A caminho de Emaús, Robert Zund, 1877 |
Os cinco sentidos da pessoa espiritual nascida na Páscoa de Jesus Cristo
No terceiro domingo da Páscoa lemos o
texto do Evangelho de Lucas que narra a experiência dos discípulos de
Emaús (Lc 24, 13-35)
Diz-se que eles reconheceram Jesus Cristo ressuscitado.
Nós, para reconhecermos Jesus ressuscitado nas nossas vidas
precisamos disto:
- olhos da fé
- ouvidos do melhor amigo
- pés da esperança
- mãos generosas do amor fraterno
- exalar o aroma da nova manhã que desponta
Sim, Jesus ressuscitado está realmente presente entre nós. Mas
só o reconhecemos se estivermos preparados para isso.
Precisamos de ter bem
abertos os olhos da fé
São os olhos que lêem as Sagradas Escrituras – a Palavra
de Deus – e nos ajudam a perceber que, para Deus, nada é impossível: Ele não
está dependente do tempo; não fica impedido de nada por causa dos obstáculos
espaciais, nem deixa de estar num sítio para poder estar noutro.
Deus está com
cada um de nós, em todos os lugares. Sobretudo, dá-nos entusiasmo, eleva as
nossas expectativas, faz-nos pensar no presente e no futuro como momentos em
que se realizam os nossos sonhos e a Sua vontade.
Os olhos da fé fazem-nos
entregar a nossa vida ao Senhor e confiar que Ele nos guia.
Precisamos de ter os
ouvidos do melhor amigo
São estes ouvidos que nos fazem estar atentos para
perceber quando Jesus nos chama, nos corrige, nos envia.
Umas vezes, Jesus fala-nos baixinho na
nossa consciência, outras desperta-nos um desejo súbito de fazer algo
que nos deixa bem, outras faz-nos sentir o peso do vazio em que nos
encontramos.
Umas vezes, Jesus prende a nossa atenção para que O
acompanhemos em momentos de oração; outras vezes, Ele pede-nos para ser seus
enviados junto de quem precisa; outras vezes, consola-nos…
Precisamos de ter os
pés ágeis da esperança
Os dois discípulos de Emaús caminhavam
entristecidos, pois estavam decepcionados, desanimados, sentiam-se enganados
por Jesus. «Nós esperávamos que…», diziam.
Jesus, ao juntar-se a eles no caminho, faz uma releitura dos
acontecimentos. Percorre com eles a história e demonstra como Deus salvava e
salva. Jesus ressuscitado ressuscita a esperança dos discípulos: diz-lhes,
quando se ama, não se morre, dá-se a vida; e quando se dá a vida, não há
escândalo, mas heroísmo. Todavia, Jesus não deixa de deixar claro que morrer em
favor de outros é uma condenação da maldade que os afligia. Pois o sonho de
Deus é que as pessoas tenham uma vida longa e feliz, na comunhão uns com os
outros.
Precisamos de ter mãos generosas de amor fraterno
Só então somos generosos e alegres, para convidar
os outros a fazer um banquete connosco, como fizeram os discípulos, que convidaram
Jesus para celebrar a Eucaristia com eles. E, então, podemos dizer: «Comemos e
bebemos com o Senhor», e o nosso testemunho é credível, é atraente.
Precisamos de exalar o aroma da nova manhã que desponta
Nas leituras de hoje, S. Pedro, S.
Paulo, Maria Madalena e as outras mulheres, os discípulos de Emaús...
todos anunciam com entusiasmo «Deus ressuscitou Jesus».
Este grito tem sido repetido ano após ano. Hoje, é a nossa vez.
A Páscoa cristã é um convite à
alegria, à paz, à esperança de uma vida renovada. É a aurora feliz de um
mundo novo, como cantamos no salmo deste dia (Salmo 15):
Defendei-me, Senhor; Vós sois o meu refúgio.
Digo ao Senhor: Vós sois o meu Deus.
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino.
Bendigo o Senhor por me ter aconselhado,
até de noite me inspira interiormente.
O Senhor está sempre na minha presença,
com Ele a meu lado não vacilarei.
Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta
e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma na mansão dos mortos,
nem deixareis o vosso fiel conhecer a corrupção.
Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
alegria plena em vossa presença,
delícias eternas à vossa direita.
Para reflectir
Porquê, às vezes, vamos à catequese ou à missa e saímos de
lá sem sentir que tivemos um encontro com Jesus ressuscitado?
Porquê, às vezes, ouvimos ou lemos a Bíblia, e o nosso
coração não arde de entusiasmo com as Escrituras?
Porquê, às vezes, voltamos a casa com o coração perturbado,
triste, desanimado, sem fé e sem esperança?
Porquê, às vezes, estamos na paróquia e não sentimos a
comunhão com os nossos irmãos?
O autor do texto é o meu amigo Fernando Jorge Félix Ferreira