sexta-feira, 27 de março de 2020

Oração pela Humanidade contra a pandemia

O Papa Francisco fez hoje uma oração pela humanidade e pediu a protecção de Deus contra a pandemia do Coronavírus.
Na Praça de São Pedro, vazia para não contraria as regras relativas ao distanciamento o Papa usou a leitura de São Mateus 14,22-36 para evidenciar a "falta de fé" dos discípulos.
Muitas vezes corrigimos uma criança, não pela resposta que dá, mas pelo ar em que o faz, pelo seu tom de voz. Da mesma maneira nos zangamos ou mostramos o nosso desagrado, pela tom de conversa.
Pois, o Papa diz que os discípulos tinham fé, mas eles mesmos a puseram em causa pela maneira como questionaram Jesus, perguntando-lhe se podiam mesmo confiar nEle e não se iam afogar.
O Papa Francisco tenta suscitar em nós a Fé que salva. Não uma fé negociada, dependente de as coisas correrem como nós desejamos, mas uma fé na omnipresença de Deus e na sua fidelidade e eterna misericórdia.

No final, foi exposto o Santíssimo Sacramento e o Papa pediu a bênção de Deus Urbi et Orbi, nos termos em que é usual nas grandes festas, Natal e Páscoa.

Orlando de Carvalho

quarta-feira, 25 de março de 2020

Consagração da Igreja em Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria


Consagração da Igreja em Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria

Santuário de Fátima, Basílica de Nossa Senhora do Rosário, 25de Março de 2020

Coração de Jesus Cristo, médico das almas,
Filho amado e rosto da misericórdia do Pai,
a Igreja peregrina sobre a terra,
em Portugal e Espanha, nações que tuas são,
olha para o teu lado aberto, sua fonte de salvação, e suplica:
 nesta singular hora de sofrimento,
assiste a tua Igreja,
inspira os governantes das nações,
ouve os pobres e os aflitos,
exalta os humildes e os oprimidos,
cura os doentes e os pecadores,
levanta os abatidos e os desanimados,
liberta os cativos e os prisioneiros
e livra-nos da pandemia que nos atinge.

Coração de Jesus Cristo, médico das almas,
elevado no alto da Cruz e tocado pelos dedos do discípulo no íntimo do cenáculo,
a Igreja peregrina sobre a terra,
em Portugal e Espanha, nações que tuas são,
contempla-Te como imagem do abraço do Pai à humanidade,
esse abraço que, no Espírito do Amor, queremos dar uns aos outros
segundo o teu mandato no lava-pés, e suplica:
 nesta singular hora de sofrimento,
ampara as crianças, os anciãos e os mais vulneráveis,
conforta os médicos, os enfermeiros, os profissionais de saúde e os voluntários cuidadores,
fortalece as famílias e reforça-nos na cidadania e na solidariedade,
sê a luz dos moribundos,
acolhe no teu reino os defuntos,
afasta de nós todo o mal
e livra-nos da pandemia que nos atinge.

Coração de Jesus Cristo, médico das almas e Filho da Virgem Santa Maria,
pelo Coração de tua Mãe,
a quem se entrega a Igreja peregrina sobre a terra,
em Portugal e Espanha, nações que, desde há séculos, suas são,
e em tantos outros países,
aceita a consagração da tua Igreja.
Ao consagrar-se ao teu Sagrado Coração,
entrega-se a Igreja à guarda do Coração Imaculado de Maria,
configurado pela luz da tua Páscoa e aqui revelado a três crianças
como refúgio e caminho que ao teu coração conduz.
Seja a Virgem Santa Maria, a Senhora do Rosário de Fátima,
a Saúde dos Enfermos e o Refúgio dos Teus discípulos gerados junto à Cruz do teu amor.

Seja o Imaculado Coração de Maria, a quem nos entregamos, connosco a dizer:
nesta singular hora de sofrimento,
acolhe os que perecem,
dá alento aos que a Ti se consagram
e renova o universo e a humanidade.
Ámen.

