Uma nova Catekese
Artigo publicado pela primeira vez no número da Voz da
Catequese, do Patriarcado de Lisboa, de Janeiro/Fevereiro de 2005. Posteriormente publicado em O Sorriso do Catekista, Edições Salesianas, 2008. Escrito ainda em vida de João Paulo II, os verbos que se referem a este Papa foram mantidos no presente, pois foi
entendimento que modificá-los para uma forma pretérita tiraria alguma da força
que se deseja que o texto tenha.
Dinâmica
cristã
De ano para ano, as crianças e os adolescentes
que nos aparecem na Catekese são cada vez mais difíceis!
Esta frase,
tantas vezes repetida, tantas vezes ouvida, entre nós catekistas, tem um
sentido muito profundo, porque revela uma situação muito difícil que a Igreja
atravessa.
Aqueles que acorrem
às nossas catekeses são os mesmos que estão continuamente expostos ao
bombardeamento de ataques à Fé, aos valores morais que emanam da natureza e do
bom senso, e à pureza. Talvez estas situações nem sejam sinais dos tempos. São
de sempre. Já em 20 de Junho de 1885, Teófilo de Braga, que exerceu funções de
chefe de governo e de Presidente da República, logo após o derrube da
monarquia, afirmava na revista A
Illustração que o Cristianismo era uma lenda. Citava um “fragmento de um livro inédito”, que mais
não era que uma falsidade criada por ele, mas que ele fingia ser um documento
histórico, para pretensamente demonstrar, com rigor histórico e científico, que
o Cristianismo era uma invenção dos chefes judeus, numa miscelânea de várias
religiões da época. Chega a demonstrar que Jesus não morreu na Cruz. Nesse
início do século XX, como anteriormente, ou como hoje, pessoas mal
intencionadas têm-se esforçado por derrubar a Fé e a dignidade da pessoa
humana. Parece-me que não vale a pena dar-lhes muita atenção. Eles continuarão
a ocupar o seu lugar na história. E nós o nosso, de anunciadores do Reino de
Deus, com a certeza de estarmos na senda da Verdade e de que a vitória final
será de Deus. A vitória final é já de Deus. Estamos seguros.
As
dificuldades que eu e vós sentimos com as nossas crianças e os nossos
adolescentes na transmissão da Boa Nova, também foram notadas pelo bom Papa
João Paulo II. Ele teve a percepção de que a batalha da Fé estava a ser
perdida, especialmente na Europa. Os fiéis europeus, embora durante séculos
quase nascessem na Pia Baptismal, estavam a virar as costas ao Baptismo –
argumentavam os pais ditos modernos: baptizam-se
se e quando quiserem, por conta deles, quando forem adultos –, a virar as
costas à força revivificante da Eucaristia, à castidade e à monogamia, à
esperança na Vida e na Vida Eterna, enfim, os fiéis da velha Europa estavam a
chegar à conclusão que os prazeres deste mundo eram tantos que não tinham tempo
nem paciência para aturar Nosso Senhor. Enquanto os centros comerciais, os
recintos desportivos e salas de espectáculo se enchiam, as igrejas
esvaziavam-se. As vocações de consagração, no celibato ou no matrimónio, iam
dando lugar às aspirações a top-model, estrela de futebol, e, de uma maneira
geral, a enriquecimento fácil.
Mas nada disto
nos deve preocupar demasiado. Quem é de Cristo tem Fé. E a Fé move montanhas. O
nosso bom Papa – é bom tratá-lo desta forma mais íntima, pensando que ele
também é catekista como nós, com mais responsabilidades, mas catekista como nós
– não se atemoriza e ele próprio segura o estandarte de Cristo para guiar, não
só a Igreja, mas a Humanidade, em direcção à Paz e à Felicidade eternas.
A
nova evangelização
O Papa pede
que sejamos actores de uma Nova Evangelização na Europa. Combater os caluniadores
da Fé não é o mais urgente. O que realmente interessa é anunciar Jesus Cristo e
dar testemunho do seu Reino de Felicidade. Há que colmatar um certo tempo em
que deixámos esmorecer a nossa condição de baptizados.
Os governos
europeus, incapazes durante tantos séculos, como ainda hoje, de satisfazer as
necessidades de assistência social e na saúde, desde há cerca de duzentos anos
que engendram uma espécie de expropriação e nacionalização das obras sociais e
hospitais da igreja, apresentando-as como suas, mas acabando geralmente por não
serem capazes de dar a resposta que deviam aos cidadãos dos seus países. O
mesmo vai acontecendo com a educação. E os cristãos parecem ter esmorecido um
pouco. É obrigação do estado providenciar…, diz-se. E acabam por entrar numa de
cooperar com as entidades laicas, deixando-se arrastar por estas. É desta forma
que muitos católicos colaboram com a UNICEF, desconhecendo os seus programas
para esterilização de mulheres em África, em massa, como forma de combate à
fome, sem serem esclarecidas do que lhes estão a fazer.
O espaço de
diálogo que foi aberto pelo Concílio Ecuménico Vaticano II foi desperdiçado, em
boa parte, por elites de teólogos que acham mais importante discutir se a missa
deve voltar a ser em latim, ou se é possível consagrar pão de milho. As
energias dispersam-se e os fiéis não vão à missa.
Por último,
olhamos para a pastoral evangélica e damos com o “parente pobre” das nossas
paróquias: a Catekese. Quantas paróquias têm um videoprojector para utilizar na
Catekese? Porque razão há tanta falta de formação de catekistas e porque há
tantos catekistas que o são, dois ou três anos, na juventude, e abandonam?
