quarta-feira, 6 de março de 2013


Uma nova Catekese


         Artigo publicado pela primeira vez no número da Voz da Catequese, do Patriarcado de Lisboa, de Janeiro/Fevereiro de 2005. Posteriormente publicado em O Sorriso do Catekista, Edições Salesianas, 2008. Escrito ainda em vida de João Paulo II, os verbos que se referem a este Papa foram mantidos no presente, pois foi entendimento que modificá-los para uma forma pretérita tiraria alguma da força que se deseja que o texto tenha.



Dinâmica cristã

De ano para ano, as crianças e os adolescentes que nos aparecem na Catekese são cada vez mais difíceis!
Esta frase, tantas vezes repetida, tantas vezes ouvida, entre nós catekistas, tem um sentido muito profundo, porque revela uma situação muito difícil que a Igreja atravessa.
Aqueles que acorrem às nossas catekeses são os mesmos que estão continuamente expostos ao bombardeamento de ataques à Fé, aos valores morais que emanam da natureza e do bom senso, e à pureza. Talvez estas situações nem sejam sinais dos tempos. São de sempre. Já em 20 de Junho de 1885, Teófilo de Braga, que exerceu funções de chefe de governo e de Presidente da República, logo após o derrube da monarquia, afirmava na revista A Illustração que o Cristianismo era uma lenda. Citava um “fragmento de um livro inédito”, que mais não era que uma falsidade criada por ele, mas que ele fingia ser um documento histórico, para pretensamente demonstrar, com rigor histórico e científico, que o Cristianismo era uma invenção dos chefes judeus, numa miscelânea de várias religiões da época. Chega a demonstrar que Jesus não morreu na Cruz. Nesse início do século XX, como anteriormente, ou como hoje, pessoas mal intencionadas têm-se esforçado por derrubar a Fé e a dignidade da pessoa humana. Parece-me que não vale a pena dar-lhes muita atenção. Eles continuarão a ocupar o seu lugar na história. E nós o nosso, de anunciadores do Reino de Deus, com a certeza de estarmos na senda da Verdade e de que a vitória final será de Deus. A vitória final é já de Deus. Estamos seguros.
As dificuldades que eu e vós sentimos com as nossas crianças e os nossos adolescentes na transmissão da Boa Nova, também foram notadas pelo bom Papa João Paulo II. Ele teve a percepção de que a batalha da Fé estava a ser perdida, especialmente na Europa. Os fiéis europeus, embora durante séculos quase nascessem na Pia Baptismal, estavam a virar as costas ao Baptismo – argumentavam os pais ditos modernos: baptizam-se se e quando quiserem, por conta deles, quando forem adultos –, a virar as costas à força revivificante da Eucaristia, à castidade e à monogamia, à esperança na Vida e na Vida Eterna, enfim, os fiéis da velha Europa estavam a chegar à conclusão que os prazeres deste mundo eram tantos que não tinham tempo nem paciência para aturar Nosso Senhor. Enquanto os centros comerciais, os recintos desportivos e salas de espectáculo se enchiam, as igrejas esvaziavam-se. As vocações de consagração, no celibato ou no matrimónio, iam dando lugar às aspirações a top-model, estrela de futebol, e, de uma maneira geral, a enriquecimento fácil.
Mas nada disto nos deve preocupar demasiado. Quem é de Cristo tem Fé. E a Fé move montanhas. O nosso bom Papa – é bom tratá-lo desta forma mais íntima, pensando que ele também é catekista como nós, com mais responsabilidades, mas catekista como nós – não se atemoriza e ele próprio segura o estandarte de Cristo para guiar, não só a Igreja, mas a Humanidade, em direcção à Paz e à Felicidade eternas.

A nova evangelização
O Papa pede que sejamos actores de uma Nova Evangelização na Europa. Combater os caluniadores da Fé não é o mais urgente. O que realmente interessa é anunciar Jesus Cristo e dar testemunho do seu Reino de Felicidade. Há que colmatar um certo tempo em que deixámos esmorecer a nossa condição de baptizados.
Os governos europeus, incapazes durante tantos séculos, como ainda hoje, de satisfazer as necessidades de assistência social e na saúde, desde há cerca de duzentos anos que engendram uma espécie de expropriação e nacionalização das obras sociais e hospitais da igreja, apresentando-as como suas, mas acabando geralmente por não serem capazes de dar a resposta que deviam aos cidadãos dos seus países. O mesmo vai acontecendo com a educação. E os cristãos parecem ter esmorecido um pouco. É obrigação do estado providenciar…, diz-se. E acabam por entrar numa de cooperar com as entidades laicas, deixando-se arrastar por estas. É desta forma que muitos católicos colaboram com a UNICEF, desconhecendo os seus programas para esterilização de mulheres em África, em massa, como forma de combate à fome, sem serem esclarecidas do que lhes estão a fazer.
O espaço de diálogo que foi aberto pelo Concílio Ecuménico Vaticano II foi desperdiçado, em boa parte, por elites de teólogos que acham mais importante discutir se a missa deve voltar a ser em latim, ou se é possível consagrar pão de milho. As energias dispersam-se e os fiéis não vão à missa.
Por último, olhamos para a pastoral evangélica e damos com o “parente pobre” das nossas paróquias: a Catekese. Quantas paróquias têm um videoprojector para utilizar na Catekese? Porque razão há tanta falta de formação de catekistas e porque há tantos catekistas que o são, dois ou três anos, na juventude, e abandonam? Parece que os catekistas também ameaçam esmorecer. Todos conhecemos casos de professores que começam cheios de força, mesmo colocados a 50km de casa, no primeiro ano; e no segundo ano já são colocados a 20 km de casa, mas em sentido oposto; e no terceiro não se sabe onde (falamos da situação em Portugal). Ora, como estes professores têm razões para se desumanizar e desinteressar cada vez mais pelas crianças, também alguns catekistas parece não encontrarem razões suficientes para se manterem na Catekese com ardor.

