segunda-feira, 23 de abril de 2018

Assim não há Natal


Dizem para aí que “Natal é quando uma pessoa quiser”.
Os jacobinos já tentaram passar a ideia de que não há Deus. Tentaram matar Deus, fazendo crer que Deus era o mesmo que reis e fidalguia, e que se reis e fidalguia abusavam do povo, deviam ser mortos, e Deus, que supostamente dava cobertura e protegia os déspotas, devia ser também morto. Já a conspiração entre a nobreza judaica, os fariseus, os zelotas revolucionários e os romanos invasores os tinha precedido. E mataram mesmo Deus na sua humanidade, coisa que os confundiu ao perceberem que Ele tinha ressuscitado e dado início a um novo e eterno ciclo na História.
Como o povo francês não abdicou de Deus nem das expressões da sua Fé, os jacobinos intentaram um novo e amoroso conceito de Natal, proclamando que Natal era a Festa da Família. O povo alegrou-se porque assim continuava a celebrar o amor de Deus e os jacobinos ficaram satisfeitos porque tinham eliminado Deus. O povo podia continuar a celebrar o nascimento de Jesus, Filho de Deus, mas sem pronunciar as palavras Jesus ou Deus.
Como cada família humana, através dos seus gestos de amor, é expressão da comunidade trinitária, qualquer que fosse o nome legalista imposto pelos jacobinos, continuou a comemorar-se o Natal de Jesus, até hoje, e, de certeza, pelos séculos sem fim assim será.
Não é Natal quando uma pessoa quiser da mesma maneira que eu não convido os meus amigos para virem à minha festa de aniversário, ver-me apagar as velas e trazer-me presentes quando eu quero. Os meus amigos não são burros. É quando eu faço anos e ponto. E se eu fizer anos num dia de trabalho, os amigos até me poderão forçar a transferir a festa para o sábado ou Domingo, se eu quiser que eles participem.
Se eu celebro o Natal, realizando obras de caridade, essas poderei fazê-las quando eu quiser, se eu celebro o Natal com um convívio de família e amigos, também o poderei fazer em qualquer momento. Mas, se eu pretender fazer um presépio, montar árvore de Natal ou celebrar Missa do Galo na Páscoa, ou em qualquer outra ocasião que não seja a Quadra Natalícia ou a noite de 24 de Dezembro… quem me levará a sério? Provavelmente concluirão que o meu lugar devia ser num manicómio.
Claro que com o fenómeno da globalização e do aumento da capacidade financeira da população em geral em boa parte do mundo, eu já posso comer frutos secos em qualquer estação do ano e comer bolo-rei sempre que queira, mas isso não é Natal. Nem pensar. O Natal é uma festa de aniversário em que os participantes imitam os pastores e os magos, adorando, cantando hinos de amor, fazendo oferendas.
Natal é a vinda de Jesus até nós, através de Maria, na companhia de José. E Jesus vem segundo a sua vontade e a do Pai. Hoje! Como em Belém!

