A Igreja recomenda desde há muitos séculos muita prudência
na utilização de comparações e representações para explicar a Santíssima
Trindade.
Um homem idoso cabeludo e barbudo junto a um crucifixo e a
uma pomba têm sido usados para representar o Pai, o Filho, Jesus Cristo e o
Espírito Santo, isto é, no seu conjunto, a Santíssima Trindade. Mas é abusivo
dar a entender que Deus Pai é um velho de barbas brancas. Também o Espírito
Santo desceu no Baptismo de Jesus, como uma pomba e não com a forma de pomba. O
Espírito Santo não é certamente uma ave.
O triângulo equilátero que também tem sido usado por
artistas para a representação da natureza trinitária de Deus insuficiente. Os
três lados iguais podem transmitir o aspecto trinitário de Deus, mas não a
diversidade de cada uma das pessoas trinitárias.
Ainda assim, este mistério da nossa fé é tão insondável que
existe uma necessidade real de nos socorrermos de algo visível e compreensível
para transmitir a alguém, ainda que só aproximadamente, o significado de três
Pessoas distintas num Deus único. O discernimento da insondabilidade de Deus
feito apenas pela oratória é na maior partes das vezes infrutífero, para mais
quando sabemos que ninguém o entenderá plenamente antes de receber aquela graça
que nos está reservada para depois da morte. Por isso, o anunciador da fé, o
catequista ou o missionário necessitam de alegorias. De facto, as
representações da Santíssima Trindade não são mais que alegorias, na medida em
que não são, não podem ser, retratos nem diagramas credíveis, por ninguém ter
acesso à fonte.
Podemos recordar São Patrício, que foi elevado a patrono da
Irlanda por ser considerado o evangelizador que converteu os habitantes desta
ilha. Para explicar o Mistério da
Santíssima Trindade aos celtas, São Patrício
utilizou a alegoria do trevo: três folhas distintas, perfeitamente separadas e
identificadas numa mesma planta.
Já o padre José Cruz, no programa Você na TV!, na TVI,
mostrava três pés de cereja ainda juntos para fazer a metáfora da Santíssima
Trindade. Tal como qualquer outra parábola, uma representação que provavelmente
nada tem a ver com a realidade da Trindade, mas que pode ser útil para
transmitir a fé neste Mistério.
Actualmente está a ganhar uma projecção grande, entre a
população mais jovem de todo o mundo, um jogo que consiste num disco formado
apenas por três palas que giram, dando a impressão de um disco compacto, ao
atingirem uma velocidade elevada. Trata-se do fidget spinner (que podemos
traduzir por pião nervoso), também chamado finger spinner (pião no dedo) que é
também algumas poucas vezes chamado hand spinner (pião de mão).
Terá havido padres que utilizaram esta imagem tão próxima
das crianças e jovens, especialmente, para projectar uma imagem da Santíssima
Trindade. E tê-lo-ão feito durante homilias, indignando muitas pessoas.
Aprofundar este Mistério e dá-lo a conhecer implica ir ao
encontro. No tempo de São Patrício, lá pelo século V, o trevo era bastante
acessível e evidente para os celtas irlandeses, provavelmente tanto como este
jogo para as camadas mais jovens da população neste ano da graça de 2017.
Bem-vindo fidget spinner, se através de ti, algumas pessoas
conseguirem sentir-se mais perto da intimidade de Deus.
Orlando de Carvalho
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