quinta-feira, 29 de março de 2018

Da validade sacramental



O que acontece entre Deus e o homem no sacramento, mediante a graça, pode também acontecer fora do sacramento, na interioridade do coração, onde se cruzam a dádiva da bondade de Deus e a humilde e crente receptividade do homem. No homem capaz de decisões próprias, o acontecer sacramental só produz efeitos de graça quando se verifica realmente o encontro interior, entre Deus e o homem, significado pelo sinal sacramental. Tanto é assim que existe, por exemplo, como afirma o Concílio de Trento, a comunhão espiritual, na qual o cristão, sem receber sacramentalmente o Corpo do Senhor, “pode alimentar-se, em desejo, do pão celestial que nos foi dado e sentir em si, mediante a fé viva, imbuída de amor, o fruto e o proveito desse pão” (Denzinger 881).

E se isto é válido em relação a todos os sacramentos, sem excluir aquele que, dada a sua natureza, se pode receber sacramentalmente todos os dias, muito mais válido é no que respeita aos sacramentos que, pela sua natureza, só é possível receber uma vez, os sacramentos que imprimem no sujeito um carácter espiritual e, portanto, não podem repetir-se.



Karl Rahner, em Servos de Cristo, citado por D. António Ribeiro em 31 de Março de 1988, na Missa Crismal

quinta-feira, 22 de março de 2018

Animação litúrgica controversa




Em 25 de Setembro de 2003, o Público, trazia este artigo, que reproduzimos, sobre o qual é oportuno reflectir, passados que são 15 anos. A controvérsia mantém-se e alguns dos protagonistas são os mesmos.



"Espero que não vá para a frente, seria um pontapé daqueles fortes." O comentário é do padre Alfredo Neres, 64 anos, que desde 1990 está no Congo como missionário, e refere-se ao documento que está a ser estudado no Vaticano e que prevê, entre outras coisas, a interdição de aplausos e danças nas missas, e a impossibilidade de as raparigas serem acólitas (ajudantes do padre na celebração).

A reacção de Alfredo Neres, membro dos Missionários Combonianos, sintetiza o tom das opiniões ouvidas pelo PÚBLICO. Mas nem todos alinham pelo diapasão das críticas à proposta de texto. O padre Alberto Gomes, 40 anos, responsável nacional do Serviço de Acólitos, diz que o documento não vem alterar grande coisa do que já acontece, por exemplo em relação à possibilidade de raparigas serem acólitas. "As normas existentes falam na necessidade de haver razões pastorais." Por isso, o conteúdo do novo texto - se vingar o que já é conhecido - "não altera" o que existe.

Alberto Gomes diz que haverá uns 20 mil acólitos e acólitas em Portugal. "Os rapazes ainda têm um peso preponderante", diz. Não é o caso em Vila Franca de Xira. O pároco desta cidade, Vítor Gonçalves, 37 anos, tem três dezenas de acólitos, metade de cada sexo, entre os 10 e os 32 anos. Na paróquia desde 1996, Vítor Gonçalves diz que já encontrou o grupo misto "a funcionar bem". Uma reunião mensal, a preparação de actos que requerem mais exigência e a formação cristã em sentido lato - "não só litúrgica" - são algumas das componentes da vida desse grupo, que tem uma "identidade própria, mas não funciona como grupo fechado". "O estímulo mútuo e o convívio" são duas dimensões destacadas por este pároco.

"Não há motivo para se voltar atrás", diz Vítor Gonçalves, a propósito da proposta em estudo. A mesma opinião tem José Manuel Marques Pereira, responsável do Secretariado Diocesano de Liturgia, de Aveiro. "Quando se fala de igualdade entre homens e mulheres, não faria sentido uma decisão destas." Na diocese de Aveiro, onde existem algumas centenas de acólitos - as raparigas e mulheres serão metade -, este responsável nota que "elas são mais fiéis" neste serviço: "Os rapazes, como têm que pôr a veste, são muitas vezes ridicularizados na escola e ficam envergonhados. As raparigas não." O padre Marques Pereira acrescenta que não se pode querer as mulheres "apenas para lavar panos".

Missas com danças
"Se tirarmos as mulheres da catequese, das leituras, de andar perto do altar, a Igreja fica vazia", alerta o padre José da Lapa, 77 anos, responsável em Portugal do Renovamento Carismático Católico (RCC). O padre Lapa não resiste a comentar a questão das acólitas, mas fica preocupado com um dos outros temas abordados no esboço do documento: o RCC privilegia a celebração da missa com muitos cânticos, palmas, e mesmo danças - que passarão a estar interditas se a formulação inicial vingar.