Orlando de Carvalho

terça-feira, 17 de abril de 2018

O mais belo parlamento


Descobri umas imagens, que já nem me lembro como me chegaram às mãos, de um dos maiores edifícios do mundo e que algumas pessoas classificam como o mais belo parlamento da Europa, em Budapeste. É um rico palácio, em todos os aspectos, e na sua construção foram utilizados, entre muitos outros materiais, turquesas, hematites, lápis-lazúli, ágatas, ametistas, olhos-de-tigre, turmalinas, pirites, rubis, ágatas, malaquites, jaspe, quartzo rosa, etc.
Deve um parlamento ser ricamente construído e ornamentado? Qual é a função do parlamento?
De que forma o parlamento serve melhor o povo: sumptuoso, realçando a importância que é reconhecida ao povo e à participação deste na condução dos destinos do Estado, bem como o objectivo do trabalho que se realiza naquela casa, o bem-estar e a felicidade do povo, ou como casa simples e modesta, destacando a forma cuidada como os dinheiros públicos são utilizados, de modo a atingir a meta do bem-estar e da felicidade do povo?
É esta segunda hipótese, não obstante os argumentos de alguns acerca da dignidade do lugar, como se o objectivo fosse o bem da democracia, o bem de valores políticos e não o bem das pessoas.
Quando o primeiro objectivo do governo e dos governantes não é a felicidade e as melhores condições de vida possíveis das pessoas, não vale a pena haver governo, é mesmo melhor que não haja. O que não é uma solução aceitável, da perspectiva dos que governam e dos que anseiam governar, porque só havendo governo, os governantes se podem governar, a si e às suas cortes, o que é um facto que resulta do senso comum e da experiência de muitos séculos de História.
Deitemos um olhar ao Parlamento Português. Haverá algum português que seja honesto e não sinta nojo dos privilégios de que gozam os deputados portugueses em relação ao povo? Não pode haver.
Haverá alguém que sinta que o Parlamento é a Casa da Democracia quando olha para a Ementa do restaurante privado dos deputados, dentro do Parlamento, onde se come como num restaurante de luxo, ao preço de uma vulgar taberna ou da senha da cantina de uma escola pública?
Os parlamentos, e o português em especial, servem apenas para exemplificar algo bem mais grave.
Levando em conta este discurso, olhemos para as nossas igrejas. As catedrais que o povo ergueu, terão sido mesmo por iniciativa do povo? Deus foi melhor honrado com as grandes catedrais medievais que o advento da Revolução Francesa e dos movimentos maçónicos e comunistas arremataram como suas ou derrubaram? Não obstante essas catedrais terem sido excelentes livros de anúncio da Palavra de Deus e de Catequese, mas terá sido vantajoso tão sumptuoso e dispendioso investimento? Como fiel sinto um prazer estético e devocional quando observo determinadas peças utilizadas na liturgia ou expostas. Mas… expostas? As igrejas devem desempenhar uma função social cultural? Como se fossem museus de arte, salas de concerto, lugares onde se passeiam turistas sem reverência ao sagrado, rindo, brincando e zombando do que foi tão caro para honrar a Deus? A troco de uns tostões que os tais turistas lá deixam… Os responsáveis desses lugares parecem achar que se não fossem tais esmolas, a função social da Igreja, a sua própria continuidade estaria arruinada. Mas se os fiéis que usufruem das estruturas eclesiais não mostram interesse em cuidar da sua manutenção… para quê mantê-las? Para preservar as obras de arte? Para angariar os tais tostões? Será que alguém que já tenha lido o Evangelho cuida que Deus aprecia essas coisas, fruto do ouro e não doação de si, do amor?
Sem aludir ao modo de agir de quem quer que seja, pois julgar os outros não é normalmente evangélico, mas dando um exemplo forte para que todos possam entender o alcance que queremos dar a este discurso: Deus satisfar-se-á melhor com um bispo que vagueia em lugares mal-afamados na busca da salvação de algumas almas, ou com um bispo que compra luxuosos veludos e talhas douradas, para louvar ao Senhor e ele mesmo se sentar  sobre eles quando preside às celebrações das grandes festas do ano litúrgico? O que se diz para o bispo serve para o papa, para o padre, para os religiosos, para as famílias.
Não advogamos que se destrua nada do que existe, não advogamos que se abandone o sentido estético na fé, ele que tanto tem ajudado os fiéis a encontrarem Deus e a manterem uma relação com o Senhor. Exigiríamos, se tivéssemos autoridade para o fazer, que cada cristão meditasse estas palavras, reflectisse estes pensamentos, invocasse o discernimento que desce do Espírito Santo, e agisse honestamente em conformidade. Sem falsas desculpas, sem argumentos enganosos. Apenas com coração de carne.

