quarta-feira, 27 de março de 2019

Jovens e Igreja

Orlando de Carvalho

Sacramentos pagos


Os sacramentos são dons que Deus concede aos fiéis através da acção mediadora da Igreja. Depois de oferecer a cada um de nós gratuitamente o dom da vida, Deus deseja derramar as suas imensas graças sobre todas as criaturas humanas e fá-lo através dos ensinamentos que Jesus confiou à Igreja e que esta administra sob a inspiração do Espírito Santo.

As graças que Deus oferece gratuitamente não podem ser vendidas por ninguém. A Igreja não é dona das graças de Deus, apenas tem a missão de as administrar, colaborando na obra salvadora de Jesus, dispensando-as a todos que o desejarem.

A Igreja é formada por todos os fiéis, todos somos Igreja. Pela razão de todos desejarmos realizar as acções de culto com uma certa beleza e dignidade, a Igreja reúne dinheiro e ergue templos de cuja manutenção se ocupa. Também é com o dinheiro oferecido pelos fiéis que a Igreja vai em socorro dos mais pobres, dos mais fracos, dos mais necessitados.

Está estabelecido que os sacramentos não podem ser vendidos. Não obstante, ao longo dos tempos tem havido bastante confusão acerca deste assunto, que deve ser esclarecida quanto possível.

Certo jornal publicava um artigo em que elencava as despesas que uma família devia suportar para baptizar uma criança.   clique para ver aqui notícia
Toda a notícia é o desenvolvimento de uma mentira, toda ela é falsa, e, por essa razão, este desmentido deve ser partilhado e divulgado o mais possível.

Em primeiro lugar, o baptizado é a afirmação de uma pessoa de que acredita num Deus único, santo e trino, isto é, nas três pessoas que existem em Deus, o Pai, Jesus Cristo, seu Filho e o Espírito Santo. O ministro, em nome da Igreja, que pode ser um padre ou outra pessoa, baptiza então a pessoa, isto é, mergulha-a no nome de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, através das palavras que diz e do gesto que realiza.

O Baptismo é isto e apenas isto. Claro que como todos os outros sacramentos, o Baptismo compõe-se de mais duas partes indispensáveis, um antes, de preparação, e um depois, de acompanhamento e consolidação.

Há custos associados a um baptismo. O tempo gasto pelo ministro (padre), o tempo e despesa que ele despendeu a preparar-se, as instalações utilizadas, etc. E a documentação, todo o processo que fica registado na paróquia. Se um fiel baptizado no Japão quiser casar-se ou ser ordenado na Argentina, o processo dele circula do Japão para a Argentina. Isto tem custos.

Quem recebe o Baptismo, os pais e padrinhos, podem fazer uma oferta para os custos processuais, mas nada lhe será cobrado pelo sacramento. Se, para a cerimónia de baptismo, as pessoas em causa optarem por um local diferente da igreja paroquial respectiva, desejarem decoração especial da igreja, acompanhamento musical, etc., então pode haver lugar à cobrança de outros custos, mas então não estamos a falar de baptismo, mas de aspectos decorativos e dispensáveis. O artigo jornalístico atrás citado refere-se ao custo de milhares de euros com o copo de água, ofertas aos convidados, como se se tratasse de algo que fizesse parte do sacramento ou lhe fosse indispensável; até se permite dar opinião acerca da idade em que se devem baptizar as crianças!

Irmãos fiéis em Cristo, isso não é baptizado, não é sacramento, isso é festa, legítima, mas extra-sacramento, copo de água, arraial, bailarico…

Em dada ocasião tomei conhecimento de um baptismo que ia ser realizado numa quinta em que eu sabia que era proibida a realização deste sacramento. E comentei isso mesmo com quem me estava a dar a notícia. Responderam-me que não era um baptizado religioso, pois os pais não eram crentes, era uma apresentação da criança aos amigos, familiares, à sociedade, portanto um baptizado não religioso. Ora, isto é coisa que não existe. O baptismo é o mergulho, a imersão da pessoa baptizada no Santíssimo Nome de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

Há crianças que não foram baptizadas em bebés e que quando começam a frequentar a catequese iniciam a preparação para receber o baptismo. Quando se aproxima a data, algumas crianças desaparecem da catequese. Mas voltam no ano seguinte. Algumas pessoas, embora crentes, não concebem a ideia de baptismo sem festa civil, copo de água para muitos convidados, roupas caras, etc., e, não tendo dinheiro para tudo isso, desaparecem, envergonhadas, e voltam no ano seguinte na expectativa de que a vida corra melhor desta vez.