Soubemos de um idoso de 75 anos que recusou um ventilador, sabendo que morreria, para o ceder a uma pessoa mais jovem. E faleceu.
Também soubemos do padre Giuseppe Berardelli, de 72 anos, no hospital Lovere, que ia ser ligado a um ventilador oferecido pela sua paróquia, Casnigo.
O sacerdote recusou e dispensou-o para uma pessoa mais nova.
O padre Giuseppe Berardelli já faleceu.

Por outro lado, há muitos voluntários que estão a trabalhar em favor de doentes infectados.
Também conhecemos alguns ministros extraordinários da comunhão, que antes de este ministério ter sido suspenso pelos Bispos, se tinham oferecido para ir distribuir a comunhão a doentes do covid19.

Oremos pelos doentes infectados com o covid19, os que sofrem e os que morrem, os que vivem a angústia, as famílias em sofrimento e as famílias enlutadas, os médicos e todo o tipo de cuidadores que se expõem.
 

Consagração à Senhora de Fátima, pelos atingidos pelo coronavírus

O Cardeal António Marto, juntamente com os Bispos de Portugal e Espanha, fez a consagração dos povos destes dois países ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, neste 25 de Março de 2020, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, pedindo-Lhes a protecção contra a epidemia do Coronavírus.
Aos Bispos de Portugal e Espanha associaram-se os das Conferências Episcopais de Albânia, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Eslováquia, Guatemala, Hungria, Índia, México, Moldávia, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Polónia, Quénia, República Dominicana, Roménia, Tanzânia, Timor-Leste e Zimbabué e outros grupos de fiéis de todo o mundo.


Não temos conhecimentos que se tenham associado os Bispos de países tão gravemente atingidos como Itália, França, Alemanha, Inglaterra, Rússia, Brasil ou Estados Unidos da América.

Também notámos com tristeza a ausência neste acto do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.

A Virgem de Fátima interceda por todos os que se associaram a esta consagração, bem como todos os povos e gentes do mundo, como intercedeu pelos servos a quem tinha faltado o vinho nas Bodas de Caná, junto de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.

domingo, 22 de março de 2020

Quaresma dos miseráveis e liturgia



Lemos e ouvimos muitas vezes que não há maior sofrimento que o de Jesus durante a Paixão.

Este sentimento, afirmado assim ou de outra forma, merece-nos alguma reflexão. A primeira questão é saber como se mede o sofrimento humano? Todos sabemos que é impossível saber, entre duas pessoas, qual delas sente uma dor maior ou menor. Ainda que ambas as pessoas estejam sujeitas à mesma pressão, entram em jogo muitos factores subjectivos, sejam físicos ou psicológicos. E como garantir que a pressão nas duas pessoas é igual?

Jesus encarnou para viver à maneira humana, isto é, desde logo, de modo precário, imprevisível e pessoal, pois todos nós vivemos as mesmas coisas de modo pessoal, cada um sente a mesma situação de modo diferente.

A diferença essencial entre o sofrimento de Jesus e o de qualquer outro de nós é o sentido desse sofrimento. O sofrimento de Jesus salvou a humanidade da morte e das trevas e abriu-lhe horizontes de eternidade. O nosso sofrimento, o de cada um de nós, pode ser co-redentor ao de Cristo, na medida em que o consigamos unir e aliar ao de Jesus. Não na intensidade da dor, mas no seu sentido.

Pensemos na pessoa em grande sofrimento praguejando contra o destino e contra Deus ou inventando culpados do seu infortúnio para descarregar a sua doer amaldiçoando-os. Há outra pessoa também sob um sofrimento igualmente grande, embora menor que o da pessoa anterior, que consegue manter alguma serenidade e confiança em Deus. Este sofrimento, podendo ser menor que o anterior, é mais facilmente identificável com o de Jesus e pode mesmo participar com o de Ele na Redenção.

