Em 8 de Janeiro de 1894, Maria
Kolbe dava à luz o segundo dos três filhos com que o seu casamento com Júlio
Kolbe seria abençoado. O bebé foi baptizado na paróquia de Pabiance com o nome
de Raimundo Kolbe. A família residia em Zdunska Wola, perto de Lodz, numa zona
da
Polónia então ocupada pela Rússia.
Maria e Júlio eram leigos franciscanos (Ordem Terceira de S. Francisco), muito devotados
a Maria, e foi essa a maneira de viver a fé que ensinaram aos filhos.
Raimundo era uma criança muito
irrequieta. Certa vez, tinha ele doze anos, a mãe, muito zangada, repreendeu-o gravemente,
concluindo com esta pergunta: “A continuares a portar-te desta maneira, que
pensas tu fazer da tua vida?
Que futuro vais tu ter?”. Mal
sabia Maria Kolbe o contributo que estava a dar para o futuro do seu filho ao
falar-lhe daquela maneira. Entretanto, com o passar dos dias a mãe notou que a
atitude de Raimundo se estava a modificar.
Raimundo passava agora horas
seguidas junto do pequeno altar doméstico dedicado a Nossa Senhora de
Czestochova, a rezar e a chorar.
Depois de muito insistir com o
filho, Maria conseguiu que ele lhe revelasse o que se passava.
Logo na noite daquele dia,
Raimundo reflectira no que a mãe lhe dissera e, orando no seu quarto, perguntara
ele próprio à Mãe de Deus qual seria afinal o seu futuro. Por altura da sua
Primeira Comunhão, ainda sem resposta, tinha-se dirigido a uma igreja e de novo
questionara Nossa
Senhora. Então, teve uma visão em
que a Mãe de Deus lhe apresentou duas coroas, uma branca e outra vermelha, e
lhe pediu que escolhesse uma delas. Optar pela branca significava se
conservaria puro para toda a vida, se optasse pela vermelha sofreria o
martírio. Raimundo respondeu que desejava aceitar as duas coroas. Então a
Rainha dos Céus sorrindo, desaparecera.
O negócio da família era a
tecelagem o que apenas permitia ao casal providenciar o futuro de um dos filhos
com estudos. Neste caso, o mais velho, o Francisco que foi enviado para um
seminário menor dos frades franciscanos, em Lwow, na zona da Polónia ocupada
pela Áustria.
Contudo, um farmacêutico da cidade
em que moravam interessou-se por Raimundo e ajudou financeiramente para que ele
se pudesse juntar ao irmão no seminário, em 1907.
Raimundo distinguiu-se nas
matemáticas e na física, parecendo ter um futuro brilhante na ciência. Também
mostrou grande interesse e habilidade para estratégia militar, o que, aliado ao
seu patriotismo, o fez esquecer durante algum tempo o seu fervor em se tornar
padre, em favor de uma carreira militar.
Maximiliano Maria Kolbe em 1937 |
Entretanto, o irmão mais novo,
José, juntou-se aos outros dois no seminário.
Antes que Raimundo revelasse a sua
intenção de se tornar soldado, a mãe anunciou que, estando todos os seus filhos
no seminário, ela e o marido tinham decidido seguir a vida religiosa. Para não
contrariar a vontade dos pais, Raimundo desistiu da carreira militar e entrou
para o noviciado dos franciscanos conventuais a 4 de Setembro de 1910, mudando o
nome de Raimundo para Maximiliano.
O pai entrou para o noviciado
franciscano, que abandonaria para abrir uma livraria religiosa. Mais tarde
juntar-se-ia a um exército de libertação que combatia o domínio russo e acabou
por ser enforcado por estes como traidor.
A mãe tomou o hábito das
beneditinas.
De 1912 a 1919 ele estudou, em
Roma, filosofia e teologia.
Em 1 de Novembro de 1914 formulou
os votos perpétuos e juntou “Maria” ao seu nome, passando a chamar-se Maximiliano
Maria Kolbe. Abrão ao responder ao chamamento de Deus viu o seu nome mudado
para Abraão, Fernando Bulhões ao abraçar um futuro ao serviço do
Evangelho passou a chamar-se
António (Santo António de
Lisboa), assim também agora
Raimundo Kolbe tornava-se
Maximiliano Maria Kolbe.
