quarta-feira, 5 de julho de 2017

Haja dignidade na missa



A primeira vez que vi projecções de apresentações do PowerPoint durante uma missa foi em França, há quase vinte anos.
Utilizei a técnica depois aqui em Portugal.
Se a homilia deve ser uma actualização da Palavra, a própria celebração, no seu todo, deve também sofrer as actualizações necessárias aos tempos e aos lugares dos fiéis que nela participam, para que seja entendida e vivida.
Há dias participámos numa missa, numa estância de veraneio, que nos chocou, direi mesmo que nos escandalizou.
Houve uma projecção de PowerPoint que não dignificou a celebração, mas que pelo contrário a rebaixou e lhe tirou o significado celebrativo eclesial. O coro foi substituído pela projecção das letras nos ecrãs com os cânticos gravados em fundo sonoro. A assembleia não cantou, até porque os cantos eram difíceis de interpretar, e não devia estar habituada a cantar, porque a sanfona tocava pelos fiéis. Não obstante a letra dos cânticos ser projectada na modalidade de karaoke, não havia maneira de a assembleia estar presente nessas partes da missa.
Nos bancos da assembleia havia uns envelopes, já usados e amarrotados, indicando que se destinavam a donativos para as obras da igreja. Vi. Mas só durante o Ofertório percebi para que serviam. As ofertas não eram recolhidas, os fiéis colocavam-nas nos tais envelopes e dirigiam-se ao presbitério onde um acólito recebia os invólucros num tabuleiro. A modalidade do Ofertório seria apenas uma variante se fosse feito com o mínimo de dignidade, com envelopes de jeito, por exemplo.
Na altura da Comunhão, o ministro extraordinário saiu da assembleia, dirigiu-se ao presbitério para os lavabos e depois foi ao sacrário buscar Nosso Senhor, que colocou sobre o altar. A comunhão foi distribuída pelo presbítero, comungando o ministro extraordinário entre os acólitos, e não logo a seguir ao presidente da celebração. Extraordinariamente, o ministro colocou-se ao fundo do presbitério, porque a sua função foi apenas ir ao sacrário e voltar, porque apenas o sacerdote distribuiu comunhão. Não havia muitos fiéis, de facto, mas para que terá sido aquela intervenção do ministro extraordinário da comunhão. Contámos os passos que, de volta ao sacrário, a senhora deu entre o altar no centro do presbitério e o sacrário: 15 passos!
À saída da missa, o cortejo litúrgico não foi uma procissão, mas um grupo formado por vários acólitos e o padre, tudo à molhada, sem qualquer ordem das pessoas nem jeito algum.
Outras coisas estranhas aconteceram, mas ficamos por aqui.
Não se trata aqui de acusar, de falar mal. Não identificamos sequer o lugar. Tenhamos presente que temos todos, os que de alguma forma participamos nas celebrações litúrgicas, de pugnar para que a dignidade e a qualidade se imponham para que os fiéis descubram na celebração a beleza do Senhor e se sintam parte de Cristo e do seu Corpo.

Orlando de Carvalho

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