São Paulo ao argumentar perante os coríntios que Jesus
ressuscitou, que a ressurreição é possível, viável e real, chega ao ponto de
afirmar que se Jesus não tivesse ressuscitado, a pregação e a fé seriam vãs.
Ora, se nós pregamos que
Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vós dizem que não há ressurreição
dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não
ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vã e também é vã
a fé que tendes.
(1 Cor 15,12-14)
Alguns pregadores mais zelosos vão mais longe e afirmam que
se Jesus não ressuscitasse teria sido um fracasso.
De facto, Jesus afirmou diversas vezes e de diversos modos
indirectos que ressuscitaria, embora nunca o tivesse declarado directamente. Só
depois da ressurreição, os discípulos a caminho de Emaús, e os outros
discípulos e discípulas entenderam o significado das profecias de Jesus e das
Sagradas Escrituras.
A não ressurreição de Jesus teria sido um fracasso quanto à
revelação do projecto de Deus para a humanidade, que é acolher-nos como seus
filhos para a eternidade.
Mas não teria sido um fracasso total em relação aos ensinamentos
pregados e testemunhos em favor do amor ao próximo como único modo de vida
coerente e capaz de aportar felicidade. Jesus teria sido mais um na lista de profetas,
embora diferente porque nunca pecara, rejeitara sempre qualquer tipo de
vingança, pregara o amor incondicional, mesmo aos inimigos. Um profeta original
que teria levado felicidade a quem seguisse os seus ensinamentos e não teria
sido um fracasso como tal.
Tê-lo-ia sido, fracasso, na missão divina da revelação plena
da Santíssima Trindade.
Nenhum de nós é Deus, mas tal não significa que tenhamos uma
vida fracassada, pelo contrário. Até porque a não ressurreição de Jesus teria
sido decisão do Pai e não fracasso de Jesus, sempre cumpridor da vontade do
Pai.
A vitória plena de Jesus como homem e como Deus
concretiza-se, de facto, na ressurreição do filho de Maria e na prefiguração da
nossa própria ressurreição.
Orlando de Carvalho