domingo, 28 de fevereiro de 2016

Adopção e Egoísmo




As comunidades básicas africanas e europeias são diferentes. As diferenças culturais são muito mais que a pigmentação da pele e outras características anatómicas e fisiológicas. Todas as pessoas são igualmente criadas e amadas por Deus Criador e o direito reconhece a todos a igualdade em direitos e deveres. Mas, logo nesse reconhecimento, ao contrário da Bíblia judaico-cristã, que afirma que Deus os criou homem e mulher, a Declaração Universal é dos Direitos do Homem! No masculino.
A cultura de um povo, a sua alma, tem a ver com o clima, com a disponibilidade de alimentos e outros factores intrínsecos ao local que habita. Mesmo os nómadas estão adaptados à imprevisibilidade e variabilidade destes factores.
Os africanos têm um ritmo diferente dos europeus que se revela nos gostos e nas interpretações musicais.
Povos diferentes têm conceitos diversos acerca do valor da vida.
Na Europa uma criança órfã é um peso para a sociedade. Actualmente há sistemas de segurança social e apoio à infância que se substituem aos pais naturais em caso de morte ou de impossibilidade de exercerem as suas obrigações. Ainda assim, trata-se de processos muitas vezes morosos e complexos. Se há dinheiro envolvido, é fácil dentro da família tratar da adopção, mas quando não é o caso, tudo se pode tornar mais difícil. E a adopção é um processo parcial, nem sempre honesto relativamente à criança desamparada. Quem quer adoptar uma criança deficiente? Ou um grupo de quatro irmãos? Não obstante os casos daqueles que acham muita graça adoptar uma criança preta ou asiática…, apenas pela graça de exibição. O processo é desonesto do ponto de vista da criança quando os adoptantes e as comissões de adopção acabam por usar e permitir o uso de métodos eugénicos: adopção dos mais bonitos, dos mais perfeitos, exclusão dos feios e imperfeitos.
Em África, e temos de olhar para as comunidades de base, as tribos em África, as aldeias na Europa dos séculos passados, a questão da adopção não existia. A família era a tribo e cada família era grande. Os órfãos ficavam naturalmente com um tio, ou um irmão que já tivesse constituído família.
Estas foram as regras gerais e maioritariamente seguidas. Na actualidade, quase não há aldeias na Europa e em África é enorme a quantidade de órfãos originados pela ganância de africanos corrompidos e vendidos aos interesses dos estrangeiros que melhor os subornam e originados pelos interesses das potências económicas e políticas estrangeiras que mergulharam o continente em imensa guerra global. Os dados culturais alteraram-se. A memória do povo esvai-se.
Quando ouvimos falar no direito à adopção, há razão para ficarmos atónitos. Ouvimos esta expressão incrível a propósito do direito à adopção por pares homossexuais. Direito! Direito? Que direito?
Nunca se ouvira falar no direito das pessoas adoptarem, porque isso não é um direito. Aliás, como nunca se consagrou o direito a ter filhos, ser pai ou ser mãe. Porque são coisas da Natureza que podem suceder ou não. Mas também se fala do direito a ser mãe ou pai, não do prazer em sê-lo, mas do direito. Como se os doentes tivessem direito a serem pessoas sãs. Só mentes distorcidas ou mal formadas ou mal informadas podem falar em direitos nestas situações em que nos referimos à precariedade e imprevisibilidade da vida. Todo o ser humano terá direito a cuidados de saúde (amar o próximo), mas a não adoecer…
O direito à adopção existe, de facto, mas à maneira das tais sociedades africanas. A criança órfã ou sem pais capazes tem o direito a ser acolhida. Em primeiro lugar por familiares próximos, depois pela comunidade. Nenhum homem, nenhuma mulher, nenhum casal tem direito a que se inventem crianças para eles adoptarem.
A adopção é um direito da criança, não um direito de adulto algum. A Declaração dos Direitos da Criança, promulgada pela ONU, refere que “A sociedade e as autoridades públicas têm o dever de cuidar especialmente das crianças sem família e das que careçam de meios de subsistência”. Não existe no texto palavra alguma com o étimo de “adopção”.
Mais importante ainda é o facto de a existência das duas situações reconhecidas como “direito” é inconciliável. O direito da criança a ser adoptada e o direito do adulto a adoptar. Mais ainda quando o adulto quer ser pai ou mãe como se fosse ao supermercado comprar uma garrafa de whiskey que pode beber, devolver ou trocar, como se comprasse um carro de luxo para exibir aos amigos, como se adquirisse uma casa onde pudesse desfrutar de conforto para a vida. Até ao alvor do século XX, as crianças não era ainda consideradas pessoas no sentido jurídico da palavra, não tinham direito de pessoas adultas, nem específicos de crianças. Tal como as pessoas de pele escura e as mulheres, eram em muitos casos mão-de-obra barata e nada mais que isso. Esta situação tende a repetir-se em moldes de aparência benemérita ou de direito com a legislação e a propaganda que os progressistas do costume, isto é, os falsos progressistas, que apenas são capazes de olhar para o seu umbigo, estão a desenvolver.
Augusto Gil questionava Deus, mas não será que é a nós que nos devemos interrogar?
Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!… - escreveu o poeta. Eu modifico a frase: Mas as crianças, criaturas adultas, porque lhes dais tanta dor?

Orlando de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário