domingo, 1 de outubro de 2017

Ricos na Igreja e na igreja



Nas nossas comunidades têm sempre grande relevo as pessoas que contribuem monetariamente para a sua manutenção e subsistência financeira.
Há também aqueles que oferecem o seu trabalho e disponibilidade, mas, em relação a esses, a sua condição limitada remete-os necessariamente para um segundo plano. É naturalmente aceite que a competência e a idoneidade estão directamente relacionadas com a riqueza. O povo até costuma dizer que alguém é de boas famílias quando pertence a uma família que não tem dívidas, nem dificuldades financeiras. Nesta perspectiva largamente difundida, ‘boa família’ não tem a ver com fidelidade dos esposos ou com a boa formação e educação que estes dão aos seus filhos, mas co o facto de não terem sido atingidos por tragédias sociais como o desemprego ou azar nos negócios.
Não devia ser assim entre os cristãos, esta não foi a Igreja que Jesus nos ensinou.

Então Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Eu vos garanto: esta viúva pobre depositou mais do que todos os outros que deitaram moedas no Tesouro. Porque todos deitaram do que lhes sobrava. Mas a viúva, na sua pobreza, depositou tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver». (Marcos 12,43-44)

Nas nossas comunidades católicas, as boas ideias, os lugares nos conselhos da paróquia, tal como anteriormente os mordomos das festas, mesmo serviços como o de ministro extraordinário da comunhão, são apanágio dos que podem ‘comprar’ esses lugares, em muitos casos.
Até há casos em que religiosos dentro de conventos são aceites na medida dos contributos financeiros das suas famílias.

A Igreja precisa dessas pessoas para poder subsistir, argumentam os que assim procedem conscientemente, porque muitos apenas cedem ao poder e ao dinheiro sem se aperceberem do que fazem. Mas a Igreja não precisa de dinheiro, precisa mais da solidariedade dos fiéis e do sentimento de partilha viva e activa.

Acolher melhor um estranho porque é rico ou pode trazer mais lucro à comunidade eclesial que um irmão que não é rico nem sequer muito esperto, é pecado. Tanto como é virtude a dádiva dos poucos cêntimos daquela viúva a quem Jesus se referiu e pode nem sequer ser levada em conta os muitos euros oferecidos pelos ricos que são capazes de gastar muito mais que isso em jogo ou luxúria.
Se não acolhemos em Igreja os irmãos por não trazerem mais valia financeira objectiva, é porque somos nós que não estamos na Igreja, dentro do povo de Deus. Se cumprimentamos o que entra na igreja bem vestido e conhecido por ser rico e poderoso e não damos atenção ao irmão desempregado ou drogado, não somos dignos que o Senhor entre na nossa morada, não somos mesmo.

Subir ao ambão para fazer uma leitura não pode ser por hábito de muitos anos, nem por recompensa. Deve subir quem tiver competência para proclamar com dignidade e souber fazer uma boa leitura. O ambão não é montra de vaidades, mas estrado do arauto de Deus.

Orlando de Carvalho
 


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