Descobri umas imagens, que já nem me lembro como me chegaram
às mãos, de um dos maiores edifícios do mundo e que algumas pessoas classificam
como o mais belo parlamento da Europa, em Budapeste. É um rico palácio, em
todos os aspectos, e na sua construção foram utilizados, entre muitos outros
materiais, turquesas, hematites, lápis-lazúli, ágatas, ametistas,
olhos-de-tigre, turmalinas, pirites, rubis, ágatas, malaquites, jaspe, quartzo
rosa, etc.
Deve um parlamento ser ricamente construído e ornamentado?
Qual é a função do parlamento?
De que forma o parlamento serve melhor o povo: sumptuoso,
realçando a importância que é reconhecida ao povo e à participação deste na
condução dos destinos do Estado, bem como o objectivo do trabalho que se
realiza naquela casa, o bem-estar e a felicidade do povo, ou como casa simples
e modesta, destacando a forma cuidada como os dinheiros públicos são
utilizados, de modo a atingir a meta do bem-estar e da felicidade do povo?
É esta segunda hipótese, não obstante os argumentos de
alguns acerca da dignidade do lugar, como se o objectivo fosse o bem da
democracia, o bem de valores políticos e não o bem das pessoas.
Quando o primeiro objectivo do governo e dos governantes não
é a felicidade e as melhores condições de vida possíveis das pessoas, não vale
a pena haver governo, é mesmo melhor que não haja. O que não é uma solução
aceitável, da perspectiva dos que governam e dos que anseiam governar, porque
só havendo governo, os governantes se podem governar, a si e às suas cortes, o
que é um facto que resulta do senso comum e da experiência de muitos séculos de
História.
Deitemos um olhar ao Parlamento Português. Haverá algum português
que seja honesto e não sinta nojo dos privilégios de que gozam os deputados
portugueses em relação ao povo? Não pode haver.
Haverá alguém que sinta que o Parlamento é a Casa da
Democracia quando olha para a Ementa do restaurante privado dos deputados,
dentro do Parlamento, onde se come como num restaurante de luxo, ao preço de uma
vulgar taberna ou da senha da cantina de uma escola pública?
Os parlamentos, e o português em especial, servem apenas
para exemplificar algo bem mais grave.
Levando em conta este discurso, olhemos para as nossas
igrejas. As catedrais que o povo ergueu, terão sido mesmo por iniciativa do
povo? Deus foi melhor honrado com as grandes catedrais medievais que o advento
da Revolução Francesa e dos movimentos maçónicos e comunistas arremataram como
suas ou derrubaram? Não obstante essas catedrais terem sido excelentes livros
de anúncio da Palavra de Deus e de Catequese, mas terá sido vantajoso tão
sumptuoso e dispendioso investimento? Como fiel sinto um prazer estético e
devocional quando observo determinadas peças utilizadas na liturgia ou
expostas. Mas… expostas? As igrejas devem desempenhar uma função social
cultural? Como se fossem museus de arte, salas de concerto, lugares onde se
passeiam turistas sem reverência ao sagrado, rindo, brincando e zombando do que
foi tão caro para honrar a Deus? A troco de uns tostões que os tais turistas lá
deixam… Os responsáveis desses lugares parecem achar que se não fossem tais
esmolas, a função social da Igreja, a sua própria continuidade estaria
arruinada. Mas se os fiéis que usufruem das estruturas eclesiais não mostram interesse
em cuidar da sua manutenção… para quê mantê-las? Para preservar as obras de
arte? Para angariar os tais tostões? Será que alguém que já tenha lido o
Evangelho cuida que Deus aprecia essas coisas, fruto do ouro e não doação de
si, do amor?
Sem aludir ao modo de agir de quem quer que seja, pois
julgar os outros não é normalmente evangélico, mas dando um exemplo forte para
que todos possam entender o alcance que queremos dar a este discurso: Deus
satisfar-se-á melhor com um bispo que vagueia em lugares mal-afamados na busca
da salvação de algumas almas, ou com um bispo que compra luxuosos veludos e
talhas douradas, para louvar ao Senhor e ele mesmo se sentar sobre eles quando preside às celebrações das
grandes festas do ano litúrgico? O que se diz para o bispo serve para o papa,
para o padre, para os religiosos, para as famílias.
Não advogamos que se destrua nada do que existe, não
advogamos que se abandone o sentido estético na fé, ele que tanto tem ajudado
os fiéis a encontrarem Deus e a manterem uma relação com o Senhor. Exigiríamos,
se tivéssemos autoridade para o fazer, que cada cristão meditasse estas
palavras, reflectisse estes pensamentos, invocasse o discernimento que desce do
Espírito Santo, e agisse honestamente em conformidade. Sem falsas desculpas,
sem argumentos enganosos. Apenas com coração de carne.
Orlando de Carvalho
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