Parece que os catekistas também ameaçam esmorecer. Todos conhecemos casos de
professores que começam cheios de força, mesmo colocados a 50km de casa, no
primeiro ano; e no segundo ano já são colocados a 20 km de casa, mas em sentido
oposto; e no terceiro não se sabe onde (falamos da situação em Portugal). Ora,
como estes professores têm razões para se desumanizar e desinteressar cada vez
mais pelas crianças, também alguns catekistas parece não encontrarem razões
suficientes para se manterem na Catekese com ardor.
O
novo ardor
E voltamos ao
Papa. O Papa pede aos cristãos que realizem uma Nova Evangelização com um NOVO ARDOR, com um NOVO FERVOR. Para nós catekistas,
este novo ARDOR é, para os
mais velhos, o ARDOR, da
sua juventude, para os mais novos, é o ARDOR dos primeiros cristãos, que não viviam num mundo de
comodidades, nem tinham como objectivo de vida gozar as comodidades desta vida.
ARDOR é algo que arde, algo
que ferve. É deixar-se consumir em absoluto pelo Espírito Santo. Preparar as
catekeses, chegar a horas, ser capaz de dar resposta às crianças mais difíceis,
dispor do tempo, direi mesmo inventar o tempo para ajudar aqueles “meninos-jesus”,
que nos são entregues, a crescerem em sabedoria nas coisas do Alto. Ter
paciência, não desistir, rezar, rezar muito, pedir ao Espírito Santo que nos
ponha o coração a arder e o sangue a ferver e que faça crescer em nós a vontade
de acolher as crianças e os adolescentes como o Pai Misericordioso que nem
sequer perguntou ao filho pródigo por onde tinha andado!
Os
novos métodos
O Papa não nos
propõe apenas um novo ardor, porque sabe que isso não é suficiente. Ele pede
que utilizemos NOVOS MÉTODOS.
A Catekese não pode ser como há cem ou trezentos anos atrás, porque embora o
anúncio seja o mesmo, as pessoas a quem se dirige são outras, vivem noutra
época, noutro ambiente. Jesus utilizou as parábolas para ensinar as gentes que
o escutavam. Na Idade Média as igrejas e as catedrais foram decoradas com
elementos que permitiam fazer uma Catekese utilizando visualmente esses
elementos para explicar aos fiéis a História da Salvação. Os NOVOS MÉTODOS têm a ver com as
circunstâncias especiais de cada grupo de Catekese e com as características de
cada catekista. O videoprojector pode ser um método, mas não é seguramente o
único, nem sei se será o melhor. A música, a leitura em diálogo, o convite a
alguém para dar testemunho no grupo de Catekese; o tempo de Catekese (uma hora
por semana é suficiente?); a relação entre as famílias e a Catekese. Mas, os
métodos… os métodos há muito que se fala deles. Não chega pensar neles e
discuti-los. Dos diálogos que se estabelecerem entre catekistas a nível de
paróquia ou de diocese têm que nascer MÉTODOS NOVOS e que sejam postos em prática com um NOVO ARDOR. Caso contrário tudo
ficará como dantes.
As
novas expressões
O bom Papa
João Paulo II pede por último que a Nova Evangelização seja realizada com
recurso a NOVAS FORMAS DE
EXPRESSÃO. A EXPRESSÃO
do cristão é, por excelência, a oração. Oiço catekistas dizer que os miúdos não
querem ir à missa, que a missa é uma «seca». Por amor de Deus, gozemos a
oportunidade de viver nestes primeiros anos do século XXI e de podermos entrar,
se quisermos, num tempo de plenitude conciliar. «Ir à igreja ouvir o padre
dizer a missa», era dantes. Olhemos para os exemplos que o Papa nos faz chegar
através da televisão, das Eucaristias a que ele preside! Hoje «reunimo-nos com
os irmãos», um dos quais é padre, para celebrarmos todos em conjunto o Mistério
Pascal de Cristo, a Salvação, a Felicidade Eterna, que nos chega por meio de
Cristo. O padre é essencialmente um dos instrumentos que Cristo usa para se
fazer presente no meio da Assembleia dos Fiéis. Como são instrumentos da
presença de Jesus o Pão, a Palavra e a própria Assembleia reunida em seu nome.
As homilias não são exercícios de retórica do sacerdote; pelo contrário, têm
que ser meio de fazer a Palavra presente e compreensível no meio dos fiéis. As
missas presididas pelo Papa são uma Festa. Logo, temos de, à semelhança do que
o Papa faz, fazer, para os nossos catekizandos, uma Festa de cada missa. Diz-se
também que o Terço é coisa do passado, que os jovens não querem saber disso. É
falso. É que o Terço rezado hoje tem que ter em atenção os homens e as mulheres
e as crianças e os adolescentes e os jovens de hoje. É o nosso bom Papa que o
diz na carta apostólico O Rosário da
Virgem Maria. E o que se diz para o Terço, fica dito para a Via-sacra ou
outras EXPRESSÕES de
oração. Cada mistério do Rosário ou cada estação da Via-sacra pode ser
preparado por um grupo diferente, preparando cartazes, escolhendo leituras,
ensaiando cânticos, preparando encenações, elaborando ou partilhando orações.
Hoje, dia de
Nossa Senhora das Candeias (2 de Fevereiro de 2005), na sua homilia, o nosso
bom Papa declarava que “O segredo do
ardor espiritual é a Eucaristia”.
Como Maria,
guardemos estes ensinamentos do Santo Padre nos nossos corações, e
meditemo-los, para sermos capazes de fazer também uma Nova Catekese, dentro do
espírito da Nova Evangelização.
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