Durante a reportagem de um jogo de futebol, a realização
importa-se em repetir vezes sem conta e dos mais diversos ângulos uma falta
cometida por um jogador ou um erro da arbitragem. Interessa muito menos à
realização (tantas vezes!) a repetição de jogadas lindas que deviam chamar a
atenção da equipa de reportagem, porque isso é o futebol, que as cenas de erro
ou de violência que não são futebol, nem são desporto.
Um acidente aparatoso numa prova automobilística ou de
ciclismo é repetido vezes sem conta nos noticiários, muito mais vezes que
aquilo que é belo e bem feito, seja no desporto automóvel, seja no ciclismo.
Todos os anos há comemorações aniversárias das Aparições, no
Santuário de Fátima, mas quase não são notícia, para além do dia 13 de Maio de
manhã e da noite do dia 12, esta transmitida em diferido, para não incomodar a
programação das telenovelas. É notícia um peregrino atropelado na estrada, mas
só se ficar em mau estado. A fé dos peregrinos só interessa quando o repórter
estabelece um diálogo gravado em que fica evidente a ignorância e o analfabetismo
do peregrino.
Em 2002 peregrinei a Fátima a pé, num grupo, e achei que
devíamos informar a autoridade policial. Ninguém ligou, ninguém quis saber.
Em 2017 comemora-se o Centenário, o Papa volta a visitar
Portugal, peregrinando a Fátima, todo o mundo está interessado, a Jacinta e o
Francisco vão ser canonizados. Isso já é notícia. As autoridades divulgam os
programas de apoio aos peregrinos a pé.
A ASAE noticia as fiscalizações que faz propositadamente em
Fátima e as situações desconformes que detecta, como se durante o resto do ano,
e todos os anos, as situações fossem outras. Mas até a ASAE, assim, é mais uma
vez notícia. Surgem dezenas, talvez centenas, de revistas, jornais,
reportagens, todo o tipo de publicações sobre o Centenário e a peregrinação do
Papa. Isto seria bom se não fossem, na maioria dos casos peças editadas por
pessoas completamente ignorantes do assunto a produzir coisas sem qualidade,
mais de desinformação que informativas.
É um aproveitamento fantástico dos fiéis e devotos da Mãe de
Deus, para ganharem dinheiro de qualquer maneira. Revistas cor-de-rosa publicam
santinhos, orações, terços, mesmo que os publicadores não acreditem em nada
daquilo, vende-se bem!
Quando o dia 13 de Maio está próximo, começa a acabar-se a
matéria nova, já só resta repetir o que foi dito.
Então, as televisões e os jornais desenterram quem sempre
teve uma posição crítica em relação à Igreja, embora fazendo parte dela, agindo
como teólogo bem formado, mas disparando os maiores disparates e remetendo a
devoção popular ao seu lugar, no rol de crenças sem sentido da gente ignorante.
Teólogos que defendem a purificação da mensagem evangélica, assumem um
protagonismo igual ao de outros que os antecederam em Israel há dois mil anos. Eles
são os puros e não se misturam com as crendices do povo!
Será que teólogos com tanto mérito não entendem que é a eles
que o papa Francisco se refere quando compara a fé de uma mãe, ignorante em
teologia, que acende uma vela a Nossa Senhora a pedir protecção para o seu bebé
doente.
Teólogos como o Professor Jorge Anselmo que afirmou na RTP1,
a 9 de Maio de 2017, cerca das 16h50, que há quatro Evangelhos diferentes, não
um só. Como pode um teólogo, um teólogo a sério, enganar assim os fiéis, para
defender o seu ponto de vista de que Fátima não é Fátima. Existe apenas um
Evangelho, como é anunciado em todas as missas
- Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo São…
Sim, temos a mesma Boa Notícia redigida sob quatro
perspectivas diferentes, mas a Boa Notícia é só uma. Qualquer teólogo o sabe e
só afirma o contrário na televisão em directo quando procura atrair para si as
atenções que deveria encaminhar para Nosso Senhor ou sua Mãe santíssima.
O Professor Jorge Anselmo anda a publicar e discursar em
todo o lado onde alguém precisa fazer crescer o nível das audiências sobre a
diferença entre «visão» e «aparição». Em que difere este professor daqueles escribas
e doutores da lei que tentavam armar ciladas a Jesus, perguntando-lhe, por
exemplo, se era justo pagar impostos? Se Jesus respondesse que sim, o povo
estaria contra Jesus, se respondesse que não, a autoridade romana prendia
Jesus. Mas as portas do Inferno nada poderão contra a Igreja. E a fé nunca
morrerá em Portugal.
