sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

natal natal natal



Quem tem alguma noção de Teologia, não importa que seja teólogo, mas que tenha recebido alguma instrução em Doutrina ou que tenha percurso catequético identifica com facilidade a primazia da Páscoa sobre o Natal.
As crianças e os fiéis menos instruídos, quem se rege por uma teologia intuitiva, infantil ou popular, que muitos teólogos, ao contrário do Papa Francisco, nem aceitarão como verdadeiro saber teológico, fazem uma opção clara pelo Natal em detrimento da Páscoa.
Os meandros da via teológica permitem alternativas à lógica.
O povo corre mais facilmente numa procissão em louvor de Nossa Senhora, não importa quão apelativa e maternal seja a invocação em causa, que numa procissão eucarística, embora a primeira não tenha outra finalidade que conduzir à segunda.
É na Páscoa que reside o Mistério da Salvação para todos os homens e mulheres, provavelmente também para todas as criaturas. Mas sem Natal… não existiria o Salvador.
Para entender o Natal basta sentir quão imenso é o amor infinito de Deus. Mais difícil é a compreensão da Páscoa que abrange os clássicos mistérios da morte e da vida, do pecado e do infinito.
Se excluirmos da Fé o Natal, corremos o risco de reduzir Jesus a homem igual a qualquer um de nós, de O fazermos perder as características que afirmamos no Credo “Deus de Deus”, “filiação divina”. Uma visão sincrética, à maneira de Marcos, exporia a pessoa de Jesus a dificilmente ser mais que um profeta, especial, mas apenas profeta.
Aquela mão estendida ao encontro do homem, pintada no tecto da Capela Sistina, pode apresentar uma perspectiva da kenosis do Senhor que prescinde, não sabemos como nem até que ponto, dos seus reais atributos, para se fazer igual aos moldados a partir do barro e com destino marcado para terminarem como barro disseminado entre húmus. Chegados à kenosis, a opção fundamental estava feita: ou Deus voltava atrás, retrocedia - a Palavra desdizia-Se - ou tinha que morrer. Ao assumir plenamente uma natureza biológica, Jesus tinha que nascer e morrer. A grande Paixão está tão presente na kenosis, na redução à dimensão da mórula, quanto na podridão do corpo com três dias de cadáver, como o de Lázaro.
A mais bela época do ano também está caracterizada pela sofrimento de um jovem casal pela pressão social, pela penosa submissão aos decisores políticos, pela donzela que se sujeita voluntariamente ao risco da lapidação, do varão que perante os factos observáveis e que o dão como atraiçoado, consegue erguer a cabeça e acreditar no improvável, na peregrinação – as peregrinações têm sempre um lado doloroso – dos magos, no assassínio de tantas crianças, bebés, inocentes, mortos ao fio da espada diante das mães e dos pais, a dor destes progenitores.
Brindamos com alegria o Natal e justamente devemos continuar a fazê-lo, pois estamos a glorificar Deus e a sua imensa bondade. Não obstante, por cada vela de Natal que acendermos tenhamos presente a chaga correspondente no dia fatídico da tortura e do assassínio do único Justo.
Sem alegria vemos o modo como alguns irmãos na Fé brindam a festa de aniversário de Jesus. Não se trata de saudáveis gestos de inculturação, nem de manifestações de sensibilidades comerciais, mas de subjugação do que temos de primordial e vital a interesses que se lhe opõem: o dinheiro tentador e enganador, o equívoco dos que não têm outro objectivo para além de riscar da História o Santíssimo Nome de Jesus.
A Revolução Francesa tratou de decapitar tudo o que fosse rei ou pelo menos parecesse. As estátuas dos reis do Antigo Testamento em torno da Catedral de Notre-Dâme, em Paris, foram decapitadas porque os ignorantes revolucionários, não sabendo a quem pertenciam aquelas cabeças coroadas, acharam que o melhor era cortá-las, pois certamente seriam de antigos monarcas reinantes em França e, em consequência opressores do povo francês. A maçonaria tentou eliminar o Natal, passando a chamar-lhe Festa da Família. Este nome acabou por permanecer uma vez que é evocativo da Sagrada Família de Nazaré.
Todos sabemos os constantes ataques que contra Deus são levados a cabo por seitas políticas e religiosas que agrupam pessoas com o Complexo de Babel.
O Natal não pode acabar porque se trata do aniversário de alguém que nasceu. Isso é histórico e não pode ser apagado. Mas pode ser maltratado e quanto mais o for, mais sofremos. Porque quando a raiz é magoada, todas as folhas da árvore e demais órgãos são afectados e sofrem.
O ramo que não fica unido à videira não pode dar fruto. (Jo 15,4)
Uns atacam o Natal, outros a Páscoa, estes a Cruz, aqueles maldizem a Eucaristia, ainda outros querem impedir o culto, também há alguns que se especializam nos ataques à família, também há os que tentam educar as crianças de tenra idade como se de filhos do Demónio se tratasse.
Estes ataques têm a mesma finalidade da tentação da serpente: levar o sofrimento aos mais fracos e desatentos que escorreguem nas ciladas que lhes são armadas.
Passemos em revista algumas das investidas mais populares dos nossos inimigos.
Escuto uma voz numa Emissora Católica que no final do programa se despede:
- Feliz Natal. Ho! Ho! Ho!
As iluminações de rua exprimem bem cor e luz, alegria, despesa imensa, à sombra da qual passam, ou dormem, tantos desgraçados sem dinheiro para comer e vestir no Dia de Natal.
É muito saudável que a Família sinta um especial apelo no tempo e no dia de Natal, mas apenas desde que isso não ofusque a omnipresença de Deus, do Deus Menino e da sua mensagem de Amor incondicional.
O Pai Natal… Mas que invenção! Malévola mesmo. Como pode um velho gordo sem qualquer sinal de ternura comover mais que um Menino Jesus? Como é possível uma criança ser tentada desta forma? Como pode esta farsa dominar o mundo que substitui os hinos de Glória angélicos por poemas mundanos que propositadamente omitem o que celebram: a festa aniversária do filho de Maria, a jovem escolhida para gerar o filho de Deus. Fingem que a festa é outra, que é dos homens e não diz respeito a Deus.
A árvore simboliza a vida e tem cabimento quando se exalta a vida verdadeira, o nascimento de uma criança, a chegada do Deus vivo ao seio da cidade dos homens. Mas a árvore de Natal não é para ser adorada, é um símbolo, uma decoração, que não despensa o essencial. Árvore, apenas depois e em função do Presépio. Quem não acredita no Presépio, como pode celebrar o Natal, que é a festa do Presépio?
Da festa da família rapidamente se passou a outras festas. Festas de empresa com brinquedos, pais natais, bandoletes com cornos de rena que as pessoas colocam nas cabeças, preferindo mascarar-se desses bichos que ajoelhar para adorar ou sentar e ler narrativas bíblicas da Encarnação.
Quase todas as formas de louvar a Deus podem ser boas e legítimas desde que não confluam para a tentativa de eliminação de Deus, o que não é possível, mas pode provocar grande sofrimento no mundo. Não a Deus, mas às pessoas e à Natureza.
Natal?
- Escuta da Palavra, do Sagrado Evangelho
- Um presépio montado com muita ternura
- Louvor eucarístico
- Amar a cada pessoa, mais fácil ainda, mostrar simpatia com cada pessoa
- Partilhar as coisas boas que se tiverem dentro do coração
Como Jesus, estabelecer o Natal como início de uma viagem redentora em direcção à Páscoa e a uma eternidade carregada de espírito natalício.

Orlando de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário