O mais valioso sentimento humano é aquele que se presta ao
maior aproveitamento comercial em qualquer circunstância, precisamente por ser
algo precioso, de um valor inestimável para todos os seres humanos que vivam
com um mínimo sentido de humanidade e o mais ambicionado préstimo da vida é o
amor. Entre os que se excluem deste grupo quase universal estão facínoras e
dementes cruéis, agiotas e outras pessoas de comportamentos desviados.
Falando do Dia dos Namorados, a referência é naturalmente a
relação entre homens e mulheres, aqueles que são ou podem considerar-se
namorados. Além do sentimento, este amor é valorizado pela atracção sexual
entre as pessoas de sexo diferente.
Esta ritual secular manteve-se mesmo depois de a Igreja ter
restringido a comemoração litúrgica do mártir São Valentim devido a falta de
provas inclusivamente da sua existência.
Santo António de Lisboa, comemorado a 13 de Junho, é o
patrono dos namorados o que tem sido motivo para diversas manifestações
culturais, principalmente populares, mas não só, incluindo poemas, cantigas,
danças, arraiais, pintura e outras manifestações plásticas.
Foram célebres em Lisboa, e ainda se mantêm, embora mais
para turistas que para os alfacinhas, os manjericos com quadras de amor
inscritas em cravos de papel e todo um legendário de fontanários e de
intervenções directos do santo salvando namoricos e casamentos, noutros casos
agindo como intercessor junto de Deus para despertar o interesse na pessoa
amada.
O aproveitamento comercial desta tradição era realizado especialmente
por vendedoras e vendedores ambulantes, de flores, de imagens, de comidas e
bebidas, muitos que actuavam apenas nesta época festiva.
O entendimento comercial das coisas por parte dos países
nórdicos e anglo-saxónicos é bem diferente dos europeus mediterrânicos. Luteranos
e anglicanos mantiveram o culto de São Valentim, provavelmente pela dificuldade
daquelas culturas em reconhecerem a possibilidade de erro e valorizarem menos a
verdade que certos apegos. Pelo século XIX começou a difundir-se o comércio de
cartões alusivos ao Dia de São Valentim, como patrono do amor (sexual), depois
o das flores, dos chocolates e à medida que a informação e o comércio das
multinacionais norte-americanas e de outras potências económicas crescia, o Dia
dos Namorados ganhou importância global em todo o planeta.
No período que decorre antes do Dia de São Valentim, os
estados Unidos importam, por avião, 15 mil toneladas de flores da Colômbia e do
Equador, no próprio dia, são gastos pelo público 2 mil milhões de dólares em
flores. Este transporte aéreo consome 114 milhões de litros de combustível que
emite 360 mil toneladas de dióxido de carbono.
Restaurantes e hotéis rejubilam. Parece que em 2019 os
motéis da zona de Cascais tinham esgotado as reservas para esta noite com
bastante antecedência.
Ao fim da tarde, perto de mim, anualmente vejo uma fila
inusitada de homens na florista do supermercado, para comprarem flores. Jovens,
velhos, com aspecto de operários ou executivos. Será que nos outros dias não oferecem
flores, chocolates… Claro que é um cenário melhor que o da violência sexual e
familiar, mas parece ser também mais um dia dedicado a escapadinhas que ao
amor.
Na escola da minha sobrinha, 2º ciclo básico, os professores
estiveram a vender aos alunos chupa-chupas em forma de coração. Dois por
cinquenta cêntimos. A miudagem comprava, mas bem esclarecida pelos professores,
cada aluno ou aluna comia os dois chupas que adquirira. Parece que ninguém se
colocava a hipótese de dividir com um colega do outro sexo. Pergunto: para que
serviu a fantochada?
Cada vez se faz mais tarde para dar rumo novo à educação das
crianças e formação dos adolescentes para virem a constituir a sua família. Os clamores
que conseguem ecoar mais alto são para a destruição da família. Os mais velhos
olham para o rasto de destruição que muitos deles já deixaram ao longo da vida,
mas persistem na teimosia de considerar válidos os seus argumentos para se
viver sem família, assistem à tristeza em que vivem os seus filhos, em parte
devido ao que aprenderam com a própria família, ainda que algumas vezes não
seja família, e deixam-nos mergulhar na profundeza de uma cultura de morte. A violência
familiar e sexual não é fruto do piropo (como pode haver namorico sem piropo?)
e este não é falta de educação. As crianças escutam aos pais, professores e
demais envolvidos no sistema educativo todo o tipo de asneiras e más-criações e
faltas de respeito. Nesta sociedade, um professor que manda alguém à merda
dentro da sala de aula não está sujeito a punição alguma. Nem o aluno que faz o
mesmo em relação aos colegas ou ao professor. A falha não é recente. Quando eu
era presidente de determinada associação de pais, atravessava o pátio da escola
enquanto meninas de 10 anos proferiam insultos usando como exclamativo termos
ordinários que se referiam aos órgãos sexuais. Em conversa com uma funcionária
da escola. Eu passei, as meninas, que me não conheciam de outro lugar senão da
associação de pais, olharam-me, baixaram os olhos e murmuraram um pedido de
desculpas. Se pais e mães, professores e educadores se dessem ao respeito…
Há alguns anos, a então deputada comunista Odete Santos
defendia para todo o país e perante câmaras de televisão, a liberdade para
crianças de 12 anos interagirem sexualmente, inclusive consumando o coito. E chegámos
a esta situação de violência, pomposamente chamada de doméstica, de abusos
sexuais, de pedofilia, de falta de pudor extremada deste a infância. E continuam
incapazes de reconhecer os seus erros. Continuam a sua obra destrutiva.
Erradamente, a igualdade entre sexos não se procura nivelando por cima,
mas por baixo. Se o homem fuma, a mulher tem todo o direito a fazer o mesmo, se
ele tem cancro do pulmão ou da próstata, qual o impedimento para que ela tenha
também cancro do pulmão ou da mama? Se ele é infiel no casamento, porque há-de
ela guardar fidelidade? Homem ou mulher virgem aos 40 anos é motivo de sátira,
mesmo para fazer um filme exclusivamente dedicado à pessoa anormal que
conseguiu viver 40 anos sem ter relações sexuais.
A educação sexual nasceu como manual para incentivar a
prática sexual indiscriminada, como direito, mas principalmente como obrigação.
Pobres crianças!
Confiemos que possam fruir de um futuro melhor que os
progenitores deste tempo lhes preparam. Que elejam o amor em detrimento do
dinheiro, do conforto, do luxo e da luxúria.
Coitados dos adultos!
Que sejam capazes de parar, de fazer silêncio (ah! se eles
conseguissem estar uns instantes em silêncio), de optar pelos filhos em
detrimento do convívio social discutível e do digital.
“Deus nos valha” é pouco.
Não é possível ajudar quem não quer ser ajudado.
Orlando de Carvalho
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