terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A cor do Inferno






Este artigo é um resumo e ao mesmo tempo apresentação de um mais desenvolvido que estamos a elaborar sobre o mesmo tema.






O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade;
Não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas.[1]


Etimologicamente a palavra Inferno significa “profundezas”
Geena é um termo referido 12 vezes na Bíblia (nalgumas traduções surge “fogo do inferno”). A Geena era uma lixeira que existia no tempo de Jesus fora das muralhas de Jerusalém, onde, entre lixo, eram também lançados os cadáveres de pessoas consideradas indignas de melhor sepultura.



Quem se exclui voluntariamente da presença de Deus, que é onde reside todo o Amor, toda a Beleza, toda a Bondade, vai necessariamente restringir-se ao Ódio, ao Horrível, à Malvadez.
Deus não obriga pessoa alguma a suportá-lO, quem quiser pode ir embora. Mas fora de Deus... é tudo tão mau que chamamos Inferno. Quem se exclui de Deus, que é o Criador de tudo o que existe, exclui-se da própria Criação, do Cosmos, da Vida, da Existência.
Há Céu na Terra quando agimos com Bondade, porque agimos à semelhança de Deus. E há Céu depois da morte para quem agiu anteriormente com Bondade.
Há Inferno na Terra para quem age com ódio e por vingança, porque actua à margem de Deus, sem Beleza nem Generosidade, assemelhando-se ao lixo (Geena) e à profundeza obscura (Inferno).
Tal como os que vivem o Céu na Terra, o semeiam à sua volta, os que vivem o Inferno na Terra, o semeiam em torno de si.
Isto é difícil de entender por quem está já moldado pelos estereótipos dos conceitos de Céu e Inferno. Mais difícil ainda de explicar é aquele sofrimento que representa a ausência de Deus, para quem não descobre a felicidade da presença do que é bom e vale a pena, apenas Deus.
Que coisa mais horrível que o fogo? Mesmo as pessoas tão actuais como as que nasceram no início do século XX o fogo é a maior calamidade. O fogo é algo terrível, um mal incontrolável e que se vê avançar contra nós sem termos hipótese de nos defendermos eficazmente.
A visão das crianças em Fátima pode muito bem ser uma parábola para transmitir a ideia do sofrimento que espera aqueles que se excluem da presença de Deus. Uma alegoria para crianças sem curso de Teologia. Afinal é tão verdadeiro como as parábolas que Jesus contou.
Quando nos queremos referir à ausência de Deus temos a mesma dificuldade que se nos coloca quando nos queremos referir à presença e natureza de Deus. Nunca O vimos, não sabemos o seu aspecto, podemos ter dificuldade em O conceber na imaginação ou mesmo na razão. Do mesmo modo que Deus é apresentado como fonte de Beleza e o arco-íris como seu protótipo, a Geena e as profundezas obscuras ajudam a conceber o que é a ausência de Deus.
Muitas pessoas vivem o Inferno na Terra: as mulheres violadas, as crianças abusadas, as mulheres mortas pelos próprios maridos, e vice-versa, as vítimas dos negócios de armas, drogas, tráfico humano, corrupção. Estas vítimas lavam as vestes no Sangue do Cordeiro e nas bombas dos malvados. Estes, pelo contrário, optam voluntariamente pela vida obscura longe da presença de Deus omnipotente.
Não há reencarnação, quer dizer, não existe segunda oportunidade: logo, o tempo para fazer a opção é limitado.
Os que adoram o dinheiro, a violência, o abuso, o sofrimento alheio, não podem adorar, nem amar, nem aceitar a Deus, independentemente do que afirmem, mesmo que vão semanalmente à missa, ou cumpram os preceitos de outra religião que professem. Não é importante saber onde esses vão viver a ausência de Deus, se no fogo, se no distante planeta Plutão, se na constelação Andrómeda, se no fogo que existe no centro da Terra, se no mesmo lugar que ocupamos, mas noutra dimensão.
Sejamos bondosos, pacientes, solícitos para com os necessitados e frágeis para que nos seja permitido viver a eternidade junto de Deus e não em qualquer Inferno insuportável.



Enfim, não levamos em grande consideração as discussões mais ou menos teológicas acerca da Céu e do Inferno, do castigo divino para os malditos e do prémio para os bondosos, pois muitos provam que existe Inferno, como castigo infligido por Deus e Céu como prémio, outros provam o inverso.
Deus está sempre de braços abertos dispostos para acolher quem vai a Ele, como Jesus ensina na parábola do Pai Misericordioso e do Filho Pródigo. Mas é nessa mesma parábola que Jesus ensina também que, embora o Pai do Céu esteja acolhedor de braços abertos, há uma necessidade intrínseca dos filhos renunciarem ao pecado, à lonjura de Deus, voltarem de livre vontade e pelo seu pé à Casa do Pai, com humildade e de coração contrito, dispostos à conversão (mudança de vida) e a encetar novos projectos de existência a abraçar um futuro que não terá fim.
Cremos que ao lado de Deus, ou pisando as suas pegadas, a vida não terminará jamais. Uma vida colorida com as mais belas cores do arco-íris.
Não sabemos onde nem como poderá terminar uma trajectória divergindo do Pai, terminando na profundeza obscura, no Inferno.

Orlando de Carvalho


[1] Salmos 103 (parte)
Bendiz, ó minha alma, o Senhor,
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.

Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.

O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade;
Não nos tratou segundo os nossos pecados,
nem nos castigou segundo as nossas culpas.












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