A 16 de Outubro de 1917 Maximiliano
Kolbe, com mais seis irmãos franciscanos, fundou a Milícia da Imaculada ou Cruzada
de Maria Imaculada, uma associação que se destinava a divulgar o culto de
Maria, e a difundir a Medalha Milagrosa, como forma de combater os pecadores,
os heréticos e os cismáticos, particularmente os maçónicos (mais tarde, também
os comunistas), fazendo-os regressar ao Coração Imaculado de Maria. E
armaram-se a si próprios Cavaleiros da Imaculada. Ele não sabia, porque os
meios de comunicação não eram assim tão rápidos, mas isto aconteceu precisamente
3 dias após o milagre do sol, em 13 de Outubro desse ano, em Fátima. Para esta
decisão muito terá contribuído o triste espectáculo da comemoração do segundo
centenário da maçonaria com desfiles na Cidade
Santa, ostentando cartazes onde se
lia “Satanás reinará no Vaticano e o Papa será seu escravo”.
Em 28 de Abril de 1918 Frei
Maximiliano era ordenado presbítero, em Roma.
Com 13 anos |
Por esta altura, a sua saúde
começou a fraquejar. Ele contraiu tuberculose. Porém a sua dedicação a Maria
devora-o e consome-lhe todo o seu tempo. Acusam-no muitas vezes de ser
vagaroso, pois ele esconde que age com movimentos lentos para evitar
hemorragias.
O seu grande desejo é transmitir
aos outros a veneração e o amor que sente pela Mãe de Deus. Traz sempre consigo
medalhas milagrosas que distribui abundantemente.
Depois de terminar a Primeira
Guerra Mundial, o Papa Pio XI declara Maria Imaculada, Rainha da Polónia. Em
1919 Maximiliano regressa à Polónia. Os médicos verificam que tem um pulmão
inutilizado e outro bastante danificado e concluem que a sua doença é
incurável.
Durante oito meses, entre 1920 e
1921, Kolbe permanece, por ordem dos seus superiores, num sanatório.
Pede e obtém autorização para
editar uma publicação que sirva os fins da Milícia da Imaculada, tendo como
condição conseguir obter suporte financeiro para tal. Faz-se pedinte.
Em Janeiro de 1922, inicia a
publicação do jornal Cavaleiro da Imaculada. Com o auxílio financeiro de um padre
americano compra maquinaria para poder imprimir por si próprio, o que faz
baixar muito o custo da publicação.
O jornal vai tendo uma tiragem
cada vez maior, o que obriga a mudanças de instalações. Mas os superiores não autorizam
Kolbe a comprar terrenos para ampliar a obra.
Finalmente instala-se uma
comunidade franciscana e uma oficina de tipografia em Teresin, a oeste de
Varsóvia, numa propriedade doada pelo príncipe João Drucko-Lubecki.
Maximiliano começa por erigir uma
estátua a Maria Imaculada.
Frei Maximiliano |
Entretanto, o empreendimento
editorial cresce. A tiragem do Cavaleiro da Imaculada, que é inicialmente de 5
mil, atinge em 1927, os 750 mil exemplares. Chegam a imprimir-se 10 publicações
diferentes. Utiliza-se maquinaria de ponta e alguma inventada pelos próprios
frades, que chegam a expor os seus inventos e a ganhar concursos de inventores.
Em Teresin é consagrado o convento franciscano a que é dado o nome de
Niepokalanow, isto é, Cidade da Imaculada. A este propósito diz Frei
Maximiliano:
“Este é um lugar escolhido por
Maria Imaculada e destina-se exclusivamente a difundir o seu culto. Tudo o que
existe na Cidade da Imaculada e o que vier a existir, a Ela pertence. O
espírito monástico florescerá aqui e praticaremos a obediência e seremos pobres,
no espírito de São Francisco”.
Tendo horizontes bastante largos,
Maximiliano parte para o extremo oriente com quatro irmãos, em Março de 1930.
