sábado, 18 de março de 2017

Catequese? Que se aprende lá?



O Dinis é um miúdo activo, não hiperactivo, diligente e bem educado. Questões familiares não lhe permitiram a desejada constância nas participações na catequese, mas temos conseguido transpor as dificuldades.

Deixei um desafio a todas as crianças do nosso Núcleo de Catequese:
- Há um prémio para quem conseguir, na escola, pôr toda a sua turma a rezar!
Quiseram logo saber qual a prova que eu exigia no caso de alguém conseguir o feito, mas eu começo por confiar em todos e não por exigir provas. Só preciso delas depois de me darem razões a que o faça. As crianças ficaram admiradas, mas espero que para elas tenha passado o mesmo sentimento de conforto que eu senti perante a confiança da minha mãe em mim, quando todos me acusaram.
Hoje o Dinis veio reclamar o prémio. Tinha posto a turma toda a rezar ao Espírito Santo, no início de uma aula.




Esta história não trata de um elogio ao Dinis, mas de um desafio aos catequistas.
De que serve virem à catequese, e emigrarem da Igreja definitivamente quando recebem o Crisma? Casarem-se sem se casarem? Depois casarem-se com a absoluta consciência de que se a coisa correr mal, se divorciam. Virem tantos anos à catequese e terem vergonha de afirmar a fé junto de amigos e colegas? Virem à catequese para depois embarcarem nas tretas do aborto, da eutanásia, talvez da pena de morte, da igualdade de tratamento que merecem pessoas e animais?

Quando o Dinis contou, a meu pedido, a sua história, diante de uma assistência não pequena, a Ana Maria, catequista, perguntou, de imediato, espantada:
- E não tiveste vergonha, Dinis?
Ele não mentiu:
- A princípio tive, mas depois… depois…

Esta história é um desafio aos catequistas, a todos os catequistas. Fazei este desafio aos vossos catequizandos, crianças, como o Dinis, ou adolescentes. Fazei-lhes outros desafios em que tenham que correr riscos, pôr em causa o bom nome de que desfrutarem entre os amigos e colegas. Oração, jejum, castidade, abstinência, partilha… há tantas coisas em que eles podem dar testemunho, testemunho de sacrifício, mais doloroso que as já habituais, embora importantes, visitas a lares ou casas de acolhimento de crianças abandonadas.
Desafios a sério, para o catequista e para o catequizando. Nós somos filhos da Igreja e essa Mãe lembra-nos constantemente os nossos irmãos, seus filhos como nós, que testemunham Cristo com a própria vida, em tantos lugares pelo mundo fora onde somos perseguidos, torturados e mortos, por sermos cristãos.

Que não façam o Crisma e depois andem a espalhar que andaram na catequese, no coro, que foram acólitos e até catequistas, mas que não acreditam em nada daquilo, que não têm tempo para aquelas historietas.
Que façam o Crisma e levem a boa recordação de que a catequese foi um tempo de batalha consigo mesmos, de conversão, de testemunho, de heroísmo. Não são as tardes de prazer com os amigos que nos marcam e endireitam a coluna vertebral, que nos trazem o sabor agridoce da vida e nos preparam para uma idade adulta livre de corrupção e desonra, mas aquilo que conseguimos com as nossas mãos, com o nosso trabalho e empenho, com a nossa “vergonha ao princípio”, depois vencida.
Comecemos por fazer do Evangelho uma narrativa, como convém aos mais pequenos, mas façamos por o transpor para a vida de cada um, actualizemos o Evangelho na vida de cada um, demos as mãos aos nossos catequizandos, para que o caminho para o Reino dos Céus lhes seja aplanado, mais parecido com uma auto-estrada que com um complexo encadeamento de arruamentos e atalhos que a mais não conduzem que a algum beco sem saída ou ao quintal de alguém.

Orlando de Carvalho



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