quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Fátima no Vaticano - 12 e 13 Outubro 2013 - 5ª parte

No dia 13 de Maio de 1981, no Vaticano, o Papa João Paulo II preparava-se para a audiência geral na Praça de São Pedro, às 17 horas. À hora marcada o Papa entrou na ampla Praça de São Pedro, passando sob o Arco dos Sinos e o jipe que o transportava circulou entre a multidão, através dos estreitos corredores, enquanto o Papa saudava todos. Às 17 horas e 13 minutos, o turco Mehmet Ali Agca, numa das primeiras filas atrás das barreiras, no momento em que o jipe passava junto a si, sacou de uma pistola Browning de 9 milímetros e disparou duas vezes sobre o Papa, que caiu para trás.



No meio da confusão que se gerou, a maior parte das pessoas sem se ter apercebido do sucedido, o jipe arrancava em grande velocidade transportando o Papa ferido. Na Clínica Gemelli aguardavam a chegada do Papa, que tinha sido acometido de algo repentino, mas não sabiam o que se passava. O Papa estivera consciente durante os poucos minutos da viagem, mas à chegada à clínica perdera a consciência e os sinais vitais ficavam cada vez mais fracos. Um dos cirurgiões da Clínica, Francisco Crucitti, ouvira a notícia na rádio e conduzira alguns quilómetros na contramão em direcção à Clínica. A Clínica Gemelli tinha sempre instalações prontas para receber o Papa, pois João Paulo II tinha declarado no início do pontificado que desejava ser tratado num hospital comum e não como anteriormente acontecera: fora instalada uma sala de operações propositadamente nos aposentos do Papa para Paulo VI. Uma bala perfurara o cólon e o intestino delgado em cinco locais diferentes. Por dois ou três centímetros a bala não atingira a artéria principal do abdómen ou a coluna vertebral, provocando-lhe morte instantânea ou paralisia. 

João Paulo II teve cedo ideias claras sobre esta questão: “uma mão dispara, a outra guia a bala”. Ali Agca que disparara a bala fora imediatamente detido. No dia 17 de Maio os peregrinos na Praça de São Pedro já ouviram uma mensagem gravada do Papa. A recuperação corria bastante bem, mas a transfusão de sangue, durante a operação, e dadas as circunstâncias, não foi devidamente testada, sendo administrado sangue contaminado por um citomegalovírus. A 27 de Maio o Papa começou a ficar com febre, falta de ar, dores, mau aspecto, com o rosto acinzentado, e a situação foi-se agravando até o Papa ser de novo internado em 20 de Junho, sem se encontrar explicação para o seu estado. Só então a situação do vírus foi detectada, começando João Paulo II a sentir melhoras a partir de 24 de Junho.



Em 20 de Julho começava o julgamento de Ali Agca, condenado a prisão perpétua. Estabeleceu-se que Ali Agca não actuara sozinho, mas a mando de alguém. Embora sem provas concludentes, parecem ter estado implicados no seu acto as autoridades máximas soviéticas e os serviços secretos búlgaros. Posteriormente o Papa visitará Ali Agca, concedendo-lhe o seu perdão.

Em 1982 a Capelinha das Aparições foi coberta com um grande alpendre, inaugurado por Sua Santidade João Paulo II, a 12 de Maio.



O Papa veio a Fátima propositadamente no primeiro aniversário do atentado da Praça de São Pedro, para agradecer a Nossa Senhora a sua mão protectora que guiou a bala, salvando-lhe vida. 
A estadia de Sua Santidade em Portugal foi toda ela pautada pelo lema de João Paulo II: “Totus tuus, Maria”. Todo teu, Maria, gritou o Papa durante os seus discursos. Totus tuus, Maria, Todo teu, Maria, gritaram com o Papa milhões de portugueses. A devoção mariana do Papa ajudava-o a compreender e a revelar a presença milagrosa da Mãe de Deus um ano atrás na Praça de São Pedro, determinando o curso dos acontecimentos quando um pobre homem, cedendo ao maligno, disparara sobre si. O Papa aterrou no Aeroporto de Lisboa, no dia 12 de Maio de 1982 e as suas primeiras palavras em Portugal, ainda no aeroporto, depois de ter beijado o solo português, foram: “Agradeço a Deus e agradeço a todos a grande alegria com que piso hoje o solo de Portugal. Agradeço a Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, pela deferente presença aqui, em nome pessoal e a representar o hospitaleiro e honrado Povo desta nobre «Terra de Santa Maria», ao qual, por Vossa Excelência, dirijo esta minha primeira mensagem”. O Santo Padre dirigiu-se então para a Sé Catedral de Lisboa para um encontro com os leigos. Começou por explicar a razão da sua visita:

“Venho até vós motivado pelo amor de Cristo, em visita que é, por sua natureza, pastoral; e venho sobretudo em peregrinação a Fátima, para aí celebrar, em adoração agradecida, «as misericórdias do Senhor», com Maria, a serva do Senhor. Cada paragem e encontro – gratíssimos, sem dúvida, – têm também carácter de etapa neste meu peregrinar em gratidão a Nossa Senhora e, com Ela e por Ela, em gratidão ao Omnipotente que «me fez grandes coisas»”.