Chegam a Nagasaki, no Japão, a 24
de Abril desse ano, sem saberem uma palavra de japonês! Obtém autorização do
bispo local para imprimir o Cavaleiro da Imaculada, a troco de leccionar
Filosofia no seminário diocesano. Em 24 de Maio inicia-se a distribuição do
Cavaleiro, em japonês, composto com o auxílio de um pastor metodista, entretanto
convertido. Muitos acharam que Maximiliano Kolbe era maluco, pelo local que
tinha escolhido para instalar a sua tipografia e a comunidade, e que baptizara
como Jardins da Imaculada, embora essa escolha tivesse sido ditada pela falta
de recursos financeiros. Todavia, quando foi lançada a bomba atómica sobre
Nagasaki, e toda a cidade foi arrasada, nos Jardins da Imaculada apenas se
registaram pequenos golpes devidos a estilhaços de vidros. É ainda hoje um
Centro Franciscano no Japão.
Frei Maximiliano mostrou ser um
missionário bastante dotado. Ele não se fechou na sua fé, mas procurou o que havia
de bom no budismo e no xintoísmo e fez amizades entre os sacerdotes budistas. A
edição japonesa do Cavaleiro da Imaculada atingiu 65 mil exemplares, porque não
se reduzia à dimensão de um jornal para a comunidade católica, mas para toda a
comunidade local.
Com dois irmãos franciscanos |
A sua saúde continuava a
deteriorar-se. Um médico japonês constatou que quatro quintos do seu pulmão
estavam danificados, declarando que só por milagre ele podia continuar a viver
e a trabalhar. Ainda assim esteve no Malabar tentando estabelecer uma terceira
comunidade e uma terceira edição do Cavaleiro, mas não foi bem sucedido.
Em 1935, na Polónia, o Cavaleiro
da Imaculada tinha uma tiragem mensal de 750 mil exemplares. O convento e a tipografia
tinham-se expandido imenso. Iniciou-se a publicação de um jornal diário
católico O Pequeno Diário, com uma tiragem de 137 mil
exemplares nos dias de semana e de 225 mil aos domingos.
Em 1936 Maximiliano é chamado à
Polónia e despede-se pela última vez do Japão, onde pensava que sofreria o
martírio.
De facto, houve aí para ele algum
martírio, uma pequena amostra: além de ser acometido por violentas dores de cabeça,
tinha muitos abcessos no corpo provocados pela sua alergia à comida local, à
qual nunca se conseguiu adaptar.
Em 8 de Dezembro de 1938, a
estação de rádio da Cidade da Imaculada iniciou as suas emissões. Aí actuava
uma orquestra formada por irmãos franciscanos. Quando rebenta a guerra, abortam
outros planos: um era o envio de dois frades para aprenderem a pilotar a fim de
fazerem a distribuição das várias publicações, outro era a produção de filmes.
O Cavaleiro da Imaculada provocou
um surto de fé na Polónia, despertou as consciências para problemas como o aborto
e preparou o povo polaco para ultrapassar a dureza e a crueldade da guerra que
se avizinhava, como os seus bispos reconheceriam depois de terminada a guerra,
numa carta enviada ao Santo Padre.
Em 1939, o convento da Cidade da
Imaculada era provavelmente o maior do mundo. Albergava 13 padres, 18 noviços, 527
irmãos, 122 rapazes no seminário menor e 82 candidatos ao presbiterado. E era
auto-suficiente, contando-se, entre os seus habitantes, cozinheiros,
sapateiros, jardineiros, alfaiates, mecânicos, agricultores, médicos, dentistas,
etc.
Bênção da Imagem de Nossa na cidade da Imaculada |
Pouco antes do rebentar da Segunda
Guerra Mundial,
Maximiliano dirigiu-se aos seus
irmãos franciscanos sobre o sofrimento, dizendo-lhes que, quando aceite com
amor, este criava aproximação a Maria. Depois mandou para casa a maior parte
dos frades, recomendando-lhes que não se juntassem ao exército da resistência.
A 13 de Setembro de 1939, a Cidade
da Imaculada foi ocupada pelo exército nazi e os seus habitantes foram deportados
para a Alemanha. Entre eles, Maximiliano Kolbe. A 8 de Dezembro, na solenidade
da Imaculada Conceição, os frades foram libertos e voltaram a casa.
Então Maximiliano e os seus irmãos
passaram a desenvolver uma nova actividade. Deram abrigo a cerca de 3 mil refugiados
polacos, dos quais 2 mil eram judeus. Ele dizia que tinham que fazer tudo o que
estivesse ao seu alcance para ajudar aqueles pobres deserdados da sorte.