A Igreja comemora as dores que Jesus sentiu no seu corpo, de modo particular durante a Quaresma. É um tempo de sofrimento, em que os fiéis se humilham e se identificam com o barro e as Cinzas que caem nas suas cabeças no primeiro dia da Quaresma. A quarta-feira de Cinzas está para a Igreja como a Encarnação para Jesus. Os fiéis humilham-se e reconhecem-se pecadores e sem mérito. Jesus, ao contrário, aceitou equiparar-se a nós pecadores, embora Ele nunca tenha tido demérito algum, nunca pecou – se tivesse pecado tinha-se afastado de Si mesmo, porque pecar é afastar de Deus. Rebaixou-se, não à sua condição, como nós fazemos em quarta-feira de Cinzas, mas à nossa condição. Este rebaixamento é a kenosis de Jesus, a humilhação. Ele é a Luz que nos veio redimir, através do sofrimento a que sujeitou a sua natureza humana.

Anterior à Encarnação de Jesus, nós já conhecemos o relato dos quarenta anos dos judeus através do deserto, uma prefiguração da Quaresma. Mas como cristãos no mundo, talvez tenhamos a obrigação de perceber as quaresmas de tantas pessoas nossas contemporâneas e tantas que têm vivido ao longo dos tempos. Pessoas que sofrem em todos os lugares do mundo em guerras em que são lançadas e forçadas a participar, seja como atacantes ou atacados, matando ou morrendo, violando ou sendo violado. Quaresma de pessoas que sofrem dores provenientes de doenças naturais, de maus tratos, de desconsiderações, de humilhações.

A humanidade atravessa ao longo destes meses, no início de 2020, duas quaresmas em particular. A Quaresma litúrgica com toda a Igreja. E a quaresma do coronavírus, já baptizado de Covid19.

A quaresma da pandemia é

a angústia das pessoas na expectativa de adoecerem,

é o desleixo das pessoas que desvalorizam a sua protecção e facilitam a propagação da doença,

é o desespero de quem vê os amigos e familiares a sofrer e a morrer,

é o desalento de quem sente a impotência e recusa a aceitar uma situação de nada poder fazer contra o que está para acontecer, que nem sabe como será o dia de amanhã desta pandemia.

Vivamos uma quaresma fecunda à maneira de Jesus, aceitando o que não podemos evitar, cuidando da nossa própria saúde e ajudando os outros, todos os que precisarem, seja encorajando por palavras, seja qualquer outro tipo de auxílio que respeite a segurança de todos.

Nesta doença, as pessoas morrem sozinhas. Enquanto estiverem vivas, rezemos por elas, falemos com elas ao telefone, rezemos com elas por telefone.

Em contraste com a quaresma fértil, existe uma quaresma desperdiçada. Não será tanto a exasperação perante o sofrimento que acompanha esta doença, mas a exposição gratuita ao perigo, fazendo correr risco a si mesmo e contribuindo para o alastramento e manutenção da epidemia.

Os que estão em casa, em quarentena ou por precaução, procurem utilizar da melhor forma esse tempo. Deixamos duas propostas de directivas principais para os tempos disponíveis: amar a família, conversando, tolerando o que quer fazer coisas diferentes de mim, e dedicando uma grande quantidade de tempo à relação com Deus. Orando sozinho ou orando em família. Também há a hipótese de contactar a família e amigos por telefone, como já referido. E com eles rezar, assim mesmo, à distância.

Depois da Quaresma vem sempre a Páscoa. Os hebreus alcançaram a Terra Prometida. Jesus elevou-Se ressuscitado para se sentar junto do Pai. Nós esperamos não ser tocados pelo coronavírus, mas, em qualquer caso, o principal da Páscoa para os que temos fé é juntarmo-nos a Jesus junto do Pai.

Com a certeza de que no fim tudo acaba bem.

Entretanto ponhamos a render o tempo disponível para reflectir em algumas consequências desta paragem na vida das pessoas e das sociedades imposta pela catástrofe inédita da Covid19.