Do outro lado da rua, o Sumo Pontífice entrou na Igreja, construída onde fora a casa da família Bulhões, onde o santo mais popular em todo o mundo nasceu, e que hoje é dedicada a Santo António de Lisboa.
À noite em Fátima, o Papa desabafou o que lhe ia no coração, perante a multidão de fiéis, peregrinos como ele, aos pés da Mãe de Deus:
“Gratidão, comunhão, vida! Nestas três palavras está a explicação da minha presença aqui, neste dia; e se me permitis, também da vossa presença. Aqui atinjo o ponto culminante da minha viagem a Portugal. Quero
fazer-vos uma confidência: Desde há muito que eu tencionava vir a Fátima, conforme já tive ocasião de dizer à minha chegada a Lisboa; mas, desde que se deu o conhecido atentado na Praça de São Pedro, há um ano atrás, ao tomar consciência, o meu pensamento voltou-se imediatamente para este Santuário, para depor no coração da Mãe celeste o meu agradecimento, por me ter salvo do perigo. Vi em tudo o que foi sucedendo – não me canso de o repetir – uma especial protecção materna de Nossa Senhora. E por coincidência – e não há meras coincidências nos desígnios da providência divina – vi também um apelo e, quiçá, uma chamada de atenção para a mensagem que daqui partiu há sessenta e cinco anos, por intermédio de três crianças, filhas de gente humilde do campo, os pastorinhos de Fátima, como são conhecidos universalmente”.




Em Fátima, o Papa pode encontrar-se com Lúcia, a Irmã Lúcia. E os portugueses, bem como fiéis de todo o mundo puderam ver pela televisão aquela que transmitiu ao mundo a mensagem da senhora do Rosário de Fátima. Na missa do dia 13, o Papa retomava o mesmo tema, na sua homilia: “Venho hoje aqui, porque exactamente neste mesmo dia do mês, no ano passado, se dava, na Praça de São Pedro, em Roma, o atentado à vida do Papa, que misteriosamente coincidia com o aniversário da primeira aparição em Fátima, a qual se verificou a 13 de Maio de 1917.
Estas datas encontraram-se entre si de tal maneira, que me pareceu reconhecer nisso um chamamento especial para vir aqui. E eis que hoje aqui estou. Vim para agradecer à Divina Providência, neste lugar, que a Mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular. (...)
A Igreja ensinou sempre, e continua a proclamar, que a revelação de Deus foi levada à consumação em Jesus Cristo, que é a plenitude da mesma, e que “não se há-de esperar nenhuma outra revelação pública, antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo”.
A mesma Igreja aprecia e julga as revelações privadas segundo o critério da sua conformidade com aquela única Revelação pública.
Assim, se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima, é sobretudo porque esta mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho.
“Convertei-vos (fazei penitência), e acreditai na Boa Nova: são estas as primeiras palavras do Messias dirigidas à humanidade. E a mensagem de Fátima, no seu núcleo fundamental, é o chamamento à conversão e à penitência, como no Evangelho. Este chamamento foi feito nos inícios do século vinte e, portanto, foi dirigido, de um modo particular a este mesmo século. A Senhora da mensagem parecia ler, com uma perspicácia especial, os “sinais dos tempos”, os sinais do nosso tempo. (...)
Quando Jesus disse do alto da Cruz: “Senhora, eis o Teu filho”, abriu, de maneira nova, o Coração da Sua
Mãe, o coração Imaculado, e revelou-Lhe a nova dimensão do amor e o novo alcance do amor a que Ela fora chamada, no Espírito Santo, em virtude do sacrifício da Cruz. À luz do amor materno, nós compreendemos toda a mensagem de Nossa Senhora de Fátima. (...)
Cristo disse do alto da Cruz: “Senhora, eis o Teu filho”.
E, com tais palavras, abriu, de um modo novo, o Coração da Sua Mãe. Pouco depois, a lança do soldado romano trespassou o lado do Crucificado. Aquele coração trespassado tornou-se o sinal da redenção, realizada mediante a morte do Cordeiro de Deus.
O Coração Imaculado de Maria aberto pelas palavras – “Senhora, eis o Teu Filho” – encontra-se espiritualmente com o Coração do Filho trespassado pela lança do soldado. O Coração de Maria foi aberto pelo mesmo amor para com o homem e para com o mundo com que Cristo amou o homem e o mundo, oferecendo-Se a Si mesmo por eles, sobre a Cruz, até àquele golpe da lança do soldado.
Consagrar o mundo ao Coração Imaculado de Maria significa aproximar-nos, mediante a intercessão da Mãe, da própria Fonte da Vida, nascida no Gólgota. Este Manancial escorre ininterruptamente, dele brotando a redenção e a graça. Nele se realiza continuamente a reparação pelos pecados do mundo. Tal Manancial é, sem cessar, Fonte de vida nova e de santidade.”

O Papa fez a consagração do mundo, pedida por Nossa Senhora aos pastorinhos, “unido com todos os Pastores da Igreja por aquele vínculo particular” pelo qual constituem um corpo os bispos com o Papa, como os Apóstolos com Pedro.
Consagrou à Mãe de Deus, de joelhos, a Igreja, os Homens e os Povos, aludindo veladamente à Rússia. Mas Nossa Senhora ainda não ficara satisfeita com esta Consagração.


@Lusodidacta/Orlando de Carvalho
Carvalho, Orlando, Os Santos de João Paulo II, Lusodidacta, 2005. Lisboa


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