Que asneira!

Deus quer entrar na criança e nem nota como ela e os acompanhantes estão vestidos. Não nota mesmo. Não quer saber disso. Deus não vê roupas nem calçado, Ele apenas se apercebe dos corações.

Também acontece esta mesma situação de uma criança desaparecer da catequese quando se aproximava a data da Primeira Comunhão, e pelas mesmas razões do custo da roupa apropriada. Envergonhados para dizer aos catequistas que não podem pagar o que entendem que é necessário para o baptismo (mas que em verdade só é necessário nas suas cabeças), envergonhados por familiares, amigos e vizinhos perceberem que não têm dinheiro para uma pompa que não faz parte do baptismo e até é muitas vezes prejudicial, preferem afastar-se subtilmente e desistir do sacramento.

Deus não quer saber da roupa, mas dos corações.

Quando será que vamos perceber que Deus é apenas Bom, e que somos nós que inventamos complicados ritos, rituais e “fardas”?

Se vais receber o sacramento vestido todo janota ou endomingado porque consideras que esse é um momento importante da tua vida, Deus apercebe-se, não da vestimenta, mas da importância que dentro do teu coração dás ao momento. E se, pelo contrário, vais com a roupa do dia-a-dia porque não dás importância ao sacramento, Deus, que não quer saber da roupa, sabe que no teu coração estás a menosprezar o dom que te dispões a receber. E isso é grave.

Ninguém paga para receber a comunhão, mesmo que participe diariamente na missa e comungue. A moeda, ou nota, que é colocada no cesto que passa durante a eucaristia por altura do ofertório, é facultativa, ninguém é obrigado, nem ninguém deve dar atenção a isso – Quem sabe se a pessoa em causa prefere entregar periodicamente uma oferta maior à paróquia? Quanto pagaram os discípulos, sentados com Jesus no Cenáculo, para comungar durante a Última Ceia.

Ninguém paga para receber o Perdão dos Pecados e se reconciliar com Deus no confessionário.

Os casamentos são igualmente gratuitos, mas podem existir custos associados ao processo. Retomemos o caso da pessoa casada no Japão que se vai casar na Argentina. Suponhamos ainda que essa pessoa já viveu em três paróquias diferentes na Alemanha, outra Portugal e outra no Egipto. Para instruir o processo na Argentina é necessário contactar as paróquias, neste caso por todo o mundo, para recolha de informações indispensáveis à realização do casamento católico. Saber se a pessoa é baptizada se é crismada. Terá já a pessoa contraído casamento nalgum desses lugares? Estará a tentar realizar um casamento inválido ou bígamo? Manifestamente nestes casos há custos. Todavia, não são comparáveis  com os custos com o processo civil e a festa civil, o copo de água, as roupas, a quinta para o copo de água… Na realidade, muitas pessoas aceitam mais facilmente pagar cem mil para essa parte que é convívio e festa civil que duzentos para o processo religioso e que constitui verdadeiramente o sacramento.

Creio que ninguém deixará de receber o sacramento do matrimónio por ser pobre, quaisquer que sejam as situações.

Em verdade, em verdade, quando se fazem todas essas despesas extras para festejar o sacramento recebido, em verdade, devia haver uma entrega voluntária de uma quantia semelhante à Igreja pois é ela que verdadeiramente e unicamente realiza o sacramento.

Quantos são casos em que um casal jovem, um rapaz e uma menina, que se amam, decidem morar juntos, realizando aquilo a que devemos chamar casamento natural! E casam civilmente nalguns casos, noutros nem civilmente casam. Em muitos casos apenas por falta de dinheiro para fazerem um casamento com o aparato e luxo que pretendiam ou que acham que a sociedade lhes exige. Mais tarde decidem casar à Igreja, sentem o desejo de receber o sacramento, de dar à sua casa uma vivência de Igreja Doméstica. Mas não o fazem. Uns porque têm vergonha de já viver há tanto tempo juntos e irem depois casar com pompa e circunstância; outros não têm dinheiro para fazer o aparato de que gostariam. Asneiras, claro.