O novo ardor
E voltamos ao Papa. O Papa pede aos cristãos que realizem uma Nova Evangelização com um NOVO ARDOR, com um NOVO FERVOR. Para nós catekistas, este novo ARDOR é, para os mais velhos, o ARDOR, da sua juventude, para os mais novos, é o ARDOR dos primeiros cristãos, que não viviam num mundo de comodidades, nem tinham como objectivo de vida gozar as comodidades desta vida. ARDOR é algo que arde, algo que ferve. É deixar-se consumir em absoluto pelo Espírito Santo. Preparar as catekeses, chegar a horas, ser capaz de dar resposta às crianças mais difíceis, dispor do tempo, direi mesmo inventar o tempo para ajudar aqueles “meninos-jesus”, que nos são entregues, a crescerem em sabedoria nas coisas do Alto. Ter paciência, não desistir, rezar, rezar muito, pedir ao Espírito Santo que nos ponha o coração a arder e o sangue a ferver e que faça crescer em nós a vontade de acolher as crianças e os adolescentes como o Pai Misericordioso que nem sequer perguntou ao filho pródigo por onde tinha andado!

Os novos métodos
O Papa não nos propõe apenas um novo ardor, porque sabe que isso não é suficiente. Ele pede que utilizemos NOVOS MÉTODOS. A Catekese não pode ser como há cem ou trezentos anos atrás, porque embora o anúncio seja o mesmo, as pessoas a quem se dirige são outras, vivem noutra época, noutro ambiente. Jesus utilizou as parábolas para ensinar as gentes que o escutavam. Na Idade Média as igrejas e as catedrais foram decoradas com elementos que permitiam fazer uma Catekese utilizando visualmente esses elementos para explicar aos fiéis a História da Salvação. Os NOVOS MÉTODOS têm a ver com as circunstâncias especiais de cada grupo de Catekese e com as características de cada catekista. O videoprojector pode ser um método, mas não é seguramente o único, nem sei se será o melhor. A música, a leitura em diálogo, o convite a alguém para dar testemunho no grupo de Catekese; o tempo de Catekese (uma hora por semana é suficiente?); a relação entre as famílias e a Catekese. Mas, os métodos… os métodos há muito que se fala deles. Não chega pensar neles e discuti-los. Dos diálogos que se estabelecerem entre catekistas a nível de paróquia ou de diocese têm que nascer MÉTODOS NOVOS e que sejam postos em prática com um NOVO ARDOR. Caso contrário tudo ficará como dantes.

As novas expressões
O bom Papa João Paulo II pede por último que a Nova Evangelização seja realizada com recurso a NOVAS FORMAS DE EXPRESSÃO. A EXPRESSÃO do cristão é, por excelência, a oração. Oiço catekistas dizer que os miúdos não querem ir à missa, que a missa é uma «seca». Por amor de Deus, gozemos a oportunidade de viver nestes primeiros anos do século XXI e de podermos entrar, se quisermos, num tempo de plenitude conciliar. «Ir à igreja ouvir o padre dizer a missa», era dantes. Olhemos para os exemplos que o Papa nos faz chegar através da televisão, das Eucaristias a que ele preside! Hoje «reunimo-nos com os irmãos», um dos quais é padre, para celebrarmos todos em conjunto o Mistério Pascal de Cristo, a Salvação, a Felicidade Eterna, que nos chega por meio de Cristo. O padre é essencialmente um dos instrumentos que Cristo usa para se fazer presente no meio da Assembleia dos Fiéis. Como são instrumentos da presença de Jesus o Pão, a Palavra e a própria Assembleia reunida em seu nome. As homilias não são exercícios de retórica do sacerdote; pelo contrário, têm que ser meio de fazer a Palavra presente e compreensível no meio dos fiéis. As missas presididas pelo Papa são uma Festa. Logo, temos de, à semelhança do que o Papa faz, fazer, para os nossos catekizandos, uma Festa de cada missa. Diz-se também que o Terço é coisa do passado, que os jovens não querem saber disso. É falso. É que o Terço rezado hoje tem que ter em atenção os homens e as mulheres e as crianças e os adolescentes e os jovens de hoje. É o nosso bom Papa que o diz na carta apostólico O Rosário da Virgem Maria. E o que se diz para o Terço, fica dito para a Via-sacra ou outras EXPRESSÕES de oração. Cada mistério do Rosário ou cada estação da Via-sacra pode ser preparado por um grupo diferente, preparando cartazes, escolhendo leituras, ensaiando cânticos, preparando encenações, elaborando ou partilhando orações.
Hoje, dia de Nossa Senhora das Candeias (2 de Fevereiro de 2005), na sua homilia, o nosso bom Papa declarava que “O segredo do ardor espiritual é a Eucaristia”.
Como Maria, guardemos estes ensinamentos do Santo Padre nos nossos corações, e meditemo-los, para sermos capazes de fazer também uma Nova Catekese, dentro do espírito da Nova Evangelização.




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