No início de 1941, os nazis
permitiram que fosse publicado um número do Cavaleiro da Imaculada, esperando
obter provas para prenderem Maximiliano Maria Kolbe. O padre não frustrou as
expectativas dos nazis e desafiando-os, provoca a sua própria prisão ao
escrever:
“Ninguém pode mudar a Verdade. O
que podemos e devemos é procurar a Verdade e servi-la quando a encontramos. O
verdadeiro conflito é o conflito interior. Entre os exércitos de ocupação e as
hecatombes dos campos de extermínio, há dois inimigos irreconciliáveis no âmago
de cada alma: bem e mal, pecado e amor. E de que servem as vitórias nos campos
de batalha, se nós próprios somos derrotados no mais íntimo do nosso ser?”
Em 17 de Fevereiro de 1941, foi
preso e enviado para a prisão
Pawiak, em Varsóvia, onde foi
isolado para tratamento médico especializado. Em Março desse ano, um guarda das
SS, as forças policiais nazis de má memória, vendo este homem com o seu hábito
de frade e tendo a cintura cingida com um rosário, perguntou-lhe se acreditava
em Cristo.
Perante a resposta tranquila “Sim,
acredito”, o guarda agrediu-o. Repetidas vezes o guarda repetiu a mesma
pergunta e, obtendo a mesma resposta, continuou a agressão sem misericórdia.
Pouco depois o hábito franciscano foi despido e substituído pelo uniforme de
prisioneiro.
A 28 de Maio, Maximiliano foi
transferido com outros prisioneiros para Auschwitz. Foi-lhe dado um uniforme de
condenado e marcado na pele com o número 16670.
O trabalho que lhe foi destinado
foi o transporte de blocos de pedra para a construção do crematório. Em 31 de
Maio, foi transferido com outros padres para a Secção Babice, dirigida pelo
criminoso ex-condenado Krott, “O carniceiro”, com uma recomendação especial do
comandante para que Krott curasse a preguiça daqueles homens. Os nazis utilizavam
criminosos de delito comum para desempenharem algumas tarefas de vigilância e
repressão nos campos de concentração. Maximiliano passou então, com os outros padres,
a fazer o trabalho de lenhador, cortando e carregando grandes troncos de
árvores. Apesar do estado do seu único pulmão, Kolbe era obrigado a correr todo
o dia, ao som dos apitos dos guardas. Krott odiava Kolbe porque via a calma e
tranquilidade com que aceitava o seu sofrimento e, por isso, dava-lhe trabalhos
ainda mais pesados que aos seus companheiros. Quando estes pretendiam ajudá-lo,
Kolbe rejeitava, com medo que eles depois sofressem represálias e dizia-lhes
que Santa Maria o ajudaria e lhe daria as forças necessárias. Todo o tempo, ele
ouvia confissões e celebrava a Eucaristia dentro das condições disponíveis naquele
lugar, usando pão e vinho que conseguiam esconder disfarçadamente. Escreveu à
mãe dizendo que não se preocupasse consigo ou com a sua saúde pois, o bom Deus que
está em todo o lugar, nos sustenta a todos com o seu grande amor.
Um prisioneiro recorda que ele e
outros rastejavam muitas vezes, durante a noite, para junto da cama do Padre
Kolbe, para se confessarem e pedir apoio. O padre Kolbe exortava-os a perdoarem
aos seus carrascos e a vencerem o mal com o bem.
Certo dia, Krott escolheu algumas
pranchas especialmente pesadas e carregou-as pessoalmente às costas de Frei
Kolbe, mandando-o correr. Quando ele tombou – não tombara também Jesus com a
sua Cruz? – Krott pontapeou-o na barriga e na cara e mandou dar-lhe 50 chicotadas.
Quando o pobre padre ficou inconsciente, Krott pensou que ele tinha morrido e
mandou abandoná-lo num lamaçal. Os companheiros, porém, foram depois e
transportaram Maximiliano Kolbe para o hospital do campo.
Apesar do seu estado de fraqueza e
sofrimento, mesmo no hospital Kolbe celebrava o sacramento da confissão e
animava os outros prisioneiros, falando-lhes do amor de Deus.
