terça-feira, 21 de novembro de 2017

Porque Jesus é Rei?



Solenidade de Cristo Rei
25/26 Novembro 2017
Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo


Este artigo sobre Cristo Rei pode ser usado como fonte de informação, ou como documento base para um encontro de Catequese ou de outra natureza. No próximo Domingo, os cristãos celebram a solenidade de Cristo Rei.
A pensar nos encontros de catequese, mas não só, elaborámos uma apresentação em PowerPoint. Quem estiver interessado em a receber, pode pedir para o endereço lando.b.r@gmail.com
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NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO



Jesus é rei. Já o era antes de nascer filho de Maria e de ser apertado nos braços de José. Os magos vindos do Oriente, a quem chamamos reis magos, seguiam um sinal no céu, algo que eles entendiam, talvez de acordo com as suas culturas e tradições. Também o rei Herodes teve a confirmação de que os magos estariam certos, mandando aos doutores da lei que procurassem as profecias a esse respeito nas Escrituras.

Mt 2,1-2
Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: «Onde está o Rei dos judeus recém-nascido? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos para Lhe prestar homenagem».

Quando o Anjo Gabriel foi ao encontro de Maria, expôs com clareza à jovem o futuro que aguardava o filho que lhe anunciava: Ele vinha para reinar e o seu reino não teria fim.

Lc 1,30-33
O anjo disse: «Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que vais ficar grávida, terás um Filho e dar-Lhe-ás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dar-Lhe-á o trono de seu pai David, e Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacob. E o seu reino não terá fim». 

Os que viveram perto do filho de Maria, como vizinhos, família ou amigos, com o passar do tempo foram descobrindo a realeza de Jesus

Jo 1,49
Natanael respondeu: «Rabi, Tu és o Filho de Deus, Tu és o rei de Israel!»

Jesus não tem pressa e deseja que tudo se concretize no tempo certo, de modo a que possa cumprir a sua missão.

Jo 6,15
Mas Jesus percebeu que iam tomá-lO para O fazerem rei. Então retirou-Se novamente sozinho para a montanha.

Estranhamente, de acordo com o texto do Evangelho, é Pilatos, o cônsul romano, o pagão, aquele que representa o imperador romano, o rosto do exército estrangeiro invasor, quem proclama maior número de vezes e com maior intensidade, a majestade de Jesus.
O objectivo dos judeus que se tinham antagonizado com Jesus era conseguir que os romanos O condenassem à morte. Pilatos entende bem as suas intenções e tenta de vários modos ludibriá-los. No entanto não consegue ser mais esperto que os judeus e não tem coragem para lhes fazer frente e em defesa da verdade e da justiça declarar a inocência de Jesus. Assim acaba por assinar a sentença de morte de um homem justo, porventura apenas, ou mais um, dos muitos que o Império assassinou injustamente.

Jo 18,39
Contudo, existe um costume entre vós: que vos solte alguém na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» 
Jo 19,15a
Eles começaram a gritar: «Fora! Fora! Crucifica-O!» Pilatos perguntou: «Hei-de crucificar o vosso rei
Lc 23,13
Pilatos interrogou Jesus: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus respondeu, declarando: «És tu que o dizes!» 
Mc 15,12
Pilatos perguntou de novo: «Que farei então com Jesus, a quem chamais rei dos judeus?»

E Pilatos acaba por consagrar a realeza do filho do carpinteiro mandando gravá-la na própria cruz de tal maneira que é hoje reproduzida em milhares e milhões de crucifixos por todo o mundo que ostentam a sigla criada por Pilatos em honra de Jesus, Rei e Senhor.

Mc 15,26
E havia uma inscrição, com o motivo da condenação: «O Rei dos Judeus».

Apenas uns dias antes, menos de uma semana, o povo tinha-se manifestado percorrendo Jerusalém, em grande alarido, atrás de um burrinho montado por Jesus e aclamando-O, com salves e louvores, glorificando-o e aclamando como seu rei a Jesus.

Jo 12,13
Então pegaram em ramos de palmeira e saíram ao encontro de Jesus, gritando: «Hosana! Bendito Aquele que vem em nome do Senhor, o rei de Israel.»
Lc 19,38
E diziam: «Bendito seja Aquele que vem como Rei, em nome do Senhor! Paz no Céu e glória no mais alto do Céu».

