segunda-feira, 22 de abril de 2019

O fracasso da não ressurreição


São Paulo ao argumentar perante os coríntios que Jesus ressuscitou, que a ressurreição é possível, viável e real, chega ao ponto de afirmar que se Jesus não tivesse ressuscitado, a pregação e a fé seriam vãs.

Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vã e também é vã a fé que tendes. 
(1 Cor 15,12-14)

Alguns pregadores mais zelosos vão mais longe e afirmam que se Jesus não ressuscitasse teria sido um fracasso.

De facto, Jesus afirmou diversas vezes e de diversos modos indirectos que ressuscitaria, embora nunca o tivesse declarado directamente. Só depois da ressurreição, os discípulos a caminho de Emaús, e os outros discípulos e discípulas entenderam o significado das profecias de Jesus e das Sagradas Escrituras.
A não ressurreição de Jesus teria sido um fracasso quanto à revelação do projecto de Deus para a humanidade, que é acolher-nos como seus filhos para a eternidade.
Mas não teria sido um fracasso total em relação aos ensinamentos pregados e testemunhos em favor do amor ao próximo como único modo de vida coerente e capaz de aportar felicidade. Jesus teria sido mais um na lista de profetas, embora diferente porque nunca pecara, rejeitara sempre qualquer tipo de vingança, pregara o amor incondicional, mesmo aos inimigos. Um profeta original que teria levado felicidade a quem seguisse os seus ensinamentos e não teria sido um fracasso como tal.
Tê-lo-ia sido, fracasso, na missão divina da revelação plena da Santíssima Trindade.
Nenhum de nós é Deus, mas tal não significa que tenhamos uma vida fracassada, pelo contrário. Até porque a não ressurreição de Jesus teria sido decisão do Pai e não fracasso de Jesus, sempre cumpridor da vontade do Pai.
A vitória plena de Jesus como homem e como Deus concretiza-se, de facto, na ressurreição do filho de Maria e na prefiguração da nossa própria ressurreição.

Orlando de Carvalho

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Sábado Santo. Sábado de Aleluia.


Hoje é Sábado Santo.
Aquilo que nós Igreja hoje comemoramos é Jesus morto.
Sábado de silêncio.
Tempo de contenção. Na refeição, na brincadeira, na música ouvida.
Jesus ressuscitou há dois mil anos e está vivo, mas hoje recordamos e comemoramos aquele sábado em que Jesus tinha descido à mansão dos mortos.
Ao longo dos séculos, a Igreja perdeu esta noção.
Celebrava-se a morte de Jesus às três da tarde de Sexta-feira Santa e a sua Ressurreição às dez horas da manhã de sábado. E chamou-lhe Sábado de Aleluia. Os sinos tocavam. Era muito bonito. Mas era falso.
Infelizmente continuamos a ouvir alguns muitos fiéis e também sacerdotes, nestes dias de Tríduo Pascal, a falar de Sábado de Aleluia. Porque não perceberam, nem o erro que existiu durante séculos, nem a regeneração operada durante o pontificado de Pio XII.
Restaurado este aspecto da Liturgia e pondo-a de acordo com a verdade histórica e teológica, na década de 1950, voltou a celebrar-se a Ressurreição na Vigília Pascal, que acontece ao final do dia de Sábado Santo, depois do pôr-do-sol. E não pode iniciar-se antes do pôr-do-sol.
Hoje é Sábado Santo. Sábado de silêncio.
Amanhã será Domingo de Páscoa. E cantaremos Aleluias.

Orlando de Carvalho

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Manhã de Páscoa

 


No princípio Deus criou o Cosmos, com as matemáticas, as leis científicas, criou os sentimentos.
Quando tudo estava pronto, Deus criou a pessoa humana e colocou-a no lugar do Cosmos que lhe havia destinado, por ter as melhores condições de habitabilidade.
E Deus amou intensamente a criatura humana.
Deus desejou que os homens e as mulheres fossem semelhantes a Si, capazes de amar e espalhar amor.
Ao acentuar-se a grande distância entre Deus e os humanos, Deus enviou para o meio das pessoas o seu próprio Filho, Jesus Cristo, substancialmente igual ao Pai.
No final de uma curta vida na Terra, em pé de igualdade com as outras pessoas, Jesus morreu, foi sepultado e ressuscitou. Para todos aqueles que forem capazes de abrir o coração tanto e com tanto amor, esta é a prova de uma nova Criação. 
Na Páscoa, nós cristãos celebramos e vivemos a Ressurreição de Jesus, e entendemos que ela é um sinal da nossa própria ressurreição. Fomos criados para ser concidadãos da Cidade Eterna, na companhia de Deus. Jesus ensinou-nos que não somos súbditos de Deus à semelhança dos vassalos, escravos e cidadãos de um reino ou república como conhecemos na Terra, porque nos tocou a bem-aventurança de sermos filhos de Deus e de Lhe podermos chamar Pai.
Este é o tempo propício para desfrutar desta felicidade.
 


   

Até 1975, em Portugal, a Sexta-feira Santa não era feriado. Muitas pessoas participavam nas celebrações litúrgicas de toda a Semana Santa. Então, passou a ser norma, para muitos, utilizar os dias do Tríduo Pascal e o Domingo de Páscoa como tempo de férias, na neve, se há neve, no Algarve, se há calor, ou em qualquer outro lugar, alguns até vão a Roma ver o Papa ou a Paris à Disney.
A escolha pode parecer difícil. De um lado, aproveitar 4 dias para viver uma aproximação a Deus, que nos ama, e que deseja ardentemente ter-nos junto de Si na eternidade sem fim que se seguirá à nossa morte. Por outro lado, a opção pela certeza de aproveitar bem estes 4 dias de férias, gozar e divertir, porque é coisa certa, ou que parece certa, em vez de esperar com fé algo que pode vir, é quase certo que virá, mas que não temos capacidade para validar com os nossos sentidos e inteligência. Não vimos o Céu, todos sabemos que existe, e… vamos dizendo que não acreditamos e vamos gozando esta vida.




De costas viradas para Deus, até participamos em banquetes em Sexta-feira Santa ou Sábado Santo.

Alguns pensam que no próximo ano haverá nova Páscoa e que há sempre nova oportunidade para aceitar Deus e sentar no seu colo materno. Mas ninguém sabe se viverá ainda mais um ano.

Reunidos na família, a Igreja Doméstica, e, ou, na comunidade paroquial, celebremos o tempo da Vida, da vida na floresta e no rio, da vida de que aves, flores e toda a Natureza dão sinal: a Vida renasce, cheia de força, deixemo-la renascer também nos nossos corações e anunciemos aos nossos amigos mais próximos, e a todos, esta novidade: Cristo vive! Aleluia!

Orlando de Carvalho