"Se Jesus foi aplaudido em Jerusalém, porque havemos de ter missas que tantas vezes parecem velórios?", pergunta. "Na missa carismática predomina a alegria, às vezes há exageros, mas o mínimo de manifestação exterior é fundamental." Introdutor do RCC em Portugal, em Novembro de 1974, José da Lapa não acredita que o Papa deixe passar o documento.

Em África, a dança tem um lugar vital nas celebrações. O missionário Alfredo Neres diz que as celebrações "não têm sentido sem o canto e dança". "Toda a gente dança, a vida africana sem a dança não tem sentido", diz. De tal modo que, em 1990, a Santa Sé aprovou um ritual próprio para a liturgia zairense - e que já está a ser adoptado em outros países africanos. "Seria muito mal visto" o Vaticano acabar com esta realidade, diz o padre. Que acrescenta, sobre a questão das mulheres, não haver "reserva cultural" à presença do sexo feminino em lugares de destaque na celebração.

O padre Alberto Gomes está confiante que o Vaticano admita excepções para casos como os dos carismáticos ou as liturgias africanas. "É impossível acabar" com a dança na missa em África, diz, e "é natural que haja excepções" para casos como esse. Mas acha que muitos colegas seus impõem o seu modo de pensar às pessoas: "Vi recentemente uma missa [em Portugal] com canto africano, sem sentido nenhum, mas com o padre a achar que era bonito. É preciso chamar a atenção para aspectos destes e é importante saber que se vai à missa e não a outra coisa."

O padre José Manuel Marques Pereira não hesita num alerta: "Se o Vaticano chama a atenção para que haja cuidado, acho bem. Se há abusos, que se identifiquem os abusos. Mas entrar numa linguagem de condenação e proibição, é um exagero para estes tempos."

São João Paulo II sobre a Pastoral Juvenil


Discurso do Papa João Paulo II aos bispos das províncias eclesiásticas francesas de Bordeaux e Poitiers, em 13 de Fevereiro de 2004, incidindo na pastoral juvenil.

O universo cultural dos jovens é marcado pelas novas tecnologias de comunicação, que perturbam sua relação com o mundo, com o tempo e com os outros, e que modelam seu comportamento. Isso cria uma cultura do imediato e do efémero, que nem sempre é favorável ao aprofundamento, nem maturação interior ou ao discernimento moral.
Mas o uso de novos meios de comunicação tem um interesse que ninguém pode negar.

O Papa referiu-se aos sites de muitas dioceses e ao espaço que dedicam aos jovens.

Referiu-se às fracturas que vulnerabilizam os jovens: separações familiares, ruptura dos laços sociais, desintegração da unidade familiar e outras situações de precariedade. Expressou a sua preocupação com a evolução das
mentalidades:
- Subjectividade exacerbada
- Liberalização excessiva de costumes que levam os jovens a considerar que qualquer comportamento, porque é realizável, poderá ser bom
- Séria diminuição do sentido moral. Os jovens dão, por vezes, a impressão de entrar demasiado cedo na vida adulta por causa dos seus conhecimentos e dos seus comportamentos, e não ter tido tempo suficiente para a maturação física, intelectual, emocional e moral.

Como pastores, vós bispos, estai atentos a essas realidades, conhecendo a
generosidade dos jovens, prontos a mobilizarem-se para causas justas e
ansiosos para encontrarem a felicidade.
O Papa recordou a importância da educação na formação dos jovens, quer a nível das famílias, paróquias ou escolas.
- A França herdou grandes figuras de educadores, e por isso, eu convido-vos, apesar dos vossos fracos recursos, a não poupar esforços no campo educativo.

 - Os jovens aspiram a viver em grupos onde são reconhecidos e amados, a família acima de tudo, depois os amigos e por fim a comunidade diocesana. A presença de outros adultos, para além dos pais, costuma ser benéfica.

O Papa encorajou as escolas católicas a serem comunidades que transmitam valores cristãos e ensinem o Magistério aos jovens.

- A pastoral dos jovens requer, da parte dos orientadores, perseverança, atenção e capacidade inventiva. Para isso, não hesiteis a destacar padres de qualidade com boa formação e uma vida espiritual a toda a prova.

