O comunista Jorge Messias atacava assim a Igreja, na pessoa do papa. Talvez seja de leitura útil para algumas pessoas bem intencionadas que tentam conciliar cristianismo e comunismo. Que acreditam que não há incompatibilidade entre ser católico e comunista.
Transcrevemos a notícia que pode ser encontrada clicando aqui.
O Vaticano e a
diplomacia «a retalho»
Se tivéssemos a ambição de tentarmos compreender o sentido
geral da intervenção do Vaticano e do Papa nas questões do mundo real diríamos,
adaptando uma máxima antiga, «Ser Papa é reinar na Igreja e no Universo». Neste
sentido, a estratégia da doutrina exige aos sumos sacerdotes que abandonem as
comodidades das suas cátedras e percorram o mundo, tecendo e entretecendo
contactos e alianças, nos quadros dos interesses globais da Igreja. Sem,
naturalmente, esquecer que o Vaticano e o capitalismo, laico e político, têm
perspectivas perfeitamente afins. São aliados naturais. Os ricos reinam sobre
os pobres porque «Deus o quer». E o mundo sem o primado dos ricos e dos
poderosos acabaria por desabar. Importa pois talhar e retalhar nações e
territórios, de forma actuante e em moldes actuais, modernos, através da
diplomacia itinerante, do espírito de missão e da presença constante dos
cardeais e do Papa, por toda a parte, nas quatro partidas da Terra. Estas são as
premissas das políticas da Igreja.
Bento XVI é nitidamente um «homem de gabinete». Até há bem
pouco tempo quase poderia dizer-se que raramente saía dos domínios pontifícios.
Inesperadamente, começou a viajar. E de entre as suas deslocações, uma avulta
de importância, aquela que o levou a Israel e à Palestina. É no Médio Oriente
que bate o coração do capitalismo e se faz a guerra ou se decide a paz. Desde a
Revolução Industrial que assim tem sido. O Médio Oriente é o portal da
estratégia e a terra do petróleo e da Cidade Santa. Uma porta que se abre ou
fecha com as chaves de S. Pedro que Ratzinger detém.
Ao longo de múltiplas conversações com os «testas de proa» do petróleo e da fé, Ratzinger, como seria de esperar, moveu-se com o maior à-vontade. Atou e desatou o novelo da intriga em que é perito. Disse e desdisse-se conforme a oportunidade, o tempo e o meio. Deu o dito por não dito em relação aos genocídios nazis. Mas não mudou de opinião quanto aos bispos que negaram e negam a monstruosidade desses crimes. Condenou com grandes palavras o terrorismo árabe mas esqueceu o outro terrorismo, aquele que se pratica impunemente, de Telavive a Guantánamo. Dissertou acerca da liberdade religiosa, omitindo extorsões e chacinas que se praticam sobre os povos árabes, em nome da fé. Ainda o Papa estava no Médio Oriente, a comunicação social informava que, no Iraque, os blindados norte-americanos costumavam ostentar dísticos com versículos do Velho Testamento cuja filosofia é a cultura do ódio ao mundo árabe. Tanques cujas granadas devastadores já causaram a morte e a mutilação de centenas de milhares de civis. Bem perto, em Jerusalém, Ratzinger desmentia uma acusação que nunca contestara: a de que na sua juventude tinha pertencido às juventudes hitlerianas.
Ao longo de múltiplas conversações com os «testas de proa» do petróleo e da fé, Ratzinger, como seria de esperar, moveu-se com o maior à-vontade. Atou e desatou o novelo da intriga em que é perito. Disse e desdisse-se conforme a oportunidade, o tempo e o meio. Deu o dito por não dito em relação aos genocídios nazis. Mas não mudou de opinião quanto aos bispos que negaram e negam a monstruosidade desses crimes. Condenou com grandes palavras o terrorismo árabe mas esqueceu o outro terrorismo, aquele que se pratica impunemente, de Telavive a Guantánamo. Dissertou acerca da liberdade religiosa, omitindo extorsões e chacinas que se praticam sobre os povos árabes, em nome da fé. Ainda o Papa estava no Médio Oriente, a comunicação social informava que, no Iraque, os blindados norte-americanos costumavam ostentar dísticos com versículos do Velho Testamento cuja filosofia é a cultura do ódio ao mundo árabe. Tanques cujas granadas devastadores já causaram a morte e a mutilação de centenas de milhares de civis. Bem perto, em Jerusalém, Ratzinger desmentia uma acusação que nunca contestara: a de que na sua juventude tinha pertencido às juventudes hitlerianas.
Cá e lá más fadas há ...
Enquanto Bento XVI cumpria a sua parte no grande espectáculo, a diplomacia «a retalho» afadigava-se em visitas aos pontos vitais que basilam o sonho de transformar a crise económica numa nova era de saque capitalista. Mal partira Ratzinger de regresso a Roma, Cavaco Silva foi à Turquia, Netanyahu visitou Obama e Mubaraque, David Brown fez uma peregrinação-relâmpago pelos países sul-americanos produtores de petróleo e Durão esteve em Moscovo. Houve múltiplos contactos entre políticos, banqueiros e alto clero. O que torna mais que evidente existir uma ligação entre estas movimentações, a crise capitalista, a visita do Papa e os laços que unem os interesses do Vaticano ao grande capital financeiro. Segundo um conhecido analista político israelita – Nitzan Horowitz – «Bento XVI está a explorar o seu estatuto para semear a desunião no mundo». São palavras que fazem todo o sentido.
As principais propostas apresentadas pelo Papa nesta digressão pela Palestina
(dois Estados, derrube do muro da Cisjordânia, fim do bloqueio a Gaza, etc.) são plenamente irrealizáveis, pelo menos nesta fase. E Bento XVI bem sabe que assim é.
Tão simples como isto: enquanto o crude estiver no mercado
aos preços actuais e a crise financeira permanecer, as estratégias de zonas tão
sensíveis como as do Médio Oriente serão mantidas. À custa de quantos
sacrifícios, isso não importa. A questão é de vida ou de morte para os lobbies
capitalistas. Mas é igualmente importante manter as aparências. Fazer propostas
generosas que ninguém acolhe. Distrair os homens e inventar uma solidariedade
que ninguém sente. Dividir e agir na sombra. Quanto mais pobres e crédulos
forem os povos, maior será o poder dos ricos.
São tácticas de há muito conhecidas que servem a itinerância
dourada dos políticos e sacerdotes capitalistas. Cá e lá más fada há...
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