A propósito das Jornadas Mundiais da Juventude 2022 veio-me
à memória aquela história do homem que todas as semanas ia à Igreja e chorava
porque não lhe tinha saído o prémio da lotaria e rogava para que lhe saísse na
semana seguinte. Isto sucedia todas as semanas, até que um dia ouviu uma voz troar
forte sob a abóboda:
- Por que deixas todo o trabalho para Mim? Não achas que
devias, ao menos, comprar uma cautela?
Como católico e como português desejo ardorosamente que todo
o processo JMJ Lisboa 2022 seja bem planeado e executado, com muito fruto para todos os
participantes.
Mas assomem tantas coisas à minha memória, tantas
oportunidades perdidas. As intenções que não passaram disso. As empresas são um
presente, mas devem projectar um futuro. O missionário que morreu quando o
barco naufragou ao sair a barra do Tejo não realizou missão alguma, mas está
justificado. Ao contrário do que andou muitos anos em terras de missão, sem
projecto, sem alma, sem ânimo, sem confiança, sem trabalho e voltou revoltado
com a inocuidade da sua estadia nas terras de missão.
Surge da minha memória o Congresso Internacional para a Nova
Evangelização que começou muito mal porque sendo organizado pelos cardeais de Viena,
Lisboa, Paris, Bruxelas e posteriormente Budapeste, para decorrer nas suas
dioceses, privilegiando os fiéis locais, adoptou como sigla a tradução para
inglês ICNE - International Congress for the New Evangelization.
Foram momentos importantes e de
fé, para os participantes, a presença nos trabalhos em cada cidade, o
convívio e o diálogo privado em que puderam trocar impressões acerca das suas
realidades, mas quando acabou, acabou mesmo, quase completamente, não obstante
algum resquício ali ou acolá.
Desde Viena que se tinha
percebido a ansiedade dos fiéis por igrejas abertas. O que se confirmou nas
sessões que se seguiram nas outras cidades. Mas nestes dias que vivemos, onde
há igrejas abertas? Onde há quem acolha, dentro das igrejas a qualquer hora. Quando
as portas não estão sistematicamente fechadas, certamente não se deve a tratar-se de local de culto,
mas de peregrinação de turistas em busca de obras de arte e de fotografias. E neste caso,
quantas igrejas vedam a entrada a fiéis classificados como suspeitos de serem turistas? Ainda que o fossem, como impor-lhes, para ir rezar dentro da igreja, pagarem bilhete de entrada? Não é só
em Portugal, infelizmente é caso frequente por essa Europa dita Cristã.
Penso no insucesso da Expo 92, em
Sevilha, que atingiu os objectivos enquanto feira, mas se guindou num desastre
financeiro e na sequência se transformou num cemitério de ferro, plástico e
madeira. Aprendendo com os erros dos espanhóis, a Expo 98, em Lisboa, foi um
sucesso, no antes, no durante e no depois. O investimento para a erecção do
projecto foi amplamente recompensado com a edificação no Parque das Nações, no
local e com os meios que tinham permitido a Exposição Mundial.
Resumindo, constatamos que o ICNE
foi uma Expo 92 e ansiamos que as JMJ 2022 sejam uma Expo 98. Que dê fruto e
que esse fruto se eleve como nuvens de incenso.
Orlando de Carvalho
A imagem é uma montagem do autor do texto com fotografias da Internet
A imagem é uma montagem do autor do texto com fotografias da Internet
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