Nunca pensando em si, enquanto
guardas e prisioneiros se odiavam mutuamente, o padre Maximiliano continuava a falar
de amor e de perdão!
A comida servida aos prisioneiros era
pouca e estes acotovelavam-se e empurravam-se para serem servidos primeiro.
Kolbe deixava-se sempre para o fim
e acabava muitas vezes por não comer. Não se importava. Dizia que o seu
objectivo não era o da maioria dos outros prisioneiros, sobreviverem e voltarem
aos seus lares, o seu era, se necessário, dar a sua vida pelo bem dos outros
homens.
De facto, os homens também corriam
riscos quando se juntavam para ouvir as suas palavras encorajadoras, em
segredo.
Alguns testemunhos sugerem que a
sua presença só por si inspirava um ambiente de paz e santidade.
Havia uma regra no campo: quando
um prisioneiro fugia, dez eram mortos em represália.
No dia 31 de Julho de 1941, de
manhã, a sirene do campo anunciou que tinha havido uma fuga. Se até ao fim do
dia não aparecessem os fugitivos, alguém sofreria represálias.
Na habitual chamada do final do
dia, descobriu-se a falta de três prisioneiros. Um deles do bloco em que vivia
o padre Kolbe. O comandante Fritch anunciou que, em represália pela fuga de
cada um daqueles prisioneiros, seriam escolhi dos dez outros, dos blocos em que
viviam os fugitivos, e colocados no Bunker. Os Bunker eram as células
subterrâneas da fome. Depois de os algozes terem escolhido o grupo dos
amaldiçoados, um deles, Francisco Gajowniczek, preso por colaborar com a
resistência polaca, começa a chorar, em altos brados:
“Ai! Ai, a minha mulher e os meus
pobres filhinhos!
Nunca mais os vou ver!”.
Um dos prisioneiros sai, então,
das fileiras. É Frei Kolbe. Dirige-se ao comandante, que pergunta, arrogante:
“Que quer este porco polaco?”.
Kolbe diz que é um padre polaco e
pede para tomar o lugar de um dos condenados, apontando para Gajowniczek.
A expressão do comandante espelha
a surpresa que ao mesmo tempo invade o seu coração e ataca a sua inteligência.
Testemunhas dizem que ficou sem
fala. Mas acede, com um gesto da mão, ao pedido do padre e dá-se a troca dos
homens no grupo dos condenados. A grande ironia desta história é que o
prisioneiro dado como fugitivo foi mais tarde encontrado afogado numa latrina
do campo.
Quer dizer, afinal não tinha
havido nenhuma fuga que justificasse as medidas tomadas pelo comandante do
campo.
Estes são conduzidos ao Bunker.
Estas celas, destinadas a prisioneiros condenados à morte, eram muito baixas e quase
não circulava nelas o ar. Ao entrarem naquele lugar, os prisioneiros ficavam
completamente nus e não lhes voltavam a ser fornecidos alimentos nem água, até
morrerem de fome ou sede, lentamente. Este método satisfazia dois objectivos:
em primeiro lugar aplacava a fúria dos nazis, humilhados no seu orgulho, cada
vez que um prisioneiro era suficientemente sagaz para escapar à vigilância; por
outro lado, os nazis pensavam, desta forma, evitar as fugas – por um lado, quem
fugia sabia que condenava alguém, por outro lado, quem sabia de uma fuga, se a
evitasse, denunciando os camaradas, evitava ser escolhido nas sortes para
morrer na tortura do Bunker. O porteiro e intérprete Bruno Borgowiec foi
testemunha ocular do que se passou nas duas semanas seguintes. Maximiliano
Kolbe foi a força e o ânimo dos seus companheiros nesta derradeira caminhada.
Em todas as celas se rezava
diariamente ao longo do dia. Os prisioneiros eram alimentados pelas orações de
laudes, pelo rosário, pelos cânticos que entoavam, pelas invocações à protecção
de Maria. Borgowiec diz que as celas e os corredores do Bunker mais pareciam as
paredes de uma igreja acolhendo a ressonância das orações fervorosas e dos cânticos.
O padre Kolbe presidia e os restantes respondiam em uníssono. E de tal modo
costumavam estar embrenhados na oração que nem davam pela chegada dos homens
das SS e só se calavam quando estes desatavam aos berros.
