A simplicidade da Andreia desarma. Pergunta sem vergonha,
esclarece sem denotar qualquer tom professoral ou esclarecido, enfim, a jovem
abre a sua vida com tal ingenuidade que chega a parecer ousadia.
Na ala de psiquiatria onde se encontra internada, Andreia é
bem conhecida pelos cuidadores, devido à sua maneira de ser e de estar. Nem parece
doente mental, a não ser talvez pela inocência com que se apresenta.
Antes que surja a vontade de perguntar a que se deve a sua
estadia naquele lugar, a jovem explica sucintamente a história da sua vida.
Interrompeu o percurso escolar já na fase universitária em
consequência de mais um ataque de bullying de que foi vítima. Os anteriores já
tinham motivado várias consultas e cuidados no âmbito psiquiátrico.
Andreia contactou pouco com o mundo exterior à família, mas
isso não impediu que tivesse tido a oportunidade de experimentar grandes
sofrimentos, especialmente do foro psicológico e espiritual.
A separação dos pais, por causa da amante do pai, como enfatiza
no seu relato, não foi uma situação normal, como tantas outras, mas
traumatizante para a menina.
Ela esteve perto dos avós, acompanhando-os até morrerem
quase centenários, passando por todas as situações inerentes a tão avançada
idade.
Em relação à mãe, a morte deixou uma marca ainda mais
saliente. Andreia consegue relatar com aparente insensibilidade os sinais
clínicos da falência da mãe, incluindo os últimos minutos e segundos.
E sabe uma série de nomes de doenças mentais que lhe estão
diagnosticadas ou de que padeceu anteriormente. O seu problema actual parece
ser uma espécie de dificuldade em se integrar em qualquer ambiente de trabalho
com medo de ser atingida por práticas de bullying. O único trabalho remunerado
que refere são serviços de limpeza em casa de um irmão.
Foi educada na Igreja, o que sabemos porque a nossa presença
ali é para lhe levar a comunhão, a seu pedido.
Quando na breve celebração nos preparamos para escutar a
leitura do capítulo 3 do primeiro livro dos Reis, em que é relatado o sonho de
Salomão e o pedido que o rei fez a Deus e fazemos uma também breve admonição
sobre a Sabedoria, Andreia interrompe-nos e pede que lhe ditemos todos os sete
dons do Espírito Santo, que ela escreve numa folha que tinha em cima da cama,
anotando também a explicação do significado de cada um deles. Para alguns dos
dons, ela mesma antecipa definições, umas mais acertadas que outras. E vai
agradecendo todos os ensinamentos. No final da Leitura, antes que façamos algum
comentário, ela interrompe:
- Não entendi bem essas palavras. Pode explicar?
Gostou de uma estampa de Nossa Senhora da Encarnação, com a
oração do Ângelus, que usávamos como marcador no missal, e, sem a pedir, impõe
que lha ofereçamos.
Muitos fiéis não entenderam ainda a mensagem evangélica,
inspirada pelo Espírito Santo e que está contida nas conclusões emanadas do
Concílio Vaticano II.
Embora a quase totalidade dos fiéis compreendam a função do
Ministro Extraordinário da Comunhão na celebração eucarística comunitária, há
alguns que ainda sentem dificuldade em o aceitar, nomeadamente em aceitar a
comunhão das mãos deste leigo.
Quem já presenciou o serviço destes irmãos na assistência a
doentes internados ou acamados ou por qualquer outra razão retidos ou impedidos
de participar na missa, na igreja, entende melhor para que serve o Ministro
Extraordinário da Comunhão. Não se trata de pessoas que se mostram, que se
evidenciam nas missas, mas de irmãos que dispõem de si e do seu tempo para, no
segredo dos bastidores, visitarem e levarem Nosso Senhor Eucarístico aos irmãos
necessitados.
Infelizmente, em algumas comunidades este serviço eclesial
não é bem aceite pelos próprios sacerdotes; noutras, o responsável prefere
nomear certas pessoas pelo seu estatuto social e não pela sua participação na
vida paroquial e da Igreja, pela piedade (a aparente, que a verdadeira só Deus
conhece).