Os chefes de Israel, perceberam que Jesus era verdadeiramente o Messias que tinha chegado para salvar o povo da escravatura do pecado e que havia um grande risco de Ele querer salvar também o povo da opressão a que estava sujeito. Os notáveis de Israel intimidaram-se. Perceberam que afinal Deus se preocupava com o bem estar do povo e que não reconhecia estatuto especial a ninguém, nem aos sacerdotes, nem aos ricos, nem às famílias importantes. Os homens que governavam Israel tiveram medo da oração que Jesus ensinava. Se todos deviam chamar Pai a Deus, então todos eram irmãos e se deviam tratar como tal. Que mania querer convencer todos e cada um de que a primeira característica de todas as pessoas a fraternidade era, uma vez que todas deviam chamar Pai a Deus, declarando-se irmãs, com todas as obrigações que isso implica! Concluíram que a morte de Jesus era o único modo de pôr cobro à onda de conversão que se levantava.
Pensaram então que era muito importante esmagar a realeza de Jesus e mostrar ao povo que Ele não tinha qualquer poder. Não lhes bastava matarem o homem. Estavam sedentos de vingança pelas afrontas que vinham sofrendo e queriam deixar bem vincada a sua autoridade, como se Deus os tivesse nomeado seus vigários para o mundo e para a fé. Queriam que o povo abandonasse definitivamente aquelas ideias que faziam perigar o controlo que detinham sobre a definição do que era pecado e do que não era, do que era do agrado ou do desagrado de Deus, do que cada pessoa podia ou não fazer.

Jo 19,3
Aproximavam-se d'Ele e diziam: «Salve, rei dos judeus!» E davam-Lhe bofetadas.
Mt 27,29
Depois teceram uma coroa de espinhos, puseram-Lha sobre a cabeça, e uma vara na mão direita. Então ajoelharam-se diante de Jesus e zombaram d'Ele, dizendo: «Salve, rei dos judeus!»
Mc 15,18
Depois começaram a cumprimentá-l'O: «Salve, rei dos judeus!»

Finalmente os carrascos deviam executar a pena final perante todo o povo. Depois de terem sujeitado Jesus a toda a sorte de tortura, o Messias estaria exposto na sua mais humilhante fraqueza humana, com o corpo nu e golpeado, ensanguentado e sujo, à vista de todo o povo, num lugar elevado, como se fosse um deus, embora fosse Deus, para que ao olhar para cima, os seus seguidores tivessem a decepção de ver a sua debilidade em vez da sua majestade.
Os chefes do povo ofendiam de maneira insultuosa, num desafio a que todo o povo se agigantasse e a uma só voz desprezasse também o Mestre a quem tinham seguido por três anos, escutando e aprendendo. E o povo cedeu. Como Eva e Adão haviam cedido à serpente.

Jo 19,18-19
E ali crucificaram Jesus com outros dois homens, um de cada lado, e Jesus no meio.
Pilatos mandou também escrever um letreiro e colocou-o na cruz. Estava escrito: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. 
Lc 23,37-38
«Se Tu és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!»
Por cima d'Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus».
Mc 15,31-32a
Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, com os doutores da Lei, zombavam d'Ele, dizendo: «Salvou os outros... e não pode salvar-Se a Si mesmo! O Messias, o rei de Israel... Desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos!»
    
Quando, aos oito dias, levaram o seu bebé ao Templo, Maria e José tinham já escutado Simeão cantar de modo admirável a realeza do Menino:    
    
Lc 2,29-32
«Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel».

A Igreja celebra de três em três anos uma perspectiva diferente da realeza de Jesus, fundamentando-se alternadamente nas versões evangélicas segundo Mateus, João e Lucas.    

