quarta-feira, 15 de maio de 2024

Os pérfidos judeus


 Paulo VI, presidindo a missa na Terra Santa


Peregrinação do Papa São Paulo VI à Terra Santa

 

Entre 4 e 6 de Janeiro de 1964

 

O espírito guerreiro e nacionalista dos judeus e a desobediência ao Mandamento do Amor de Jesus por parte dos cristãos são a razão da animosidade e guerras entre cristãos e judeus que têm acontecido ao longo da era cristã.

Os cristãos acusaram cada judeu como assassino de Jesus, acusaram-nos de instrumentos do demónio e invejaram as suas riquezas e saber.

Os judeus, com uma experiência milenar de vida em diáspora, após a destruição da sua pátria pelos romanos no ano 70, continuaram a viver em diáspora, uma grande parte deles, escravizados, pelos romanos. Era, portanto, natural o ódio que eles sentiam pelos romanos e, por arrastamento, também pelos cristãos, uma vez que romanos e cristãos passam a ser quase palavras sinónimas, pelo menos na perspectiva judaica.

Depois de muitas perseguições a judeus e a cristãos, pela irreverência de uns e de outros, o Império Romano adopta o Cristianismo. Embora tanto judeus como cristãos fossem inicialmente considerados subversivos pelo Império, a partir de certa altura, o cristianismo é adoptada como religião oficial.

No ano 313, o Imperador Constantino, concede liberdade de culto aos cristãos.

Em 380, pelo Édito Tessalónico, o Imperador Teodósio proclama o Cristianismo religião oficial do Império.

Finalmente o mesmo imperador Teodósio, em 391, pelo Édito de Milão, ilegaliza o paganismo. Invertem-se então as posições e seguem-se algumas perseguições dos cristãos aos não cristãos, o que não tinha nada a ver com os ensinamentos de Jesus Cristo.

A invenção da demoníaca Inquisição trouxe a fogueira como modo de os inquisidores, arvorando-se em Igreja, o que é falso, castigarem judeus, mouros, bruxas (que é isso?), etc.

O Concílio de Florença, 1438-1445, explicita a proibição de práticas da lei mosaica, ilegalizando assim qualquer gesto de culto judaico.

Assim são inventadas pelos judeus portugueses as alheiras, que são enchidos fabricados com carne de galinha, mas que enganava os seus perseguidores, que apenas percebiam que estavam a comer chouriço de porco. Ora, se comiam carne de porco, ficava demonstrado que não seguiam a lei de Moisés.

Na celebração de Sexta-feira Santa, havia as Orações Solenes, hoje chamadas Oração dos Fiéis, em que numa das preces se orava peculiarmente pela conversão dos judeus:

- Oremos pelos pérfidos judeus, para que o Senhor, nosso Deus, lhes tire os véus dos corações e connosco reconheçam nosso Senhor Jesus Cristo.


O amor ao próximo exigido por Jesus consubstanciava-se assim na acusação: pérfidos judeus. Em Mateus 5,22, Jesus afirma que quem ofender verbalmente o seu irmão terá que prestar contas dessa ofensa, mas o ódio aos judeus acusados de matar Jesus, acusação que tinha em vista apoderarem-se das riquezas que os judeus tivessem, até fazia esquecer o ensinamento de Jesus expresso no Evangelho.

O Papa São João XXIII, em meados do século XX, elimina a expressão “pérfidos judeus” e finalmente o Papa Bento XVI trata com amor os judeus alterando a oração para a formulação actual: 


 

- Oremos pelo Povo Judeu para que Deus nosso Senhor, que falou aos seus pais pelos antigos Profetas, o faça progredir no amor do seu nome e na fidelidade à sua aliança.

Em Janeiro de 1964, o Papa São Paulo VI interrompe a sua participação no Concílio Vaticano II e faz uma viagem relâmpago à Terra Santa, particularmente acarinhada por jordanos e palestinianos, mas nem tanto dos judeus. O avião papal aterrou na Jordânia, onde Paulo VI celebrou missa no estádio da capital e visitou o local onde Jesus terá sido baptizado.

Ora, não havia relações diplomáticas entre os estados de Israel e do Vaticano. Durante toda a visita, Paulo VI nunca utilizou a palavra Israel, nem tratou Shazar por Presidente (de Israel). Apenas na viagem de retorno ao Vaticano, ao sobrevoar Chipre, o Papa enviou um telegrama para a Torre de Controlo do Aeroporto de Telavive, de agradecimento, em que se referiu ao Presidente do Estado de Israel como tal. Com este distanciamento dos israelitas, ao contrário da atitude de aproximação a árabes e palestinianos, provavelmente, Paulo VI quis proteger os cristãos que viviam nos países muçulmanos e evitar que sofressem retaliações. A mesma razão terá estado na origem de o Papa se recusar a encontros com autoridades religiosas judaicas; o Papa do ecumenismo! Durante toda a viagem terrestre, na Terra Santa, o Papa foi acolhido por banhos de multidões de judeus, palestinianos e cristãos, em especial ortodoxos.

Em 1973, a primeira-ministra Golda Meir visita o Papa Paulo VI no Vaticano e recebe o pedido deste para que os palestinianos sejam tratados com compaixão, na guerra que se avizinhava, Yom Kippur. Na volta a Israel, Golda Meir relata este episódio e vangloria-se de ter respondido com um rotundo não ao Papa.

Depois de iniciado o processo de paz entre Israel e os árabes, em 1991, em Madrid, começam também negociações diplomáticas entre o Vaticano e Telavive. Em 1993, é assinada a Declaração de Princípios entre Israel e a OLP. Passados três meses, Israel e o Vaticano estabelecem relações diplomáticas.

 

É difícil a paz na Terra Santa.

A paz seja convosco, ofereceu Jesus logo após a Ressurreição. Mas quem escuta as suas palavras? Quem aceita a paz que Jesus oferece?

O mundo seria um lugar bastante melhor se todos fôssemos menos empertigados, menos orgulhosos, menos vingativos, mais maleáveis, e tratássemos as outras pessoas com mais compaixão.

Dentro da Igreja continua a haver grupos de pessoas que declaram ódio a São João XXIII por ter retirado a expressão “pérfidos judeus” do missal e continuam a declarar ódio e a pedir vingança contra os judeus. Claro, que tenho dificuldade em os considerar cristãos, mas quem julga é Deus.

 

 

 

Orlando de Carvalho

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