A primeira vez que vi projecções de apresentações do
PowerPoint durante uma missa foi em França, há quase vinte anos.
Utilizei a técnica depois aqui em Portugal.
Se a homilia deve ser uma actualização da Palavra, a própria
celebração, no seu todo, deve também sofrer as actualizações necessárias aos
tempos e aos lugares dos fiéis que nela participam, para que seja entendida e
vivida.
Há dias participámos numa missa, numa estância de veraneio,
que nos chocou, direi mesmo que nos escandalizou.
Houve uma projecção de PowerPoint que não dignificou a
celebração, mas que pelo contrário a rebaixou e lhe tirou o significado
celebrativo eclesial. O coro foi substituído pela projecção das letras nos
ecrãs com os cânticos gravados em fundo sonoro. A assembleia não cantou, até
porque os cantos eram difíceis de interpretar, e não devia estar habituada a
cantar, porque a sanfona tocava pelos fiéis. Não obstante a letra dos cânticos
ser projectada na modalidade de karaoke, não havia maneira de a assembleia
estar presente nessas partes da missa.
Nos bancos da assembleia havia uns envelopes, já usados e
amarrotados, indicando que se destinavam a donativos para as obras da igreja. Vi.
Mas só durante o Ofertório percebi para que serviam. As ofertas não eram
recolhidas, os fiéis colocavam-nas nos tais envelopes e dirigiam-se ao
presbitério onde um acólito recebia os invólucros num tabuleiro.
A modalidade do Ofertório seria apenas uma variante se fosse feito com o mínimo
de dignidade, com envelopes de jeito, por exemplo.
Na altura da Comunhão, o ministro
extraordinário saiu da assembleia, dirigiu-se ao presbitério para os lavabos e
depois foi ao sacrário buscar Nosso Senhor, que colocou sobre o altar. A comunhão
foi distribuída pelo presbítero, comungando o ministro extraordinário entre os
acólitos, e não logo a seguir ao presidente da celebração. Extraordinariamente,
o ministro colocou-se ao fundo do presbitério, porque a sua função foi apenas
ir ao sacrário e voltar, porque apenas o sacerdote distribuiu comunhão. Não havia
muitos fiéis, de facto, mas para que terá sido aquela intervenção do ministro
extraordinário da comunhão. Contámos os passos que, de volta ao sacrário, a
senhora deu entre o altar no centro do presbitério e o sacrário: 15 passos!
À saída da missa, o cortejo litúrgico não foi
uma procissão, mas um grupo formado por vários acólitos e o padre, tudo à
molhada, sem qualquer ordem das pessoas nem jeito algum.
Outras coisas estranhas aconteceram, mas
ficamos por aqui.
Não se trata aqui de acusar, de falar mal. Não
identificamos sequer o lugar. Tenhamos presente que temos todos, os que de
alguma forma participamos nas celebrações litúrgicas, de pugnar para que a
dignidade e a qualidade se imponham para que os fiéis descubram na celebração a
beleza do Senhor e se sintam parte de Cristo e do seu Corpo.
Orlando de Carvalho
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