quarta-feira, 6 de abril de 2016

Jubileu da Misericórdia (2)


Camafeu original da fábrica de porcelana do abolicionista 
Josiah Wedgwood (1730-1795)

A misericórdia de Deus, a minha e a dos outros

Numa reunião na paróquia, analisávamos o apoio concreto que estávamos a dar, individual e comunitariamente, às pessoas mais necessitadas. Alguém argumentou, a dada altura, que os sem-abrigo não aceitam ajuda, preferem dormir na rua que em abrigos dispensados pelas autarquias e outras entidades, que não se podia ajudar pessoas que não aceitavam ajuda, que havia pessoas que não precisavam e andavam a pedir e, prosseguindo, conseguiu falar mais alto que todos e arranjar uma lógica para demonstrar que já se ajudava o suficiente, que ele não ajudaria mais e a paróquia não devia tentar ajudar mais do que já ajudava.

Com esta argumentação e dentro desta lógica nunca se chega ao exercício da misericórdia. Muitas vezes esperamos o auxílio, o perdão e o consolo de Deus e dos outros sem querermos corresponder de igual.

A lógica da misericórdia é a lógica de Deus. Deus ama e espera ser amado. Para receber a misericórdia de Deus e do nosso próximo comecemos por ser misericordiosos. Deus não fica a pensar se merecemos, Deus abre os braços para acolher e perdoar quem se arrepende, seja qual for o pecado. Nós, quase sempre, impomos condições para perdoar, além do castigo ainda costumamos acrescentar que perdoamos, mas não esquecemos.

Senhor misericordioso, que me deste a vida e me prometeste a eternidade, que eu seja digno da tua misericórdia, sendo misericordioso!

Após a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria em 25 de Março de 1984, pelo papa João Paulo II, em união com todos os bispos do mundo, bastaram pouco mais de 5 anos para a Queda do Muro de Berlim, em 9 de Novembro de 1989.

Na actualidade, o papa Francisco empenha-se em evitar que seja erguido um muro tão vergonhoso como o de Berlim. O candidato a presidente dos Estados Unidos da América promete construir um muro de 3141km na fronteira com o México. Na verdade, os americanos já construíram desde 1994 um terço deste muro com a extensão de 1130km! O papa Francisco afirma que construir pontes e derrubar muros é cristão e que quem constrói muros não é cristão.

Jesus anunciou a sua missão na sinagoga: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor. (Lc 4,18-19)

A missão do papa é guiar o povo de Deus, que é a Igreja, em direcção ao Reino dos Céus. Se o papa não guiar de modo explícito os filhos de Deus estará a trair o seu compromisso com o Senhor.

A mensagem acerca dos muros a abater e as pontes a construir não se limita aos grandes muros de milhares de quilómetros, mas também àqueles que erguemos ou abatemos em relação às pessoas que nos rodeiam, na família, no trabalho, na escola, na igreja, na política, na vizinhança.

O candidato a presidente veio de imediato responder ao papa, com palavras de soberba e desafio: O papa desejará que eu seja eleito presidente, para o ajudar, se o Vaticano for atacado pelos extremistas muçulmanos do DAESH.

Quantas vezes somos como o senhor Trump? Deus indica-nos o caminho da Verdade, através do papa, ou de qualquer pequenino que está ao nosso lado, e nós, sentindo a força dos argumentos da humildade, reagimos com arrogância e insultos, baseados na força e na violência. Não destruíram os romanos completamente a cidade de Jerusalém, sem que isso não fosse motivo para que o cristianismo se impusesse em Roma e no mundo?

Sejamos dóceis e rejubilemos neste Ano Santo da Misericórdia, sendo misericordiosos a todos os níveis.

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