O Papa sublinhou que viver a Fé e a vida sacramental é muito mais do que apenas uma actividade entre outra numa vida.

O Santo Padre concluiu falando dos jovens que se preparam para o casamento e já conheceram muito sofrimento dentro das suas famílias.
- Existem na sociedade variados modelos de relacionamento, sem qualquer qualificação antropológica ou moral. A Igreja recorda que o casamento entre um homem e uma mulher, e uma família, constroem-se acima de tudo por um forte vínculo entre as pessoas e um compromisso definitivo, não apenas sobre o aspecto puramente afectivo, que não pode constituir a única base da vida conjugal. Que os pastores e os casais cristãos não tenham medo de ajudar os jovens a reflectir sobre os aspectos difíceis e essenciais.

Orlando de Carvalho

quarta-feira, 21 de março de 2018

Laicidade? Eu sou cristão



Laicidade[1]? Eu sou cristão


Numa reunião da Câmara Municipal de Viseu, a 28 de Dezembro de 2017, o vereador Pedro Baila Antunes, do PS, pediu que fosse retirado o crucifixo que se encontra no Salão Nobre da autarquia:
- A quase totalidade das escolas já retirou os crucifixos, bem como os edifícios públicos.
Como resposta o presidente da edilidade, Almeida Henriques, do PSD, disse:
- O crucifixo estará presente no Salão Nobre enquanto for presidente em respeito à história e tradição que representa, e por representar a maioria do povo visiense.

Posteriormente, Ricardo Alves, presidente da Associação República e Laicidade
fez uma pequena investigação e descobriu que também as câmaras de Lamego e Sernancelhe têm crucifixos no Salão Nobre. Espantado com o facto, fez um requerimento que entregou em cada uma das três autarquias, exigindo (com que autoridade?) que retirassem, no prazo de 10 dias, os referidos crucifixos como forma de repor a legalidade e a constitucionalidade.
Os 10 dias passaram entretanto e Ricardo Alves vai passar à segunda fase:
- Vou entregar um pedido ao Tribunal Administrativo para que haja uma ordem judicial que obrigue a tirar os crucifixos.
O presidente da ARP, e também professor universitário, afirma:
-A sede do poder político não se deve confundir com um local religioso. Tem de ser neutro. Uma câmara não pode decidir que adopta uma determinada religião como a oficial.

A adjunta do presidente da Câmara de Viseu, Ana Maria Pimentel, disse à revista Visão que não perderão tempo com questões menores; que a edilidade respeita todas as religiões e que o crucifixo continua e continuará na parede do Salão Nobre, porque representa o respeito pelos valores cristãos da esmagadora maioria da população viseense e que está ali apenas como um acto simbólico e não como doutrina. A Câmara de Viseu não recebe lições de ninguém pois respeitam todas as confissões religiosas. FONTE

Em 16 de Fevereiro deste ano, o Jornal do Centro, noticiava que a tal lúgubre associação e o seu presidente (que não representam ninguém, evidentemente, muito menos em comparação com qualquer Câmara democraticamente eleita), com o apoio dos vereadores da CDU de Lamego, ia finalmente avançar para tribunal.
Noticiava ainda que a outra Câmara, a de Sernancelhe, pela voz do seu presidente considerava todo este processo uma brincadeira de Carnaval.



A Comunidade Dies Domini aguarda que o senhor Ricardo Alves, a sua lúgubre associação e os activistas do Partido Socialista tenham a coragem, a ousadia, a coerência e os testículos necessários para exigirem ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que “no prazo de 10 dias” remova do Palácio de Belém a enorme quantidade de crucifixos e outros símbolos da Fé Cristã que lá estão em exibição. Ou isto, ou agirem como cobardes, frouxos, fracalhões, enfim, meterem o rabo entre as pernas e acovardados calarem-se.

É altura de todos os cristãos dizerem que são gente, que são maioria neste país e que querem ser tratados como portugueses e ver os seus valores respeitados por todos, nomeadamente pelas minorias e associações lúgubres. Esta notícia tem de ser difundida. É urgente. Os cristãos na Síria foram proibidos de tudo, foram obrigados a colocar nas suas portas um sinal para serem identificados pelas milícias muçulmanas, de pagar multa por serem cristãos e depois… têm sido decapitados. E na China… E na ex-União Soviética…

Orlando de Carvalho

- As imagens deste artigo estão expostas no Palácio de Belém, o centro nevrálgico da Rep´blica Portuguesa