Abrandou a poluição do planeta, afrouxou o veneno que tantas fábricas expelem para a atmosfera, para os nossos pulmões, tantos esgotos de tantas tipos diminuíram o seu caudal, tantas más utilizações das dádivas da Natureza ficaram como que em suspensão.

Diminuíram as mortes nas estradas, devem estar perto de zero, uma vez que não há circulação de viaturas.

No final as pessoas vão perceber que talvez não precisem de ir tantas vezes às compras, que podem poupar mais, que gastamos tantas vezes tempo e dinheiro em futilidades. Que em vez de vivermos, temos desperdiçado a melhor coisa que recebemos em toda a nossa vida: a vida.




É verdade que durante esta calamidade mundial, muitos políticos dizem que primeiro está a economia, como Boris do Reino Unido, depois o combate à pandemia, que outros aproveitam para fazer experiências de lançamentos de mísseis, como o Kim da Coreia do Norte, como se a pandemia não fosse já castigo suficiente para a Humanidade. De facto, estamos na Terra e aqui nunca será estabelecido o Céu, por causa da nossa natureza belicosa. Mas aprendamos com o sofrimento, com cada Via Crucis e comecemos desde já a viver à maneira do Céu.



Orlando de Carvalho

Foto:
Uma escola que ruiu na Nigéria causando a morte a muitos alunos
Um grupo do Boko Haram


sábado, 14 de março de 2020

Domingo III Quaresma - missa sem missa



As missas com participação de público foram proibidas pela autoridade civil e pelos Bispos portugueses.

Alternativas haverá muitas, basta usar a imaginação.
A que pode parecer mais óbvia é a televisão.
Neste aspecto, estou em alguma sintonia com o Patriarca Policarpo, na atitude que tomou em relação às bênçãos anuais de finalistas universitários.
Normalmente a cerimónia era em contexto de missa. Percebendo que a generalidade dos participantes não tinha prática eucarística, e muitos nem sequer eram baptizados, entendeu que a celebração de missa não fazia sentido. E a bênção dos finalistas passou a ser enquadrada numa Celebração da Palavra.
Ora, a missa transmitida pela televisão não me satisfaz. A Consagração é à distância. Vejo os outros comungarem e eu fico a ver navios. Aliás, a ver navios e a ouvir comentários normalmente de padres, para encher chouriços e que nem sempre me parecem feitos da maneira mais oportuna.
Claro que a televisão podia transmitir uma Celebração da Palavra seguida de um tempo de exposição eucarística. Isso já fazia mais sentido, para mim.
Neste 3º Domingo da Quaresma, resolvemos a questão da missa dominical de modo particular. Afinal a tecnologia não pode servir só para o mal, para jogos de entretenimento ou apostas online e apresentações de moral duvidosa.
Ligámo-nos 5 casas, em videoconferência. Adultos, idosos e crianças. Seguimos o missal para as leituras, admonições e orações. Os comentários às leituras foram feitos em comum e concluídos com uma homilia. A oração universal foi espontânea e participada por todos. Seguiram-se os cânticos previamente seleccionados. O Pai Nosso foi participado. Houve Abraço da Paz.
No final, depois da bênção e despedida, fizemos como os servos de Caná.


Pedimos a intersecção da Mãe de Jesus, a senhora que é nossa Rainha sob o título de Imaculada Conceição ou Nossa Senhora da Conceição e que nos aconchega docemente no seu regaço sob o título de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, para nos proteger do grave perigo do Coronavírus, da meteorologia e da sismologia.
Ao longo da celebração fomos resolvendo os problemas técnicos que surgiam (não foram muitos) com o sistema de videoconferência improvisado.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para sempre seja louvado com sua Mãe Maria Santíssima.


Fica um apelo. Precisamos rezar, rezar mais. Não vemos exemplos de oração na televisão nem na comunicação social em geral. Vão para as janelas cantar, mas não rezar. Sem Deus, nada conseguiremos.

Orlando de Carvalho