O Ministro Extraordinário da Comunhão, o Leitor, o Acólito,
também o Diácono e ainda outros, são agentes de serviços que brotaram ou foram
recuperados ou nobilitados pelo Concílio, serviços que são evangélicos e que são
dom de Deus ao seu Povo. Aceitemo-los, esforcemo-nos por os compreender e
tomemos parte do desígnio do Espírito Santo, divulgando e ensinando aos irmãos,
especialmente aos mais necessitados, quanto à utilidade destes ministérios.
Orlando de Carvalho
Presto serviço como acolito na Igreja do Telhal. Uma coisa que eu não consigo comprender é o fato de as pessoas não ajoelharem aquando da consagração do Pão e do Vinho. É o Cordeiro de Deus que se dá nesse momento e as pessoas não se prestam à Adoração.
ResponderEliminarÉ complicado Antonio Oliveira.
ResponderEliminarEsse é um momento propício à Adoração, de intimidade com Jesus.
Foi assim que aprendi na catequese e é assim que continuo a viver.
O Concílio Vaticano II apresentou-nos outra perspectiva. Os Apóstolos na Última Ceia não estavam em adoração, muito menos de joelhos. Embora a posição recomendada continue a ser de joelhos, há perspectivas diferentes. Há o Caminho Neocatecumenal, há os Escuteiros... Há pessoas que preferem viver esse momento em comunidade e viver noutras ocasiões a adoração. Mas há também muitas pessoas que com estas mudanças acabam por não chegar a aprender a saborear Jesus eucarístico.
Concordo, pois, consigo. Diz que não consegue compreender e eu deixo-lhe algumas pistas.
Deus o abençoe.
Muito bom,como sempre. Um abraço
ResponderEliminarCaros António Oliveira e Orlando de Carvalho, perdoem-me o comentário mais longo, espero que possa ajudar a compreender a situação.
ResponderEliminarO facto de as pessoas não se ajoelharem aquando da consagração vem de se perder o sentido do mistério que realmente se está a realizar.
Antes e depois do Concílio Vaticano II a essência da missa é a mesma e o que se realiza no Altar continua a ser o Sacrifício da Cruz de Nosso Senhor oferecido a Deus. Nem o Concílio poderia alterar o mandatum que a Igreja recebeu ainda que possa salientar também outros aspectos, o que se celebra não é a Última Ceia mas sim a morte e ressurreição de Nosso Senhor e a comunhão eucaristica com esperança de participação no banquete celeste do Cordeiro de Deus (Apocalipse 19,5-10).
O Concílio nos pontos 47 e 48 da Sacrosanctum Concilium explica bem que o Sacrifício da Cruz continua a existir e é aí também que está a nossa participação:
"O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição"
"É por isso que a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na acção sagrada, consciente, activa e piedosamente, por meio duma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor; dêem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada"
O Papa São João XXIII que iniciou o Concílio Vaticano II explicava assim o que é a missa, na enciclica Ad Petri Cathedram no ponto 40:
"Quem ignora que a Igreja Católica, desde o tempo dos Apóstolos e pelo decurso dos séculos, teve sempre sete sacramentos, nem mais nem menos, recebidos de Jesus Cristo como herança sagrada, os quais ela distribui em todo o orbe católico, para alimento da vida sobrenatural dos fiéis? E quem ignora que nela se celebra um só sacrifício, o Eucarístico, em que o próprio Cristo, nosso Salvador e Redentor, de modo incruento mas real, como outrora pregado na cruz do Calvário, se imola cada dia por nós todos, e difunde misericordiosamente sobre nós os tesouros infinitos da sua graça? Por isso, com muita razão notou S. Cipriano: Não é lícito estabelecer outro altar e um novo sacerdócio, além do único altar e do único sacerdócio."
Assim, o problema está em se viver apenas a Ceia sem ter atenção ao essencial que é o Sacrifício da Cruz oferecido a Deus por nós.
Certamente a maioria das pessoas que não se ajoelha ou comunga na mão não o fará por achar que é a melhor forma, farão por pensarem que é assim a norma e por imitação.
Caro António Oliveira como sugestão não sei se já o fazem mas como acólitos podiam-se ajoelhar em frente ao Altar no momento da consagração. Também seria bom uma catequese a explicar a essência da missa e o que realmente se passa no Altar.
Agora sobre a postagem, é um belo texto. Levar a comunhão a quem não pode se deslocar à missa é um excelente serviço.
Deixo também as ligações para as citações que coloquei:
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html
https://w2.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-xxiii_enc_29061959_ad-petri.html
http://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=Ap_19