Camafeu original da fábrica de porcelana do abolicionista
Josiah Wedgwood (1730-1795)
A
misericórdia de Deus, a minha e a dos outros
Numa reunião na paróquia, analisávamos o apoio concreto que
estávamos a dar, individual e comunitariamente, às pessoas mais necessitadas. Alguém
argumentou, a dada altura, que os sem-abrigo não aceitam ajuda, preferem dormir
na rua que em abrigos dispensados pelas autarquias e outras entidades, que não
se podia ajudar pessoas que não aceitavam ajuda, que havia pessoas que não
precisavam e andavam a pedir e, prosseguindo, conseguiu falar mais alto que
todos e arranjar uma lógica para demonstrar que já se ajudava o suficiente, que
ele não ajudaria mais e a paróquia não devia tentar ajudar mais do que já
ajudava.
Com esta argumentação e dentro desta lógica nunca se chega
ao exercício da misericórdia. Muitas vezes esperamos o auxílio, o perdão e o
consolo de Deus e dos outros sem querermos corresponder de igual.
A lógica da misericórdia é a lógica de Deus. Deus ama e espera
ser amado. Para receber a misericórdia de Deus e do nosso próximo comecemos por
ser misericordiosos. Deus não fica a pensar se merecemos, Deus abre os braços
para acolher e perdoar quem se arrepende, seja qual for o pecado. Nós, quase
sempre, impomos condições para perdoar, além do castigo ainda costumamos
acrescentar que perdoamos, mas não esquecemos.
Senhor misericordioso, que me deste a vida e me prometeste a
eternidade, que eu seja digno da tua misericórdia, sendo misericordioso!
Após a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria em
25 de Março de 1984, pelo papa João Paulo II, em união com todos os bispos do
mundo, bastaram pouco mais de 5 anos para a Queda do Muro de Berlim, em 9 de
Novembro de 1989.
Na actualidade, o papa Francisco empenha-se em evitar que
seja erguido um muro tão vergonhoso como o de Berlim. O candidato a presidente
dos Estados Unidos da América promete construir um muro de 3141km na fronteira
com o México. Na verdade, os americanos já construíram desde 1994 um terço
deste muro com a extensão de 1130km! O papa Francisco afirma que construir
pontes e derrubar muros é cristão e que quem constrói muros não é cristão.
Jesus anunciou a sua missão na sinagoga: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque
Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me
para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista;
para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor. (Lc
4,18-19)
A missão do papa é guiar o povo de Deus, que é a Igreja, em
direcção ao Reino dos Céus. Se o papa não guiar de modo explícito os filhos de
Deus estará a trair o seu compromisso com o Senhor.
A mensagem acerca dos muros a abater e as pontes a construir
não se limita aos grandes muros de milhares de quilómetros, mas também àqueles
que erguemos ou abatemos em relação às pessoas que nos rodeiam, na família, no
trabalho, na escola, na igreja, na política, na vizinhança.
O candidato a presidente veio de imediato responder ao papa,
com palavras de soberba e desafio: O papa desejará que eu seja eleito
presidente, para o ajudar, se o Vaticano for atacado pelos extremistas
muçulmanos do DAESH.
Quantas vezes somos como o senhor Trump? Deus indica-nos o
caminho da Verdade, através do papa, ou de qualquer pequenino que está ao nosso
lado, e nós, sentindo a força dos argumentos da humildade, reagimos com
arrogância e insultos, baseados na força e na violência. Não destruíram os
romanos completamente a cidade de Jerusalém, sem que isso não fosse motivo para
que o cristianismo se impusesse em Roma e no mundo?
Sejamos dóceis e rejubilemos neste Ano Santo da
Misericórdia, sendo misericordiosos a todos os níveis.
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