Um baptismo, uma comunhão, um casamento, podem ser celebrados de modo discreto, não por vergonha propriamente, mas por modéstia e evitar falatórios desnecessários. Basta falar o assunto com o pároco.

Finalmente, convém acrescentar a este elenco a Santa Unção dos Doentes. A Igreja ensina que não devemos considerar, como antes aconteceu, este como o sacramento dos mortos ou dos moribundos. Na verdade, este sacramento, com a aversão da sociedade actual à morte e sofrimento, quase deixou de existir e continua a ser sinal de morte e de desespero, um sinal público de que a esperança de vida ou cura para aquela pessoa acabou e já nada mais lhe resta nesta vida. Ora, a Santa Unção um sacramento para quem está doente ou se prepara para enfrentar situações de perigo de vida: uma cirurgia, uma viagem; para pessoas idosas. Participei já em algumas celebrações da Santa Unção com uma espiritualidade muito intensa no caso de pessoas prestes a morrer. Caso o doente esteja em condições de se confessar, essa parte é naturalmente reservada entre o ministro e quem se confessa. A restante parte da celebração pode e deve ser realizada com a participação dos familiares (ou amigos) próximos. Não tem que ser um momento de choro, pois pode ser um tempo de felicidade, de sentir a presença do amor de Deus. De consolo e preparação para quem está prestes para ir à presença do Senhor, mas também para os que ficam e se podem despedir daquele que parte, na certeza da fé, no conforto da esperança da protecção de Deus.

Quantos aos milhares de euros noticiados… revelam ignorância de quem escreve ou má-fé contra a Igreja. Esqueçamo-los. 

Orlando de Carvalho


domingo, 24 de março de 2019

Tempo de viragem no Patriarcado

Coube a D. António Ribeiro comandar a transição da Igreja de um tempo centrado na imobilidade religiosa e política para uma via de progresso com base num regresso às origens, à genuinidade e à participação de todos os fiéis num caminho novo de discernimento e abertura da Igreja à sociedade.
A Igreja volta a perder a vergonha e a ocupar o lugar que sempre teve no coração dos portugueses.

Orlando de Carvalho

terça-feira, 19 de março de 2019

São José, Custódio das famílias

Autor: Juan Sánchez Cotán (1560-1627)



19 de Março de 2019 – Dia grande

Celebramos São José, o carpinteiro a quem Deus confiou a custódia de seu filho Jesus e da sua mãe Maria.
José é para todos um exemplo de paternidade responsável, ele que pôs na frente dos seus interesses a defesa e protecção de Maria e de Jesus. E ensinou a Jesus uma profissão com que ele pudesse sustentar-se, ensinou-lhe a sua profissão, carpintaria.
José serão todos os pais que pela sua prática se configurem com o esposo de Maria. Dando-se aos filhos, dando-se à família.
Todos os dias rogo a São José por todas as famílias.
Acredito que a felicidade e a qualidade de vida das famílias seria bem melhor se se confiassem à protecção de São José. Ninguém pode dar melhor protecção à minha família, ou à tua, que São José. Tenho a certeza. Se o próprio Deus omnipotente, com todo o seu poder e sabedoria, escolheu José para lhe entregar a guarda da sua própria família, Jesus e Maria, isso revela que ele é o melhor protector para uma família.



Pintura na Igreja de São Martinho, em Villers-sur-Mer,  Normandia, 
por Benjamin Constant (1845-1902)
 

São José,
Abençoai todas as famílias deste tempo, a minha e todas as outras.
Abençoai especialmente as famílias onde falta a fé e o amor, as famílias onde não há dinheiro para o necessário, as famílias onde há dor e sofrimento.
Pai-nosso…
Pai-nosso…
Pai-nosso…
Glória…

Hoje, São José, peço-te que dês conta ao Senhor, nosso Deus, das minhas graças pelo pai que me deu.
Estranhamente não te peço para o meu pai uma longa vida (que valem 100 ou mesmo 120 anos nos milhões de anos do Cosmos?), peço que guies o meu pai no caminho do bem-fazer e na fé, que o meu pai seja cada vez pai um digno filho de Deus para que possa viver na eternidade junto de Deus, pelos séculos e milénios que hão-de vir, para a eternidade sem fim. Ámen.

Peço-te ainda que veles pelos meus avôs João e Amadeu para desfrutem em pleno das alegrias do Paraíso. Ámen.

Orlando de Carvalho