Então, alguns pediam um pouco de
água e de pão, embora soubessem que não seriam atendidos. Quando algum com aspecto
mais forte se aproximava do guarda SS, o cobarde antecipava-se, agredindo e
matando, a pontapé ou a tiro, o prisioneiro esfomeado. Maximiliano não pedia
nada, nem se queixava, apenas animava os pobres companheiros.
À medida que os homens
enfraqueciam, o coro de orações e cânticos transformava-se em murmúrios.
Murmúrios que certamente entoavam bem alto à vista do Filho de Maria.
Quando durante as visitas dos SS,
a maioria dos prisioneiros jazia já no chão, Kolbe, de joelhos, ou de pé,
continuava a encarar os guardas com ar alegre. Ao longo de duas semanas, todos
foram morrendo, até restar apenas Maximiliano Kolbe e outros três, mas estes já
inconscientes.
Aquelas celas eram agora
necessárias para mortificar e assassinar pela fome novos prisioneiros e, para
os responsáveis do campo, aqueles homens tornavam-se um incómodo ao demorar
tanto tempo a morrer. Aquela situação já se arrastava por tempo demasiado!
Assim, no dia 14 de Agosto, veio o chefe da enfermaria, um criminoso comum alemão
chamado Bock, para acabar com a situação com uma injecção letal de ácido
fénico. Depois dos outros três, com uma oração nos lábios e a humildade
franciscana, Maximiliano estendeu o braço ao seu carrasco. O porteiro viu-o,
depois de assassinado, sentado no chão, encostado à parede, os olhos abertos, a
cabeça pendente, com uma expressão calma e radiante.
O seu corpo foi cremado no dia
seguinte, 15 de Agosto, solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Ele dissera em
tempos:
“Gostaria de me colocar
completamente ao serviço da Imaculada, e desaparecer sem deixar rasto, e que o
vento levasse as minhas cinzas para os mais afastados locais do mundo”.
A cela em que Maximiliano Kolbe
morreu é hoje um Oratório
Maximiliano Maria Kolbe foi um
herói, um santo, um mártir que viveu aquilo que pregou, o amor total a Deus e aos
homens.
Foi beatificado por Paulo VI em
1971, como Confessor.
Francisco Gajowniczsk esteve
presente na cerimónia de beatificação do padre Kolbe. Morreu em 13 de Março de
1995, em Brzeg, na Polónia. Após a sua libertação de Auschwitz passou os
cinquenta anos que ainda lhe restaram de vida, prestando homenagem ao homem que
se ofereceu para morrer em seu lugar.
Kolbe foi canonizado a 10 de
Outubro de 1982 como Mártir da Caridade. Durante a homilia, Sua Santidade João
Paulo II salientou:
O Caminho já foi indicado por Jesus: primeiro a pregação, depois a Via Sacra e a morte. No final a Ressurreição para a vida eterna. |
«Maximiliano não morreu, mas “deu
a vida... pelo irmão”.
Nesta morte, terrível do ponto de
vista humano, está definitivamente
toda a grandeza do acto humano e
da escolha humana: ele ofereceu-se à morte, por amor. Na sua morte humana
estava o testemunho transparente dado a Cristo: o testemunho dado em Cristo da
dignidade humana, da santidade da sua vida e da força salvífica da morte, na
qual se manifesta a força do amor. É precisamente por isto que a morte de
Maximiliano Kolbe se torna um sinal de vitória. É a vitória sobre todo o
sistema de desprezo e de ódio contra o homem e contra o que é divino no homem,
vitória semelhante à do Senhor Jesus Cristo no Calvário.
“Vós sereis meus amigos, se
fizerdes o que vos mando” (João 15, 14).
A Igreja aceita este sinal de
vitória, obtida através da força da Redenção de Cristo, com veneração e com
gratidão. Procura pôr em relevo a eloquência com toda a humildade e amor.»
Maximiliano Maria Kolbe é patrono
do combate à toxicodependência, dos toxicodependentes, das famílias, das
pessoas detidas, dos jornalistas, dos prisioneiros, dos presos políticos e dos
movimentos pró-vida.
Orlando de Carvalho, in Os Santos de João Paulo II, volume I. Adquira o livro. Encomende para lando.b.r@gmail.com
2023/08/14 - livro esgotado
Sem comentários:
Enviar um comentário