Orlando de Carvalho

domingo, 15 de abril de 2018

Medo da morte e do Inferno


Quem não tem medo da morte? Do desconhecido que ela representa? Medo de que tudo acabe no momento da morte, medo de que haja algo mais após a morte, medo de que seja um momento de pesagem do bem e do mal que fizemos nesta vida.
Pessoas vivem aterrorizadas com pavor do fim, do fim das suas vidas, do fim do mundo, da morte, do sofrimento que poderá vir depois da morte.
Para o cristão, esta reflexão pode tornar-se numa tragédia tão grande que a única solução seja rejeitar qualquer ideia de Inferno, pois a existir seria sempre uma hipótese, mas fatal.
Como poderemos afastar de nós pensamentos e sonhos perturbadores que impedem alguma hipótese de descanso? Onde encontrar um tranquilizante para que nos traga algum sossego?
Há relatos e conselhos na Bíblia que deviam sossegar-nos, mas como acalmar quem vive em permanente desassossego?
Se acreditas em Jesus e na Boa Nova que Ele veio trazer, pacifica o teu coração com as palavras que deixou o Apóstolo São João, na sua primeira Carta. Daí recebemos tudo o que precisamos saber em relação aos grandes problemas escatológicos.
Se pecámos… Não tem que ser o fim do mundo… São João aponta o advogado que nos pode salvar.
Se alguém pecou, mesmo sem ter ouvido falar de Deus… São João indica a solução.
Não é magia, não é provavelmente solução para toda a malvadez, mas é uma receita simples e fácil de preparar. Escutemos:

Meus filhos, escrevo-vos isto, para que não pequeis. Mas se alguém pecar, nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai. Ele é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro. E nós sabemos que O conhecemos, se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-lO e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele. Mas se alguém guardar a sua palavra, nesse o amor de Deus é perfeito. (1 Jo 2, 1-5a)

Afinal, trata-se de guardar a Palavra de Deus, o ensinamento de Jesus. Não se trata de não pecar nunca, porque isso não seria provavelmente possível. Mas se existe a intenção de guardar os mandamentos dAquele que age como nosso advogado e que se entregou como vítima pelos nossos pecados, então fiquemos serenos, porque tudo vai acabar em bem.

Orlando de Carvalho

Cristiano Ronaldo saltou mesmo?


Estamos tão habituados a conviver com o boato e a mentira que acabamos por os aceitar com naturalidade. Noutros casos negamos factos reais por os considerarmos demasiado extraordinários.
As lendas de Alcácer-Quibir, do Infante D. Henrique, de Viriato, da vida amorosa de Luís de Camões – quantas vezes acreditamos mais facilmente na mentira que na verdade! E, passados alguns séculos, quanto vale uma investigação histórica ou científica?
A análise científica da tilma de Juan Diego de Cuauhtlatoatzin onde está gravada a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe tem revelado imagens extraordinárias. 


Mas poderão as conclusões científicas motivar a fé de alguém? Que poderemos pensar acerca da veracidade do Sudário de Turim, onde terá ficado gravada a imagem do rosto de Jesus quando uma tal Verónica Lhe limpou o rosto enquando tinha o rosto coberto de sangue e suor, no percurso sagrado a caminho do Calvário?
Há tantas pessoas que ainda não acreditam que aconteceu a alunagem de humanos!


O pontapé de bicicleta de Cristiano Ronaldo foi aplaudido pelo rei Pelé, pelo guarda-redes Buffon, e pelos adeptos da Juventus presentes no estádio. Todavia, passados dois ou três dias, já havia jogadores de futebol a clamarem que tinham marcado golos de igual brilhantismo. Coitados! Tinham apenas dor de cotovelo. Mas é assim que se deturpa a verdade. Quem acreditará passados 50 ou 100 anos, para não dizer séculos, que existiu uma pessoa capaz de tal feito? Não terá sido um registo de efeitos especiais?

Vem esta conversa a propósito de tantos negarem ainda peremptoriamente o Evangelho. Reclamam provas. Há padres que põem em causa milagres de Jesus relatados na Bíblia, mas que acreditam no golo de bicicleta de Cristiano Ronaldo. Porque viram o golo na televisão, acreditam. Porque não entendem a possibilidade de caminhar sobre a água nem como se pode simplesmente curar uma doença incurável, duvidam. Para estes é mais válido o testemunho da televisão que a fé.
Só existe uma opção válida para as pessoas com dificuldade em acreditar totalmente no Evangelho, ou na missão co-redentora de Maria: muita oração. Depois, mais oração. E mais oração, ainda, invocando a ajuda do Espírito Santo.

Orlando de Carvalho