O trecho de Mateus destaca Jesus Rei e Senhor absoluto do Universo, descendo dos Céus num trono admirável, à maneira dos reis deste mundo, com o poder de salvar e condenar.
O de João enfatiza a Reino dos Céus, aquele em que Jesus é verdadeiramente Rei e cuja compreensão não nos é acessível. Jesus mesmo diz de Si que é Rei e que tem anjos à sua ordem a servi-lo, mas não quer fazer alarde disso.
Finalmente, em Lucas, encontramos um Rei que segundo os conceitos deste mundo é desprezível, não mais que um intrujão. Tendo-Se feito passar por alguém com poder para salvar os outros, afinal tudo não passara de truques porque na hora da verdade nem a Si mesmo conseguia salvar. É nessa anarquia avassaladora de gente confusa e inflamada pelos chefes dos judeus que ergue a voz um desgraçado malfeitor que fora crucificado ao lado de Jesus. Ele humildemente reconhece a realeza de Jesus e nela se aconchega. E Jesus recebe-o, retribuindo o aconchego.

Mt 25, 31-46
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno e os justos para a vida eterna».

Jo 18, 33b-37
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus Respondeu-lhe: «é por ti que o dizes ou foram outros que to disseram de Mim?» Disse-Lhe Pilatos: «Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?» Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse-Lhe Pilatos:
«Então Tu és rei?» Jesus respondeu: «É como dizes: sou rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz».

Lc 23, 35-43
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».

A festa de Cristo Rei no Ciclo Litúrgico

A Festa de Cristo Rei foi instituída pelo Papa Pio XI em 1925, através da encíclica Quas Primas. Perante uma generalizada perseguição aos cristãos que era movida principalmente pelos movimentos maçónicos e comunistas, o Papa pede aos cristãos que roguem o auxílio de Cristo Rei e emite uma bula com uma indulgência plenária para os cristãos mexicanos que morram em combate pela fé.
Principalmente no México e em Espanha, uma multidão de mártires morre a gritar
- Viva Cristo Rei!
Sem temor à morte, segundo relatos dos próprios soldados que realizavam as execuções da pena capital, os fiéis mostravam total confiança no Senhor, dando-Lhe vivas enquanto eram baleados.

Cristo Rei no México – os Cristeros e a Cristíada

Em 1857 o governo mexicano confiscou todas as propriedades da Igreja.
Em 1917 discute-se uma Constituição que propõe a nacionalização dos recursos minerais e a devolução das terras aos índios; a completa separação entre a Igreja e o Estado; o estabelecimento da educação laica obrigatória, a proibição do estabelecimento de ordens religiosas em território mexicano, bem como qualquer acto de culto fora dos templos ou casas particulares; confiscava todos os bens pertencentes à Igreja e a ordens religiosas, como já vinha acontecendo; proibia a existência de seminários, conventos, colégios de inspiração religiosa, casas paroquiais.
Em 1920 começam a ser hasteadas bandeiras vermelhas com a foice e o martelo na catedral da Cidade do México, onde também é colocada uma bomba.
Foram expulsos sacerdotes, religiosos e religiosas estrangeiros e aplicadas multas e ordens de prisão a quem ministrasse ensino religioso ou convidasse à prática religiosa ou à vida consagrada, a quem usasse hábito ou voltasse a reunir-se depois de a sua congregação ter sido dissolvida. A ordem de prisão e o julgamento sumário, seguido de execução, era prática corrente em relação aos que desobedecessem às autoridades.
Viviam-se tempos de grande desolação e angústia para todos os católicos. Os campanários das igrejas estavam silenciosos, a alegria das festas religiosas transformara-se em terror. Era proibido celebrar missas, baptizados, casamentos, ou mesmo confessar ou levar a bênção a um doente ou a santa unção a um moribundo. Os fiéis sentiam-se à deriva, sem poderem comungar, adorar o Santíssimo Sacramento ou simplesmente entrar num templo para saudar a Deus ou à Virgem Maria.
Em 1926 tem início a “Cristíada” ou movimento armado dos Cristeros”.
A população decidiu então lutar pela sua fé. A princípio nem sequer tinham armas. Pedras, varapaus e picaretas, tudo servia para se defenderem e atacarem os soldados. Destes reencontros foram conseguindo as primeiras armas. Depois, mais tarde, alguns nobres e proprietários, que também aderiram à causa, foram conseguindo mais reforços em armas e munições. Este movimento estendeu-se a quase todo o país e não se tratava apenas de pegar em armas e lutar contra o exército que ia pelas vilas e aldeias a prender os padres e os fiéis que com eles se reuniam. Por todo o lado se organizavam também grandes manifestações, peregrinações e procissões de apoio aos “cristeros”, como as autoridades lhes chamavam.
Juntavam-se milhares de pessoas que, na “versão oficial”, não passavam da “reacção de uns índios ignorantes, embrutecidos por um grupo de padres fanáticos”.
A “Cristíada começou por acontecer espontaneamente em pequenos lugares dispersos mas, com o passar do tempo e com o aumento das represálias por parte do governo, foi ganhando força e dimensão. Era uma verdadeira luta de David contra Golias. Quando o governo mandava fechar uma igreja ou uma escola católica num determinado lugar, o povo tentava continuar a reunir-se com o seu padre, ou com os religiosos, para celebrarem a missa ou rezarem num local secreto ou escondidos no mato e nas montanhas. Quando o exército descobria estes locais ou surpreendia qualquer celebração litúrgica, acontecia muitas vezes abrirem fogo e assassinarem o padre e os fiéis que ali se encontravam e, se algum sobrevivia, era levado preso e torturado. Nem as crianças escapavam. Muitos foram os assassinados ao serem surpreendidos ou posteriormente fuzilados, segurando nas mãos um crucifixo ou um rosário e gritando:
- Viva Cristo Rei
- Viva a Santíssima Virgem de Guadalupe
- Viva o México.
Quando em 1914 a República Mexicana fora consagrada a Jesus Cristo, por iniciativa do General Vitoriano Huerta, aquele grito passara a ser a divisa dos católicos mexicanos, recebendo mesmo uma bênção do Sumo Pontífice.
Em 1927, em plena luta pela defesa da fé católica, o Papa Pio XI fez também chegar aos Bispos mexicanos uma bênção especial e um documento de indulgência plenária destinada a todos quantos derramassem o seu sangue pela Igreja de Cristo.

