meio hostil e perigoso e confiou a sua custódia ao empregado que lhe pareceu o mais competente para tão importante função. O empregado era apenas carpinteiro, mas o importante e poderoso patrão dotou-o com as capacidades necessárias. Ainda assim, o carpinteiro, que se chamava José, teve de ultrapassar hercúleas tarefas para realizar o trabalho pretendido. Passou vergonhas e humilhações, teve que quebrar o orgulho varonil, viu-se envolvido em fugas e perseguições policiais e políticas. Acabou morto sem que tenha sido lavrado qualquer documento oficial de como foi o seu fim sobre a Terra.
O que sabemos, e bem, acerca deste José Carpinteiro foi o resultado do seu trabalho de guarda dos dois bens do homem rico, que já todos percebemos quem é e podemos tratar a partir de agora pelo seu verdadeiro nome, Deus Pai.
O bem principal, Jesus, custodiado por José encontrou na Terra condições para completar a sua missão, serviu de paradigma para toda a Humanidade de todos os tempos, salvou todos os povos e nações de todos os tempos, e sentou-se finalmente à direita de Deus Pai, recebendo o ceptro para governar toda a Criação. O outro bem foi a Mãe do Filho de Deus, Maria. Ela é a mais considerada e bem-aventurada entre todas as mulheres.
Pensemos agora qual o valor que podemos atribuir a Jesus e Maria? Se fizesse caso falar assim, quanto valeriam os dois juntos num leilão? Pois se na parábola dos talentos o homem rico retribuiu generosamente aqueles que zelaram pelos seus interesses, como não compensará Deus a pessoa que cuidou dos seus dois bens de valor inestimável?
Que poderá Deus Pai recusar o que lhe for pedido pelo servo fiel que custodiou Jesus e Maria?
Sabem disso os religiosos e religiosas que habitam conventos e mosteiros e que se viram para São José rogando o seu auxílio quando estão em situações desesperadas, nomeadamente com falta de dinheiro para atender situações graves.
Também o sabem alguns párocos que buscam o seu auxílio na administração paroquial.
Pela mesma razão, São José é eleito por algumas famílias como seu patrono.
Confiemo-nos com simplicidade a São José, a nós e às nossas famílias, não como se ele pudesse ser um substituto de Deus, mas como nosso intercessor a quem Deus Pai certamente não negará favor algum.

Orando.

Não tendo encontrado Jesus, Maria e José voltaram a Jerusalém à procura dEle. Três dias depois, encontraram o Menino no Templo, sentado no meio dos doutores. 
Glória…

Sua Mãe disse-Lhe: «Meu filho, porque fizeste isto connosco? Olha que teu pai e eu andávamos angustiados, à tua procura».  
Ave-maria…

Jesus respondeu: «Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devo estar na casa do meu Pai?»
Pai-nosso…

Jesus desceu então com seus pais para Nazaré e obedecia-lhes. E sua mãe conservava no coração todas estas coisas. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens.
Glória…

Orlando de Carvalho

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