Refere o mesmo Professor que de muitos teólogos que vieram
fazer conferências e participar em debates em Portugal nunca algum deles mostrou
interesse em visitar Fátima (quanto mais peregrinar, acrescento eu!). Mas que
grandes teólogos! Seriam católicos? Todos eles? É que até o povo simples de
outras religiões visita Fátima e muitos se convertem. Teriam esses teólogos
medo de se converterem?
O Professor Jorge Anselmo está tão consciente das coisas
desagradáveis, no mínimo, que tem afirmado sobre Fátima, que chega a escrever
isto:
- Para surpresa de
alguns, confesso que não me custa admitir que as três crianças, os pastorinhos,
tenham feito uma verdadeira experiência religiosa em Fátima.
E quando o Professor acaba por ceder na existência, de algum
modo, da presença do divino naquele lugar, na revelação que aconteceu aos
pastorinhos, fá-lo através de explicações de ordem lógica e não evidencia nunca
um conhecimento sobre o assunto que lhe chegue de dentro, do seu próprio coração.
Ele sente necessidade de meter o dedo nas chagas do Senhor para acreditar, mas
Jesus bem explicou a felicidade que era acreditar sem ter de lá meter o dedo! Sem
ver.
Divaga também sobre a presença ou não de Maria em Fátima, do
ponto de vista físico. O Professor não refere se a presença foi real ou não,
mas se podia ser detectada pelos aparelhos de um laboratório de Física. Qual seria
o relatório desses aparelhos no Monte da Transfiguração? Bem, conhecemos os
resultados da NASA em relação à tilma de Nossa Senhora de Guadalupe. Que dirão
tais teólogos?
Também Frei Bento Domingues padece da mesma dificuldade em
aceitar as coisas que se aprendem apenas com o coração. E isto é mau. Será que
padres que partem destes princípios poderão ajudar o povo de Deus a acreditar
com o coração, mesmo contra a lógica dos homens?
Apropriando-se das palavras do papa Francisco, o frade
dominicano questiona-se no jornal Público de 7 de Maio de 2017
- É precisamente o que
mais falta em Fátima: tornar-se um centro propulsor de saída para o mundo e não
apenas de um altar de incenso.
Mas que outros centros propulsores e de saída para o mundo
serão mais consistentes que Fátima? Quantas conversões? Quantas saídas da
imagem peregrina, e de outras imagens, para todos os países do mundo? Quem congrega
mais povo para fazer profissão pública de fé que Fátima? Que faz Frei Bento
quando está em Fátima? Ele não vê os árabes, os japoneses, os russos, os
espanhóis, os budistas, até comunistas que por lá andam? Fátima congrega e de
Fátima o Santíssimo Nome de Jesus é levado para todo o mundo, como no
princípio, transportado no regaço da sua Bendita Mãe.
Orlando de Carvalho
PARABÉNS E MUITÍSSIMO OBRIGADA, AMIGO ORLANDO DE CARVALHO, POR ESTE SEU OPORTUNO, CLARO E INTERPELANTE TESTEMUNHO AQUI DEIXADO, QUE FAÇO QUESTÃO EM CONVICTA E SOLIDARIAMIAMENTE, PUBLICÁ-LO, NO MU HUMILDE MURAL! SELO O MEU AGRADECIMENTO, COM UM ABRAÇO DE PAZ E BEM! <3 :-D
ResponderEliminarObrigado.
EliminarObrigada, Orlando, pela sua análise objectiva e verdadeira. Vi as duas entrevistas e fiquei chocada, mas incapaz de reagir. O seu artigo veio foi por isso, oportuno e seria muito bom esses sacerdotes lerem e serem capazes de pensar no que andam a fazer. Mais parece que estão interessados em denegrir a religião que dizem professar.
EliminarPois é Palmira. Eles andam a confundir o povo católico.
ResponderEliminarParabéns Sr Orlando.Muito Obrigado. Vou partilhar com quem sei que vai valorizar e refletir perante o seu testemunho. Bem haja.
ResponderEliminarBeijinhos.
Obrigado Ana Maria. Beijinhos.
EliminarBom dia, Manuel Pires. Não nos temos encontrado ultimamente.
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