O padre Miguel Agostinho Pró

Miguel Agostinho Pro nasceu em Guadalupe, Zacatecas, no México, a 13 de Janeiro de 1891. Desde tenra idade revelou-se muito irrequieto. Certa vez esteve a morrer por comer umas frutas estragadas, curou-se milagrosamente e a mãe atribuiu a cura a Nossa Senhora. Miguel estava sempre alegre e bem disposto, fazendo tudo à sua volta correr num rodopio. Ante a impaciência e desagrado da mãe por tão grande alvoroço que o filho diariamente provocava, este disse-lhe certo dia:
– Mãezinha, eu chamo-me Agostinho, como Santo Agostinho que também foi capaz de mudar de vida. Verás que eu também vou mudar de vida.
E mudou mesmo, a partir desse dia, tornando-se bastante mais estável. O pai de Miguel tinha uma mina e Miguel gostava de estar entre os trabalhadores, falar com eles, aprender com eles. Ajudava o pai, mas não se comportava como um “filho de patrão”, agindo com simplicidade. Continuava, todavia a manter o espírito vivo e alegre, sempre de bom humor, a entrar em brincadeiras e a fazer imitações.
Era caricaturista e tocava guitarra e outros instrumentos musicais. Aprendeu assim a maneira de falar e os costumes dos operários, bem diferentes dos de sua casa. Isto ser-lhe-ia importante quando precisasse de se disfarçar e passar despercebido entre a multidão.
Quando as duas irmãs de Miguel enveredam pela vida religiosa, ele fica muito zangado, mesmo irado, porque não queria para elas essa vida. A mãe prepara, então, a participação de Miguel num retiro de três dias, onde a palavra oportuna de um padre jesuíta faz o jovem mudar de ideias em relação à vida. É ele próprio agora que deseja ser padre jesuíta. Estamos em 1911 e Miguel tem vinte anos. Mas o noviciado é para o seu espírito alegre e brincalhão uma monotonia difícil de suportar. O mestre dos noviços combina então com ele um noviciado de seis meses apenas, mas feito em verdadeira e profunda espiritualidade. Em 1913 estala uma revolução marxista no México. O pai de Miguel perde a mina. A prática religiosa é proibida. A Companhia de Jesus envia os noviços para os Estados Unidos, tendo para o efeito que atravessar o México disfarçados para não serem detidos. Nos Estados Unidos, a língua inglesa torna-se um problema e Miguel e outros noviços vão para Espanha, país neutral durante a I Guerra Mundial, que entretanto se iniciara. Os sacerdotes que continuam no México vivem escondidos, andam a monte. Muitos são presos e assassinados pelas tropas e pela polícia. Quando chega a Espanha a epidemia da gripe pneumónica, Miguel visita os hospitais, utilizando as suas capacidades de entertainer para suavizar os sofrimentos daqueles doentes, muitos dos quais irão morrer: ele canta, faz caricaturas, números cómicos, etc. Aos domingos colabora em acções locais, dando catequese nos bairros mais pobres. A Companhia envia-o depois para a Bélgica para que veja como é lá o trabalho que os sacerdotes realizam com os trabalhadores. Na Bélgica é
ordenado padre. Depois é enviado a França para conhecer as obras e movimentos sociais que a Igreja lá desenvolve.
Em 1926 regressa ao México. O país está numa miséria social, económica e cultural. O governo é uma ditadura que fez da aniquilação da Igreja e de Deus o objectivo da sua política. O padre Miguel Pro, para entrar no país, tem que se disfarçar de homem de negócios. A Igreja na Cidade do México assemelha-se à de Roma nos primeiros tempos do cristianismo: existe, mas escondida, aparentemente como se não existisse e quando há sinal visível da sua existência, logo aparecem os verdugos prontos a cortar esse braço visível.
O padre Miguel encontra-se com o pai e as irmãs (a mãe falecera entretanto), e depois planeia a sua acção pastoral na Cidade do México, como se toda ela fosse sua paróquia. Organizam-se “Estações de Comunhão” que não são mais que casas particulares onde se celebra a missa e os outros sacramentos, antes da aurora ou depois do sol se pôr, normalmente. Para resistir à política ateia do governo, os católicos constituem a Liga para a Defesa da Religião e convidam o padre Pro para seu capelão. Este organiza um grupo de cento e cinquenta jovens que percorrem as ruas da Cidade do México distribuindo propaganda contra as leis anti-religiosas e convidando à resistência pacífica. Os contributos monetários que recebem são usados para auxílio às famílias mais atingidas por terem sido presos ou assassinados aqueles que trabalhavam para obter o sustento económico.
O padre Pro organiza um grupo de quatrocentos catequistas para dar catequese e continua a deslocar-se com grande liberdade, disfarçado seja do que for, a pé, de bicicleta, como pessoa importante ou como simples trabalhador, realizando um trabalho pastoral com grande inteligência e caridade. Eis alguns exemplos com o seu quê de cómico.
Seguindo num táxi e percebendo que estava a ser seguido pela polícia, mandou abrandar o táxi e saltou em movimento, continuando a andar na rua, cambaleando como se estivesse bêbado. A polícia vendo que se tratava de um bêbado e, portanto, não do padre Pro, continuou o seu caminho, não lhe ligando.
Vai pregar a fábricas e oficinas disfarçado de operário. Nas casas mais burguesas faz a mesma pregação, mas chega vestido como um burguês.
Consegue pregar retiros de três dias, na Cidade do México, enquanto a polícia o procura em sua casa para o matar.
Doutra vez, ao sentir que a polícia está no seu encalço, entra numa loja e convida uma elegante senhora a dar-lhe o braço para o salvar de ser preso. Saem os dois para a rua e a polícia não faz caso daquele casal, pois um padre não anda vestido à civil de braço dado com uma senhora! Entretanto chega um sargento e pela descrição que lhes faz do padre Pro, os polícias percebem que foi ele quem saiu com aquela elegante senhora, mas já não o conseguem apanhar.
Consegue entrar nas prisões, subornando os guardas, para levar a comunhão aos católicos presos.
Noutra ocasião estava com um grupo de jovens da Acção Católica. A polícia cercou o edifício e o padre Miguel Pro escondeu-se num armário. O coronel daquele grupo policial entra na sala e exige aos rapazes que indiquem onde está escondido o padre Pro, sob a ameaça de os matar com a pistola que segura na mão. Sente então encostado à nuca o cano frio de uma arma. Depois de aceder a deixar sair os jovens que levam as armas do coronel, o padre Pro mostra-se e à garrafa cujo gargalo encostara a nuca do coronel.
Aconteceu então o padre Pro confidenciar a um amigo que tinha oferecido a sua vida a Deus pelo México e que estava convencido que o Senhor tinha aceitado a sua oferta.
É então que vendo o crescimento do movimento que tem por lema VIVA CRISTO REI, o presidente da república, Calles, manda prender o padre Miguel Pro e inventar contra ele o envolvimento em atentados violentos. Há então um jovem que para salvar a mãe presa pela polícia, denúncia o padre Pro. As autoridades pensam decapitar o movimento condenando-o à morte. Enquanto se dirigem para o local da execução, um soldado pede perdão ao sacerdote.
Este responde-lhe:
– Perdoo-te e agradeço-te.
Concedem-lhe uns poucos momentos para rezar. Depois exclamou:
– Senhor, sabes que estou inocente. Perdoo do coração aos meus inimigos. Deus tenha misericórdia de vós. Deus vos abençoe! a
Abriu os braços, segurando numa mão um crucifixo e na outra um terço. E gritou:
– Viva Cristo Rei.
Seguiu-se a descarga das espingardas.

David Roldan Lara

David Roldan Lara nasceu a 2 de Março de 1907 em Chalchihuites. Ficou órfão ainda em bebé. Era muito alegre e generoso. Não pode seguir a carreira sacerdotalpor dificuldades económicas. Era presidente da Acção Católica Juvenil do México e vice-presidente da Liga Nacional para a Defesa da Liberdade Religiosa, entidade que organizou abaixo-assinados para exigir
a revogação das leis anti-religiosas. Em 1926 foi preso com Manuel Morales e falsamente acusado e condenado. Uma vez que recusaram a libertação que lhes era oferecida se declarassem aceitar as leis anti-religiosas, foram fuzilados a 15 de Agosto de 1926, gritando:
– Viva Cristo Rei e a Virgem de Guadalupe.

Cristo Rei em Espanha

Durante a Guerra Civil de Espanha, foi muito grande a perseguição movida aos católicos. Muitos morreram gritando:
- Viva Cristo Rei!

Nicéforo de Jesus e Maria

Vinte e seis religiosos da Comunidade Passionista de Daimiel, na noite de 21 para 22 de Julho de 1936, prevendo já a hipótese de virem a ser atacados, reuniram-se todos na capela do seu mosteiro, liderados pelo seu provincial, Frei Nicéforo de Jesus e Maria. Confessaram-se e comungaram pela última vez.
Durante essa mesma noite chegaram cerca de duzentos homens armados que os levaram, separados em pequenos grupos. Ao longo dos três meses seguintes foram torturados e assassinados em diferentes lugares.
Nenhum deles tentou abandonar ou fugir do seu grupo e, segundo o testemunho de alguns soldados, morreram dando provas de grande Fé e coragem, muitos deles segurando nas mãos um crucifixo e gritando:
– Viva Cristo Rei!

Cinquenta e um religiosos Claretianos mártires

…E assim os foram levando em vários grupos e eles avançavam para a morte entre orações e cânticos alegres, numa impressionante manifestação de Fé, enquanto os seus carrascos tentavam sempre até ao último momento que eles renegassem a sua religião. Em vez disso, enfrentavam as balas gritando:
– Viva Cristo Rei.
Os últimos dois destes cinquenta e um mártires foram assassinados a 18 de Agosto de 1936.

Vitória Diez y Bustos de Molina

Leiga teresiana, Vitória Molina vivia dedicada ao ensino, à Acção Católica e a obras de caridade. Em 11 de Agosto de 1936 foi presa com alguns outros católicos. Passou toda a noite a rezar tranquilamente, incitando os outros para que a acompanhassem. No dia seguinte foram levados para perto das minas de Ríncon e foram executados As últimas palavras de Vitória foram:
– Viva Cristo Rei.

Monumentos a Cristo Rei

Desde a proclamação da festa de Cristo Rei e oficialização desta invocação de Jesus pelo Papa Pio XI que se têm multiplicado os monumentos a Cristo Rei por todo o mundo.

Orlando de Carvalho
 

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